1. Introdução
A corrida se tornou uma atividade física imensamente popular, praticada na esfera pública por milhões de participantes recreativos em todo o mundo (Parra-Camacho, Santos, & González-Serrano, 2020), considerada um fenômeno sociocultural em crescente expansão no Brasil (Fonseca, Cavalcante, Almeida, & Fialho, 2019). Este aumento global da popularidade da corrida pode ser justificado por ser uma modalidade desportiva acessível e prazerosa, que influência positivamente a saúde física e mental (Santos, 2017). Além de ser democrática e inclusiva, uma vez que contempla praticantes com diversos perfis sociodemográficos (Fonseca et al., 2019) e precisa de pouca ou nenhuma infraestrutura específica podendo ser praticada em qualquer lugar e momento (Parra-Camacho, González-Serrano, González-García, & Moreno, 2019).
Verifica-se que há grande interesse na literatura em identificar o perfil desses corredores, tanto em nível nacional (Antunes, 2014; Cardoso, Ferreira, & Santos, 2018; Cavalcante & Almeida, 2018; Costa, 2019; Fonseca et al., 2019; Lima & Durigan, 2018; Oliveira, 2015; Oliveira, Rosa, Ulian, & Tiggemann, 2019) quanto internacional (Besomi, Leppe, Di Silvestre, & Setchell, 2018; Janssen et al., 2020; Parra-Camacho et al., 2019, 2020; Salas Sánchez, Latorre Román, Soto Hermos, Santos e Campos, & García Pinillos, 2013; Santos, 2017). Mostrando-se uma temática emergente uma vez que conhecer as características dos sujeitos praticantes auxilia na organização do treinamento, visando à obtenção de seu objetivo para com a prática, a prevenção de lesões (Oliveira et al., 2019) e a adesão deste para com a modalidade. Ademais, conhecer o perfil dos corredores de rua é essencial para a elaboração de estratégias de atuação do profissional de educação física direcionadas para esse público (Fonseca et al., 2019). Compreendendo que a corrida é praticada por um grupo diversificado e heterogêneo de pessoas (Janssen et al., 2020) e que cada região tem suas peculiaridades culturais e ambientais, estes podem diferir em frequência da prática, nos motivos ou na participação em competições (Llopis Goig & Llopis Goig, 2012; Parra-Camacho et al., 2020). O comportamento da pesquisa no Brasil prevalece nas capitais como Aracaju-SE (Oliveira, 2015), Florianópolis-SC (Antunes, 2014), Maceió-AL (Cavalcante & Almeida, 2018; Fonseca et al., 2019), Teresina-PI (Cardoso et al., 2018) e Distrito Federal-GO (Juste, 2017). Todos eles buscando descrever o perfil dos corredores nos tópicos de características sociodemográficas e antropométricas e fatores de treinamento, motivacionais, socioambientais e comportamentais. Nesse sentido, as cidades do interior têm menor produção referente a temática, e por esse motivo, este estudo tem como objetivo descrever o perfil dos corredores de rua da cidade de Chapecó-SC.
2. Materiais e método
Este estudo caracteriza-se como descritivo (Thomas, Nelson, & Silverman, 2015) e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unoesc Chapecó (CEP/Unoesc) por meio do número do parecer 4.133.450 e o CAAE 33122920.4.0000.5367 e seguiu todas as determinações da portaria 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
Participaram da investigação 54 corredores chapecoenses, dos aproximadamente 156 corredores da cidade, sendo 30 do sexo feminino e 24 do sexo masculino, na faixa etária dos 18 aos 59 anos (Figura 1).
Participaram do estudo todos aqueles que aceitaram o convite realizado de forma não aleatória, intencional e com participação voluntária. No primeiro momento entrou-se em contato com todas as acessórias, clubes, equipes, academias e atendimentos personalizados de treinamento de corrida, chegando-se ao número de 156 corredores no município. Desses, apenas 54 sujeitos aceitaram participar e responderam ao questionário, obtendo uma taxa de resposta de 34,62%. Na tentativa de abranger todo o público corredor de Chapecó/SC se divulgou, também, a pesquisa nos meios de comunicação com foco nas redes sociais com vídeos e mensagens de texto, porém não houve mais interessados.
A comunicação entre pesquisadores e corredores se deu por intermédio dos treinadores, logo os vídeos explicativos da pesquisa e do funcionamento do questionário, assim como o link do formulário foram encaminhados para os treinadores e por eles direcionados para seus clientes corredores. Eles foram informados quanto aos objetivos da pesquisa e suas etapas, juntamente com os procedimentos adotados durante a coleta de dados.
O formulário digital ficou habilitado para receber respostas por um prazo de 30 dias, após este período foi desabilitado, não permitindo que outras respostas pudessem ser enviadas. Em seguida, a planilha online do Excel® foi gerada via Google Forms® para realização da tabulação e análise dos dados.
Foram incluídos no estudo os corredores recreacionais, atletas amadores e profissionais de ambos os sexos, com idade entre 18 e 59 anos, que treinassem ao menos há seis meses consecutivos e participassem de corridas entre as distâncias de 5km a 10km, até o período da pandemia do COVID-19 e residissem em Chapecó-SC. Porém, excluiu-se aqueles que nos últimos três meses estavam afastados em decorrência de lesão do esporte.
Optou-se pela criação do instrumento de pesquisa (disponível como arquivo suplementar) tendo em vista a possibilidade de investigação específica (Oliveira, 2015) para a determinação das características do perfil do corredor chapecoense. Este utilizou como base para sua criação os estudos de Cardoso, Ferreira & Santos (2018), Costa (2019) e Lima & Durigan (2018). A ferramenta para criação desse instrumento foi o formulário online do Google®, o Google Forms®. Ainda, realizou-se um estudo piloto para verificar se este identifica o que se pretende, com participação de cinco corredores de rua, com características semelhantes ao grupo de estudo.
O questionário é objetivo, de fácil compreensão e todas as perguntas apresentavam-se obrigatórias e deveriam ser preenchidas com veracidade. Este contempla 28 perguntas abertas e fechadas de cunho sociodemográfico, antropométrico, dimensões do treinamento e comportamentos associados à prática de corrida. No que diz respeito às características sociodemográficas agrupou-se em: idade, sexo e escolaridade. Enquanto as características antropométricas, utilizou-se de medidas autorreferidas para a massa corporal e a estatura.
As dimensões do treinamento foram compostas por programa de treinamento (autoadministrado ou prescrito por profissional), frequência (vezes ao dia e dias por semana), volume de corrida semanal (km/semana), tempo dedicado por sessão (minutos por sessão), preparação para o treinamento (aquecimento, desaquecimento e alongamento), protocolos de treinamento e conduta preventiva contra lesões. E aos comportamentos associados à prática de corrida incluiu-se autoclassificação (tipo de corredor), anos de experiência em corrida, participação em competições e objetivos para com a corrida.
No que diz respeito a autoclassificação, os participantes poderiam se autodeclarar corredores recreacionais (eu treino para a corrida, mas faço várias provas sem o foco em desempenho), atletas amadores (eu tenho provas alvo, tenho uma periodização, estou em busca de performance) ou atletas profissionais (esse é meu trabalho). Esta categorização parece ser ideal para descrever os corredores de acordo com suas peculiaridades (Oliveira, 2015).
Os dados foram analisados de maneira descritiva e inferencial. Estes são apresentados em média e desvio-padrão (dp) e em frequências absoluta e relativa. Para verificar a normalidade dos dados utilizou-se do Teste Shapiro-Wilk. Para comparação entre os grupos optou-se pela divisão em Grupo de Corredores Recreacionais (GCR), Grupo Atleta Amador (GAA), Grupo Orientado (GO) e Grupo Auto orientado (GA), no qual utilizou-se para as variáveis paramétricas o Teste T Student e para as não paramétricas o Teste Mann-Whitney. Enquanto para o teste de associação aplicou-se os testes Qui-Quadrado ou Exato de Fisher respeitando as especificidades das análises. Adotou-se o nível de significância de p<0,05 e os dados foram analisados utilizando o SPSS® para Windows® versão 21.0.
3. Resultados
Na tabela 1 são apresentadas as características sociodemográficas e antropométricas. Os 54 corredores apresentaram média de idade de 38,15 (dp 8,61) anos, sendo 55,56% mulheres. Em termos de escolaridade, a maioria apresenta-se com pós-graduação (62,96%). Além de 64,81% serem corredores recreacionais e 74,07% treinarem sob orientação de um profissional de Educação Física. Nenhum participante desta pesquisa se declarou como atleta profissional.
Ao se tratar dos comportamentos associados à corrida, apresentados na tabela 2, verifica-se que o GAA exibe maior frequência semanal de treinos de corrida (p=0,0040), assim como quilometragem semanal (p=0,0103) do que o GCR.
Constatou-se que a maioria dos corredores treinam uma vez ao dia (90,74%) no período matutino (31,48%). E entre os grupos GO e GA existe diferença no tempo de treino por dia (p=0,0020) e na frequência de prova feitas durante o ano (p=0,0192) como exposto na tabela 2.
Ainda, observou-se que a maioria dos corredores tem três ou mais objetivos para com a corrida (55,56%), no qual os mais citados foram condicionamento físico, emagrecimento e lazer. Houve diferenças entre o GCR e o GAA na preferência da distância escolhida de prova (p=0,0320), sendo o 5km mais escolhido no GCR (68,57%), enquanto o 10km no GAA (52,63%).
Já na perspectiva das dimensões do treinamento (Tabela 3) verifica-se que 74,07% dos corredores recebem treinamento orientado por um profissional de Educação Física. Todavia, destes 44,44% dos corredores não fazem parte de uma assessoria, grupo ou equipe de corrida.
No quesito alongamento antes da corrida, 24,07% dos participantes “nunca” a fazem, sendo o GO com maior percentual na classificação de “nunca” (27,50%) e o GA na de “as vezes” (28,57%). Ao contrário do alongamento depois que 31,48% “sempre” o fazem, no qual 35% do GO declaram “sempre” e 12,50% do GA “quase nunca”.
Já o comportamento no item aquecimento e desaquecimento é o inverso, tendo a maioria dos participantes que “sempre” fazem o aquecimento (40,74%). Ademais, entre GO e GA observou-se que 35% do GO afirmou que “sempre” o fazem e o 42,86% do GA “as vezes”.
No que diz respeito a conduta de prevenção de lesões 62,96% declararam utilizar algum método para tal, sendo o fortalecimento o mais citado por eles. Ao se tratar do conhecimento sobre o tipo de protocolo de treino utilizado a maioria dos corredores (70,37%) tem a compreensão sobre. Entretanto, entre GO e GA apresentou-se diferenças (p<0,0001), uma vez que 87,50% do GO tem o entendimento e 78,57% do GA não sabem qual o protocolo de treino que utilizam.
Quanto a saber a quantidade de protocolos utilizados houve diferenças entre GO e GA, no qual 78,57% do GA dizem saber de zero protocolos e 80% de GO conhecem três ou mais protocolos. Podendo destacar o treinamento contínuo em baixa intensidade, o treinamento em rampa e o treinamento intervalado curto.
4. Discussão
Na análise do perfil dos corredores de rua da cidade de Chapecó-SC se observou que 74,07% dos corredores treinam sob orientação de um profissional de Educação Física, do qual 55,56% são mulheres o que difere da maioria dos estudos que abordam esta temática apresentando prevalência de homens neste esporte (Albuquerque, Silva, Miranda, & Freitas, 2018; Bach, Vargas, & Borbón, 2018; Besomi et al., 2018; Cardoso et al., 2018; Cavalcante & Almeida, 2018; Fonseca et al., 2019; Leppe & Besomi, 2018; Llopis Goig & Llopis Goig, 2012; Oliveira, 2015; Parra-Camacho et al., 2019, 2020; Salas Sánchez et al., 2013; Santos, 2017; Thuany, Gomes, & Almeida, 2020; Torres, Gomes, & Silva, 2020). O que justifica a afirmação de que a participação feminina na corrida é um fenômeno recente (Dallari, 2009) que está crescendo rapidamente (Fonseca et al., 2019; Kozlovskaia et al., 2019; Lima & Durigan, 2018; Rojo & Rocha, 2018; Rojo, Starepravo, Mezzadri, & Silva, 2017; van Dyck, Cardon, Bourdeaudhuij, Ridder, & Willem, 2017). Ressaltando a característica democrática (Dallari, 2009; Oliveira, 2010) da modalidade, sendo atraente aos diferentes indivíduos em faixas etárias e sexos (Fonseca et al., 2019), fortalecendo a ideia de que a corrida de rua é um fenômeno sociocultural (Dallari, 2009). Além de serem realizadas provas exclusivas para o público feminino (Juste, 2017; Lima & Durigan, 2018).
Verificou-se que atletas amadores treinam mais vezes na semana e consequentemente apresentam uma quilometragem semanal maior que os corredores recreacionais. Uma vez que, corredores mais experientes tendem a acumular mais quilômetros, correndo mais vezes e mais horas por semana do que os corredores menos experientes (Besomi et al., 2018). Todavia, Oliveira (2015) destaca em seu estudo que ambos os corredores, recreacionais e amadores, obtiveram uma mesma frequência e quilometragem semanal de treino.
Ademais constatou-se neste estudo que os atletas amadores predominam na distância de 10km, enquanto os recreacionais prevalecem nos 5km em provas/circuitos de corrida de rua. Característica que já foi documentada em outros trabalhos sobre a temática em capitais brasileiras, como Aracajú, Florianópolis e no interior de São Paulo no município de São José do Rio Preto (Antunes, 2014; Lima & Durigan, 2018; Oliveira, 2015).
Ponto importante desta investigação é que 74,07% dos corredores recebem orientação e prescrição de treinamento por um profissional de Educação Física, porém este não está necessariamente atrelado a uma Assessoria, Clube ou Equipe de Corrida, uma vez que 44,44% dos participantes declaram não fazer parte de uma. Fato já documento em outro estudo com corredores de Aracaju, no qual 71,8% dos corredores recreacionais e 70% dos amadores não participavam de grupos de corrida (Oliveira, 2015). Por outro lado, Antunes (2014) observou em 100 corredores de Florianópolis, que todos participam de uma assessoria e declaram como principal objetivo para tal ser a orientação profissional (42%). Semelhante Albuquerque et al. (2018) relatam que os nove corredores de Recife avaliados, também, faziam parte de um grupo ou assessoria de corrida.
Destes 40 corredores participantes do estudo, 24 são recreacionais e 16 são amadores, tendo apenas 14 corredores que declaram não receber orientação e a prescrição de treinamento por um profissional de Educação Física. Fato que pode ser justificado pelo nível de escolaridade dos participantes ser maior no GO do que no GA, pois ao se considerar que o nível de formação está atrelado ao acesso à informação, seja dos benefícios da prática regular de atividades físicas e do exercício físico (Fonseca et al., 2019) orientado por um profissional de Educação Física, é determinante na conduta de ação e escolhas do sujeito.
Além disso, a investigação de Fonseca et al. (2019) e Cavalcante & Almeida (2018) com corredores de Maceió observou que 47,1% dos corredores recebem acompanhamento de um profissional de Educação Física, porém 43,9% não o recebem. Neste contexto, um levantamento de Besomi et al. (2018) realizado com 821 corredores chilenos 69,2% relataram utilizar um plano auto orientado. Enquanto, um estudo demonstrou que 54,9% de 1.995 corredores que participaram da Meia Maratona de Eindhoven edição 2014, utilizam aplicativos de corrida para monitoramento e para o treinamento (Janssen, Scheerder, Thibaut, Brombacher, & Vos, 2017).
Em concordância, Salas Sánchez et al. (2013) realizaram com 149 corredores veteranos na XXVII Meia Maratona Internacional de Córdoba em 2011 um estudo, no qual 137 corredores declararam não ter um treinador. E o estudo de Leppe & Besomi (2018) constatou que 301 corredores de 868 corredores que realizaram a Maratona de Viña del Mar em 2017 utilizam um plano de treinamento autoadministrado, enquanto 293 com orientação profissional e 232 de um aplicativo móvel.
Nesta perspectiva, compreendendo o aumento exponencial na disponibilidade e uso de dispositivos relacionados a esportes e atividades físicas que de certa forma contribuem na promoção de um estilo de vida mais saudável e ativo (Janssen et al., 2017), induzindo mudanças de comportamento. Todavia, também podem desempenhar um papel de suporte e monitoramento de corredores, que carecem de treinamento e orientação profissional (Glynn et al., 2014; Janssen et al., 2020). Uma condição que exige reflexão sobre qual tem sido as estratégias de atuação do profissional de educação física direcionadas para esse público (Fonseca et al., 2019).
Ainda, observa-se que 87,50% dos corredores chapecoenses declararam saber dos métodos de treinamento aplicados nos treinos, sendo estes corredores do GO, enquanto 78,57% dos GA declaram não saber quais são os métodos de treinamento. Repercutindo na questão seguinte sobre quantos métodos tinham conhecimento em que os mesmos 78,57% do GA afirmaram nenhum. Ao passo que 80% do GO mencionaram conhecer três ou mais métodos, demonstrando que os corredores sabem do que se trata o treino que eles estão executando.
No entanto, ao se considerar que a realização de exercícios de maneira extenuante, sem orientação ou de forma inadequada, podem contribuir para o aumento das lesões (Besomi et al., 2018; Lima & Durigan, 2018) e que as taxas de abandono da corrida são altas devido as lesões e a desmotivação (Janssen et al., 2020; Parra-Camacho et al., 2019), a orientação substancial por meio de um profissional de educação física se faz necessária para manter a participação esportiva sensata e sustentável (Janssen et al., 2017). Uma vez que o profissional de educação física é o único profissional habilitado e capacitado para orientar e prescrever a prática do exercício físico e do esporte com segurança e coerência para alcançar os objetivos almejados pelo praticante, respeitando os princípios do treinamento esportivo e fundamentos da fisiologia do exercício (Freitas, 2013; Ramos & Maciel, 2017; Silveira, Souza, & Schmidt, 2014).
Partindo do pressuposto que a corrida gera inúmeros benefícios para melhorar a saúde e prevenir os problemas associados ao estilo de vida sedentário (Parra-Camacho et al., 2019), a maioria dos corredores chapecoenses tem três objetivos para com a corrida (37,04%), no qual os mais citados foram condicionamento físico, emagrecimento e lazer. Entretanto, é importante destacar que os efeitos benéficos da prática em geral podem ser reduzidos ou mesmo substituídos por efeitos indesejáveis, como lesões, desidratação, desmaios, infarto do miocárdio, quando o treinamento não for orientado por um profissional competente (Astrand, Rodahl, Dahl, & Stromme, 1987).
Algumas limitações e questões para pesquisas futuras podem ser destacadas. As principais limitações deste estudo estão relacionadas ao contato indireto com os corredores do munícipio, uma vez que as informações foram intermediadas por meio dos treinadores, assim como a motivação para que estes sujeitos respondessem o questionário. Ainda, é possível apontar a medida empregada pelo instrumento, fornecendo dados autorrelatados, portanto, embora seja provável que tenha relação com a realidade desses corredores, certos elementos podem ser super ou subnotificados. Além disso, a capacidade de generalização dos seus resultados é baixa, uma vez que os participantes são exclusivamente de Chapecó-SC, e algumas variáveis analisadas podem ser influenciadas por características regionais.
Todavia, essas limitações são minimizadas pelo criterioso processo de aplicação do instrumento e seleção de participantes, bem como a elaboração de um questionário específico baseado em vários autores, uma vez que este foi elaborado após uma pesquisa bibliométrica (em prelo) sobre a temática realizada pelos autores anteriormente. Outro fato importante é o conhecimento sobre os corredores de uma cidade do interior do estado de Santa Catarina - Brasil, que junto com outros estudos pode esclarecer as preferenciais regionais dos corredores.
Assim, recomenda-se para pesquisas futuras um olhar destinado a melhor compreensão desse fenômeno, explorando esse perfil de corredores chapecoense em uma discussão sociológica. A fim de entender porque estes foram os padrões observados, ou seja, por que a média de idade não chega a 40 anos?, por que mais mulheres do que homens?, por que participantes com maior nível educacional?. Entendendo que a corrida se apresenta como um fenômeno global, buscar estas compreensões em profundidade por meio de uma visão qualitativa permanecem abertas e a discussão deve ser permitida e realizada provendo detalhamentos dessa comunidade que são os corredores.
Conclusão
Ao descrever o perfil dos corredores de rua da cidade de Chapecó-SC verificou-se a prevalência do público feminino, com nível de escolaridade em pós-graduação, com média de idade 38,15 (dp 8,61) anos, massa corporal 51,83 (dp 29,60) kg, estatura 168,59 (dp 8,36) cm, com 61,41 (dp 76,44) meses de experiência na corrida. Sendo principalmente corredores recreacionais que recebem orientação e treinamento prescrito por um profissional de Educação Física. Tendo uma frequência semanal de corrida de 3,42 (dp 1,47) vezes, totalizando uma quilometragem semanal em 31,10 (dp 32,35) km, com treinos até 56,46 (dp 19,96) minutos de duração. Esses treinos acontecem principalmente pela manhã, sendo apenas um treino ao dia.
O corredor chapecoense participa de 5,63 (dp 4,34) provas ao ano, preferindo a distância de 5km. Tendo três ou mais objetivos para com a corrida. Estando associado a uma assessoria. Que não tem como rotina o alongamento prévio ao treino, mas que sempre aquece. E ao final nunca desaquece, mas sempre alonga. Apresenta uma conduta de prevenção de lesões. E sabe o método de treinamento aplicado pelo treinador, variando em três ou mais tipos de métodos utilizados.
Dessa forma, ao se considerar o crescimento exponencial da prática de corrida de rua nos últimos anos em todo o Brasil e mundo, e as possibilidades de atuação profissional em uma área do mercado com muito potencial de expansão no futuro, torna-se relevante e importante a produção de conhecimento sobre o perfil sociodemográfico, os comportamentos associados a corrida de rua, bem como as dimensões do treinamento e do acompanhamento profissional. Uma vez que conhecer melhor o perfil do seu público-alvo potencializa as chances de obter maior êxito nas estratégias de inserção e atuação direcionadas a esse público emergente, assim como promover maior adesão a modalidade com orientação profissional.