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Temas medievales

Print version ISSN 0327-5094On-line version ISSN 1850-2628

Temas Mediev. vol.12 no.1 Buenos Aires Jan./Dec. 2004

 

VARIA

Da antigüidade clássica à idade média : a idéia da Humanitas na antigüidade tardia ocidental

Renan Frighetto1, 2

1 Universidade Federal  do Paraná R/CNPq

2 Trabalho vinculado ao projeto "O poder régio e a sua legitimidade no reino hispano-visigodo de Toledo (ss. VI/VII)" - CNPq 2003/1

Resumen: La Antigüedad tardía (siglos III-VIII) ha sido caracterizada como una época de transición entre el período clásico-helenístico y la alta Edad Media. De hecho, se observan algunos cambios estructurales significativos en los campos político, económico, social y religioso, cambios que presentan dicho período como una fase histórica única y emblemática. Pero, al mismo tiempo, se verifica que la época tardoantigua ofrece varios elementos que señalan la supervivencia y conservación de ideas, conceptos y virtudes a través del discurso histórico. En el presente estudio, nos detendremos en el análisis de un concepto que aparece, de forma directa o indirecta, desde la época republicana romana hasta las fuentes tardoantiguas occidentales: la idea de humanitas

Palabras Clave: Antigüedad tardía - política - humanitas

Summary: Late Antiquity (Centurys III/VIII) is characterized as an era of transition between the Classic-Hellenistic period and the High Middle Ages. Indeed, we have noticed some significant structural changes in the political, economical, social and religious fields, showing Late Antiquity as unique and emblematic historical phase. But we have also noticed that the late-antiquite period presents various elements that show the survival and the continuation, through the hiscorical discourse, of ideas, concepts and virtues. In the present text we will keep to the analysis of a concept that appears, directly or indirectly, since the roman republican era until late-antiquite western sources: Humanitas

Key Words: Late Antiquity - politic ideas - humanitas

Résumé: L’Antiquité tardive (IIIe au VIIIe siècles) a été caractérisée comme une époque de transition entre la période classico-hélénistique et le haut Moyen Âge.En fait, on observe certains changements structurels significatifs dans les domaines politique, économique, social et religieux qui présentent cette période comme une phase historique unique et emblématique.Mais, en même temps, on vérifie que l’époque de l’antiquité tardive offre plusieurs éléments qui signalent la survivance et la consevation d’idées, de concepts et de vertus présentes à travers le discours historique.Dans cette étude, nous analyserons un concept qui apparaît, de manière directe ou indirecte, depuis l’époque républicaine jusqu’aux sources tardo-antiques: l’idée de humanitas.

Monts-Clé: Antiquitétardive - politique - humanitas

   Apresentar qualquer estudo que diga respeito a transição histórica dum determinado período à outro sempre acabará por remeter-nos ao reincidente tema da longa duração proposto por Braudel em meados do século XX[1]. Sua afirmação, incontestável por certo e defendida por discípulos do porte de Michel Vovelle[2], de que "as permanências ou sobrevivências dão-se no imenso campo do cultural"[3] levam-nos a refletir exatamente sobre as velocidades que impulsionaram as transformações, umas mais rápidas -as quais denominamos "revoluções"[4]-, outras mais lentas que atingem o próprio campo do pensamento literário, da cultura e, quiçá, das mentalidades. Este desenvolvimento histórico mais "letárgico" e vinculado ao âmbito cultural, mais lento e que por vezes remonta a vários séculos que antecederam o objeto analisado, será foco de nossa atenção neste trabalho.
   Inicialmente devemos lançar nosso olhar crítico com relação ao conceito, historiograficamente recente, de Antigüidade Tardia[5]. Em linhas gerais, até bem pouco tempo, os limítes cronológicos impostos à Antigüidade ditavam o seu "fim" no século V, coincidindo esta centúria com a desagregação política do Império Romano do Ocidente. Porém, a bem da verdade histórica, referimo-nos nesse caso ao campo político e com certa dose de fatalismo. Os enciclopedistas e iluministas acentuaram o "triunfo da religião" como causa imediata da "queda" do Império nos territórios ocidentais[6]. Durante gerações esta idéia esteve presente no imaginário dos historiadores, filósofos e filólogos, para citarmos alguns dos mais insígnes representantes das ciências das humanidades. Mas para nossa sorte desde o surgimento da corrente dos Annales o que antes aparecia como certeza absoluta passou ao âmbito das hipóteses: será que a Igreja foi responsável pela desestruturação política do Império na Pars Occidentalis? Essa e outras várias perguntas foram colocadas e apontavam para a existência de permanências e continuidades em todos os quadrantes, do político ao econômico, do cultural ao social. Logo podemos dizer que os elementos básicos da civilização greco-helenística-romana sobreviveram ao marco cronológico do século V sofrendo algumas alterações com respeito a sua forma original. Exemplo disso podemos ver no principal alicerce institucional da realidade mediterrânica greco-latina, a polis/ciuitas.
   Com efeito, desde finais do século II de nossa era, a polis/ciuitas vai perdendo paulatinamente sua importância como centro das decisões políticas e econômicas no mundo greco-romano sofrendo uma consequente redução no seu papel de difusora da cultura e de valorização social[7]. Contudo ela não desaparece do cenário imperial romano e adapta-se as novas condições[8]: ganha um muro à sua volta para proteger-se de possíveis incursões[9] e ainda manterá suas funções administrativas graças ao processo de mímesis propugnado pela Igreja católica[10]. De fato observamos que o bispo, fruto típico do meio urbano e membro dos grupos sócio-culturais e políticos mais destacados[11], terá sua sede episcopal geralmente fixada junto as mais importantes ciuitates do mundo imperial romano[12]. Inclusive o próprio bispo passou a desenvolver um destacado papel de agente político quer junto ao Império, quer junto aos novos poderes representados tanto pelas aristocracias senatoriais romanas com enorme prestígio regional como pelos aliados e federados germânicos do Império[13]. Para tanto basta recordarmos a posição de superioridade moral e espiritual demonstrada por Ambrósio de Milão diante do Imperador Teodósio[14], ou do papel de intermediador protagonizado pelo papa Leão I junto a Átila[15] e das embaixadas encabeçadas por Hidácio de Chaves para conversações tanto com o rei visigodo Teodorico II em Tolosa como com o magister militum Aécio acerca dos problemas na Gallaecia[16]. Ou seja, observamos que os bispos já no século V desempenham as funções antes específicas da autoridade imperial agindo, dessa forma, como defensor dos interesses das comunidades que estavam sob sua jurisdição[17].
   Tais elementos indicam-nos uma significativa alteração nos alicerces político-institucionais do mundo imperial romano, apresentando-nos um período "novo", com identidade própria, pouco analisado pela historiografia brasileira: de fato, a Antigüidade Tardia apresenta-se ricamente adornada exatamente por ser uma época/período de transição repleto de paradoxos[18]. Como já podemos observar pelo anteriormente exposto o Império Romano do Ocidente vai perdendo paulatinamente seus poderes até desaparecer, em termos práticos, no último terço do século V[19].  Mas as monarquias romano-germânicas que substituem-no o fazem como herdeiras da tradição imperial, sobre os alicerces imperiais constituiram as suas instituições e mantiveram a lingua latina como lingua oficial. Os reis, como o já mencionado Teodorico II e seus sucessores Eurico e Alarico II, aparecem descritos com as virtudes imperiais que vão desde o ponto de vista físico[20] até o seu papel de legisladores sempre baseados nos códigos jurídicos imperiais[21]. Podemos dizer que mais que copiar o modelo imperial romano os monarcas romano-germânicos tentam a todo custo aparecer como os substitutos do poder imperial em suas áreas de dominação hegemônica. Em outras palavras, os reis romano-germânicos procuram passar a mensagem às aristocracias senatoriais romanas estabelecidas em seus domínios de que toda a herança política e institucional do desaparecido Império nos territórios ocidentais estava concentrada em suas mãos. Se do ponto de vista teórico buscava-se construir uma legitimidade régia, no campo da praxis política cotidiana era extremamente complexo impor tal pensamento em regiões onde o poder político imperial deixara de ser uma realidade desde os primórdios da V centúria, sendo desde então exercido por membros das aristocracias senatoriais romanas[22]. Esta disputa entre a centralização do poder e a atomização/dispersão do mesmo nos territórios ocidentais,elemento igualmente característico da Antigüidade Tardia, também contou com a significativa participação do Império Romano do Oriente.
   De fato Constantinopla e o basileus sempre exerceram uma influência ideológica sobre os territórios ocidentais[23]. Se os elementos teóricos-institucionais comuns às monarquias romano-germânicas ocidentais tinham um expectro de herança em relação ao Império Romano Ocidental, no caso oriental eles representavam a manutenção e a sobrevivência da idéia de Imperium. O basileus, sua corte, seu cerimonial e sua indumentária, seu aparato jurídico e a sua imponente capital representavam uma realidade a qual todos os monarcas romano-germânicos almejavam[24]. Assim poderiam unir os elementos relacionados a traditio baixo-imperial ocidental, de longa data por eles conhecida, com as influências provenientes do mundo romano oriental. Dessa forma aproximar-se-iam do ideal da ciuilitas greco-romana, vinculariam-se ao eixo civilizacional do mundo mediterrânico em termos políticos e ideológicos. A única exceção, subsanada por visigodos e francos ao longo do século VI mas mantida pelos lombardos ainda nos primórdios do século VII, a essa plena integração girava à volta da conversão ao cristianismo niceno, incorporado desde a sexta centúria como conditio sine qua non para que uma monarquia romano-germânica passasse a integrar o rol dos considerados civilizados no mundo mediterrânico[25].
   Esta vinculação com as heranças e tradições do passado baixo-imperial fazem com que apareçam novas definições e novos conceitos de uirtutes romanas características da época clássica e helenística. A título de exemplo a clementia, a pietas e a iustitia aparecem renovadas na Antigüidade Tardia com marcado acento cristianizante[26] quando, na sua origem, tratavam-se de uirtutes romanas clássicas associadas principalmente a figura do princeps[27]. Além destas e de muitas outras[28], escolhemos para esta apresentação aquela que em nosso entender pode ser vista como a mais universal de todas as uirtutes romanas e que também ganhou um novo significado nesse momento de transição entre os séculos IV e VIII: referimo-nos a humanitas.
   Mas como definir um conceito que a priori pode ser traduzido pela expressão "humanidade"? Uma idéia tão vasta que alguns autores romanos tentaram defini-la a partir de concepções comportamentais. O caso de Varro, autor que participou ativamente de todas as transformações políticas sofridas pelo mundo romano no século I a.C. (116 a.C.-27 a.C.), parece esclarecedor na medida em que define a humanitas a partir duma dupla finalidade: a da utilitatis e da elegantiae[29]. A segunda destas finalidades, a elegância, aparece diretamente relacionada ao detentor da humanitati, ou seja, daquele que é cultivado e que sabe valorar a beleza e a elegância em todos os seus atos, inclusive nos eventos mais corriqueiros e simples. Se Varro apresenta-nos essa definição, observamos que ela complementa-se nos escritos dum contemporâneo seu e, provavelmente, melhor conhecido do público em geral: de fato, Marco Túlio Cicero é para os historiadores, filósofos e educadores um dos grandes nomes da baixa-república romana. Interessante é a passagem ciceroniana encontrada no De Amicitia onde a sapientia aparece como a mais importante de todas as virtudes humanas[30]. Sabedoria que segundo a percepção de Cícero revela-se através das amizades que somente um indivíduo cultivado, dotado da humanitas, poderia possuir. No entender de H.I.Marrou[31], Cícero não conseguiu encontrar melhor definição para explicar como o homem tornava-se mais profundamente homem. Portanto podemos dizer que a humanitas, na concepção clássica romana, está composta por todos os elementos internos e externos ao indivíduo que o tornarão cultivado, educado, polido e civilizado. Também devemos ter em atenção o momento histórico no qual tais definições foram forjadas: a necessidade de acalmar os espíritos políticos exaltados por cerca de um século de confrontações militares explicar-nos-ia a busca da humanitas -entendida desde a perspectiva da amizade, da philantropia, da sabedoria, da misericordia, da piedade- por parte dos seniores do Imperium Romanorum[32]. Por certo Roma caput mundi e seus governantes, ao menos no campo teórico, deveriam agir de forma equânime em todas as regiões sob as quais exerciam uma fortíssima ação hegemonica. Basta para tanto recordarmos a Pax instaurada por Augusto e que, ao menos no campo retórico, atingiu a todos os recantos do orbe romanorum[33]. Ou então a noção do optimus princeps, epíteto incorporado como título à Trajano pelo famoso Panegírico de Plínio, o Jovem[34], que graças a sua humanitas obteve o "gratuito" reconhecimento da hegemonia romana sobre as poleis gregas e orientais[35]. Notamos com estes e outros exemplos[36] que a humanitas aparece no período Alto-Imperial diretamente relacionada aos imperatores na medida em que, de acordo com Rodriguez Gervás, buscava-se elaborar, formalizar e intensificar a imagem imperial com o objetivo básico de criar-se uma estrutura política unitária[37]. Assim o centro do poder político romano aparecia, desde a perspectiva teórica, vinculado à idéia de humanidade e de civilização estando, desde logo, associado à noção de paideia do mundo greco-helenístico[38].
   Contudo nos primórdios da Antigüidade Tardia observamos uma mudança com relação a associação da humanitas a figura dos imperadores. Quiçá isso deveu-se sobretudo aos problemas enfrentados pelo Império Romano ao longo do século III onde o imperator deveria aparecer, nos relatos oficiais, como autêntico uictor apoiado quer por Ioui, quer por Hércules para fazer frente aos perigos e ameaças internas e externas que fizeram cambalear os alicerces políticos e institucionais do Império Romano[39]. Talvez isso possa explicar-nos a imagem do "imperador soldado" associada a este período, diferente daquele "imperador ilustrado, culto e civilizado" dos dois séculos precedentes.
   Notamos que a partir do século IV as fontes baixo-imperiais romanas vinculam a humanitas à idéia duma coletividade civilizada. Assim os romanos de todos os quadrantes do Império aparecem como detentores da humanitas tendo como contraponto os inimigos externos, os barbaroi, imbuídos da ferocitas que aproximava-os da caracterização própria do "selvagem"[40], muitas vezes exagerada pelos relatos das fontes oficiais. Devemos recordar que o bárbaro além limes era visto pelas altas esferas administrativas imperiais como um potencial desestabilizador da ordem interna existente no Império Romano, capaz inclusive de apoiar usurpadores contra o poder imperial legítimo[41]. Por isso as vitórias contra as incursões germânicas que atingiam o Império Romano são apresentadas de forma eloqüente pelas fontes panegirísticas do século IV, destacando a figura do imperator como defensor da humanitatis contra aquela ameaça proveniente das terras onde a ferocitas e a barbárie eram comuns[42]. Uma propaganda política que atingiu ou atinge até hoje mentes ilustradas e muito capazes. Isso porque contamos unicamente com os relatos das fontes baixo-imperiais, como os panegíricos latinos ou os escritos de Ammiano Marcelino, Jerônimo de Stridon, Ambrósio de Milão, Agostinho de Hipona, Paulo Orósio ou Hidácio de Chaves, que apresentam-nos documentos diretamente comprometidos com a ordem imperial. Estudos mais recentes buscam indicar que o impacto das migrações germânicas foi menos violento para o Império Romano, principalmente em sua pars occidentalis, do que as fontes romanas sugerem[43]. Inclusive estes mesmos "bárbaros" passaram à condição de foederati do Império Romano do Ocidente na primeira metade do século V[44]. O exemplo dos visigodos pode ser bastante elucidativo: de responsáveis pelo saque de Roma em 410, sob o mando de Alarico[45] -que no entender de Diaz Martinez liderava um grupo reduzido de guerreiros[46]- alcançam a função de protetores do Império Romano do Ocidente com Teodorico II[47], monarca que será descrito por Sidônio Apolinario como modelo virtuoso e corporal, comparável aos imperadores romanos[48]. Ou seja observamos que os visigodos, desde meados do século V, ingressaram definitivamente no âmbito da definição da ciuilitas clássica greco-romana[49].
   Porém encontramos aqui uma questão intrigante para o desenvolvimento de nosso estudo: em momento algum os visigodos ou outras tribos germânicas fixadas nos territórios ocidentais aparecem descritas pelas fontes baixo-imperiais romanas do século V como detentoras da humanitas. Ora, ciuilitas e humanitas seriam termos sinônimos? Não necessariamente. De fato podemos observar que o termo humanitas aparece relacionado, principalmente a partir do século V e em fontes oriúndas do meio eclesiástico, com os termos fidem/fidelis/fidelitatis[50]. Assim a humanitas é entendida como vínculo à Deus, mas àquele que sustenta o potestatum regni contra a praesumtione tyrannica[51]. Noutras palavras, o Deus professado pela fé niceísta aparece como o autêntico concessor dos poderes tendo como antítese o deus herético, ilegítimo, falso e tirânico[52]. Os visigodos, assim como os vandalos e lombardos, seguiam a fé ariana, herética e ilegítima desde a perspectiva catolica. Logo poderiam ser partícipes da ciuilitas greco-romana mas encontrar-se-iam alijados da humanitas, entendida como sinonimo de christianitas. Somente no momento da conversão à fé niceísta, que ocorre no caso visigodo no III Concílio de Toledo de 589, as monarquias romano-germânicas ocidentais passaram a usufruir de todas as prerrogativas ideológicas do cristianismo niceno para buscarem reforçar as bases do seu poder político e institucional[53]. A começar pelo apoio teórico e ideológico que receberam da Igreja católica em termos regionais, já que falarmos duma Igreja católica ocidental unificada e completamente coesa mesmo no século VII seria um pouco exagerado[54]. Seja como for a idéia de humanitas pode ser vista desde a ótica de Isidoro de Sevilha que nas Sententiae vincula a humanitas ao apostolico exemplo[55], ou através do pensamento do monarca hispano-visigodo Sisebuto que apresenta a noção da humanitatis no sentido espiritual na Uita Desiderii[56] bem como em seu epistolário -mais precisamente na epistola VIII dirigida à Adaloaldo, rei lombardo e ariano- surge o exemplo da idéia da humanitas ser considerada como sinônimo de christianitas[57].
   Enfim, poderiamos apresentar outros inúmeros e ricos exemplos. Contudo entendo a apresentação dum trabalho em forma de artigo não como um fim em sí mesmo mas como base e princípio à algo muito mais importante e interessante que é o debate e a troca de idéias. O que podemos dizer, a modo de conclusão parcial, é que o termo humanitas aparece como exemplo típico das permanências e continuidades existentes entre o mundos clássico e tardo-antigo. Uma "humanidade" que para os clássicos era entendida como virtude imperial, que nos primórdios da Antigüidade Tardia já extendia-se à todo um conceito geo-político e cultural e que a partir do século V esteve associado à idéia de christianitas. Um termo, uma virtude, um conceito que deve ser interpretado à luz da própria História. 

Notas

[1] Para tanto vide o clássico texto escrito por F. BRAUDEL, "A longa duração", in História e Ciências Sociais, Lisboa, 1981, p. 7-39.        [ Links ]

[2] M. VOVELLE, "Um tempo mais longo: resistências e longa duração nas mentalidades coletivas", in Ideologias e Mentalidades, S. Paulo, 1987, p.255-98.        [ Links ]

[3] Cf. BRAUDEL, op. cit., p. 15; idéia que respalda VOVELLE, op. cit., p. 271-2: "...Aparentemente, tanto a história da cultura como a das atitudes coletivas fizeram seus avanços mais proeminentes no tempo longo da sociedade tradicional do Antigo Regime...".

[4] Segundo VOVELLE -"A sensibilidade pré-revolucionária", in op. cit., p. 338- "...Mas o pesquisador, trabalhando no tempo curto da chama revolucionária, se vê incessantemente remetido de volta ao problema das origens, da contextualização em uma evolução de longa duração, cujos comportamentos revolucionários poderiam não ser mais que a resultante ou a cristalização 'a quente'...", onde a revolução, pese a sua característica imediata, teria origens que poderiam remeter à um tempo mais longo.

[5] Conceito que tem como expoentes máximos os trabalhos de H. I. MARROU, Decadência romana ou Antigüidade Tardia?, Lisboa, 1979; P. BROWN, O Fim do Mundo Clássico. De Marco Aurélio à Maomé, Lisboa, 1972; A. H. M. JONES, The Later Roman Empire 284-602. A social, economic and administrative survey, Oxford, 1964, 2 v..; J. FONTAINE, Isidore de Sèville et la culture classique dans l'Espagne wisigothique, Paris, 1959, 2 v; e J. A. STRAUB, "Consciencia de Imperio y sentimiento nacional en las provincias romanas. Hispania y el Imperio Romano en la concepción de Floro", in  Antigüedad y Cristianismo VII - Cristianismo y aculturación en tiempos del Imperio Romano, Murcia, 1990, pp. 649-67.        [ Links ]         [ Links ]         [ Links ]         [ Links ]         [ Links ]

[6] Dentre os diversos estudos sobre o tema desenvolvidos no final do século XVIII destacamos o sugestivo E. GIBBON, History of the Decline and Fall of the Roman Empire, Londres, 1914.        [ Links ]

[7] De acordo com J. ARCE, "La transformación de Hispania en época tardorromana: Paisaje urbano, paisaje rural", in  De la Antigüedad al Medievo (Siglos IV-VIII). III Congreso de Estudios Medievales, Ávila, 1993, p. 246: "...La crisis de la ciudad -y del estamento gobernante de la misma- es un fenómeno que empieza ya en el siglo II y que se debe a que los componentes sobre los que se fundaba su prosperidad -ervegetismo espontáneo, capacidad más autónoma en cuanto a la acción de las curias- se fueron deteriorando..."; conforme R. FRIGHETTO, "Aquae Flaviae na Crónica de Hidácio", Revista Aquae Flaviae, 18 (1997), p. 35: "...Tal processo acabou por levar a ciuitas a perder sua primazia como pólo de atração política e produtiva...".        [ Links ]         [ Links ]

[8] De acordo com ARCE, op. cit., p. 247: "...El propio cronista Hidacio atestigua la importancia y florecimiento de las ciudades de Hispania en el siglo V, porque se sigue viendo y acudiendo a las ciudades como centro vital de los espectáculos y de los teatros y de los hipódromos [...]. La idea de decadencia de la ciudad tardorromana obedece a una antigua formulación de M. Rostovzeff [...], pero que todos sabemos que estaba condicionada por un modelo y esquema contemporáneo al propio autor que ha de ser, por fuerza, revisada [...]. No hay ninguna evidencia -todavía- que permita decir que en Hispania la ciudad tardorromana no siga siendo el cuadro de operaciones financieras o los mercados..."; idéia que é partilhada por P. C. DIAZ MARTINEZ, "Estructuras de gobierno local en la Antigüedad tardía. Un estudio regional: el N.O. de la Península Ibérica en el siglo V", Studia Zamorensia Historica, VIII (1987), p. 237: "...Es cierto que no hay que pensar en una ruina municipal generalizada. Algunas ciudades conservaron unas bases económicas que justificaban y sostenían una aristocracia urbana acomodada, que podía conservar cierto patriotismo municipal y responder a un esquema ciudadano altoimperial...", assim como noutro estudo de P. C. DIAZ MARTINEZ, "El alcance de la ocupación sueva de Gallaecia y el problema de la Germanización", in Galicia: da Romanidade á Xermanización. Problemas históricos e culturais, Santiago de Compostela, 1992, p. 215: "...sí tenemos en Hidacio suficientes testimonios de una continuidad que era independiente, en principio, del poder suevo. Se trata de aquella que se refiere a las tradiciones e instituciones locales. En el esquema narrativo del cronista las ciudades ocupan un lugar importante, están sin duda más próximas a sus esquemas mentales...".         [ Links ]         [ Links ]

[9] De acordo com J. ARCE, "Inestabilidad política en Hispania durante el siglo II d.C.", in España entre el mundo antiguo y el mundo medieval, Madrid, 1988, p. 42: "...Es posible que localidades como Munigua (actual Mulva) tuvieran que levantar rápidamente sus murallas y sufrieran los efectos del asedio..."; noutra artigo desta mesma coletânea "La 'crisis' del siglo III d.C. en Hispania y las invasiones bárbaras", o prof. Arce indica na p. 66: "...De la misma manera que la ocultación de monedas, la fortificación de ciudades obedece a muy diversas causas. En todo caso, para Hispania, la refortificación o amurallamiento es una consecuencia del fenómeno de inseguridad general y previsión -no particular de la Península- en el Imperio y desde luego ambos fenómenos (amurallamiento o refortificación e invasión más crisis) no son relacionables necesariamente...". Idéia também apresentada por J. J. SAYAS ABENGOCHEA. e L. A. GARCIA MORENO, Romanismo y germanismo: el despertar de los pueblos hispánicos (siglos IV-X), Madrid, 1981, p. 62: "...si bien no pueden siempre esgrimirse como una prueba de invasión, sí que son indicios de terror e intranquilidad. Desde finales del siglo III y comienzos del IV, muchas ciudades hispánicas, y no sólo las que podían ofrecer una primera resistencia, comenzaron a construir o reconstruir recintos amurallados, incluso en un momento en que atravesaban problemas económicos municipales...".         [ Links ]         [ Links ]

[10] Como nos indica L. A. GARCIA MORENO, Historia de España visigoda, Madrid, 1989, p. 263: "...En principio, estos territoria parecen coincidir en líneas generales con los antiguos municipios romanos; aunque el hecho a destacar es la tendencia a hacer coincidir las cabezas de cada territorio con las sedes episcopales..."; igualmente DIAZ MARTINEZ, "Estructuras de gobierno local...", p. 237: "...la Iglesia, que en un claro proceso de mímesis con el sistema organizativo imperial, estableció los episcopados en las viejas ciuitates, equiparando el territorio de las diócesis con el territorio de las mismas..."; a equivalência de civitas com o de urbs episcopalis é constatada em DU CANGE, Glossarium Mediae et infimae latinitatis, Graz, 1954, v. VII, p. 61.         [ Links ]         [ Links ]

[11] Um excelente estudo sobre esta questão é o de R. TEJA, "La cristianización de los ideales del mundo clásico: el obispo", in Emperadores, obispos, monjes y mujeres. Protagonistas del cristianismo antiguo, Madrid, 1999, p. 75-95, valendo citar a seguinte referência encontrada nas páginas 75-6 deste estudo: "...La influencia el obispo en la sociedad del Imperio romano tardío obedece a factores múltiples. Indudablemente es consecuencia de la política religiosa de los emperadores cristianos, pero esta influencia sería inimaginable si en esta época no hubiesen accedido al episcopado una larga serie de personajes que por su status social, su riqueza familiar, su formación cultural estaban llamados de por sí a dirigir la sociedad de su tiempo. La condición sacerdotal representó un elemento nuevo que les proporcionó una libertad de acción y de palabra, un prestigio que no hizo sino reforzar la capacidad de liderazgo que por origen social y formación estaban llamados a ejercer...".

[12] Para tanto vide nota 9.

[13] Para este tema vide FRIGHETTO, op. cit., p. 37.

[14] Para R. TEJA, "Auctoritas vs. Potestas: el liderazgo social de los obispos en la sociedad tardo-antigua", in Emperadores, obispos..., p. 105: "...Quizá pocos fueron tan conscientes de la trascendencia de esta postura como Ambrosio de Milán, que tenía mejor experiencia que cualquier otro personaje de su época en el ejercicio de ambos poderes. Ambrosio no intentó nunca eclipsar a Teodosio compitiendo con su poder, sino que lo eclipsó más eficazmente censurando la ira del emperador y convirtiéndose en árbitro de su misericordia...".

[15] A referência mais interessante a este encontro entre Leão I e Átila é a de Prospero de Aquitania, Cronc.,1. Recentemente foi apresentado um trabalho muito detalhado acerca dessa temática por G. GOMÉZ DE ASO, "Atila y León I: un encuentro entre hombres arquetípicos de la transición entre la Romanidad y la Cristiandad", in Preactas XX Semanas de Estudios Romanos, Viña del Mar-Universidad Catolica de Valparaíso, 2002 (inédito).        [ Links ]

[16] Hidacio, Chron., a. 431, 96: "...Sueui initiam cum Gallaecis pacem libata sibi occasiones conturbant. Ob quorum depraedationem Hydatius episcopus ad Aetium ducem, qui expeditionem agebat in Gallis, suscipit legationem..."; a. 432, 98: "...Superatis per Aetium in certamine Francis et in pace susceptis, Censorius comes legatus mittitur ad Sueuos, supradicto secum Hydatio redeunte..."; a. 433, 100: "...Regresso Censorio ad palatium, Hermericus pacem cum Gallaecis, quos praedabatur assidue, sub interuentu episcopali datis sibi reformat obsidibus..."; a. 459, 197: "...Legati, a Nepotiano magistro militae et a Sunerico comite missi, uenint ad Gallecos nuntiantes Maiorianum Augustum et Theodoricum regem firmissima inter se pacis iura sanxisse, Gothis in quodam certamine superatis...", sendo esta embaixada recebida, provavelmente, por Hidácio enquanto bispo e autoridade regional e local.

[17] O bispo poderia, inclusive, converter-se no primeiro magistrado citadino diante da ausência de um poder civil como reconhece A. TRANOY, "Les Chrétiens et le rôle de l'évêque en Galice au Veme siècle",  Actas Bimilenario de Lugo, Lugo, 1977, p. 251-60; e de acordo com GARCIA MORENO, Historia de España visigoda, pp. 352-3: "...El carácter episcopal [...] convertía al obispo en jefe de la iglesia local y pastor de la comunidad diocesana, con la triple potestad de jurisdicción, gobierno y magisterio; y ello sin contar las extensiones civiles de su jurisdicción y el poder emanado de su liderazgo social y moral...".        [ Links ]

[18] Na opinião de BROWN, op. cit., p. 8: "...O Império Romano abrangia um território extenso e variado. As metamorfoses que experimentou neste período foram numerosas e complexas. Vão das classes e das modificações claras, bem documentadas, tais como as repercussões da guerra e do aumento dos impostos sobre a sociedade dos séculos III e IV, às actividades referentes às relações do homem consigo próprio e com o seu próximo..."; nesta mesma linha R. FRIGHETTO, "Usurpação, tyrania e a dominação na Hispania visigoda de finais do século VII: o exemplo de Wamba (672-680)", Boletim do CPA, 10 (2002), p. 39, onde o autor apresenta a Antigüidade Tardia como um período que "...encontrar-se-ia inserido num amplo processo de transição política, econômica, social e cultural entre a Antigüidade Clássica e a Alta Idade Média...".        [ Links ]

[19] Para tanto vide R. FRIGHETTO, "Infidelidade e barbárie na Hispania visigoda", Gerión, 20/1 (2002), pp. 496;  segundo M. ROUCHE, "Le royaume wisigoth de Tolouse vu d'Espagne", in De la Antigüedad al Medievo, p. 290 :  "...Ainsi, ce décalage dans la perception du changement, entre Hydace et les Romains d'Aquitaine, ces quinze années d'illusions supplémentaires, ont permis la lente agonie de l'Empire romain d'Occident. Contrairement à la vieille affirmation de Gibbon et de Piganiol, pour qui la civilisation romaine avait été assassinée, je dirai que les wisigoths de Toulouse l'ont mise en état de coma prolongé".        [ Links ]

[20] A descrição oferecida por Sidônio Apolinário (I, 2, 3) da figura de Teodorico II é muito significativa: "Igitur uir est [...] dignus agnosci [...] personam [...] mores. Si forma [...]: corpore exacto, longissimis breuior, procerior [...] mediocribus. Capitis apex [...] Aurium legulae, sicut mos gentis est, crinium [...] Pilis [...] Barba [... ] suculenti lactea cutis [...] iuuenali rubore. Teretes umeri, ualidi lacerti, dura bracchia. In succinctis regnat uigor ilibus [...] magna membra, pes modicus... ".

[21] É muito interessante a informação legada por Isidoro de Sevilha sobre o rei Eurico em Hist. Goth.,35: "...Sub hoc rege Gothi legum instituta scriptis habere coeperunt...", onde a criação dum código legislativo por parte dum monarca visigodo pode indicar, a partir da perspectiva isidoriana, a integração plena daqueles na ciuilitas romana. De acordo com P. D. KING, Derecho y sociedad en el reino visigodo, Madrid, 1972, p. 25: "...Aunque Isidoro nos dice que los godos se habían gobernado hasta entonces sólo por el derecho consuetudinario, esto es, sin duda, una exageración...", embora o mesmo autor em sua nota 32 levante a explicação plausível de que Isidoro de Sevilha estivesse realçando o Código de Eurico como sendo "...el primer gran conjunto de leyes escritas por el que se gobernaron los godos..."; a idéia do ingresso definitivo dos visigodos na ciuilitas romana, sendo nesse sentido continuadores e defensores da romanitas aparece realçada também em A. D'ORS, Estudios Visigoticos. II-El Código de Eurico, Roma-Madrid, 1961, p. 2: "...Pero no debemos olvidar, al hacer esta caracterización del Código de Eurico, que su autor, sucumbido el Imperio de Occidente, venía a continuar la trayectoria legislativa de los príncipes romanos..."; uma abordagem acerca do papel legislativo de Eurico e Alarico II é apresentada por M. R. VALVERDE CASTRO, Ideología, simbolismo y ejercicio del poder real en la monarquía visigoda: un proceso de cambio, Salamanca, 2000, p. 63-80.        [ Links ]         [ Links ]

[22] Sobre esta questão vide FRIGHETTO, "Infidelidade e barbárie...", p. 393-4; ver também deste mesmo autor Cultura e poder na Antigüidade Tardia Ocidental, Curitiba, 2000, pp. 47-9.        [ Links ]

[23] Como nos indica GARCIA MORENO, Historia de España visigoda, p. 322: "...A partir de Leovigildo, los monarcas toledanos acumularían al título tradicional e imperial de Flavio otros apelativos y tratamientos protocolarios propios de la realeza imperial bizantina del siglo V [...]. A semejanza de Constantinopla, Toledo sería plenamente confirmada como sede del reino. La celebración del sínodo arriano del 580 en Toledo iniciaría una larga serie de reuniones conciliares de carácter eclesiástico y político a la vez y con un ámbito nacional..."; influências também realçadas noutro estudo deste mesmo autor "El estado protofeudal visigodo: precedente y modelo para la Europa carolingia", in L'Europe héritière de l'Espagne wisigothique, Madrid,1992, p. 27: "...Imperialización ciertamente continuada por un monarca como Teudis, también un Amalo, y llevada a su paroxismo por Leovigildo (569-585). Imperialización leovigildiana según el modelo protobizantino de Justiniano, que se completaría con Recaredo y su conversión a la fe católica..."; idéia igualmente defendida por J. ORLANDIS, "El rey visigodo católico", in De la Antigüedad al Medievo, p. 55: "...La idea de realeza evolucionó sensiblemente en la España visigoda durante la época leovigildiana, como consecuencia de la recepción de influencias ideológicas e incluso ceremoniales provenientes del Oriente bizantino..."; e como apresenta-nos VALVERDE CASTRO, op. cit., p. 185-6: "...los reyes visigodos se preocuparon de hacer de Toledo una auténtica ciuitas regia, título que ya recibe en el III Concilio de Toledo y que, desde entonces, encontraremos profusamente empleado en los textos conciliares, aunque normalmente es el vocablo urbs, más ennoblecedor, el que se utiliza para hacer referencia a la ciudad de Toledo. Esta denominación, urbs regia, era precisamente la que se daba a la capital del Imperio Bizantino, Constantinopla, y, por lo tanto, no es sólo el rey que se equipara al emperador. También se pretende que se asimilen sus respectivas sedes de poder...".

[24] A influência do cerimonial bizantino sobre a monarquia hispano-visigoda, em particular desde Leovigildo, é apresentada por  ISIDORO, op. cit., 51: "...primusque inter suos regali uestes opertus solio resedit, nam ante eum et habitus et concessus communis ut genti, ita et regibus erat..."; como indica-nos P. C. DIAZ MARTINEZ, "Rey y poder en la monarquia visigoda", Iberia, 1 (1998), p. 184: "...Leovigildo es presentado por Isidoro como un renovador formal de la monarquía, el primero que presentó ante los suyos en solium y vestido con ropajes diferenciados [...], tanto el asiento como la indumentaria eran comunes para el rey y para su pueblo. Esta noticia podría ser anecdótica si fuese un hecho aislado, sin embargo esta exteriorización ritual era parte de una serie de iniciativas que pretendían situar la monarquía, definitivamente, en el vértice de la pirámide del organigrama social y político de la Hispania visigoda; vestido y posición simbolizaban el lugar destacado por encima del pueblo y de la aristocracia..."; ver também VALVERDE CASTRO, op. cit.,p. 194: "...Más claro se nos ha revelado el lugar que el trono, el cetro, los vestidos purpúreos y la diadema ocupaban entre los símbolos regios de los que habitualmente se rodeaba el soberano visigodo. Todos estos elementos formaban parte del ornato de los emperadores romano-bizantinos y, por lo tanto, pertenecían al mundo cultural romano, que era el que entonces se consideraba civilizado. Su adopción por parte de los reyes visigodos pone de manifiesto el fuerte impacto que los usos imperiales causaron en el reino de Toledo, lo mismo que ocurrió en el resto de las monarquías germánicas...".

[25] O caso da conversão dos francos ao cristianismo niceno aparece com esta conotação. Segundo BROWN, op.cit., p. 132: "...Os francos eram a excepção que serve para provar a verdade da regra [...]. Os bispos do sul e os senadores acolhem estes estrangeiros, comparativamente insignificantes. Resultado: os francos sentem-se livres para se tornarem católicos..."; mas de grande significado é a posição de M. ROUCHE, L'Aquitaine des wisigoths aux arabes (418-781). Naissance d'une région, Paris, 1979 ,p. 43 : "...Cette opposition forte à Tours, en Auvergne, en Arles et en Catalogne, espère l'appuit et la conquetê par Clovis et ses Francs [...]. Il semble bien que le lien en cause à effet établi entre l'hérésie arienne et la barbarie, face à l'identification de l'orthodoxie avec la romanité...". A diferença entre a civilização, representada pelos que professam o credo niceísta, e a barbárie, vinculada aos heréticos, aparece bem delineada no Conc. Aurel., a. 511, prol.: "Concilium hoc habitum fuit quattuor annis postquam Clodoueus I, rex Francorum, Aquitaniam acquisiuit rege Visigothorum ariano expugnato, et ita maximam extensionem regno suo in Gallia dedit...".        [ Links ]

[26] De acordo com M. J. RODRIGUEZ GERVÁS, "Las 'virtudes' del emperador Constantino", Studia Historica. Historia Antigua, II-III (1984/85), p. 242: "...Se le añade además una serie de cualidades divinas y sobrehumanas que justifican, a su vez, sus actuaciones políticas, sus atributos que se le aplican así lo demuestran: imperator aeterne, uoce diuina, mente diuina. Además es asistido por la divinidad, recibiendo la ayuda de unos ejércitos celestes [...], posteriormente la tradición cristiana va a hacerse eco de un auxilio similar a través de Lactancio en su obra De Mortibus Persecutorum y de la Uita Constantini de Eusebio [...]. Entre la virtudes de los emperadores dos de ellas tenían un carácter carismático, eran la Pietas y la Uirtus..."; vide também R. FRIGHETTO, "A imagem do rei nas fontes hispano-visigodas: aspectos teóricos", in Anais da XXI Reunião da Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica, Curitiba, 2002, p. 81-8; e para M. V. ESCRIBANO, "Usurpación y religión en el siglo IV d.C.. Paganismo, cristianismo y legitimación política", in Antigüedad y Cristianismo VII. Cristianismo y aculturación en tiempos del Imperio Romano, Murcia, 1990, p. 249: "...Bajo la influencia de tan fecunda construcción, al sacratissimus imperator, compendio de todas las virtudes cívicas, militares, morales y religiosas que constituyen el 'Herrscherideal' (fides, iustitia, clementia, pudicitia, pietas)...".        [ Links ]         [ Links ]         [ Links ]

[27] Apresentaremos dois dos inúmeros exemplos existentes nas fontes romanas imperiais: Tac. Ann., I, 9-10: "...Hi pietate erga parentem et necessitudine rei publicae, in qua nullus tunc legibus locus, ad arma ciuilia actum, quae neque parari possent neque haberi per bonas artis [...]. Dicebatur contra: pietatem erga parentem et tempora rei publicae obtentui..."; Suet.,Uit. Caes. Aug., 51: "...Clementiae ciuilitatisque eius multa et magna documenta sunt...".

[28] Um excelente estudo sobre as uirtutes integradas nas idéias morais e políticas romanas é o de M. H. R. PEREIRA, Estudos de História da Cultura Clássica. Cultura Romana, Lisboa, 1984, p. 319-428; igualmente importante é a obra de M. J. RODRÍGUEZ GERVÁS : Propaganda política y opinión pública en los panegíricos latinos del Bajo Imperio, Salamanca, 1991, p. 77-109. Segundo uma citação de Rodriguez Gervás, na página 79, "De las cuarenta 'virtudes' personificadas y recogidas por F.Gnecchi, 'La personificazione allegoriche sulle monete imperiali", Riv. It. Num., 18 (1905), p. 349 ss. hemos recogido un menor número, atendiendo a su importancia y repetición, aunque algunas de ellas es discutible que lo sean tal y como entendían los romanos y entran más en las cualidades personales".        [ Links ]         [ Links ]         [ Links ]

[29] Var.,De Lin. Lat., VIII, 31: "Quod si quis duplicem putat esse summam, ad quas metas naturae sit perveniendum in usu, utilitatis et elegantiae, quod non solum vestiti esse volumus tu vitemus frigus, sed etiam ut videamur vestiti esse honeste, non domum habere ut simus in tecto et tuto solum, quo necessitas contruserit, sed etiam ubi voluptas retineri possit, non solum vasa ad victum habilia, sed etiam figura bella atque ab artifice ficta, quod aliud homini, aliud humanitati satis est; quodvis sitenti homini poculum idoneum, humanitati nisi bellum parum...".

[30] CICERON, De Amic., II, 7: "...hanc esse in te sapientiam existimant, ut omnia tua in te posita ducas, humanosque casus virtute inferiores putes...".

[31] Cf. H. I. MARROU, Saint Augustin et la fin de la culture antique, Paris, 1958, p. 554.        [ Links ]

[32] Interessante é a passagem contida em M. J. HIDALGO DE LA VEGA, "Teología política de Juliano como expresión de la controversia paganismo-cristianismo en el siglo IV", in Antigüedad y Cristianismo VII. Cristianismo y aculturación en tiempos del Imperio Romano, p. 188: "...Las virtudes que debe poseer el soberano son diversas: temperancia, prudencia, justicia, clemencia, piedad hacia los dioses, fuerza; es decir, todos los valores que de la tradición filosófica clásica defendía, pero Juliano añadió además la filantropía, cualidad moral que se adaptaba mejor a su forma de concebir su acción política como rey-filósofo. Esta acción política no tenía más remedio que sobrepasar la defendida por Platón, propia de una estructura político-organizativa como era la polis; en cambio, Juliano la concibe de forma más universal, más acorde con su proyecto teórico del helenismo...". Na nota 47 do mesmo trabalho refere-se a "filantropía como expresión de la pietas".

[33] As dificuldades da instauração da pax por Augusto, em termos práticos, são apontadas por J. M. ROLDAN HERVAS, "La conquista del norte de Hispania y la participación de los astures en el ejercito imperial romano", in Ejército y sociedad en la España romana, Granada, 1989, p. 229: "...En la reorganización del estado que siguió a la guerra civil, emprendida por el princeps con tanta resolución como precauciones, no podía faltar una primordial atención a los problemas exteriores. Un motivo esencial de propaganda del nuevo régimen imperial debía ser la paz, pero concebida como corolario de la victoria. El Imperio debía, en la mente de Augusto, convertirse en un núcleo homogéneo y continuo, protegido sólidamente de un eventual enemigo exterior por un sólido sistema de defensa. Antes de ello, había que liquidar, sin embargo, las bolsas hostiles o simplemente independientes que la progresión imperialista romana había olvidado u obviado en Oriente y Occidente a lo largo de la república por falta de rentabilidad o excesiva dificultad..."; nesta linha segue A. del CASTILLO, "Augusto, el ejército romano y el problema del limes. Una posible explicación",  in Ejército y sociedad. Cinco estudios sobre el mundo antiguo, León, 1986, p. 126-7: "...Por ello se puede considerar, habida cuenta de que solamente Dión Cassio mantiene que Augusto perseguía una política defensiva y de que toda la propaganda de la época y sobre todo el relato del propio Augusto (Res Gestae) apuntan hacia el hecho de la conquista total, en el sentido de una tierra pacificada, pero pacificada mediante la conquista, para la creación de un mundo romano, que las cosas pueden tener otra explicación. La parada en Oriente frente a un reino parto con un ejército exclusivamente defensivo y donde por el momento existían grandes problemas internos [...] puede ser únicamente debida a la necesidad primera de realizar las conquistas europeas...".         [ Links ]         [ Links ]

[34] Segundo M. J. HIDALGO DE LA VEGA, El intelectual, la realeza y el poder político en el Imperio Romano, Salamanca, 1995, p. 110: "...Tan sólo en los cuatro primeros capítulos Plinio aplica a Trajano veinte 'virtudes' humanas, cualidades morales, y quince más en el resto de la obra. El agnomen de 'optimus', que expresa la idea filosófica del soberano como el mejor hombre, fue aplicada a emperadores anteriores a Trajano como epíteto, pero sólo en su persona llegó a ser oficial. Estas virtudes en sentido moral eran las que elevaban a los soberanos por encima del resto de los hombres, más que su poder y riquezas. El tipo de virtudes que se atribuye a Trajano en el Panegírico pertenece a un mundo distinto de pensamiento: abstinentia, moderatio, continentia, ciuilitas, humanitas, comitas, facilitas, simplicitas, ueritas, frugalitas, etc., son virtudes sociales y el acento no lo fija Plinio en la posesión del poder, sino en el ejercicio del poder como seruitium y deferencia hacia los miembros de la comunidad...".        [ Links ]

[35] Nesse sentido a postura apresentada por Plutarco é de grande relevância segundo HIDALGO DE LA VEGA, El intelectual,la realeza..., p. 131-2: "...Sus tratados políticos presentan como planteamiento general un intento de dar respuestas a los problemas de su época, el reinado de Trajano, y sobre todo configurar una nueva visión de la relación entre Grecia y Roma en un contexto de dominación. Hay que tener presente que los romanos desde el principio utilizaron la unidad de la vida política griega como instrumento de sumisión y para asegurar su estabilidad era de vital importancia encontrar mecanismos de mediación, que se basaban precisamente en la actuación de los intelectuales griegos en sus respectivas ciudades como vehículo de transmisión de los intereses romanos, presentándolos como identificados a los intereses de las ciudades griegas, de forma que se justificaba la dominación romana como el fenómeno que mejor convenía a los intereses de las poleis, ya que desde que existía aquélla, las ciudades vivían una etapa de gran prosperidad y paz [...]. Plutarco sabía que las ciudades griegas de su tiempo representaban una realidad diferente de las de época clásica y no podían, por tanto, ser gobernadas al estilo de Pericles; pero como institución configuraban un modelo universal de organización gracias a la acción de Alejandro, que incluso sin quererlo introdujo a los bárbaros en este tipo de civilización. Roma continuará esta acción alejandrina y conseguirá el ideal griego de unificación de la ecumene bajo la dirección de los griegos...".

[36] SHA, Hadr., XVI, 10-11: "...in summa familiaritate Epictetum et Heliodorum philosophos et, ne nominatim de omnibus dicam, grammaticos rhetores musicos geometras pictores astrologos habuit, prae ceteris, ut multi adserunt, eminente Favorino doctores, qui professioni suae inhabiles videbantur, dilatos honoratosque a professione dimisit"; SHA, M. Aur., II, 6-7: "...Philosophiae operam vehementer dedit et quidem adhuc puer. nam duodecimum annum ingressus habitum philosophi sumpsit et deinceps tolerantiam, cum studeret in pallio et humi cubaret, vix autem matre agente instrato pellibus lectulo accubaret. usus est etiam Commodi magistro, cuius ei adfinitas fuerat destinata, Appolonio Chalcedonio Stoico philosopho...".

[37] RODRÍGUEZ GERVÁS, Propaganda política y opinión pública..., p. 77.

[38] Na opinião de PEREIRA, op. cit., p. 421: "...é no tempo dos Cipiões que devemos colocar a convergência, tão frutuosa, da paideia helénica com a humanitas latina...".

[39] Paneg., II, 1: "Cum omnibus festis diebus, sacratissime imperator, debeat honos uester diuinis rebus aequari, tum praecipue celeberrimo isto et imperantibus uobis laetissimo die ueneratio numinis tui cum sollemni sacrae urbis religione iungenda est. Verum est enim profecto quod de origine illius ciuitatis accepimus, primam in ea sedem numinis uestri, sanctum illud uenerandumque palatium, regem aduenam condidisse, sed Herculem hospitem consecrasse. Neque enim fabula est de licentia poetarum nec opinio de fama ueterum saeculorum, sed manifesta res et probata, sicut hodieque testatur Herculis ara maxima et Herculei sacri custos familia Pinaria, principem illum tui generis ac nominis Pallantea moenia adisse uictorem et, parua tunc licet regia, summa tamen religione susceptum futurae maiestatis dedisse primordia, ut esse posset domus Caesarum quae Herculis fuisset hospitium..."; Paneg., II, 2: "...Finguntur haec de Ioue, sed de te uera sunt, imperator..."; Paneg., II, 4: "...praecipianti Romano nomini iuxta principem subisti eadem scilicet auxilii opportunitate qua tuus Hercules Iouem uestrum quondam terrigenarum bello...".

[40] Segundo RODRÍGUEZ GERVÁS, op. cit., p. 53: "...La radical oposición entre el mundo greco-romano y el bárbaro tiene su correlación terminológica en la dicotomía ferocitas/humanitas. Dichos conceptos, acuñados en época anterior, adquieren su pleno sentido en la comparación que se establece entre ambos, de tal modo que el espacio ajeno al Estado romano se define por la carencia de la humanitas, siendo este hecho el que los caracteriza como 'salvajes'..."; ver também FRIGHETTO, "Infidelidade e barbárie...", p. 493.

[41] Idéia que podemos observar com clareza na passagem da revolta de Carausio em 287, quando Maximiano derrota os Francos que estavam aliados ao usurpador, de acordo com Paneg., II, 11:  "...Quorum ductu proxime, cum felicissimis uestris auspiciis uterentur, lubrica illa fallaxque gens barbarorum ut merebatur affecta est...".

[42] Segundo RODRÍGUEZ GERVÁS, op. cit., p. 58: "...Diocleciano, Maximiano y Constancio son mostrados como los baluartes en defensa del toto orbe terrarum...", em contraposição a Galieno conforme Paneg.IV, 10: "Minus indignum fuerat sub principe Gallieno quamuis triste harum prouinciarum a Romana luce discidium...", acentuando a ruptura das provincias da Récia, Nórico e Panônia que, segundo esta fonte, ficam sem a "luz de Roma", claro indício da separação entre a "luz" civilizacional romana e as "trevas" do mundo bárbaro.

[43] Sobre este tema, dentre vários estudos, vide D. PÉREZ SANCHEZ, "Realidad social, asentamiento bárbaro y prejuicios ideológicos en la Galia del siglo V a través de la obra de Sidonio Apolinar", Gerión, 15 (1997), p. 223-41; ROUCHÉ, op. cit., pp. 23-7 e FRIGHETTO, Cultura e poder..., pp. 53-4.        [ Links ]

[44] OROSIO, Hist. Adu. Pag., VII, 43: "...itaque nunc cottidie apud Hispanias geri bella gentium et agi strages ex alterutro barbarorum crebris certisque nuntiis dicimus, praecipue Valliam Gothorum regem insistere patrandae paci ferunt..."; HIDACIO, Cronc.,a. 417: "Vallia rex gothorum romani nominis causa intra Hispanias caedes efficit barbarorum...".

[45] OROSIO, Hist. Adu. Pag., VII, 38-39: "...Itaque post haec tanta augmenta blasphemiarum nullamque paenitentiam ultima illa diuque suspensa Vrbem poena consequitur. adest Alaricus, trepidam Romam obsidet turbat inrumpit, dato tamen praecepto prius, ut si qui in sancta loca praecipueque in sanctorum apostolorum Petri et Pauli basilicas confugissent, hos inprimis inuiolatos securosque esse sinerent, tum deinde in quantum possent praedae inhiantes a sanguine temperarent. accidit quoque, quo magis illa Vrbis inruptio indignatione Dei acta quam hostis fortitudine probaretur..."; HIDACIO, Cronc., a. 410: "...Alaricus rex Gothorum Romam ingressus: cum intra et extra urbem caedes agerentur, omnibus indultum est, qui ad sanctorum limina confugerunt...".

[46] Segundo DIAZ MARTINEZ, "Rey y poder...", p. 179: "...Así, mientras Alarico puede ser explicado aún con el modelo de un jefe militar al frente de un grupo de semi-nómadas, casi un soldado de fortuna al frente de un ejército profesional que hacía del botín la fuente esencial de su prestigio, sustentado en la capacidad de satisfacer las demandas de sus seguidores...".

[47] HIDACIO, Cronc., a. 456: "Per Augustum Auitum Fronto comes legatus mittitur ad sueuos. Similiter et a rege gothorum Theuderico, quia fidus romano esset imperio, legati ad eosdem mittuntur, ut tam secum quam cum Romano imperio, quia uno essent pacis foedere copulati, iurati foederis promissa seruarente [...]. Mox [VI anno Marciani, aera CCCCXCIV] Hispanias rex Gothorum Theodoricus cum ingenti exercitu suo et cum uoluntate et ordinatione Auiti imperatoris ingreditur..."; assim, a partir da ótica de Hidácio de Chaves, os visigodos já no reinado de Teodorico II exerciam uma plena hegemonia, bastante autônoma com relação ao próprio Império, sobre os territórios hispânicos. Dessa forma os visigodos agiam como "defensores" do Império Romano Ocidental.

[48] Vide nota 20.

[49] Para esta questão vide FRIGHETTO, "Infidelidade e barbárie...", p. 494-6.

[50] Idéia claramente expressada em Isidoro, Sent., III, 51, 3: "Sub religionis disciplina saeculi potestates subiectae sunt; et quamvis culmine regni sunt praediti, vinculo tamen fidei tenentur astricti, ut et fidem Christi suis legibus praedicent, et ipsam fidei praedicationem moribus bonis conservent"; ibid., III, 51, 5: "Saepe per regnum terrenum caeleste regnum proficit, ut qui intra Ecclesiam positi contra fidem et disciplinam Ecclesiae agunt, rigore principum conterantur; ipsamque disciplinam, quam Ecclesiae humilitas exercere non praevalet, cervicibus superborum potestas principalis imponat; et ut venerationem mereatur, virtute potestatis impertiat".

[51] Esta relação aparece definida em Isidoro, Sent., III, 49, 3: "Dedit Deus principibus praesulatum pro regimine populorum, illis eos praesse voluit, cum quibus una est eis nascendi moriendique conditio. Prodesse ergo debet populis principatus, non nocere; nec dominando premere, sed condescendendo consulere, ut vere sit utile hoc potestatis insigne, de dono Dei pro tutione utantur membrorum Christi. Membra quippe Christi fideles sunt populi, quos dum ea potestate, quam accipiunt, optime regunt, bonam utique vicissitudinem Deo largitori restituunt".

[52] Idéia apresentada em Conc. III Tol., a.589, prol.: "...errore Arrianorum laborasset Spania [...]. Vos tamen Dei sacerdotes meminisse oportet quanta hucusque ecclesia Dei catholica per Spanias adversae partis molestiis laboraverit, dum et catholici constantem fidei suae tenerent et defenderint veritatem, et haereses pertinaciori animositate propriae niterentur perfid[ia]e. Me quoque, ut re ipsa conspicitis calore fidei accensum in eo Dominus excitavit, ut depulsa obstinatione infidelitatis et discordiae submoto furore populum, qui sub nomine religionis famulabatur errori, ad agnitionem fidei et ecclesias catholicae consortium revocarem...".

[53] A importancia do Cristianismo niceno no campo do fortalecimento ideológico da figura régia pode ser observado em Isidoro, Hist. Goth., 65: "Huius filius Reccimerus in consortio regni adsumptus pari cum patri solio conlaetatur, in cuius infantia ita sacrae indolis splendor emicat, ut in eo et meritis et uultu paternarum uirtutum effigies praenotetur. Pro quo exorandus est caeli atque humani generis rector, ut sicut extat consensu patrio socius, ita post longaeuum parentis imperium sit et regni successione dignissimus..."; já a presença da humanitas cristã como virtude própria do princeps aparece descrita em Conc. VII Tol., a .646, c. 1: ":...ut nullus refuga vel perfidus qui contra gentem Gothorum vel patriam seu regem agere aut in alterius gentis societate se transducere reppetitur, integritati rerum suarum ullatenus reformetur, nisi forsitan princeps humanitatis aliquid in personis talibus inpertiri voluerit.."; interessante também L.V., II, 1, 2 "...Et quia solius tam immensae divinitatis imperiis haec cordibus imprimuntur humanis, convenit omnium terrenorum quamvis excellentissimas potestates illi colla submittere mentis, cui etiam militiae caelestis famulatur dignitas servitutis...".

[54] Questão que é analisada, em linhas gerais, pelo estudo de A. ISLA FREZ, "Los reinos bárbaros y el papado entre los siglos VI y VII", in De la Antigüedad al Medievo..., p. 67-89.

[55] Isidoro, Sent., III, 48, 1: "Uir iustus aut omni potestate saeculari exuitur, aut si aliqua cingitur, non sub illa curvatur, ut superbus tumeat, sed eam sibi subiicit, ut humilior innotescat. Probatur autem hoc apostolico exemplo, qui data sibi potestate...".

[56] SISEBUTO, Uit. Desd., 16, 1-6: "Huius illibatam inimicus constantiam humanitatis aspiciens, pectora qua numquam [Brunigildis ac Theuderici] deseruit, totum in proprio se domicilio miscuit, modoque imperatiuo in suum magis exitium ius sibi debitum impulit, pollicitus eis locum in penis primum contradere, si a corporeis uinculis Xpi militis animam possint extrahere...".

[57] SISEBUTO, Epist. VIII. Ad Adual.: "...Dolemus nec inmerito ingenti pondere ribos lacrimarum producimus, cognoscentes affinitatem sanguinis nostri Arriana contagione nunc pollui et uirulenta profusione canceris fraterna cognatione disiungi. Homines agrestes scilicet minus ratione capaces quotidie cernimus ethereis militare per matrem eclesiam castris. Cur genus inclitum et inclita forma, ingenita uirtus et naturalis prudentia, elegantia morum et bone uite censura, prespicua dignitas et gloria dignitatis eximia mortuis sepultisque heresibus ignominiose [...]. Postquam sidereus fulgor corda fidelium corruscauit et orthodoxa fides mentibus cecatis emicuit, aucta pace catholicorum Domino commodante Gotorum uiget imperium [...], clementem in uerbo, amicissimam Xpo, amicam gregi catholico, semper infestam diabulo, infestissimam et eius corpori semper heretico; cuius 'uirtutes' erigit, iustitia ut perseueret libratior efficit, prudentia ut uim rationis attendat impellit [...]. Ergo quod splendor artis mensurate grammatice, quod facundia adclamationis rethorice, minax quod argumentatio defuerit dialectice discipline [...]. Fidei fundamentum supra petram edifica, que de cauernis hereticorum flamina uentorum inpulsa dispiciat et rorantes perfidorum [...]. Insanientes connectunt: 'Et dedit illi nomen, quod est super omne nomen, et exaltauit puerum suum', et: 'Benedixit te Dominus Deus tuus', et: 'Excitauit eum a mortuis et sedere fecit eum ad dexteram suam' multaque similia, qua rectissima fides taliter recipit, ut sciat qua deitati, qua humanitati conueniunt. His quidem rationibus et fidelibus infelices conuincuntur exemplis. In Dei quidem Filio duas confitemur certissime esse naturas, unam deitatis et alteram fatemus humanitatis...".

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