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Mastozoología neotropical

versión impresa ISSN 0327-9383versión On-line ISSN 1666-0536

Mastozool. neotrop. v.16 n.2 Mendoza jul./dic. 2009

 

ARTÍCULOS Y NOTAS

Predação de cuíca-d´água (Chironectes minimus: Mammalia, Didelphidae) por gavião-carijó (Rupornis magnirostris: aves, accipitridae)

Marcos Adriano Tortato

CAIPORA - Cooperativa para Conservação da Natureza, Rua Desembargador Vitor Lima nº 260 Ed. Madison Center, sala 513, CEP 88010-020 - Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

RESUMO: A predação de cuíca-d´água por aves de rapina é desconhecida. Esta nota apresenta um registro de predação de C. minimus por gavião Rupornis magnirostris, ocorrido em março de 2004 no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, Santa Catarina, Brasil.

ABSTRACT: Predation on Water Opossum (Chironectes minimus) by Roadside Hawk (Rupornis magnirostris). The predation on Water Opossum Chironectes minimus by raptors is unknown. This note shows a predation record on C. minimus by Roadside Hawk Rupornis magnirostris. The interaction occurred in March 2004, on Serra do Tabuleiro State Park, Santa Catarina, Brazil.

Palavras chave. Falconiforme; Marsupial; Parque Estadual da Serra do Tabuleiro; Predation; Southern Brazil.

Key words. Falconiforme; Marsupial; Parque Estadual da Serra do Tabuleiro; Predação; Sul do Brasil.

Pequenos mamíferos sao importante fonte de energia para os falconiformes e estao presentes na dieta de muitos de seus representantes (Ferguson-Less e Christie, 2001). No entanto, informaçoes sobre a predaçao de marsupiais por aves de rapina sao raras (Pardinas e Cirignoli, 2002) e desconhece-se qualquer mençao sobre Chironectes minimus (Zimmermann, 1780) como item na alimentaçao de aves de rapina. Este mamífero vive em pequenos riachos de água corrente em áreas conservadas, tem hábitos noturno e semi-aquático e se alimenta de peixes, crustáceos, insetos e anfíbios (Marshall, 1978; Emmons e Feer, 1997). Pesa entre 550 e 800 g e distribui- se desde o México, até o norte da Argentina e do Uruguai (González, 2001).
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1789) pesa entre 200 e 400 g, tem hábitos diurnos e habita uma ampla variedade de ambientes, desde áreas abertas e florestadas próximo do mar até 3000 m de altitude nos Andes (Ferguson-Less e Christie, 2001). Ocorre do México a Argentina e é o gaviao mais abundante no Brasil, distribuído por todo o país (Sick, 1997). Apresenta uma dieta bastante diversificada (e. g. insetos, répteis, anfíbios, pequenos roedores) ao longo de sua distribuiçao (Haverschmidt, 1962; Massoia, 1988; Beltzer, 1990; Robinson, 1994; Panasci e Whitacre, 2000). Casos de predaçao de C. minimus por R. magnirostris nao foram registrados até o momento. O objetivo desta nota é documentar esta interaçao.

O caso de predação foi registrado no Par-que Estadual da Serra do Tabuleiro (PEST), situado entre 27°30' e 28°10' S e 48°30' e 49°00' W, na região centro-leste do estado de Santa Catarina, Brasil. O clima predominante na região, segundo o sistema de Köeppen, é mesotérmico úmido com verão fresco, Cfb. O local de registro (27°53'28" S e 48°51'29" W) está situado no núcleo de floresta ombrófila mista, com altitude aproximada de 900 metros, que abrange uma área de aproximadamente 11 km de comprimento por 4 km de largura, ladeado por floresta ombrofila densa. Pequenos córregos nascem e cortam esta área. A predação ocorreu numa estrada de terra que passa na margem de um dos córregos de aproximadamente 2 metros de largura. A estrada era relativamente exposta, com poucas árvores sombreando.
Em março de 2004, às 15:00, durante um dia nublado, um gavião R. magnirostris foi avistado lançando-se sobre uma presa, C. minimus, e posteriormente pousado sobre uma pedra com o marsupial imobilizado entre as garras. O gavião-carijó alçou vôo com a parte anterior da presa no bico, deixando a parte posterior no local (Fig. 1). Pegadas do marsupial foram encontradas ao redor de duas poças de água na estrada onde ocorreu a predação. O indivíduo de C. minimus era uma fêmea jovem, medindo 150 mm de cauda e 34 mm de pata posterior (incluindo a unha). O material encontra-se depositado (UFSC 3503) na Coleção de Mamíferos do Departamento de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, Brasil. O R. magnirostris observado ainda tinha plumagem de jovem.


Fig. 1
. Metade posterior de Chironectes minimus após ser predado por Rupornis magnirostris, no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, Santa Catarina, sul do Brasil.

Rupornis magnirostris é um caçador oportunista (Panasci e Whitacre, 2000) e bastante comum no PEST (Albuquerque, 1995), avistado com freqüência na área onde se observou a predação. Chironectes minimus ainda não tinha sido registrado no núcleo de floresta ombrófila mista do PEST. O indivíduo predado estava ativo no período diurno e possivelmente forrageando nas poças de água na estrada, onde ficou vulnerável ao ataque do rapineiro. Atividade diurna já foi observada em cativeiro por Oliver (1976), no entanto parece um habito incomum para este marsupial, pois se sabe que durante o período claro do dia permanece no interior de pequenas tocas nas margens dos córregos (Marshall, 1978). Como muitos outros Accipitridae, R. magnirostris utiliza com freqüência a estratégia de caça em poleiros, no qual o indivíduo fica à espreita sobre um galho, lançando-se sobre a presa no solo (Brown e Amadon, 1968; Sick, 1997; Panasci e Whitacre, 2000; Ferguson-Less e Christie, 2001). Este rapineiro se alimenta principalmente de insetos, répteis, anfíbios e pequenos mamíferos (Beltzer, 1990; Panasci e Whitacre, 2000). Entretanto, Beltzer (1990) na Argentina, Haverschmidt (1962) no Suriname e Moojen et al. (1941), Schubart et al. (1965) e Pomalis (1987) no Brasil não encontraram marsupiais entre suas presas, possivelmente pelo fato de R. magnirostris na maioria das vezes caçar presas terrestres em áreas abertas (e. g. bordas de florestas, clareiras) (Beltzer, 1990; Sick, 1997; Panasci e Whitacre, 2000), enquanto muitas espécies de marsupiais vivem em ambientes florestados (Eisenberg e Redford, 1999; Emmons e Feer, 1997). Panasci e Whitacre (2000) comentam que Massoia (1988) identificou Lutreolina crassicaudata e Didelphis albiventris como itens da dieta de R. magnirostris, mas sugerem que houve um equívoco e que estas presas foram capturadas por um falconiforme maior. A proximidade entre o córrego e a estrada onde ocorreu a predação, somado ao fato incomum que a cuíca-d´água estava ativa durante o dia, podem ter favorecido o ataque oportunístico do gavião, não sendo claro se C. minimus é um componente freqüente de sua dieta.

Agradecimentos. A Vitor de Queiroz Piacentini, Jorge José Cherem e Fernando A. S. Fernandez pela ajuda prestada neste trabalho.

LITERATURA CITADA

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Recibido 08 abril 2006.
Aceptado 09 septiembre 2008.

Editor asociado: R Barquez

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