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Mastozoología neotropical

Print version ISSN 0327-9383

Mastozool. neotrop. vol.20 no.1 Mendoza June 2013

 

NOTA

Extensão da distribuição geográfica de Aotus vociferans (Primates, Aotidae)

 

Marcelo D. Vidal1, Rafael S. Rossato2, Renata B. de Azevedo3, José de S. e Silva Jr.4, Marcos de Souza Fialho5

1 Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Socio-biodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais - CNPT/ICMBio, São Luís, Maranhão, Brasil [Correspondência: <marcelo.derzi.vidal@gmail.com>].
2 Floresta Nacional de Tefé/ICMBio, Tefé, Amazonas, Brasil.
3 Parque Nacional do Viruá/ICMBio, Boa Vista, Roraima, Brasil.
4 Coordenação de Zoologia, Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Pará, Brasil.
5 Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros - CPB/ICMBio, João Pessoa, Paraíba, Brasil.

Recibido 27 noviembre 2012.
Aceptado 22 enero 2013.
Editor asociado: UFJ Pardiñas

 


RESUMO. A distribuição geográfica de Aotus vociferans, conhecido popularmente como macaco-da-noite, estende-se quase que exclusivamente ao norte do rio Amazonas. A exceção é um pequeno enclave populacional na margem direita do rio Solimões, nas proximidades do lago Ayapuá, baixo rio Purus, estado do Amazonas. Durante inventário de primatas na Floresta Nacional de Tefé, distante cerca de 350 km a oeste deste enclave, registramos um grupo de A. vociferans, o que representa uma extensão da distribuição geográfica da espécie e suscita a hipótese de que todo o interfúvio entre o baixo rio Juruá e o baixo rio Purus poderia ser ocupado por este táxon.

ABSTRACT. Extension of geographical distribution of Aotus vociferans (Primates, Aotidae). The geographical distribution of Aotus vociferans, popularly known as night-monkey, stretches almost exclusively north of the Amazon River. The exception is a small enclave populated on the right bank of the Solimões River, near Lake Ayapuá, lower Purus River, Amazonas state. During inventory of primates in the National Forest Tefé, distant about 220 miles west of this enclave, recorded a group A. vociferans, which represents an extension of the geographical distribution of the species and raises the hypothesis that all the interfluves between low Juruá and lower Purus River could be occupied by this taxon.

Palavras-chave: Amazônia; Inventário; Macaco-da-noite; Primatas.

Key words: Amazonia; Inventory; Night-monkey; Primates.


 

De acordo com IUCN (2012), 11 espécies são atualmente reconhecidas no gênero Aotus (família Aotidae): A. azarae, A. brumbacki, A. griseimembra, A. jorgehernandezi, A. lemurinus, A. miconax, A. nancymaae, A. nigriceps, A. trivirgatus, A. vociferans, e A. zonalis. Baseado em padrões morfológicos, cariótipos e distribuição geográfica, Hershkovitz (1983) havia validado a existência de dois grupos de espécies neste gênero, o grupo "pescoço-cinza" (gray-neck) e o grupo "pescoço-vermelho" (red-neck), sendo seguido por Ford (1994).
As espécies que compõem o grupo "gray-neck" ocorrem, quase que exclusivamente, ao norte do rio Amazonas. Por sua vez, as espécies do grupo "red-neck" têm sua distribuição quase que inteiramente restrita ao sul deste rio (Hershkovitz, 1983). As exceções neste padrão foram atribuídas por Hershkovitz (1983) à existência de enclaves populacionais resultantes de alterações nos cursos dos rios que atuam como barreiras naturais, limitando a distribuição dos táxons.
Uma dessas exceções diz respeito à Aotus vociferans, espécie pouco conhecida, cujos limites de distribuição geográfica e real quantidade de espécies são pouco claros (Hershkovitz, 1983; Defer y Bueno, 2007). Observando-se a Fig. 2 de Hershkovitz (1983:214), pode-se perceber que a distribuição geográfica de A. vociferans, pertencente ao grupo "gray-neck", é limitada na Amazônia brasileira pelos rios Negro e Solimões. No entanto, observa-se também a existência de um pequeno enclave populacional na margem direita do rio Solimões, nas proximidades do lago Ayapuá, baixo rio Purus, estado do Amazonas (Hershkovitz, 1983; Morales-Jiménez et al., 2008). A distribuição desse enclave coincide com a área da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus. O objetivo do presente estudo é relatar um novo registro para A. vociferans, indicando uma extensão da distribuição geográfica da espécie.
O registro de A. vociferans foi obtido durante uma expedição para inventário de primatas na Floresta Nacional de Tefé, uma Unidade de Conservação de 1020000 hectares, situada entre os rios Purus e Juruá, abrangendo os municípios de Tefé, Alvarães, Carauari e Juruá, todos situados no estado do Amazonas. A expedição ocorreu no período de 25 a 31 de julho de 2011, época da vazante do rio Tefé e seus afluentes.
Durante o trabalho em campo, foram percorridas trilhas pré-existentes, feitas por caçadores, coletores e extratores. As observações foram realizadas em ambientes de florestas de terra firme e florestas inundáveis (igapós).
A identificação de A. vociferans foi baseada nos caracteres diagnósticos indicados na
chave de identificação de Hershkovitz (1983), e também por Morales-Jiménez et al. (2008). Além disso, imagens obtidas em campo foram posteriormente utilizadas para confirmação da identificação dos animais (Fig. 1), por comparação direta com os exemplares de A. vociferans pertencentes ao acervo do Museu Paraense Emílio Goeldi.


Fig. 1. Indivíduos de Aotus vociferans registrados no entorno imediato da Floresta Nacional de Tefé, AM.

No dia 28/07/2011, às 11:59, foram visualizados quatro indivíduos de A. vociferans que estavam em seu "local de dormida", o oco de uma árvore próxima ao igarapé do Iapuçá (3°57'0.7''S / 65°00'11.1''W), comunidade Deus é Pai, situada no entorno imediato da Floresta Nacional de Tefé (Fig. 2). O grupo era composto por dois adultos e dois juvenis e, no momento da observação, os indivíduos estavam aparentemente em repouso. Ao perceberem a aproximação dos pesquisadores, ficaram inquietos, posicionando-se na abertura do oco (Fig. 1).


Fig. 2. Distribuição geográfica de Aotus vociferans na Amazônia brasileira, descrita por Hershkovitz (1983), e o local de registro da espécie no entorno da Floresta Nacional de Tefé.

Segundo moradores da comunidade Deus é Pai, o grupo registrado já utilizava a mesma árvore-dormitório há alguns meses. Este comportamento de "residência" já havia sido observado por Fernandez-Duque et al. (2008) para a espécie no Equador. Durante este período, os animais foram observados diversas vezes por moradores. Isto pode ter funcionado como um procedimento de habituação prévia que permitiu, no momento do registro, a observação dos animais por cerca de 20 minutos, assim como a realização de fotografias e filmagens.
O registro de A. vociferans relatado no presente estudo representa uma extensão da distribuição geográfica da espécie. É possível que este registro indique uma mancha isolada de ocorrência da espécie, numa matriz de A. nigriceps. É possível também que a presença da espécie na área de estudo, situada cerca de 350 km a oeste do único enclave populacional conhecido na margem direita do rio Solimões (Hershkovitz, 1983), represente uma extensão deste enclave, suscitando a hipótese de que todo o interflúvio entre o baixo rio Juruá e o baixo rio Purus poderia ser ocupado por A. vociferans. A resposta a essas questões será alcançada através da realização de novos levantamentos de campo
ao longo de toda a área em questão. Por sua vez, a continuidade do inventário na Floresta Nacional de Tefé indicará se esta população de A. vociferans está protegida em mais uma Unidade de Conservação.

Agradecimentos. A Bianca Bernardon, Gerson Paulino Lopes, Iury Valente Debien e Michele Araujo (do Grupo de Ecologia de Vertebrados Terrestres, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM) e a Edivaldo Lima Júnior (graduando da Universidade do Estado do Amazonas - UEA) pelo apoio durante a expedição. Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio e à Coordenação do projeto "Primatas em Unidades de Conservação da Amazônia".

LITERATURA CITADA

1. DEFLER TR, ML BUENO. 2007. Aotus diversity and the species problem. Primate Conservation 22:55-70.         [ Links ]

2. FERNANDEZ-DUQUE E, A DI FIORE, GA CARRILLO. 2008. Behavior, ecology, and demography of Aotus vociferans in Yasuní National Park, Ecuador. International Journal of Primatology 2:421-431.         [ Links ]

3. FORD SM. 1994. Taxonomy and distribution of the owl monkey. Pp. 1-53. In: Aotus: the owl monkey (JF Baer, RE Willer, I Kakaoma). Academic Press, San Diego.         [ Links ]

4. HERSHKOVITZ P. 1983. Two new species of night monkeys, genus Aotus (Cebidae: Platyrrhini): A preliminary report on Aotus taxonomy. American Journal of Primatology 4:209-243.         [ Links ]

5. IUCN. 2012. IUCN Red List of Treatened Species. Version 2012.2. <www.iucnredlist.org>         [ Links ]

6. MORALES-JIMÉNEZ AL, A LINK, F CORNEJO, P STEVENSON. 2008. Aotus vociferans. In: IUCN 2012. IUCN Red List of Treatened Species. Version 2012.2. <www.iucnredlist.org>         [ Links ]

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