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Ecología austral

versión On-line ISSN 1667-782X

Ecol. austral v.20 n.1 Córdoba ene./abr. 2010

 

ARTÍCULOS ORIGINALES

Arquitetura da planta e diversidade de galhas associadas à Copaifera langsdorffii (Fabaceae)

Fernanda Vieira da Costa* , Marcílio Fagundes & Frederico de Siqueira Nieves

Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Montes Claros, Departamento de Biologia Geral, Laboratório de Biologia da Conservação, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil

*Universidade Estadual de Montes Claros, Departamento de Biologia Geral, Laboratório de Biologia da Conservação, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. Av. Ruy Braga s/n, Caixa postal 126, CEP 39.401-089. Email: fecostabio@gmail.com

Recibido: 18 de febrero de 2009;
Fin de arbitraje
: 28 de octubre de 2009;
Revisión recibida
: 10 de noviembre de 2009;
Aceptado
: 29 de enero de 2010

RESUMO. O comportamento de induzir galhas provavelmente surgiu como um mecanismo de defesa contra adversidades climáticas e/ou refúgios contra inimigos naturais. Várias hipóteses foram propostas para explicar o padrão de distribuição e abundância desses herbívoros em suas plantas hospedeiras. Por exemplo, a hipótese da arquitetura da planta prediz que plantas arquiteturalmente mais complexas apresentam maior diversidade de herbívoros. Este estudo teve como objetivos avaliar o efeito da arquitetura da planta hospedeira na diversidade de galhas e determinar o esforço amostral mínimo para coleta representativa da fauna de galhadores em Copaifera langsdorffii. Cinquenta indivíduos arbóreos de C. langsdorffii foram selecionados para caracterização da arquitetura (altura, CAP, número de ramificações de primeiro, segundo e terceiro nível, área e volume da copa) e da riqueza e abundância de galhas. Um total de 23 morfotipos de galhas foi encontrado em C. langsdorffii. A curva de rarefação de espécies de galhas por indivíduo amostrado indicou que a saturação de espécies ocorre próxima a décima árvore amostrada. A complexidade arquitetônica não afetou a riqueza e abundância de galhas. Este estudo oferece uma nova metodologia para padronizar o método de amostragem de galhas em espécies arbóreas do Cerrado.

Palavras-chave: Complexidade arquitetônica; Esforço amostral; Insetos indutores de galhas; Pau d'óleo; Super-hospedeiro.

ABSTRACT. Plant architecture and gall diversity associated with Copaifera langsdorffii (Fabaceae): Plant architecture and gall diversity associated with Copaifera langsdorffii (Fabaceae). Galling insects induce tumors on their host plants in response to climatic adversities and as a protection against natural enemies. Among several hypotheses that explain differences in the distribution and abundance of galling-inducing insects, the plant architecture hypothesis stresses the influence of host plant architecture (e.g., a combination of life form, plant height, and number of shoots, branches and leaves in relation to crown volume). The aims of this study was to evaluate the effects of host plant architecture on gall species diversity and to determine the sample effort to perform a representative collect of the galling insects fauna. On fifty C. langsdorffii trees, we determined both architectural variables (i.e. height, DBH, number of ramifications of the first, second and third level, and crown area and plant volume) and gall richness and abundance. We found a total of 23 gall morphotypes associated with host plant C. langsdorffii. The gall richness and abundance were not affected by host plant architecture. Rarefaction curves indicated that ten individuals and 14 shoots per plant are sufficient to sample all gall morphotypes associated with C. langsdorffii. The study suggest a new methodology to sampling galls in this tropical tree species.

Keywords: Architectural complexity; Gall inducing insects; Tropical tree; Sampling effort; Super-host.

INTRODUÇÃO

As galhas são alterações morfológicas de tecidos ou órgãos das plantas resultantes da hipertrofia e hiperplasia das células vegetais e são formadas em resposta a estímulos espécie-específicos (Mani 1964; Flaherty & Quiring 2008). Diferentes grupos de organismos, incluindo insetos, ácaros, nematóides, fungos, bactérias e vírus são capazes de induzir galhas (Fernandes & Martins 1985). Entre os insetos, o comportamento de induzir galhas provavelmente foi selecionado como um mecanismo de defesa contra adversidades climáticas e/ou refúgios contra inimigos naturais (Price et al. 1986; Fernandes 1994). Contudo, a preferência e a "performance" do galhador podem ser afetadas pela qualidade da planta hospedeira (Fernandes & Price 1991; Price 1991) e a ação de inimigos naturais (Ferraz & Monteiro 2003; Fagundes et al. 2005).

As galhas são elementos importantes para identificação de padrões e processos ecológicos porque constituem unidades delimitadas no tempo e espaço, são de fácil amostragem e produzem reações espécie-específica com a planta hospedeira. Além disto, a diversidade de galhas é afetada por forças "top-down e botton-up" e pela qualidade dos habitats e suas plantas hospedeiras (Fernandes et al. 1996; Price et al. 1998; Stone & Schönrogge 2003; Fagundes et al. 2005). Por exemplo, Fernandes & Price (1992) sugeriram que a diversidade de galhas é alta em habitats estressados higrotermicamente e em vegetação esclerófila. Além disto, alguns exemplos sugerem que esta guilda é especialmente diversificada dentro de alguns grupos de plantas (e.g., Quercus, Felt 1940; Baccharis, Fernandes et al. 1996; Eucalyptus, Blanche & Westoby 1996; Eugenia, Mendonça 2001; espécies das famílias Combretaceae e Mimosaceae, Veldtman & McGeoch 2003). Recentemente, o termo super-hospedeiro tem sido usado para designar plantas que apresentam alta riqueza de galhas (Veldtman & McGeoch 2003). A identificação de espécies vegetais que se comportam como super-hospedeiros tem grande importância ecológica, pois permitem testar hipóteses ecológicas e evolutivas, como os efeitos do ambiente no próprio hospedeiro e na diversidade de galhadores associada. Apesar da sua importância ecológica, os galhadores normalmente são negligenciados em estudos de diversidade de artrópodes (Ribeiro & Basset 2007).

Várias hipóteses têm sido propostas para explicar o padrão de distribuição e abundância dos insetos galhadores em suas plantas hospedeiras (veja revisão Fleck & Fonseca 2007). Especificamente, a hipótese da arquitetura da planta (Lawton 1983), em nível interespecífico, prediz que espécies de plantas estruturalmente mais complexas sustentam maior riqueza de herbívoros (veja Espírito-Santo et al. 2007). Em nível intra-específico, essa hipótese sugere que existe uma relação positiva entre hospedeiros que apresentam arquitetura mais complexa e a riqueza de herbívoros. Finalmente, em nível de comunidade, essa hipótese prevê que comunidades vegetais compostas por espécies com maior complexidade arquitetônica apresentam maior riqueza de insetos herbívoros associados (Fleck & Fonseca 2007).

A arquitetura da planta tem cinco componentes principais: tamanho, forma de crescimento (ervas, arbustos e árvores), desenvolvimento sazonal, variedade e persistência das partes aéreas (Lawton 1983). Contudo, o padrão de ramificação (Marquis et al. 2002; Espírito-Santo et al. 2007), o número de meristemas ativos (Larson & Whitham 1997), a altura da planta (Gonçalves-Alvin et al. 1999) e o volume da copa (Alonso & Herrera 1996; Fagundes & Gonçalves 2005) também já foram utilizados como medidas de arquitetura. Além dessa diversidade de parâmetros arquitetônicos, variações nos métodos de coleta e esforço de amostragem das galhas também dificultam a interpretação e comparação dos dados (e.g., Price et al. 1998; Veldtman & McGeoch 2003; Cuevas-Reyes et al. 2004a,b; Carneiro et al. 2005; Espírito-Santo et al. 2007; Lara et al. 2008).

A maioria dos estudos envolvendo insetos galhadores refere-se a fauna associada a espécies arbustivas, principalmente devido a dificuldade de amostragem na copa das árvores de grande porte. Como consequência, existe uma carência de informações relativas a fauna desses herbívoros em espécies de porte arbóreo (Ribeiro & Basset 2007). Os objetivos deste estudo foram caracterizar a fauna de insetos galhadores associada a espécie arbórea tropical Copaifera langsdorffii Desf., determinando o esforço amostral mínimo para se obter uma coleta significativa de galhas em uma população da planta hospedeira. Além disto, testamos a hipótese da arquitetura que prediz que plantas estruturalmente mais complexas sustentam uma maior diversidade de herbívoros. Assim, esperamos que indivíduos de C. langsdorffii com arquitetura mais complexa apresentem maior riqueza e abundância de galhas.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi desenvolvido em um fragmento de Cerrado sentido restrito (16o40'26'' S e 43o48'44'' W), localizado na região norte da cidade de Montes Claros, norte do Estado de Minas Gerais. Fisionomicamente, a região está incluída na transição entre os domínios do Cerrado e da Caatinga (Rizzini 1997), apresentando clima do tipo semi-árido, com estações secas e chuvosas bem definidas. A temperatura média anual é de 23 ºC, e a precipitação é de 1000 mm/ano, com chuvas concentradas principalmente nos meses de novembro a janeiro (Santos et al. 2007).

O sistema estudado

Copaifera langsdorffii Desf. (Fabaceae: Caesalpinioideae), conhecida popularmente como pau d'óleo ou copaíba, é uma espécie arbórea que atinge até 35 m de altura (Silva-Júnior 2005). Essa espécie ocorre no Cerrado, Matas de Galeria e Matas Secas (floresta estacional decídua) desde o Estado do Tocantins até o Paraná (Almeida et al. 1998). Sua deciduidade é marcante nos períodos de grande déficit hídrico, que na área de estudo, corresponde aos meses de julho e agosto. O brotamento foliar ocorre nos meses de setembro a outubro e pode ser facilmente observado pelo aspecto avermelhado das copas (Pedroni et al. 2002; Silva-Júnior 2005). C. langsdorffii apresenta alta riqueza de insetos galhadores. Contudo, ainda não existem estudos que descrevem estes morfotipos de galhas.

Desenho experimental

Em maio de 2007, período que antecede a queda das folhas da planta hospedeira, 50 indivíduos adultos de C. langsdorffii com CAP (circunferência à altura do peito) ≥ 15 cm e altura > 2 m foram amostrados na área de estudo. Em cada planta foram aferidos os seguintes parâmetros arquitetônicos: CAP; altura; número de ramificações de primeiro, segundo e terceiro nível (Espírito-Santo et al. 2007); área da copa e volume da planta. O volume da planta foi obtido através da fórmula do volume do cone, V=[(π.r2.h)/3] e a área da copa através da área da elipse, A=(π.a.b), sendo "a" e "b" a maior e menor largura da copa, respectivamente. A riqueza e abundância médias de galhas por planta foram determinadas através da contagem das galhas presentes em 20 ramos terminais da copa das árvores. Estes ramos foram coletados arbitrariamente com o auxílio de um podão e levados para o Laboratório de Biologia da Conservação para triagem e morfotipagem das galhas. A morfotipagem das galhas foi realizada com base nas suas características morfológicas externas (diferentes espécies de galhadores produzem galhas com morfologia distinta). Assim, a morfologia das galhas pode ser usada como critério na morfotipagem dos insetos galhadores (Stone & Schönrogge 2003).

Análise dos dados

O esforço mínimo de coleta para amostragem representativa da fauna de galhadores associada a C. langsdorffii foi determinado através da construção da curva de rarefação de morfotipos de galhas em função dos indivíduos amostrados. Após a determinação da quantidade de indivíduos necessários para a amostragem satisfatória das galhas, esses foram utilizados para a construção de curvas de rarefação dos morfotipos de galhas em função dos ramos coletados. A média dos valores correspondentes à saturação de espécies de cada curva representou o número aproximado de ramos que devem ser coletados por planta para uma amostragem satisfatória.

O efeito da arquitetura da planta na riqueza e abundância das galhas foi avaliado através da análise de componentes principais (PCA) seguida pelo teste de regressão múltipla. Assim, a PCA reduziu os sete parâmetros arquitetônicos estudados (CAP; altura; número de ramificações de primeiro, segundo e terceiro nível; área da copa e volume da planta) a dois componentes principais. Em seguida, foram realizados testes de regressão múltipla através da construção de modelos lineares generalizados (GLM), utilizando uma distribuição de erros adequada para cada variável resposta, de acordo com a crítica ao modelo (Crawley 2002). A riqueza de morfotipos e a abundância de galhas foram usadas como variáveis resposta e os escores dos dois componentes principais obtidos através da PCA corresponderam às variáveis explicativas.

RESULTADOS

Os indivíduos de C. langsdorffii amostrados apresentaram 3576 galhas pertencentes a 23 morfotipos. Os morfotipos mais abundantes foram: 13, 3, 5, 4 e 8. Os morfotipos 18 e 23 apresentaram somente uma galha (Figura 1). A maioria das galhas amostradas ocorre no limbo foliar da planta hospedeira (17 morfotipos). Além disso, observou-se que três morfotipos (3, 5 e 6) ocorreram tanto no caule quanto na nervura foliar. Dois morfotipos (10 e 17) são típicos de caule e um morfotipo (16) foi observado exclusivamente na nervura foliar. Quanto à distribuição, 55.6% das galhas ocorrem de forma isolada e 44.4% ocorrem tanto na forma isolada quanto em grupo (Figura 1).



Figura 1
. Morfotipos de galhas (1 a 23) associadas a C. langsdorffii em um fragmento de Cerrado (Montes Claros, Minas Gerais, Brasil). As setas indicam as localizações das galhas na planta hospedeira e os valores entre parênteses correspondem à abundância total de galhas amostradas no estudo.
Figure 1. Gall morphotypes (1 to 23) associated with C. langsdorffii in a Cerrado fragment (Montes Claros city, Minas Gerais, Brazil). The arrows indicate the gall localization on host plant and values in parentheses are total galls abundance sampled in the study.

A curva de acumulação de espécies de galhas por indivíduo amostrado indicou que a saturação de espécies ocorre próxima a décima árvore amostrada (Figura 2). A média das curvas de saturação de espécies desses dez indivíduos indicou que 14 ramos por planta são suficientes para a amostragem da comunidade de galhas associadas a C. langsdorffii (Figura 3). Portanto, para um levantamento adequado da fauna de galhas associadas a C. langsdorffii é necessário amostrar um mínimo de 14 ramos em dez árvores.


Figura 2
. Curva de rarefação de espécies de galhadores por indivíduo de C. langsdorffii amostrado (y=1.6693ln(x)+16.703; R2=0.6955).
Figure 2. Rarefaction curve of galling species per individual of C. langsdorffii sampled (y=1.6693ln(x)+16.703; R
2=0.6955).


Figura 3
. Curvas de rarefação de espécies de galhas por ramo coletado nos dez primeiros indivíduos de C. langsdorffii amostrados.
Figure 3. Rarefaction curves of galling species collected by shoots in ten first individuals of C. langsdorffii sampled.

O primeiro componente da PCA explicou 32% da variação dos parâmetros arquitetônicos medidos, enquanto o segundo componente explicou 22% dessa variação. No componente 1, os parâmetros da arquitetura da planta de maior importância foram: circunferência a altura do peito, altura, área da copa e volume da copa (Figura 4), indicando uma relação direta com o tamanho da planta. Considerando-se o componente 2, os parâmetros de maior importância foram o número de ramos primários, secundários e terciários (Figura 4), caracterizando assim, o padrão de ramificação e a complexidade.


Figura 4
. Análise de componentes principais das variáveis arquitetônicas aferidas em C. langsdorffii (R 1º=ramificação de primeiro nível; R 2º=ramificação de segundo nível; R 3º=ramificação de terceiro nível; CAP=circunferência à altura do peito).
Figure 4. Analysis of principal components of architectural variables measured in C. langsdorffii (R 1º=branch to the first level; R 2º=second-level branch; R 3º=branch of the third level, DBH=diameter at breast height).

Os componentes 1 e 2 da PCA não explicaram a variação da riqueza de morfotipos ou abundância das galhas amostradas (Tabela 1). Assim, a diversidade de galhas não respondeu ao aumento da circunferência a altura do peito, altura, área da copa e volume da copa, ou seja, ao tamanho da planta. Da mesma forma, a complexidade caracterizada pela presença de ramos primários, secundários e terciários não influenciou a diversidade desses herbívoros.

Tabela 1. Análises de regressão múltipla entre a riqueza e a abundância de galhas (variáveis resposta) e os escores dos dois componentes principais obtidos através da análise de componentes principais (variáveis explicativas). (g.l.=graus de liberdade).
Table 1. Multiple regression analysis among gall richness and abundance (responses variable) and scores from two principal components obtained by principal component analysis (explanatory variables). (d.f.=degrees of freedom).

DISCUSSÃO

Copaifera langsdorffii é a espécie arbórea tropical com a mais rica fauna de insetos galhadores já descrita (23 morfotipos), fato que a caracteriza como super-hospedeiro. Outros exemplos de super-hospedeiros incluem Baccharis dracunculifolia (Asteraceae), que apresenta 17 morfotipos de galhas (Fernandes et al. 1996), Quercus turbinella (Fagaceae) com 20 morfotipos (Fernandes & Price 1988), Larrea tridentata (Zygophyllaceae) com 16 morfotipos (Waring & Price 1989) e Atriplex sp (Chenopodiaceae). com 12 morfotipos (Hawkins & Goeden 1984). Em uma escala histórica ou evolutiva, a riqueza de insetos herbívoros associada a um hospedeiro particular encontra-se diretamente relacionada ao limite de distribuição geográfica da espécie, a riqueza de espécies da família ou gênero e a origem do táxon (Southwood 1961; Fleck & Fonseca 2007). Copaifera é um gênero rico em espécies (72 espécies), amplamente distribuído por toda a América Latina e África Ocidental (Dwyer 1951) e pertence ao grupo das Fabaceas, uma das mais diversas famílias botânicas (Souza & Lorenzi 2005). Assim, é provável que estas características sejam importantes para justificar a elevada riqueza de galhas observada em C. langsdorffii.

Comparativamente a plantas herbáceas ou arbustivas, espécies arbóreas apresentam ciclo de vida mais longo, que as tornam mais previsíveis no tempo e no espaço. Os insetos herbívoros têm maior probabilidade de colonizar e manter sua população nessas plantas, sofrendo menores riscos de extinção devido a persistência do recurso. É possível que a previsibilidade do recurso associada à especificidade dos insetos galhadores permitem que um único indivíduo arbóreo suporte a maioria das espécies de galhadores associados a uma determinada espécie vegetal. Dessa forma, as curvas de rarefação de espécies devem atingir pontos de saturação com um número relativamente baixo de indivíduos, conforme observado nesse estudo.

Muitos estudos mostram que existe relação positiva entre o aumento da complexidade da planta hospedeira e a diversidade de insetos herbívoros (Alonso & Herrera 1996; Marquis et al. 2002; Espírito-Santo et al. 2007; Woodcock et al. 2007; Lara et al. 2008). Nesse trabalho, a análise de componentes principais separou as variáveis arquitetônicas em dois componentes que representaram o tamanho da planta (componente 1) e a complexidade do padrão de ramificação da planta (componente 2). Contudo, não foi observada relação significativa entre a diversidade de galhas associada a C. langsdorffii e o tamanho ou o padrão de ramificação da planta hospedeira. Novamente pode-se invocar a previsibilidade do recurso e a especificidade dos galhadores para justificar estes resultados. De fato, se uma única árvore suporta a maioria da fauna de galhadores devido a previsibilidade do recurso e o hábito especialista do galhador, seria esperado que a arquitetura da planta explicasse muito pouco da variação total.

Uma hipótese alternativa formulada para explicar a distribuição dos insetos na escala da planta hospedeira é a hipótese da sucessão ontogenética. Medianero et al. (2003) sugerem que espécies de insetos galhadores têm sua ocorrência restrita a indivíduos de diferentes estágios ontogenéticos. Dessa forma, a riqueza de galhadores associada a espécies vegetais estaria distribuída ao longo da ontogenia das plantas, não sendo encontrada toda a fauna de galhadores ao mesmo tempo em um único estágio de desenvolvimento do hospedeiro (Fleck & Fonseca 2007). Nesse estudo, todas as árvores amostradas encontravam-se em estágio adulto e, portanto, deveriam possuir uma fauna de galhadores similar, justificando a falta de relação entre arquitetura e riqueza de espécies.

Nossos resultados indicam que C. langsdorffii comporta-se como um super-hospedeiro de insetos galhadores que associada a sua ampla distribuição e ocorrência em diferentes habitats tornam o sistema interessante para estudos ecológicos. Além disso, esse trabalho oferece uma metodologia alternativa para a amostragem de galhas em espécies arbóreas tropicais e sugere que a previsibilidade do recurso e o hábito especialista dos galhadores são importantes para determinar a composição de espécies associadas à C. langsdorffii.

AGRADECIMENTOS

L. S. Araújo, H. Fagundes, C. R. Leal, V. H. F. Oliveira, R. A. S. Andrade auxiliaram no trabalho de campo. Agradecemos também a dois revisores anônimos pelas críticas e sugestões que melhoram a qualidade do manuscrito. A Capes pela concessão de bolsa à primeira autora e a Fapemig pelo suporte financeiro ao trabalho e bolsas de incentivo a pesquisa concedidas a M. Fagundes e F. S. Neves.

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