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Salud(i)Ciencia

versión impresa ISSN 1667-8682versión On-line ISSN 1667-8990

Salud(i)Ciencia vol.25 no.2 Ciudad autonoma de Buenos Aires jun. 2022  Epub 20-Dic-2022

http://dx.doi.org/10.21840/siic/171252 

RED CIENTÍFICA IBEROAMERICANA

Distúrbios de saúde mental durante a (Trastornos psicológicos durante la) COVID-19

Psychological disorders during COVID-19

Gustavo Fonseca de Albuquerque Souza,1 

Gabriella de Almeida Figueredo Praciano,1 

Esther Soraya Lima de França,1 

Renata Patrícia Freitas Soares de Jesus,1 

Maria Carolina Paiva de Lima,1 

Luiza Maciel Yamamoto Revoredo,1 

Mateus de Souza Oliveira Carvalho,2 

Alex Sandro Rolland Souza,1 

1 Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil

2 Faculdade Pernambucana de Saúde, Recife, Brasil

Em dezembro de 2019 foi marcado pelo início da (fue el inicio de la) pandemia do novo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), responsável pela doença infeciosa do (de la enfermedad infecciosa causada el) coronavírus 2019 (COVID-19).1 Devido a gravidade dessa enfermidade e alta transmissibilidade, tornou-se necessário a implementação de medidas restritivas que resultaram em significativa mudança no (se hizo necesario implementar medidas restrictivas que conllevaron un cambio significativo en el) estilo de vida da população, com aumento nas taxas de desemprego e do consumo de drogas lícitas e ilícitas, além do medo da morte (en las tasas de desempleo y en el consumo de drogas lícitas e ilícitas, además del miedo a la muerte).2 Fatores que contribuíram para o aparecimento de sintomas psíquicos, como depressão e ansiedade.3

Devido a gravidade e a transmissão aérea, de pessoa a pessoa, para evitar sua disseminação, foi necessária a implementação de medidas que restringiram o contato e a interação social, como quarentena, distanciamento e isolamento social (fue necesaria la implementación de medidas que restringieran el contacto y la interacción social, como la cuarentena, el distanciamento y el aislamiento social).4 Essas ações formaram uma nova situação no meio social, impactando fortemente nas atividades diárias da população,5 causando distúrbios do sono e nutricionais, abuso de álcool e drogas ilícitas, bem como diminuição da prática de atividade física (una situación nueva en la sociedad, e impactaron fuertemente en las actividades cotidianas de la población, causando trastornos del sueño y alimentarios, aumento en el consumo de alcohol y de drogas ilícitas, así como disminución en la práctica de actividad física).5 Destaca-se, ainda, que esse período é marcado por desestabilização da economia mundial, gerando insegurança financeira e aumento da taxa de desemprego (desestabilización de la economía mundial, lo que genera inestabilidad financiera y aumento de la tasa de desempleo).2 Por isso, é evidente que além dos impactos físicos e sociais advindos da pandemia, as consequências mentais como medo, depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático impactam fortemente na qualidade de vida das pessoas, podendo até ser considerada como mais afetada do que (es evidente que, además del impacto físico y social derivado de la pandemia, las secuelas en la salud mental como el miedo, la depresión, la ansiedad y el trastorno por estrés pós-traumático, impactan fuertemente en la calidad de vida de las personas, que puede considerarse más afectada que la) a saúde física durante momentos de pandemias.6

Sabe-se que o sexo feminino possuí maior vulnerabilidade a transtornos mentais (Se considera que las mujeres son más vulnerables a los trastornos mentales),3,7 o que pode estar relacionado às alterações no sistema endócrino que ocorrem no período pré-menstrual, pós-parto e menopausa, além das desigualdades de gênero associadas à sobrecarga de trabalho e à violência doméstica.8 Já a depressão no sexo masculino foi, em sua maioria, associada ao subemprego, desemprego ou afastamento definitivo do mercado de trabalho (Por otro lado, la depresión en los hombres estuvo, en su mayor parte, asociada con subempleo, desempleo o retiro permanente del mercado laboral).9

Apesar das diferenças biológicas e sociais, alguns fatores de risco parecem ser comuns para ambos os sexos, como o suporte psicossocial e situação socioeconômica e de saúde (algunos factores de riesgo parecen ser comunes para ambos sexos, como el entorno psicosocial y la situación socioeconómica y de salud).10 Dessa forma, o estudo objetiva analisar a prevalência e os fatores associados aos sinais e/ou sintomas de estresse, ansiedade e depressão grave/extremo, comparando a diferença entre os sexos, durante a pandemia da COVID-19.

Foi realizado um estudo de corte transversal entre abril e maio de 2020. Incluíram-se brasileiros nativos ou naturalizados residentes no Brasil ou exterior e excluíram-se os menores de 18 anos e os que responderam o formulário de forma inadequada. Os indivíduos eram estimulados a participarem como divulgadores da pesquisa, conforme a técnica snowball sampling.11

As variáveis independentes selecionadas foram as sociodemográficas, como idade, gênero, raça/etnia, religião, estado civil, escolaridade, filhos, região de residência, número de cômodos na residência e renda familiar (Las variables independientes seleccionadas fueron sociodemográficas, como edad, sexo, raza/etnia, religión, estado civil, educación, hijos, zona de residencia, número de habitaciones de la residencia e ingreso familiar). Em relação às atividades laborais, abordou-se sobre a ocupação e relação trabalhista durante a pandemia. Sobre os hábitos de vida, questionou-se quanto a prática de atividades físicas, lazer, uso de bebidas alcoólicas, drogas ilícitas, tabagismo, uso de medicamentos ansiolíticos e da internet e práticas de atividades remotas (se indagó sobre la práctica de actividades físicas, el tiempo de ocio, el consumo de bebidas alcohólicas y de drogas ilícitas, el tabaquismo, el consumo de ansiolíticos, el uso de internet y las prácticas de actividades a distancia). Ademais, foi visto sobre os antecedentes de doenças crônicas e sintomas de ansiedade e/ou depressão. A respeito dos aspectos relacionados à COVID-19 foram indagadas sobre a presença de sintomas da COVID-19 e ter tido história de contato com alguém suspeita para a (y haber tenido antecedentes de contacto con alguien sospechoso de) COVID-19, estar em distanciamento social, isolamento social e quarentena e o tempo em distanciamento social.

As variáveis dependentes foram a presença de sinais e/ou sintomas para estresse, ansiedade e depressão, avaliadas por meio da aplicação da Escala de Estresse, Ansiedade e Depressão (DASS-21).12 Na DASS-21, os participantes indicavam o grau em que experimentaram cada um dos sintomas descritos nos itens durante a semana anterior, em uma escala do tipo Likert de quatro pontos entre zero (não se aplica a mim) e três (aplica-se muito a mim ou a maior parte do tempo [se aplica a mí ampliamente o la mayor parte del tiempo]). As pontuações para estresse, ansiedade e depressão foram determinadas pela soma dos escores dos 21 itens da escala (Las puntuaciones de estrés, ansiedad y depresión se determinaron sumando las puntuaciones de los 21 ítems de la escala), sete para cada subescala (estresse, ansiedade e depressão). A presença de sinais e/ou sintomas de estresse foi classificada como ausente (0-14), leve (15-18), moderado (19-25), grave (26-33) e extremo (> 33). De forma semelhante, a ansiedade foi classificada em ausente (0-7), leve (8-9), moderado (10-14), grave (15-19) e extremo (>19). Enquanto, a depressão em ausente (0-9), leve (10-13), moderado (14-20), grave (21-27) e extremo (> 27).12A amostra foi calculada prevendo uma taxa de depressão de 5% entre os brasileiros.13 Considerando um poder de 80% e um nível de significância de 95%, serão necessários 810 pacientes.

A associação das variáveis dependentes e independentes foi realizada pelo teste de qui-quadrado, sendo calculada a força dessa associação pela razão de prevalência (La correlación de variables dependientes e independientes se realizó mediante la prueba de chi al cuadrado, y la fuerza de esta asociación se calculó mediante la razón de prevalencia) (RP) e seu intervalo de confiança a 95% (IC 95%). Em seguida foi feita uma análise de regressão logística multivariada, com o modelo inicial sendo composto pelas variáveis explanatórias que apresentaram significância (Luego se realizó un análisis de regresión logística multivariado, com lo que el modelo inicial quedó compuesto por las variables explicativas que mostraron significación) p < 0.20 na análise univariada, calculando-se o odds ratio (OR) inicial e seu IC 95%. Para o modelo final, permaneceram as variáveis com nível de significância menor que 0.05. Antes do preenchimento do questionário por todos os participantes, foi disponibilizado um termo de consentimento on-line (Antes de completar el cuestionario por parte de todos los participantes, se puso a disposición un formulario de consentimiento en línea). Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), sob CAAE - 30623020.1.0000.5206 e parecer 3.988.875 de 24 de abril/2020.

Foram obtidas 3793 respostas, sendo excluídos 8.3% (n = 314) indivíduos que preencheram de forma inadequada e 0.7% (n = 28) por serem menores de 18 anos, restando 91.0% (n = 3451) para o presente artigo. Dentre os participantes, 77.3% (n = 2667) eram do gênero feminino, enquanto que 22.7% (n = 784) do masculino. A idade média encontrada foi de 33.1 ± 12.8 anos para as mulheres e de 33.3 ± 13.5 anos para os homens. Em relação à raça/etnia prevaleceu a branca nas mulheres e nos homens (Predominó la raza/etnia blanca entre hombres y mujeres). Além disso, também foi mais prevalente, em ambos os sexos, a religião católica, o estado civil casado, a residência na região nordeste e a escolaridade com ensino superior (Tabela 1). Evidenciou-se que 53.4% das mulheres possuíam algum sinal e/ou sintoma de estresse, enquanto que nos homens apenas 31.8% (Se puso em evidencia que el 53.4% de las mujeres presentó algún signo o síntoma de estrés, mientras que en los hombres solo el 31.8% lo manifestó). Em relação à ansiedade 50.1% das mulheres apresentaram algum grau de sinal e/ou sintoma, em contrapartida nos homens encontrou-se 31.1%. Por fim, quando avaliado os sinais e/ou sintomas depressivos observou-se que 58.2% das mulheres possuíam, enquanto que nos homens foi de 41.5% (Tabela 2).

As variáveis que permaneceram associadas aos sinais e/ou sintomas de estresse grave/extremo em ambos os sexos foram: idade > 33 anos, antecedentes de ansiedade e/ou depressão e diminuição ou permanência do uso de medicamentos ansiolíticos durante a pandemia. Para o gênero feminino, destacaram-se: residir na região sudeste, diminuição da prática de exercícios físicos e das atividades de lazer e do consumo de bebidas alcoólicas, permanência do uso de atividades remotas, estar em isolamento social e estar desempregada. Para o gênero masculino, observou-se associação com: a raça/etnia parda, residir com número de cômodos de 1-6, diminuição/não uso da internet durante a pandemia e não possuir religião (Para el sexo femenino se destacan: residir en la región sudeste, disminución del ejercicio físico y las actividades de ocio, consumo de bebidas alcohólicas, práctica continua de actividades a distancia, aislamiento social y estar desempleada. Para los hombres, hubo una asociación con: raza/etnia mestiza, vivienda con 1 a 6 habitaciones, disminución o falta de uso de internet durante la pandemia y no profesar una religión) (Tabela 3).

Os fatores associados aos sinais e/ou sintomas de ansiedade grave/extrema em indivíduos de ambos os sexos, foram: idade > 33 anos, possuir antecedentes de ansiedade e/ou depressão, diminuição do uso de medicamentos ansiolíticos, realização das atividades remotas e estar em isolamento social (mayor de 33 años, tener antecedentes de ansiedad o depresión, disminución en el consumo de ansiolíticos, realizar actividades a distancia y aislamiento social). Enquanto, as variáveis associadas apenas para a mulher, foram: raça/etnia parda, residir na região centro-oeste, trabalhar na área de comércio essencial, possuir doenças crônicas, estar desempregada, diminuir as práticas de lazer e ter história de contato com alguém suspeita para a COVID-19. Em contrapartida, as variáveis associadas apenas ao homem foram: residir na região sudeste, não possuir filhos, estar estudando em colégio, aumentar o tabagismo e ter passado por um período de 36-40 dias em distanciamento social (Tabela 4).

Por fim, os fatores associados aos sinais e/ou sintomas depressivos graves/extremos, em ambos os sexos foram: idade > 33 anos, etnia/raça parda, não possuir religião, residir na região centro-oeste, residência com número de cômodos de 1-6, possuir antecedentes de ansiedade e/ou depressão e diminuição do uso de medicamentos ansiolíticos. Apenas para o gênero feminino foram: não ser casada ou solteira, diminuição da renda familiar, estar desempregada, diminuição das práticas de lazer e ausência de exercícios físicos, não realização de atividades remotas, fazer uso de drogas ilícitas e estar em isolamento social. Enquanto que as variáveis associadas apenas ao sexo masculino foram: estar no colégio e aumento do consumo de bebidas alcoólicas (Tabela 5).

A crise sanitária mundial provocada pela COVID-19 tem sido composta, paralelamente, por uma epidemia psíquica, caracterizada por uma heterogeneidade de psicopatologias que afeta diversos grupos populacionais (A la crisis sanitaria mundial provocada por la COVID-19 se ha sumado, paralelamente, una epidemia psicológica, caracterizada por una heterogeneidad de psicopatologías que afecta a distintos grupos poblacionales).14 Nosso estudo constatou maior prevalência de mulheres com sintomatologia para estresse, ansiedade e depressão, em relação aos homens. De acordo com pesquisadores, ser mulher aumenta em cerca de três vezes a chance de apresentar um transtorno mental.15 Isso pode ser explicado através de aspectos hormonais e pelo meio social que a mulher está inserida.8 O distanciamento e isolamento social advindo da pandemia, e suas consequências, como o aumento da violência doméstica, são propulsores adicionais para o desenvolvimento de transtornos mentais nas mulheres (El distanciamiento social y el aislamiento resultantes de la pandemia, y sus consecuencias, como el aumento de la violencia doméstica, son factores adicionales para la aparición de trastornos mentales en las mujeres).8,16

Estudos realizados durante a pandemia evidenciaram que 20.9% dos pacientes com transtornos psiquiátricos preexistentes relataram piora de seus sintomas,17 bem como maior risco de três vezes para desenvolver ansiedade (Estudios realizados durante la pandemia mostraron que el 20.9% de los pacientes con trastornos psiquiátricos preexistentes informaron un agravamiento de sus síntomas,17así como un riesgo tres veces mayor de ansiedad). Apesar desse grupo de pacientes ser mais sujeitos a desenvolverem sintomas ansiosos, depressivos e estressores, observou-se uma redução do uso de ansiolíticos durante o período de distanciamento social. Destaca-se que por se tratar de um estudo transversal não se pode determinar que a causa redução do uso de ansiolíticos seja a causa do aumento dos sinais e sintomas (Cabe destacar que, por tratarse de un estudio transversal, no se puede determinar que la reducción del uso de ansiolíticos sea la causa del aumento de signos y síntomas). Ademais, autores brasileiros evidenciaram que mulheres portadoras de doenças outras doenças associadas, como diabetes, também teriam maior risco de desenvolver depressão grave/extrema.18

Com o avançar da idade, maior é a vulnerabilidade do paciente para quadros mais críticos da COVID-19.19 Apesar do anseio psicológico que esse fato causa, foi observado que, em ambos os sexos, idades mais avançadas estão associadas à proteção da saúde mental, sugerindo um processo de amadurecimento e aceitação (A pesar del anhelo psicológico que provoca este hecho, se observó que, en ambos sexos, las edades más avanzadas se asocian con la protección de la salud mental, lo que sugiere un proceso de maduración y aceptación). Quanto a etnia, constatou-se associação da cor parda com estresse e depressão em homens e ansiedade e depressão em mulheres, corroborando com um estudo americano que afirmou existir divergências na qualidade da saúde mental entre pessoas de etnias e raças diferentes.20

A religião é um importante fator de proteção psicossocial, uma vez que aumenta o bem-estar e reduz sintomas depressivos em ambos os sexos,3 semelhante ao nosso resultado. Em consonância, uma pesquisa prévia constatou que 95% das pessoas que não possuíam crença apresentaram ansiedade, fobia ou outro transtorno mental (La religión es un factor protector psicosocial importante, ya que aumenta el bienestar y reduce los síntomas depresivos en ambos sexos,3lo corresponde con nuestros resultados. En línea con esto, investigaciones previas encontraron que el 95% de las personas que no tenían creencias sufrían ansiedad, fobia u otro trastorno mental).21 Enquanto, o baixo nível de escolaridade teve relação significativa para sintomatologia ansiosa e depressiva no sexo masculino, o que pode ser reflexo da acriticidade diante do cenário com excesso de informações, resultando em cidadãos menos cautelosos e submissos a situações de risco (lo que puede reflejar la postura acrítica frente un escenario con exceso de información, dando como resultado ciudadanos menos precavidos y comportamento sumiso ante situaciones de riesgo).22

A instabilidade financeira decorrente do desemprego foi uma das principais sequelas da pandemia, configurando um fator de risco para psicopatologias, especialmente nas mulheres.23 Assim como evidenciado por este trabalho, pesquisadores britânicos apontaram um aumento de duas vezes no risco para o desenvolvimento de ansiedade, depressão e estresse em mulheres desempregadas, ou com redução de horário, ou trabalho à distância.23Observou-se, em nosso estudo, que as alterações das condições de trabalho, como a implementação de atividades remotas, estiveram relacionadas a sintomas psíquicos. Estudo que analisou funcionários e alunos de uma universidade durante a pandemia, identificou que as mulheres que estavam realizando atividades remotas são mais propensas à ansiedade, exaustão no trabalho e diminuição do bem-estar (identificó que las mujeres que realizaban actividades a distancia son más propensas a la ansiedad, el agotamiento en el trabajo y la disminución del bienestar).24

Quanto à situação conjugal, autores corroboram com nosso resultado, ao evidenciarem que mulheres sem companheiro possuem maior prevalência de depressão.25 Por outro lado, ter companheiro (RP: 0.77; IC 95%: 0.65-0.92) foi fator de proteção para depressão.25A ausência de filhos foi tida como um fator de risco para ansiedade no sexo masculino, visto que como forma de aliviar o sentimento de solidão, os homens tendem, mais que as mulheres, a buscar conexões com os membros da família (La ausencia de hijos fue considerada un factor de riesgo para la ansiedad en los hombres, ya que como una forma de aliviar el sentimiento de soledad, los hombres tienden, más que las mujeres, a buscar conexiones con los miembros de la familia). 26

De acordo com pesquisadores, mais de 20% das pessoas que tiveram contato com pessoas potencialmente infectadas relataram desenvolver medo, 18% nervosismo e 18% tristeza,27 e dentre os indivíduos que mais apresentam sequelas psicológicas, destaca-se o sexo feminino.15 Tal fato pode explicar o motivo das mulheres possuírem mais risco de ter ansiedade grave/extrema ao entrarem em contato com pessoas potencialmente infectadas pela COVID-19.

O aumento do consumo de álcool esteve atrelado a sintomatologia depressiva em indivíduos do sexo masculino, enquanto que sua diminuição foi um fator protetor nas mulheres (El aumento del consumo de alcohol se relacionó con síntomas depresivos en los hombres, mientras que su disminución fue un factor protector en las mujeres). Apesar de não haver explicação concreta na literatura quanto à diferença entre os sexos, sabe-se que o álcool promove uma ação de depressão no sistema nervoso central, o que é potencializado pelo isolamento social.3 Paradoxalmente, o aumento do uso de tabaco foi inversamente proporcional ao estresse nos homens, o que pode ter recebido influência do período isolado da análise, uma vez que o uso da nicotina por curtos períodos pode causar relaxamento e diminuir o estresse (Paradójicamente, el aumento del consumo de tabaco fue inversamente proporcional al estrés en los hombres, lo que puede haber sido influenciado por el período aislado de análisis, ya que el uso de nicotina por períodos cortos puede causar relajación y disminuir el estrés).28 Enquanto, a realização de atividade física possui menores índices de estresse.3 Nessa perspectiva, esta pesquisa observou aumento da ansiedade com a diminuição da prática de exercícios físicos, em mulheres, o que pode estar relacionado à sobrecarga da dupla jornada de trabalho devido ao contexto do distanciamento social (lo que puede estar relacionado con la sobrecarga de la doble jornada laboral por el contexto de distanciamiento social).8

Como limitação, destaca-se que apesar de nosso estudo ter sido realizado utilizando um formulário online, foi disponibilizado o contato dos pesquisadores minimizando as prováveis dúvidas dos voluntários da pesquisa e, assim, possibilitando a inclusão de adequado tamanho amostral de todas as regiões do país (cabe destacar que si bien nuestro estudio se realizó a través de un formulario en línea, se puso a disposición el contacto con los investigadores, minimizando las probables dudas de los voluntarios de la investigación y, por lo tanto, permitiendo la inclusión de un tamaño de muestra adecuado de todas las regiones del país). Ressalta-se que alguns resultados apontam para a existência de causalidade reversa a qual limita algumas associações, como a existente entre os transtornos mentais e tabagismo, por impossibilitar a observação da temporalidade na relação entre a exposição e o desfecho do estudo.

Evidenciou-se, que as mulheres possuem maior prevalência de sinais e/ou sintomas de estresse, ansiedade e depressão durante esse período de pandemia, bem como maior nível de gravidade dos sintomas quando comparado ao sexo masculino. Além disso, foi possível identificar que existem aspectos físicos, psicológicos, mentais, sociais, econômicos e culturais que são associados a um maior risco ou proteção de desenvolvimento dessas psicopatologias e que diferem quanto ao acometimento entre os sexos (Además, fue posible identificar que existen aspectos físicos, psicológicos, mentales, socioeconómicos y culturales que se asocian con mayor riesgo o protección de estas psicopatologías y que difieren en cuanto a la afección entre los sexos). Portanto, o presente estudo contribui para a criação de estratégias voltadas ao cuidado da saúde mental da população com enfoque nas características específicas de cada grupo.

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