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La trama de la comunicación

Print version ISSN 1668-5628

Trama comun. vol.24 no.2 Rosario Dec. 2020

 

ARTÍCULOS

El análisis temático como herramienta de investigación en el área de la Comunicación Social: contribuciones y limitaciones

Thematic Analysis as a research tool in the area of Social Communication: contributions and limitations

 

Por Camila Escudero

camila.escudero@metodista.br / Universidade Metodista de São Paulo, Brasil

Camila Escudero
Brasileira
Doutra em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com período de pesquisa na University of Illinois at Chicago. Mestre em Comunicação Social e bacharel em Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo. Docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, com auxílio pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Afiliação institucional: Universidade Metodista de São Paulo
Área de especialidade: Processos comunicacionais
E-mail: camilaescudero@uol.com.br camila.escudero@metodista.br


Sumario:

Procedente del Psicología, el Análisis temático (AT) es una técnica de investigación para identificar, analizar e informar patrones, es decir, temas dentro de los datos recopilados empíricamente. Organiza y describe mínimamente el conjunto de datos en detalle, e interpreta aspectos del tema. Así, este artículo pretende presentarla como una opción más de instrumento de investigación dentro del campo de la Comunicación Social, para investigaciones de enfoque cualitativo. A partir de la investigación bibliográfica y un breve análisis exploratorio, se pueden ver las ventajas y desventajas de la AT, su diferencia e inserción en otras técnicas o recursos teóricos y metodológicos relacionados y ampliamente difundidos (Análisis del Discurso y del Contenido, principalmente) y su posibilidad de garantizar un rigor técnico-metodológico frente a la flexibilidad y dinámica del área comunicacional.

Descriptores: Análisis temático; Comunicación Social; Técnica de investigación; Aspectos metodológicos

Summary:

Coming from Psychology, Thematic Analysis (TA) is a research technique to identify, analyze and report patterns, it means, themes by empirically collected data. It minimally organizes and describes the dataset in detail, and interprets aspects of the subject matter. Thus, this article aims to present it as once more research instrument option in Social Communication fiel, for investigations of qualitative approach. Using bibliographic research and a brief exploratory analysis, it can be seen advantages and disadvantages of TA, its difference and insertion in some other related and widespread theoretical-methodological techniques or resources (Discourse and Content Analysis, mainly) and its possibility of guaranteeing a technical-methodological rigor in face of the flexibility and dynamics of the communicational area.

Describers: Thematic Analysis; Social Communication; Research technique; Methodological aspect


Introdução

O presente artigo tem o objetivo de apresentar uma técnica de pesquisa – a Análise Temática (AT) – como mais uma opção de instrumento para coleta de material empírico dentro do campo da Comunicação Social, especialmente para estudos de abordagem qualitativa. Para isso, fizemos uso de pesquisa bibliográfica e uma breve análise exploratória com a proposta de clarificar as etapas envolvidas no processo de AT e seus variados tipos de aplicação.
Oriunda da Psicologia, a AT, como discorreremos ao longo deste texto, é uma técnica de pesquisa para identificar, analisar e relatar padrões, ou seja, temas, dentro de dados colhidos empiricamente. Ela minimamente organiza e descreve o conjunto de dados em detalhes, além de interpretar aspectos do tema de estudo.
Nossa ideia, aqui, não é enfatizar a necessidade de instrumentos rígidos e sufocantes que limitam a liberdade do pesquisador. Aliás, quanto a isso, destaca-se nosso posicionamento alinhado ao de Lopes (2010: 100), que coloca, em um contexto mais amplo de recursos teórico-metodológicos no campo da Comunicação, que a metodologia na pesquisa científica diz respeito ao exercício da vigilância sobre as condições e limites do trabalho científico e não deve haver incompatibilidade entre rigor e audácia no fazer científico. “Estamos muito longe de uma visão de Metodologia como exigência de submissão estrita a procedimentos rígidos, mas, ao contrário, aproximamo-nos da Metodologia que possibilita fecundidade na produção de conhecimento” (2010: 100).
Assim, procuramos elaborar uma apresentação da AT que una a sistematização rigorosa dos dados, como exige um estudo científico, com o caráter constantemente criativo e aberto de investigação na Comunicação, uma área do conhecimento marcada pela interdisciplinaridade e interação com os mais variados recursos teórico-metodológicos – e que por isso dialoga naturalmente com diferentes técnicas de pesquisas oriundas de outros campos do saber. Trata-se de uma iniciativa de apontar mais um caminho para a prática de investigação empírica que ajude a garantir a sustentação do tripé objeto + teoria + método, a partir do conceito de equilíbrio, que há muito tempo nos ensina a Física: as condições para que exista equilíbrio são que a soma das forças e a soma dos torques que atuam sobre um determinado sistema sejam nulas.

A Análise Temática: definição, características e possíveis conflitos com outros tipos de análises

Seja por todo o histórico de críticas às questões da metodologia e da interdisciplinaridade da Comunicação Social, seja pelo caráter neófito do campo se comparado a outras áreas do conhecimento (principalmente as ciências Exatas ou Humanas), seja ainda, no caso do Brasil, devido à centralização dos programas de pós-graduação em algumas regiões do país (Sudeste e Sul, principalmente) e universidades, o fato é que, não raro questões técnico-metodológicas costumam causar confusões e não receber a devida atenção dos pesquisadores. Não é o caso de valorizar a técnica em relação ao método, objeto ou à teoria conceitual-reflexiva localizada dentro do território do pensamento social. É questão de fazer opções conscientes baseadas em critérios. “Optar implica a responsabilidade intransferível de montar uma estratégia metodológica que atenda às características do objeto da pesquisa” (Lopes, 2010: 111).
Observa-se, nesse sentido, um desconhecimento generalizado e até certo conflito em relação à técnica de pesquisa conhecida como Análise Temática (AT), enquanto instrumento técnico para coleta de dados empíricos. Frequentemente comparada com Análise de Conteúdo e até Análise do Discurso, entre outras do gênero, muitas vezes a AT, quando utilizada, aparece de maneira inapropriada, causando não só uma desvalorização da técnica altamente estruturada em outras áreas do conhecimento, como parece contribuir também para a ideia errônea de que na Comunicação o rigor técnico-metodológico, especialmente no caso de abordagens qualitativas, não importa – a interdisciplinaridade ‘natural’ do campo permite tudo.
De acordo com Braun e Clarke (2006: 5 – Tradução nossa), a AT é um método para identificar, analisar e relatar padrões, ou seja, temas, dentro de dados colhidos empiricamente. Ela minimamente organiza e descreve o conjunto de dados em detalhes, além de interpretar aspectos do tema de pesquisa. Em outras palavras: envolve a busca por meio de um conjunto de dados para encontrar padrões repetidos de significados.

A análise temática é uma busca por temas que emergem como importantes para a descrição do fenômeno. O processo envolve a identificação de temas através de leitura cuidadosa e releitura dos dados (Rice & Ezzy, 1999: 258). É uma forma de reconhecimento padrão dentro dos dados, no qual os temas emergentes se tornam as categorias para análise (Fereday; Cochrane, 2006: 82 – Tradução nossa).
 
Oriunda da Psicologia, a AT, enquanto recurso técnico-metodológico para as pesquisas em Ciências Humanas e Sociais, vem se mostrando uma ferramenta de destaque para análises qualitativas. Em última instância a AT “se concentra em temas e padrões identificáveis de vida e / ou comportamento” (Aronson, 1995: 3 – Tradução nossa).
O curioso é que, apesar de pouco difundida na Comunicação, no Brasil e na América Latina, de maneira geral, principalmente, as vantagens da aplicação da AT no campo são múltiplas. Ela é altamente flexível no sentido de orientar o pesquisador o que fazer com os dados obtidos empiricamente, como teorizar seus significados e interpretá-los socialmente. Ao mesmo tempo é um método útil para se trabalhar objetos de estudos relacionados ao campo comunicacional – que podem incluir comunicações desde práticas culturais contemporâneas e trocas intersubjetivas, até a transmissão e recepção tecnologicamente avançadas de conteúdo como sinais e mensagens.
Além disso, permite a análise de dados colhidos a partir de vários outros instrumentos de coleta empírica de informações, em referências cruzadas, amplamente utilizados nas pesquisas em Comunicação: entrevistas, questionários, grupos focais, conteúdo midiático (jornais, revistas e demais produções impressas, online, televisivas e radiofônicas, por exemplo), pesquisa bibliográfica e documental etc.
 
O uso de dados de diferentes fontes pode ajudar você a achar as descobertas. Por exemplo, você pode combinar entrevistas individuais com informações de grupos focais e com análise de material escrito sobre o assunto. Se os dados de diferentes fontes indicarem as mesmas conclusões, você terá mais confiança nos resultados (Powell; Renner, 2003: 9 – Tradução nossa).

Outra vantagem é que se trata de um recurso acessível a pesquisadores com pouca ou nenhuma experiência em pesquisa qualitativa, bem como uma técnica relativamente fácil e rápida para aprender e fazer. Por não estar ligada a um quadro teórico-metodológico existente (daí uma das razões de sua flexibilidade) é completamente diferente, por exemplo, da Análise do Discurso (AD), bastante difundida nos estudos de Comunicação e que exige do pesquisador um conhecimento conceitual altamente detalhado.

Nascida da necessidade de superar o quadro teórico de uma linguística frasal e imanente que não dava conta do texto em toda sua complexidade, a Análise do Discurso volta-se para o ‘exterior’ linguístico, procurando aprender como no linguístico inscrevem-se as condições sócio-históricas de produção (Brandão, 2012: 83).

Não é o foco deste artigo, mas cabe registrar que a AD compõe um recurso teórico-metodológico amplo, que exige uma compreensão do pesquisador sobre a visão da linguagem como interação social e o percurso que o indivíduo faz da elaboração mental do conteúdo a ser expresso à objetivação externa (a enunciação), adaptando-se ao contexto imediato do ato da fala, sua condição de produção e, sobretudo, a interlocutores concretos (Brandão, 2012: 10) e não um instrumento de coleta de informações.
Conhecida também pela modalidade “Análise do discurso temática” – o que pode gerar confusão com o conceito e AT discutido neste trabalho – se refere, na linha francesa, à dimensão pragmática de sua comunicação, tendo como principais autores Carl Sanders Peirce, George Mead e Charles Morris; quanto à AD de linha inglesa, a contribuição clássica é de John Austin, bem como John Searle, Oswald Ducrot, Emile Benvenist e Norman Fairclough. Arriscamos a dizer aqui que o fato de alguns pesquisadores nivelarem a AT com a AD mostra um desconhecimento profundo de questões técnicos-teóricas-metodológicas, motivado ainda pela semelhança da estrutura do nome (ambas levam a palavra análise) e relativa proximidade do significado de temas e discursos.
Quando utilizada na Comunicação, a AT difere de outros tipos de outros métodos analíticos aplicados a conteúdo, que procuram descrever padrões por meio de dados qualitativos e, não raro, se confunde também com a “análise temática” proposta por Bardin (1977), como um item de uma análise maior, a Análise de Conteúdo (AC), largamente difundida, utilizada e consolidada nas pesquisas comunicacionais. Porém, Bardin (1977: 105) é enfática: “a noção de tema, largamente utilizada na análise temática, é característica1 da análise de conteúdo”. Apesar de homônimos, os significados são diferentes.
Na verdade, na AC, segundo a autora, o tema é apenas uma unidade de registro, ou seja, é a unidade de significação a codificar, e corresponde a uma regra de recorte que depende do nível de análise e não de manifestações formais reguladas. Outros autores conhecidos no campo da Comunicação por detalhar a aplicação dessa técnica são: Krippendorff (1990), Franco (1986), BERELSON (1952) e Harwood e Garry (2003).

(...) o tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura. O texto pode ser recortado em ideias constituintes, em enunciados e em proposições portadores de significações isoláveis. Fazer uma análise temática consiste em descobrir os “núcleos de sentido” que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição pode significar alguma coisa para o objeto analítico escolhido (Bardin, 1977: 105).
           
Já a AT, apesar de considerar o tema um recurso para captar algo importante sobre os dados em relação à questão de pesquisa, e representar certo nível de resposta ou significado padronizado dentro do conjunto de dados, trabalha com outra lógica que segue dois caminhos quanto ao raciocínio e ao nível.
Para Braun e Clarke (2006: 11), em uma Análise Temática indutiva, os temas identificados estão fortemente ligados aos próprios dados. Nessa abordagem, dizem as autoras, se os dados foram coletados especificamente para pesquisa, os temas identificados podem ter pouca relação com a questão específica sobre o objeto de estudo.  Portanto “é um processo de codificação dos dados, sem tentar se encaixar em um quadro de codificação preexistente, ou preconceitos analíticos do pesquisador” (Braun; Clarke, 2006: 10 – Tradução nossa). Já em uma Análise Temática teórica, a tendência é fornecer menos uma descrição rica dos dados em geral, e mais uma análise detalhada de alguns aspectos dos dados.
Com relação ao nível em que os temas devem ser identificados em uma AT, Braun e Clarke (2006: 11) propõem a seguinte divisão:

  1. semântico ou explícito: os temas são identificados dentro dos significados explícitos ou superficiais dos dados. “O analista não está à procura de qualquer coisa além do que um participante tenha dito ou escrito” (Braun; Clarke, 2006: 11 – Tradução nossa).
  2. latente ou interpretativo:  vai além do conteúdo semântico dos dados, e começa a identificar ou examinar as ideias, suposições e conceitualizações  subjacentes que são teorizados como formatação ou informação do conteúdo semântico dos dados. “Assim, para a análise temática latente, o desenvolvimento dos próprios temas envolve trabalho interpretativo, e a análise que é produzida não é apenas a descrição, mas já está teorizada” (Braun; Clarke, 2006: 11 – Tradução nossa).
Em última instância, a AT pode ser utilizada “apenas” como uma técnica de coleta de dados empíricos isolada, ou seja, um primeiro passo em uma variedade de abordagens metodológicas para analisar dados qualitativos, incluindo: Análise do Discurso, Análise de Conteúdo, Análise de Narrativas2 etc. E ainda: dependendo do caso, oferece a possibilidade para iniciar a análise de dados a qualquer momento durante o projeto de pesquisa, quando não há associação entre os dados coletados e o resultado do próprio processo (Alhojailan, 2012).
 
Processos de aplicação da AT

Outro motivo que pode contribuir para a confusão da AT com outras pesquisas qualitativas que envolvem análises de comunicações é a semelhança de algumas etapas processuais. Não há um acordo claro sobre como utilizá-la porque esse tipo de análise não ocorre de forma linear, mas, ao contrário, envolve um constante ir e vir no material colhido, evidenciando, mais uma vez seu caráter dinâmico e flexível. Seguir o quadro teórico de base da pesquisa constituído, intrinsecamente, de uma série de pressupostos sobre a natureza dos dados e o que eles representam, ainda é a melhor opção para definir o modo de aplicação da AT – essencialista, realista, construtivista ou mesmo contexutalista.
Ainda assim, no sentido de ajudar os pesquisadores com as fases de produção de uma AT, Braun e Clarke (2006) propõem seis etapas a serem cumpridas, resumidamente, descritas aqui:

  1. Familiarização dos dados: transcrição dos dados (se necessário), leitura e releitura dos dados, apontamentos de ideias iniciais. “(...) é vital que você mergulhe nos dados até o ponto em que esteja familiarizado com a profundidade e amplitude do conteúdo. A imersão geralmente envolve ‘leitura repetida’ dos dados, e ler os dados de maneira ativa, procurando significados, padrões e assim por diante” (Braun; Clarke, 2006: 16 – Tradução nossa).
  2. Gerando códigos iniciais: codificação das características interessantes dos dados de forma sistemática em todo o conjunto de dados, e coleta dos dados relevantes para cada código. Segundo as autoras, os códigos identificam uma característica dos dados que parece interessante para o pesquisador e referem-se ao segmento, ou elemento, mais básico dos dados ou da informação pura, que pode ser avaliada de uma forma significativa em relação ao fenômeno. Pode ser feito manualmente ou com o auxílio de softwares especializados.
    Os conselhos chave para esta fase são: a) codifique o maior número de temas/padrões potenciais possíveis (se o tempo permitir) – você nunca sabe o que pode ser interessante mais tarde; b) codifique extratos de dados de forma inclusiva – por exemplo, mantenha um pouco dos dados ao redor, se relevantes (...); c) lembre-se que você pode codificar extratos individuais de dados em tantos ‘temas’ diferentes quanto eles se encaixem – assim um extrato pode ser decodificado, codificado uma vez, ou codificado muitas vezes, tanto quanto for relevante (Braum; Clarke, 2006: 19 – Tradução nossa).
  3. Buscando por temas: agrupamento de códigos em temas potenciais, reunindo todos os dados relevantes para cada tema potencial. Envolve a triagem dos diferentes códigos em temas potenciais e junta todos os extratos codificados relevantes nos temas identificados.  É “quando você começa a pensar sobre a relação entre os códigos, entre os temas, e entre os diferentes níveis de temas (por exemplo, temas principais e subtemas dentro deles)” (Braun; Clarke, 2006: 20 – Tradução nossa).
  4. Revisando temas: verificação se os temas funcionam em relação aos extratos codificados e ao conjunto de dados inteiros gerando um “mapa” temático de análise. Esta fase envolve dois níveis de revisão e refinamento dos temas. O primeiro consiste na revisão nos extratos codificados de dados. “Isso significa que você precisa ler todos os extratos coletados para cada tema, e considerar se eles aparentam formar um padrão coerente” (Braun; Clarke, 2006: 20 – Tradução nossa). O segundo envolve um processo semelhante, mas em relação ao conjunto de dados como um todo. “Nesse nível você considera a validade dos temas individuais em relação ao conjunto de dados, mas também se o seu mapa temático candidato reflete ‘precisamente’ os significados evidentes no conjunto de dados como um todo” (Braun; Clarke, 2006: 21 – Tradução nossa).
  5. Definindo e nomeando temas: nova análise para refinar as especificidades de cada tema, e a história geral contada pela análise; geração de definições e nomes claros para cada tema. Aqui é preciso definir e refinar ainda mais os temas que serão apresentados na análise e identificar os dados neles. “Por ‘definir e refinar’ entendemos identificar a ‘essência’ do assunto de cada tema (bem como os temas gerais) e determinar que aspecto dos dados cada tema captura” (Braun; Clarke, 2006: 22 – Tradução nossa).
  6. Produção de relatório: é a última oportunidade para a análise. Seleção de exemplos vividos e convincentes do extrato, análise final dos extratos selecionados, relação entre análise, questão da pesquisa e literatura etc. É importante que a escrita forneça um relato conciso, coerente, lógico, não repetitivo e interessante. É mais do que fornecer dados. “Extratos precisam estar incorporados dentro de uma narrativa analítica que convincentemente ilustre a história que você está contando sobre seus dados, e sua narrativa analítica precisa ir além da descrição dos dados, e produzir um argumento em relação a sua pergunta de pesquisa” (Braun; Clarke, 2006: 23 – Tradução nossa).


De maneira geral, a AT tende a utilizar amostras menores, já que se trata de um processo demorado e minucioso. No entanto, há o recurso de softwares especializados que ajudam na sistematização dos dados, quando o corpus de análise for extenso.
Oliveira et al. (2016) analisaram dois dos softwares mais utilizados atualmente: MAXQDA® e NVivo® em Análises de Conteúdo. Ambos têm recursos, peculiaridades, benefícios e ferramentas funcionais, especialmente no que diz respeito à redução no tempo de execução do trabalho e na apresentação dos resultados com base em filtros diferentes. Porém, os autores destacam que o ganho potencial dessas alternativas depende do conhecimento do pesquisador sobre o assunto, o corpus e a análise em si, “uma vez que pacotes de software não substituem o papel do pesquisador no processo de codificação” (Oliveira et al, 2016: 81 – Tradução nossa).

Desvantagens e limitações da AT

Assim como outras técnicas de pesquisa e recursos de coleta de material empírico, a AT apresenta limitações. Braum e Clarke (2006) apontam uma lista com cinco “armadilhas” às quais o pesquisador deve ficar atento para não cair. São elas:

  1. Falha em realmente analisar os dados. “A análise temática não é apenas uma coleção de extratos amarrados com pouca ou nenhuma narrativa analítica. Nem é uma seleção de extratos com comentários analíticos que simplesmente ou principalmente parafraseia seu conteúdo” (Braun; Clarke, 2006: 25 – Tradução nossa).
  2. Utilização das questões da coleta de dados (ex.: o roteiro de entrevistas) como os temas que são relatados. “Nesse caso, nenhum trabalho analítico foi feito para identificar temas ao longo de todo o conjunto de dados, ou para fazer sentido à padronização de respostas” (Braun; Clarke, 2006: 25 – Tradução nossa).
  3. Uma análise fraca ou pouco convincente, na qual há muita sobreposição entre os temas, ou eles não são internamente coerentes e consistentes. “Todos os aspectos do tema devem ser coerentes à ideia ou conceito centrais” (Braun; Clarke, 2006: 25 – Tradução nossa).
  4. Incompatibilidade entre os dados e as argumentações analíticas feitas sobre eles. “as argumentações não podem ser suportadas pelos dados, ou, no pior dos casos, os extratos de dados apresentados sugerem outra análise ou até mesmo contradizem os argumentos” (Braun; Clarke, 2006: 25 – Tradução nossa).
  5. Incompatibilidade entre a teoria e as argumentações analíticas, ou entre as questões de pesquisa e a forma de análise temática utilizada. “Uma boa análise temática precisa certificar-se de que as interpretações dos dados são consistentes com o quadro teórico” (Braun; Clarke, 2006: 26 – Tradução nossa).
Por fim, as autoras ainda indicam uma lista de verificação de 15 pontos com critérios para uma boa análise temática.

Algumas indicações

Em uma breve análise exploratória, identificamos alguns artigos que podem clarificar as etapas envolvidas no processo de análise temática, seus variados tipos de aplicação com ênfase em
abordagens que demonstram o rigor técnico dentro de um estudo de pesquisa qualitativa. Por meio desses estudos – localizados em várias áreas do conhecimento – é possível identificar claramente como os temas foram gerados a partir de dados brutos para descobrir significados em relação a questões mais amplas. Acreditamos que se tratam de exemplos que podem ser replicados na área da Comunicação, dando base aos pesquisadores de como demonstrar em seus trabalhos o grau de clareza do quadro conceitual envolvendo a AT aplicada.

Quadro 1 – Pesquisas realizadas a partir da AT3

 

Título

 

Autor

 

Descrição

Demonstrando rigor no uso da análise temática: uma abordagem híbrida de codificação indutiva e dedutiva e desenvolvimento de temas

 

Jennifer Fereday
&
Eimear Muir-Cochrane

O artigo descreve como as autoras usaram um processo híbrido de indução e dedução envolvendo a análise temática para interpretar dados brutos em um estudo de doutorado sobre o papel do feedback de desempenho na autoavaliação da prática de enfermagem. A abordagem metodológica integrou dados empíricos com informações teóricas baseadas nos princípios da fenomenologia social.

A análise temática dos dados das entrevistas: uma abordagem utilizada para
examinar a influência do mercado na oferta curricular
em instituições de ensino superior da Mongólia

 

 

Narantuya Jugder

O artigo descreve como a análise temática foi utilizada em 50 entrevistas feitas com administradores e formuladores de políticas educacionais com o objetivo de examinar as mudanças que ocorrem no mercado de ensino superior na Mongólia em termos de oferta curricular de graduação.

Análise Temática Dialógica como método de análise de dados verbais em pesquisas qualitativas

Cátia Cândido da Silva
&
Fabrícia Teixeira Borges

O artigo exemplifica a utilização da Análise Temática a partir de uma pesquisa que verifica a produção de significados das concepções de gênero em professores, por meio de suas narrativas de história de vida.

Representação da Europa em tempos de massivos movimentos de fronteiras: uma análise qualitativa da imprensa Greco-cipriota durante a crise de refugiados de 2015

Irini Kadianaki, Maria Avraamidou, Maria Ioannou
&
Elizavet Panagiotou

O artigo propõe uma análise temática de artigos publicados em quatro jornais diários greco-cipriota de diferentes orientações políticas a fim de verificar como foi a representação da União Europeia (um dos atores de destaque no auge da crise dos refugiados no continente, em 2015) na mídia.

Fonte: Elaboração nossa.

Considerações finais

Ainda pouco difundida no Brasil e na América Latina, em geral, especialmente na área da Comunicação Social – prova disso é que a maioria das referências utilizadas neste artigo é estrangeira –, a Análise Temática abordada neste trabalho nos surpreende, em um primeiro momento, por suas vantagens de aplicação como técnica de coleta de dados empíricos combinadas com outras referências teóricas. Suas características flexível e dinâmica combinadas com rigor propiciam um método sistemático congruente com a forma como se conceitua assuntos e padrões em trabalhos científicos, a partir de uma abordagem qualitativa que, se bem realizada, resulta em argumentações analíticas contundentes e esclarecedoras. Soma-se a tudo isso sua fácil aplicabilidade e simples compreensão conceitual.
Claro que, conforme demonstrado, há limitações na AT, sendo que sua própria essência deve ser criticamente questionada como um hábito reflexivo inerente à ciência. Entretanto, é inegável sua condição de mais um instrumento para pesquisadores na descrição e interpretação de objetos de estudo que favorecem o rigor intelectual crítico e a responsabilidade científica.
Se a AT é apresentada como uma escolha viável, é o objeto de pesquisa e os objetivos do pesquisador que têm a responsabilidade de dizer. Lembrando que, opções se baseiam em critérios e nem todos se aplicam igualmente e com o mesmo peso em determinadas pesquisas. Além disso, há de se considerar a liberdade de escolha investigativa e a importância de um saudável “hibridismo metodológico”, como defende Marques de Melo (2011), bem como “a criatividade e experimentação”, conforme aborda Lopes (2010).
No que diz respeito ao campo da Comunicação, acreditamos que o conhecimento e a aplicação da AT podem ajudar na visibilidade de outras possibilidades que contribuam não só com os estudos das interações simbólica e cultural, da questão da transmissão e recepção da mensagem, da técnica e utilização dos meios de comunicação etc., mas para a visibilidade de um “ecossistema existencial em que a comunicação equivale a um modo geral de organização” (Sodré, 2014: 25).

Notas:

1 Grifo nosso.

2 “Concebemos a análise da narrativa como caminho rumo ao significado porque o significado é uma relação, não há significado sem algum tipo de troca. As narrativas são formas de relações que se estabelecem por causa da cultura, da convivência entre seres vivos com interesses, desejos, vontades e sob os constrangimentos e as condições sociais de hierarquia e de poder” (Motta, 2007, p. 146).

3 Os links para acessar os artigos descritos neste quadro estão no final do artigo, após as Referências.

Bibliografía:

1. Alhojailan, I. (2012). Thematic Analysis: A critical review of its process and evaluation. West East Journal of Social Sciences, 1 (1): 39-47. Disponível em: https://fac.ksu.edu.sa/sites/default/files/ta_thematic_analysis_dr_mohammed_alhojailan.pdf. Acesso em: 10 jul. 2019.         [ Links ]

2. Aronson, J. (1995). A Pragmatic View of Thematic Analysis. The Qualitative Report, 2 (1), 1-3: 1-5. Disponível em: https://nsuworks.nova.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=2069&context=tqr. Acesso em: 7 jul. 2019.         [ Links ]

3. Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.         [ Links ]

4. Brandão, H. H. N. (2102). Introdução à Análise do Discurso. Campinas: Unicamp.

5. Braun, V; Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3 (2): 77-101.         [ Links ]

6. Fereday, J. Y.; Cochrane, E. M. (2006). Demonstrating Rigor Using Thematic Analysis: A Hybrid Approach of Inductive and Deductive Coding and Theme Development. International Journal of Qualitative Methods, 5 (1): Disponível em: http://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/160940690600500107. Acesso em: 13 jul. 2019.         [ Links ]

7. Berelson, B. (1952). Content analysis in commnunication research. Glencoe: Free Press.         [ Links ]

8. Franco, M. L. P. B. (1986). O que é análise de conteúdo. São Paulo: PUC.         [ Links ]

9. Motta, Luiz Gonzaga. (2007). Análise pragmática da narrativa jornalística. In: Lago, C.; Benetti, M. Metodologia de pesquisa em jornalismo. Petrópolis: Vozes. p. 143-167.         [ Links ]

10. Harwood, T.; Garry, T. (2003). An overview of content analysis. The Marketing Review, n. 3: 479-498.         [ Links ]

11. Krippendorff, K. (1990). Metodologia de Analisis de Contenido. Barcelona: Ediciones Paidós.         [ Links ]

12. Lopes, M. I. V. de. (2010). Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Loyola.         [ Links ]

13. Marques de Melo, J. (2011). Metodologia da Pesquisa em Comunicação: Itinerário Brasileiro. In: Duarte, J.; Barros, A. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas. p. 1-14.         [ Links ]

14. Oliveira, M.; Bitencourt, C. C.; Santos, A. C. M. Z. dos; Teixeira, E. K. (2016). Análise de Conteúdo Temática: há uma diferença na utilização e nas vantagens oferecidas pelos softwares MAXQDA® e NVivo®? Revista de Administração da Universidade Federal de Santa Maria, 9 (1): 72-82. Disponível em:
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273445396006. Acesso em: 15 jul. 2019.

15. Powell E. T.; Renner, M. (2003). Analysing Qualitative Data. Program Development and Evaluation at University of Vinsconcin-Extension Project: 1-12. Disponível em: https://deltastate.edu/docs/irp/Analyzing%20Qualitative%20Data.pdf. Acesso em: 15 jul. 2019.         [ Links ]

16. Sodré, M. (2014). A ciência do comum – Notas para um método comunicacional. Petrópolis: Vozes.

Artigos indicados no Quadro 1

Demonstrando rigor no uso da análise temática: uma abordagem híbrida de codificação indutiva e dedutiva e desenvolvimento de temas
Fereday, J; Cochrane, E. M. Demonstrating Rigor Using Thematic Analysis: A Hybrid Approach of Inductive and Deductive Coding and Theme Development . International Journal of Qualitative Methods, 2006, 5 (1): 80-92. Disponível em: http://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/160940690600500107. Acesso em: 13 jul. 2019.
A análise temática dos dados das entrevistas: uma abordagem utilizada para examinar a influência do mercado na oferta curricular em instituições de ensino superior da Mongólia
Judger, N. The thematic analysis of interview data: an approach used to examine the influence of the market on curricular provision in Mongolian higher education institutions. Hillary Place Papers at University of Leeds, 3rd edition, 2016: 1-7.  Disponível em: http://hpp.education.leeds.ac.uk/wp-content/uploads/sites/131/2016/02/HPP2016-3-Jugder.pdf. Acesso em: 13 jul. 2019.
Análise Temática Dialógica como método de análise de dados verbais em pesquisas qualitativas
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Representação da Europa em tempos de massivos movimentos de fronteiras: uma análise qualitativa da imprensa Greco-cipriota durante a crise de refugiados de 2015
Kadianaki, I.; Avraamisou, M; Ioannou, M.; Panagiatou, E. Representation os Europe at times of massive border movements: A qualitative analysis of the Greek Cypriot Press during the 2015 refugee crisis. The Migration Conference 2018. Lisbon: Universidade de Lisboa, 26-28 June 2018. Disponível em: http://www.nny.edu.tr/images/file/sbky/Akademik%20Yay%C4%B1nlar/THE_MIGRATION_CONFERENCE_2018_Book_of_Abstracts.pdf. Acesso em: 13 jul. 2019.

Fecha de recepción
: 03-10-2019.
Fecha de aceptación: 10-12-2019.

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