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Revista iberoamericana de ciencia tecnología y sociedad
On-line version ISSN 1850-0013
Rev. iberoam. cienc. tecnol. soc. vol.10 supl.1 Ciudad Autónoma de Buenos Aires Dec. 2015
EJE 1. PARTICIPACIÓN CIUDADANA EN CIENCIA Y TECNOLOGÍA
Educação precisa da Tecnologia e da Política? *
* Este artigo foi originalmente publicado em 26 de Junho de 2012. Uma versão atualizada e bilíngue é publicada em nosso site. Esperamos seu comentário em: http://www.revistacts.net/elforo/463-el-debate-ila-educacion-necesita-de-la-tecnologia-y-de-la-politica.
Estéfano Vizconde Veraszto y Nonato Assis de Miranda **
** Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, y Universidade Paulista, UNIP. Email: estefanovv@gmail.br y mirandanonato@uol.com.br.
Com o advento da Revolução Industrial, a empreitada econômica então impulsionada pela maquinaria era a essência da liberdade. Ideal persistente até hoje. Pouco importa a tecnologia adotada, desde que seja capaz de proporcionar conforto abundante (Winner, 2008).
A transformação dos valores ao longo da história, de maneira mais intensa nos últimos vinte anos, faz brotar o medo de um futuro incerto. A sociedade, que tem adotado um sistema sociotécnico após o outro, cada vez mais, deixa ecoar indagações antigas, de cunho filosófico e político sobre a centralização do poder, mesmo hoje. As respostas instrumentalistas e de eficiência produtiva que dominam o desenvolvimento científico e tecnológico já não são suficientes. O discurso do desenvolvimento científico e tecnológico em prol apenas do bem estar há muito deixou de ser unanimidade.
Dados de pesquisa realizada na Universidade Estadual de Campinas (Veraszto, 2009), ao categorizar e analisar indicadores de como graduandos brasileiros do Estado de São Paulo relacionam o desenvolvimento tecnológico com as demandas sociais e suas crenças e atitudes, evidenciaram a preocupação com a sustentabilidade do planeta, ponto chave para os estudantes pesquisados. Fator que coincide com documentos nacionais e internacionais afins e também com estudos publicados nos últimos anos (UNEP, 2002; WCEAD, 1987; ONU, 1998; UNESCO, 1990, 1999, Brasil, 2009, PNUD, 2001, 2004, 2006, OCDE, 1992, OEI, 2006).
Outra evidência: o grau de desenvolvimento tecnológico atual não elide perguntas milenares relacionadas com poder, autoridade, ordem, liberdade e justiça. Questões que ficaram caracterizadas na pesquisa acima citada. Os estudantes sentem necessidade de um Estado mais dinâmico, aberto à participação social nos processos de decisões tecnológicas, mormente a participação de instituições educacionais e de pesquisa.
A investigação realizada com alunos de graduação de diferentes regiões do Estado de São Paulo, de áreas de formação distintas e provenientes de instituições públicas e privadas, destacou a opinião de que política, tecnologia e educação são pontas confluentes de uma sociedade que dá indícios de não mais valorizar o determinismo tecnológico, nem tampouco acreditar no falido discurso do desenvolvimento para o bem estar da sociedade, apoiado em fundamentos de neutralidade do processo de criação e concepção da tecnologia.
Estudantes universitários sabem que a sociedade quer viver bem; se preocupam com a sustentabilidade do planeta e sentem-se aptos para ajudar em processos de decisões tecnológicas.
As opiniões estudadas apontam que o progresso é possível se, e somente se, esforços políticos, sociais e econômicos forem aliados na busca de um crescimento sustentável.
Isto mostra que política e tecnologia não são independentes. Assim, uma nova forma de consciência se faz cada vez mais presente e se contrapõe a um senso comum antigo, quando se pensava que tecnologia e política não se relacionavam. Conhecimento tecnológico também é poder.
Platão sustenta a posição que a arte de governar é a tékhné, que a política é uma área prática com conhecimento específico e habilidades especiais. Queria desacreditar que a política pudesse ser deixada na mão das massas democráticas. Todavia, também afirmava que como tékhné política era capaz de produzir trabalhos sólidos e duradouros. Para ele, a relação entre tecnologia e política é unidirecional: a tékhné como modelo para a politéia e não o inverso. Esse desconforto de Platão com a tecnologia perdurou entre filósofos e políticos, relegando a vida técnica a plano inferior.
Contudo, muitos ainda não percebem que a tékhné não só pode servir como modelo, como também tem a política arraigada em todo seu processo (Winner, 2008).
A pesquisa apontada anteriormente mostra que a demanda social por tecnologia reflete escolhas que ultrapassam fronteiras exclusivamente técnicas para adentrarem no campo da política. A visão clássica da neutralidade e determinismo tecnológico não faz mais sentido.
De uma forma geral, a pesquisa mostra que os alunos percebem que todos os atores sociais são responsáveis pela inovação tecnológica. Assim, o processo de desenvolvimento e escolhas de tecnologias diz respeito aos cidadãos.
Não é apenas um discurso politicamente correto, mas reflexo de uma investigação que contou com amostra de mais de mil estudantes universitários.
Desta forma, para a escolha de novas tecnologias, a investigação mostrou que os alunos esperam uma participação mais ativa dos setores sociais. Eles se sentem aptos a participar de uma forma mais ativa nas decisões e julgam também que as empresas não valorizam um desenvolvimento tecnológico consciente. Apenas querem manter sua hegemonia.
A pesquisa mostra que diferentes setores sociais precisam fazer escolhas com o objetivo de obter tecnologias sustentáveis. Eis o alarme: esse nível de consciência precisa ser ampliado.
A partir dessas contratações, também é possível afirmar, não pelas respostas empíricas obtidas na pesquisa, que as evidências sugerem a utilização das tecnologias como aliada do contexto educacional para derrubar barreiras espaciais e temporais. Daí a necessidade de uma educação diferenciada e de qualidade, apoiada por novas políticas públicas capazes de orientar a formação de cidadãos.
Para uma educação tecnológica eficiente, é preciso educar para o consumo consciente, não um alienado, mas compromissado com o problema ambienta. A única de forma de criar um sistema de ensino diferenciado e participativo.
Levando esses pontos em consideração e os dados da pesquisa apresentados anteriormente, quando se fala na utilização da tecnologia no contexto educativo é preciso ter em mente que se faz necessário ir além da elaboração de novos conteúdos ou currículos escolares. É preciso ponderar que os conteúdos curriculares não precisam mudar. O que a sociedade hoje demanda são novas formas de abordagem dos conteúdos, de maneira contextualizada e não fragmentada de maneira que as relações sociais, políticas e econômicas estejam entrelaçadas com a educação e com a tecnologia nos bancos escolares.
A visão dos processos tecnológicos como neutros não pode prevalescer se a intenção é educar cidadãos capazes de participar e atuar em uma sociedade que hoje preza e valoriza a sustentabilidade.
Os graduandos pesquisados evidenciam em suas respostas, a consciência de que tecnologia de forma implícita ou explícita, reflete não só necessidades, mas também ideologias.
Frente a este novo cenário, diferentes segmentos da sociedade não só enfrentam o desafio de incorporar as tecnologias aos conteúdos e formas de ensino, como também precisam identificar e reconhecer como este processo pode ser feito de forma a promover uma educação consicente, voltada para a real manutenção do bem estar social e preservação do meio ambiente em sentido amplo. Isto deve ser uma constante.
Como toda pesquisa, a mencionada não pode servir como parametro generalizador, mas como pedaço da colcha de retalhos que hoje molda a opinião social. A valorização da proteção do meio, manifestada diretamente e também através do desejo de ser ator na escolha de tecnologias, mostra que uma boa parcela dos universitários pesquisados, estão em consonância com discursos e atitudes ao redor do globo. A integração e a indissocialibilidade destes elementos está plenamente justificadase levarmos em conta que uma das principais demandas sociais dos dias atuais é a da formação de indivíduos aptos para participarem ativamente em uma sociedade plural, democrática e tecnologicamente avançada.
Agora, o mais importante é não deixar que esses indicadores se percam com o sopro do vento.
Referências bibliográficas
1 ÁVILA, F. B. (1982): Pequena enciclopédia de moral e civismo, 3a ed., Rio de Janeiro, FENAME/MEC. [ Links ]
2 BRASIL (2000): Ciência & Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável, Ministro do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Brasília, Consórcio CDS/UnB – Abipti.
3 OCDE (1992): Technology and Economy: The Key Relationships, Paris, Technology/Economy Program, cap. 10-11. [ Links ]
4 OEI (2006): “Declaración de Colón: Conclusiones del V Foro Iberoamericano de Ministros de Medio Ambiente”, Revista iberoamericana de ciencia, tecnología, sociedad e innovación, no 7.
5 ONU (1998): Protocolo de Quioto. [ Links ]
6 PNUD (2001): Relatório do desenvolvimento humano 2001, Nova Yorque, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. [ Links ]
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9 UNEP (2002): Global Environment Outlook 3, UNEP, Earthscan Pun. Ltd. London Sterling, VA. [ Links ]
10 UNESCO (1999): “Declaración de Budapest. Proyecto de programa en pro de la ciencia: Marco general de acción Unesco – ICSU”, Conferencia Mundial sobre la Ciencia para el Siglo XXI: Un nuevo compromiso, Budapeste.
11 UNESCO (1990): “The teaching of Science and Tecnology in na Interdisciplinary Contex”, Science and Technology Documents Series, Paris, 38.
12 VERASZTO, E. V. (2009): Tecnologia e Sociedade: relações de causalidade entre concepções e atitudes de graduandos do Estado de São Paulo, Tese de Doutorado, Campinas, UNICAMP. [ Links ]
13 WCEAD (1987): Our Common Future, Oxford University Press. Oxford e Nova Yorque, 430 p. [ Links ]
14 WINNER, L. (2008): La Ballena y el Reactor: Una búsqueda de los límites en la era de la alta tecnología, Barcelona, Gedisa Editorial, 2a. ed., 290p. [ Links ] Los Foros de CTS, edición especial 2015