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Revista electrónica de investigación en educación en ciencias

On-line version ISSN 1850-6666

Rev. electrón. investig. educ. cienc. vol.10 no.2 Tandil Dec. 2015

 

ARTÍCULOS ORIGINALES

Educação em Saúde na formação de professores de Ciências Naturais

 

Aline Firminio Sampaio1, Mariana de Senzi Zancul2, Jeane Cristina Gomes Rotta3

aline.firminiosampaio@gmail.com, marianaib@unb.br, jeane@unb.br

1 Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, Brasil.
2 Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, Brasil.
3 Faculdade UnB Planaltina, Área Universitária n. 1, Vila Nossa Senhora de Fátima, Planaltina, Distrito Federal, Brasil.

 


Resumo

O objetivo do trabalho foi identificar as concepções dos licenciandos em Ciências Naturais da Faculdade UnB Planaltina (DF), Brasil, sobre a temática Educação em Saúde, analisar e discutir a respeito da inserção dessa temática na proposta curricular desse curso de graduação. Para tanto, foi aplicado um questionário a 55 licenciandos que cursavam entre o 6º e o 10º período do curso de graduação. Além disso, foram analisados o Projeto Político-Pedagógico e as ementas das disciplinas obrigatórias e optativas que compõem a grade curricular do curso. Os resultados obtidos ao longo da pesquisa indicam que muitos licenciandos apresentam concepções limitadas a respeito de Educação em Saúde, assinalando, predominantemente, por uma abordagem tradicional. Os resultados também evidenciam que uma discussão mais ampla sobre a temática Educação em Saúde não está presente no curso. Nesse sentido, defendemos a existência de uma Educação em Saúde voltada para a reflexão crítica da realidade deve estar presente nas escolas, e para tanto, é fundamental que o professor de ciências seja bem preparado, desde a sua formação inicial.

Palavras-chave: Educação em Saúde; Formação de professores; Ensino de ciências.

Educación para la Salud en la formación del profesorado de Ciencias Naturales

Resumen

El objetivo de este estudio fue identificar las concepciones de licenciandos de Ciencias Naturales de la Facultad UnB Planaltina (DF), Brasil, en la enseñanza del tema de Educación para la Salud, analizar y discutir acerca de la inserción de este tema en la propuesta curricular de futuros Maestros. Para ello, se aplicó un cuestionario a 55 estudiantes universitarios de lo 3° y 4° año de la licenciatura. Además, se analizó el proyecto político-pedagógico y las asignaturas de las carreas obligatorias y electivos que componen el plan de estudios del curso. Los resultados obtenidos durante la investigación indican concepciones limitadas acerca de la Educación para la Salud, con predominio de un enfoque tradicional. Los resultados también muestran que una discusión más amplia de la tematica Educación para la Salud no está presente en el curso. Defendemos que la existencia de una Educación para la Salud centrada en un espíritu crítica de la realidad debe estar presente en las escuelas, y para ello es esencial que el profesor de Ciencias sea bien preparado desde su formación inicial.

Health Education in teacher training of Natural Sciences

Abstract

The aim of this study was to identify the conceptions of licenciandos of Natural Sciences Faculty UnB Planaltina (DF), Brazil, in teaching the subject of Health Education, analyze and discuss the inclusion of this issue in the proposed curriculum future Masters. For this, a questionnaire was administered to 55 university students from the 3rd and 4th year of the degree. Moreover, the political-pedagogical project and the subjects of compulsory and elective carreas that make up the curriculum of the course was analyzed. The results obtained during the investigation indicates limited conceptions of health education, dominated by a traditional approach. The results also show that a broader discussion of the theme for Health Education is not present in the course. We argue that the existence of a health education focused on a critical spirit of reality must be present in schools, and it is therefore essential that the science teacher is well prepared from their initial training.

Keywords: Health Education; Teacher training; Science teaching.

Éducation pour la santé la formation des enseignants de Sciences Naturelles

Résumé

L'objectif était d'identifier les conceptions de premier cycle à l'UNB Faculté de Sciences naturelles Planaltina (DF), le Brésil, sur le thème de l'éducation pour la santé, l'analyse et la discussion sur l'inclusion de ce sujet dans le programme de la proposition de cours de premier cycle. A cet effet, un questionnaire à 55 étudiants de premier cycle qui ont été inscrits entre la 6e et la 10e session de la graduation a été appliquée. En outre analysé le projet politico-pédagogique et les menus de cours obligatoires et facultatifs qui composent le programme du cours. Les résultats obtenus au cours de la recherche indiquent que de nombreux étudiants ont des conceptions limitées de l'éducation sanitaire, la signalisation principalement par une approche traditionnelle. Les résultats montrent également qu'une discussion plus large sur le thème éducation à la santé ne figure pas dans le cours. En ce sens, nous soutenons qu'il ya une éducation à la santé axée sur la réflexion critique de la réalité doit être présent dans les écoles, et il est donc essentiel que le professeur de sciences est bien préparé, depuis sa formation initiale.

Mots clés: Éducation à la santé; La formation des enseignants; L'enseignement des sciences.

 


 

1. INTRODUÇÃO

A Educação em Saúde é uma temática abrangente e complexa que conceitualmente integra os termos educação e saúde, agregando duas grandes áreas que, muitas vezes, apresentam objetivos, conteúdos e metodologias distintas. Ou seja, a Educação em Saúde significa muito mais do que a soma dos termos educação e saúde (Valadez et al, 2004; Venturi, 2013). 

 No ambiente escolar, pode ser definida como um conjunto de "atividades realizadas como parte do currículo escolar que tenham uma intenção pedagógica definida, relacionada ao ensino aprendizagem de algum assunto ou tema relacionado com a saúde individual ou coletiva" (Mohr, 2002; Mohr e Venturi, 2013).

Entretanto, como afirmam Talavera e Gavidia (2007), a implementação de atividades de Educação em Saúde na escola não é uma tarefa simples e requer docentes que possuam conhecimento e interesse necessários para fazê-la. Apesar de haver poucos trabalhos na literatura que abordem essa relação da formação inicial de professores com o desenvolvimento de competências e habilidades para o desenvolvimento adequado dessa temática nas aulas da Educação Básica, estes autores acreditam que a formação dos professores é fundamental para a adoção de novas estratégias e metodologias que favoreçam a promoção da saúde na escola.

Nesse sentido, é importante que a temática Educação em Saúde esteja inserida nos currículos dos cursos de licenciatura (Precioso, 2009; Zancul e Costa, 2012). Assim como a relação entre a Educação em Saúde e formação de professores seja foco de estudos que forneçam subsídios para o campo teórico e prático, favorecendo a inserção de ações de Educação em Saúde nas escolas.

Nesse sentido, esse trabalho teve por objetivos identificar as concepções dos licenciandos em Ciências Naturais da Faculdade UnB Planaltina a respeito da temática Educação em Saúde. Bem como, analisar e discutir a respeito da inserção da temática na proposta pedagógica nessa licenciatura.

2. A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ESCOLA NO BRASIL

Genericamente o termo Educação em Saúde tem sido utilizado para descrever qualquer esforço para fornecer informações e conhecimentos relativos à manutenção e promoção da saúde (Valadezet al, 2004).  Além de possuir inúmeras denominações, como, por exemplo, educação para saúde, educação e saúde e, educação sanitária, a Educação em Saúde possui inúmeras definições (Sampaio, 2014).

De acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2002), a escola, além de sua função pedagógica específica, possui função social e política voltada para a transformação da sociedade, devendo promover o exercício da cidadania. Assim, são justificadas as ações voltadas para a comunidade escolar no que tange a promoção da saúde.
Para autores como Gavidia (2001), Mohr (2009) e Santos e Barboni (2010) a Educação em Saúde, se concretizará como uma linha fundamental para a promoção da saúde na escola quando puder fomentar a conscientização nos educandos acerca de seu direito à saúde, capacitar as pessoas a exercerem sua própria liberdade de escolher a conduta apropriada para melhorar sua qualidade de vida, a partir do exercício da reflexão, análise e prática da autonomia.

Além disso, a Educação em Saúde deve estar preocupada com a melhoria das condições de vida e de saúde das populações, buscando provocar conflito nos indivíduos, para criar oportunidades da pessoa pensar e repensar a sua cultura, e auto transformar a sua realidade (Oliveira e Gonçalves, 2004). Além de poder contribuir na formação de elementos que possibilitam a luta social pelo bem estar e pela saúde individual e coletiva (Valadez et al, 2004).

2.1. Breve Históricos da Educação em Saúde no Brasil

A Educação em Saúde no Brasil passou por diferentes fases que estiveram relacionadas ao contexto histórico e social vivenciado pela população. Iniciou-se na segunda metade do século XIX, quando o ensino de higiene ultrapassou os limites do currículo dos cursos de Medicina e teve como alvo principal as famílias da elite, com o intuito de europeizar os costumes e urbanizar os hábitos da elite brasileira Pelicioni e Pelicioni, 2007; Silva et al, 2010).  De acordo com os autores, durante todo o século XIX e meados do século XX, a Educação em Saúde no Brasil esteve baseada em um processo denominado educação sanitária que  restringia o ensino a hábitos de higiene baseados em regras e normas para a prevenção de doenças e controle de epidemias.

No decorrer do século XX, o sistema de saúde brasileiro, mais organizado, se fundamentava no chamado "campanhismo policial". Que era uma forma de ação sanitária, que adotava um modelo repressivo de intervenção médica nos corpos individuais e sociais, sendo justificada pelo conceito de doença e suas formas de transmissão de acordo com os conhecimentos científicos da época (Gouvêa, 2003; Silva et al, 2010). 

Conforme aponta Reis (2006), é a partir do modelo sanitarista de Educação em Saúde, do início do século XX, que emerge a base que sustenta a maioria das práticas educativas atuais. Além disso, pode-se verificar que a concepção de saúde na escola, embasada apenas na formação de hábitos de higiene, acabou por constituir o tema higiene como um conteúdo a ser trabalhado nas aulas de ciências, principalmente na educação infantil e no 2° ano do Ensino Fundamental (Paz, 2006).

Desde a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), de 1998, a Educação em Saúde está inserida no currículo escolar pelos temas transversal. Tais documentos indicam que os temas "Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo" sejam integrados às áreas convencionais de forma a estarem presentes em todas as disciplinas do currículo escolar (Brasil, 1998a; 1998b).

Segundo Araújo (2013), a proposta dos PCN de articular os componentes curriculares com a dimensão de saúde, que lhes é intrínseco, proporciona a ressignificação de um conhecimento que vem sendo fragmentado nas diferentes áreas do saber. Os PCN também consideram que a educação para a saúde deve mobilizar as pessoas para a realização das mudanças necessárias a uma vida saudável e, nesse sentido, a formação de valores, hábitos e atitudes são fundamentais.

Apesar do discurso em torno da abordagem transversal dos conteúdos de saúde no ambiente escolar, como é defendido nos PCN, a Educação em Saúde ainda está sendo trabalhada de forma fragmentada. A abordagem enfoca os aspectos biológicos relacionados ao processo saúde/doença, dentro dos conteúdos de Ciências Naturais, desenvolvida a partir de ações e referenciais oriundos em um campo não escolar, ou seja, o campo da saúde pública (Mohr, 2009; Paz 2006; Zancul e Gomes, 2011), que ainda expressam uma visão higienista, marcada pelo modelo biomédico (Cicco e Vargas, 2012).

Observa-se que a inserção de temas de saúde no currículo escolar é através de leis e decretos, sendo o último deles o Programa Saúde na Escola, promulgado a partir do Decreto nº 6.286/2007 (Brasil, 2009).

Portanto, cabe ao professor refletir sobre a abordagem em sua sala de aula da temática. Pois o papel da escola vem se tornando cada vez mais importante na formação de hábitos saudáveis (Zancul e Gomes, 2011). Os autores ressaltam que historicamente, a Educação em Saúde vem sendo desenvolvida pelo professor da disciplina de ciências, o que torna necessário um estudo mais específico sobre a formação inicial e continuada desses profissionais (Mohr, 2002). Nesse sentido, é necessário formar professores que desenvolvam os conteúdos referentes à Educação em Saúde em uma abordagem pedagógica que propicie a reflexão sobre a sua prática docente perante o ensino dessa temática.

2.2. A Formação de Professores e a Educação em Saúde

Os professores possuem inúmeras características que lhes conferem um papel importante para melhorar a saúde no contexto escolar (Gavidia, 2009).

Para a construção de uma escola promotora de saúde é necessário que o professor tenha uma formação em Educação para Saúde. Assim, a universidade, além de se preocupar com a saúde de seus estudantes, deve se preocupar também com a formação de professores que possam assegurar a elaboração de pedagógicas cada vez mais promotoras da saúde (Precioso, 2009).

No entanto, os professores no Brasil não recebem, geralmente, em sua formação inicial, ou continuada, subsídios que possibilitem o trabalho com estes temas, permitindo ultrapassar a dimensão da transmissão de conteúdos básicos Parecendo haver pouca preocupação por parte das Universidades e dos cursos de licenciatura na formação inicial dos licenciandos e falta de incentivo das escolas de Ensino Fundamental e Médio. (Mohr e Schall, 1992, Pinhão e Martins, 2012 e Zancul e Costa, 2012).

Em pesquisa realizada por Zancul e Costa (2012), muitos professores entrevistados admitem que o ensino de temas relacionados à saúde, no ambiente escolar, é tarefa exclusiva dos professores de Ciências e de Biologia. No entanto, durante a formação inicial dos licenciandos em Ciências Biológicas, há falta de conhecimentos biológicos dos processos saúde-doença e de Didática das Ciências. Isso pode ser um fator que inviabiliza as discussões acerca de novas metodologias de ensino e uma integração entre as disciplinas específicas e pedagógicas (Mohr, 2009).  Em relação à formação continuada, a autora afirma que normalmente acontece em formatos de palestras ou cursos de finais de semana. Isso pode gerando insegurança no desenvolvimento da atividade docente e podendo levar o professor a considerar-se incapaz de desenvolver atividades de Educação em Saúde.

Outros pontos conflituosos estão relacionados à falta de conhecimento mais aprofundado sobre saúde por parte dos docentes e a falta de material didático adequado (Fernandes et al, 2005), como também a ausência um currículo transversal de saúde, na forte tradição de organização curricular vertical é outro ponto apontado por Precioso (2004). Apesar da transversalidade da temática na escola a Educação em Saúde está frequentemente incluída apenas na disciplina Ciências (Mohr, 2002).

Apesar desse quadro, autores sugerem algumas possibilidades que o possa modificar, como cursos de aperfeiçoamento para os professores, em relação à temática da Educação em Saúde, bem como um trabalho mais sistematizado entre educadores e profissionais da área da saúde (Fernandes et al, 2005 e Marinho e Silva, 2013). Já Mohr (2009), Precioso (2009),Taravela e Gavidia (2007), Zancul e Costa (2012) apontam que para reverter este quadro são necessárias adequações nos cursos de formação inicial e continuada de professores é necessário a inclusão de disciplinas obrigatórias e/ou optativas que abordem a Educação em Saúde e temas relativos à saúde, como um todo.

2.3. A Licenciatura em Ciências Naturais da Faculdade UnB Planaltina

A necessidade de formar professores de Ciências Naturais no Brasil surgiu a partir dos anos de 1970 com a democratização do Ensino Fundamental e a obrigatoriedade do ensino de Ciências nesse segmento, a partir da LDB em 1971. Até essa data, as aulas de Ciências Naturais eram ministradas apenas nas duas últimas séries do antigo curso ginasial (Brasil, 1998a).

A formação dos professores de Ciências Naturais tem sido pensada com a expectativa de formar um docente capaz de trabalhar com de forma integrada os conteúdos específicos, que abrangem várias áreas das ciências, orientando-se pelos eixos norteadores e inserir em seu currículo pedagógico os temas transversais (Freitas e Villani, 2002; Magalhães Jr. e Pietrocola, 2005). Entretanto, a disciplina de Ciências tem a característica de ser integradora e, dessa forma, é difícil o estabelecimento de uma proposta de licenciatura que forme um profissional com o perfil integrador, principalmente se houver apenas a abordagem dos conteúdos de Biologia durante a formação inicial do docente (Magalhães Jr. e Pietrocola, 2010).

O curso de Licenciatura de Ciências Naturais da Faculdade UnB Planaltina (FUP) iniciou suas atividades em 2006. De acordo com a sua proposta pedagógica estruturada em uma base curricular interdisciplinar e integradora, tem como objetivo habilitar docentes para atuação na Educação Básica, especificamente, nos Anos Finais do Ensino Fundamental na área de Ensino de Ciências. A ausência de Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação deste profissional permitiu que os docentes da FUP discutissem sobre a difícil questão de definir quais seriam os conteúdos das áreas de Biologia, Química, Física, Matemática, Geologia e pedagógicas, necessários para a formação adequada do licenciando de Ciências (Rotta et al, 2012; Sampaio et al, 2013).

O Projeto Político-Pedagógico (PPP) dessa faculdade ressalta que o estudante formado em Ciências Naturais pode atuar na área da Educação em Saúde em dois espaços: na educação não formal de ensino e também em programas de pós-graduação (Faculdade UnB Planaltina, 2013).

3. METOLOGIA

 A pesquisa foi realizada no Campus Planaltina (FUP) da Universidade de Brasília (UnB), localizado na cidade de Planaltina que dista 40 Km da Capital Federal (DF) e constitui-se de duas etapas. Inicialmente a aplicação de questionários, compostos por oito questões abertas e fechadas a uma amostra aleatória de 55 licenciandos do curso de Licenciatura em Ciências Naturais da Faculdade UnB Planaltina. Esses alunos estavam cursando entre o 6º ao 10º período do curso e a maioria dos participantes estava cursando o 7° e 8º período, sendo dezoito e dezenove alunos, respectivamente.

O questionário teve como objetivo caracterizar o grupo de licenciandos que participaram da pesquisa e identificar as suas concepções em relação ao tema Educação em Saúde, além de conhecer como visualizam a inserção da temática no curso de graduação.

As respostas dos licenciandos ao questionário foram organizadas em categorias e seguem a ordem das perguntas do questionário. Desenvolveu-se uma narrativa, utilizando excertos das respostas dos licenciandos para exemplificação. 

Para a análise do Projeto Político-Pedagógico do curso de Licenciatura em Ciências Naturais da Faculdade UnB Planaltina (FUP) e, também, das ementas das disciplinas obrigatórias e optativas, enfatizando àquelas que abordam de maneira geral alguma discussão ou reflexão a respeito de Educação em Saúde, considerando também a promoção da saúde no espaço escolar; foi realizada uma análise documental que, de acordo com Caulley (1981 apud LÜDKE e ANDRÉ, 1986), este tipo de metodologia busca identificar informações baseadas em fatos nos documentos a partir de questões de interesse.

4. RESULTADOS

Os resultados obtidos ao longo da pesquisa foram divididos em duas partes. No tópico 4.1 serão apresentados os resultados obtidos a partir da análise dos questionários.  Enquanto no tópico 4.2 os resultados da análise do PPP e das ementas das disciplinas ofertadas no curso de licenciatura aqui analisado.

4.1. Resultados dos Questionários

4.1.1.O que você entende por Educação em Saúde?

Ao serem questionados em relação ao que entendem a respeito de Educação em Saúde, os licenciandos apresentaram diversas respostas.

Dentre elas, 16 estudantes se referiram ao tema como sendo aulas com conteúdos sobre prevenção de doenças, conceitos sobre higiene, ou simplesmente como a junção entre educação e saúde, como, por exemplo, pode ser observado nas respostas transcritas abaixo.

Aulas com conteúdos sobre prevenção, tratamento e cura de doenças e demais agravos à saúde, já que esta não se trata apenas de não possuir doenças, mas ter qualidade de vida (L2).

Educação em saúde é conhecer as doenças existentes, saber fazer a própria higiene corretamente, conhecer os locais (e seres) transmissores de doenças, assim como as formas de prevenção e remediação dos mesmos (L27).

Assim, verifica-se que na visão destes licenciandos a Educação em Saúde se resume à transmissão de conteúdos sobre doença e sobre assuntos relativos à higiene. De acordo com Gavidia (2001) e Leonello e L'Abbate (2006), a visão higienista da Educação em Saúde está relacionada com o seu passado, no qual as atividades educativas eram realizadas de maneira autoritária e de caráter exclusivamente impositivo, dando ênfase à prevenção de doenças. Portanto, foi possível notar que os aspectos culturais e históricos relativos ao tema Educação e Saúde no Brasil, relacionados a uma concepção sanitarista Reis (2006), estão presentes na visão dos licenciandos. Isso leva a uma visão distorcida do que seria realmente essa temática.

Outros licenciandos em suas respostas fazem alusão a Educação em Saúde como sendo palestras, práticas, ações. Ou seja, como ações pontuais e não como um trabalho mais sistematizado entre educadores e profissionais da área da saúde, conforme salientam Fernandes et al (2005) e Marinho e Silva (2013).

São propostas voltadas a sensibilização de alunos e/ou comunidade, através de projetos, palestras, oficinas entre outros para promover hábitos de vida saudáveis, cuidados com a saúde e prevenção de doenças (L12).

Para esses autores são necessários cursos de aperfeiçoamento para os professores, em relação à temática da Educação em Saúde.  Gavidia (2009) e Santos e Barboni (2010) relatam que os temas relacionados à saúde devem estar presentes durante todo o curso, visto que a aprendizagem relacionada à saúde deve ser contínua e não apenas se resumir a datas comemorativas ou em ações esporádicas, pois, as mudanças de atitude são resultados de um processo, que requerem tempo e ritmo diferenciados.

Entretanto, compreendemos que os estudantes possam ter uma visão equivocada sobre o termo Educação em Saúde, pois ele tem sido utilizado para descrever qualquer esforço para fornecer informações e conhecimentos relativos à manutenção e promoção da saúde (Valadezet al, 2004).  Além de possuir inúmeras denominações e definições (Sampaio, 2014).

4.1.2.Você acredita que no curso de graduação em Ciências Naturais existe alguma disciplina voltada para a Educação em Saúde na escola?

Questão de múltipla escolha, na qual os licenciandos deveriam escolher entre três opções: "Sim", "Não" e "Não Sabe", que tinha por objetivo verificar, a partir da visão dos licenciandos, quais disciplinas do curso de graduação abordam ou poderiam abordar a temática Educação em Saúde. Em caso afirmativo deveriam citar qual (is) disciplina(s) eles acreditavam que abordavam a temática. Responderam "Sim" 46 estudantes, 9 estudantes responderam "Não" e nenhum respondeu "Não Sabe".  Como pode ser observada no Quadro 2, a disciplina mais citada pelos licenciandos foi "Saúde e Ambiente".


Quadro 1: Disciplinas Citadas pelos Licenciandos que Abordam Educação em Saúde

Através das respostas obtidas nessa questão, observa-se que os licenciandos, de maneira geral, apresentaram dificuldades em nomear corretamente as disciplinas por eles cursadas, que pode ter ocorrido por esquecimento durante o preenchimento do questionário. Observamos que há uma quantidade significativa de licenciandos (23) utilizam a denominação "Saúde e Ambiente" ao se referir às disciplinas "Saúde e Ambiente I" e "Saúde e Ambiente II".  Enquanto "Saúde e Meio Ambiente" e "Saúde e Meio Ambiente I" não são disciplinas existentes no curso de Ciências Naturais, e possuem nomes semelhantes a "Saúde e Ambiente I" e "Saúde e Ambiente II".

Entretanto, as análises das ementas apontaram que as disciplinas "Saúde e Ambiente I" e "Saúde e Ambiente II", não mencionam a Educação em Saúde.  Tais disciplinas abordam em suas ementas uma visão ampla da Saúde, dando ênfase às questões de saúde pública e saúde ambiental, além de questões relacionadas à anatomia do corpo humano.  

A partir dessa analise podemos notar que a ementa dessa disciplina possui influência de uma visão histórica inadequada sobre Educação em Saúde, expressando uma visão higienista, marcada pelo modelo biomédico (Cicco e Vargas, 2012). A Educação em Saúde tem uma abordagem fragmentada que enfoca os aspectos biológicos relacionados ao processo saúde/doença, desenvolvida a partir de ações e referenciais oriundos em um campo não escolar, ou seja, o campo da saúde pública (Mohr, 2009; Paz 2006; Zancul e Gomes, 2011).

4.1.3.Você tem conhecimento ou lembrança de alguma atividade ou trabalho na graduação que tenha abordado aspectos sobre Educação em Saúde na escola?

Dos 55 licenciandos que participaram da pesquisa, 18 deles responderam não ter conhecimento ou lembrança de atividade ou trabalho que tivesse abordado a temática durante o curso de graduação. Em estudos como os de Precioso (2004) e Leonello e L'abbate (2006), observa-se que a maior parte dos licenciandos pesquisados por esses autores não apresentou lembranças de atividades e/ou trabalhos que foram realizados durante a graduação e que abordassem temas relacionados à Educação em Saúde.

Já os demais participantes que responderam positivamente a questão (total de 37 licenciandos), citaram em suas respostas atividades variadas, porém pontuais, como minicursos, seminários ou em atividades voltadas para a promoção de alimentação saudável.

Entre as respostas tanto negativas quanto positivas, alguns estudantes afirmaram que o curso não dá subsídios para o desenvolvimento de atividades didáticas em Educação em Saúde na escola, além de apresentarem atividades superficiais da temática, como pode ser observado a seguir.

Sim, quando fui fazer Prática II (atualmente, Estágio Supervisionado em Ensino de Ciências II), tive que me virar sozinho. Aprofundar numa aula que envolvia saúde e alimentação, senti muita falta desse pré-requisito para ministrar aulas (L 18).

Não! Durante a graduação, nas disciplinas que abordaram a Educação em Saúde, trabalhamos muito a teoria, porém nunca aplicamos nada daquilo que foi proposto diretamente nas escolas (L48).

Portanto, observamos que o curso de licenciatura em Ciências Naturais necessita ampliar a abordagem da temática Educação e Saúde, permitindo aos licenciandos perceberem a abrangência dessa temática. Além de serem preparados para ministrá-la adequadamente nas escolas.  Para Mohr (2009), Precioso (2009), Taravela e Gavidia (2007), Zancul e Costa (2012) são necessárias adequações nos cursos de formação inicial e continuada de professores. Uma dessas adequações poderia ser a inclusão de disciplinas obrigatórias e/ou optativas que abordem a Educação em Saúde e temas relativos à saúde, como um todo.

4.1.4. Como o curso de graduação em Ciências Naturais pode te auxiliar a lecionar a temática de Educação em Saúde no Ensino Fundamental? Explique.

Nessa pergunta obtivemos 26 respostas de licenciandos que apontaram algumas possibilidades de como o curso poderia auxiliar a lecionar os temas relacionados à Educação em Saúde. Desses a grande maioria salientou a necessidade de serem a ofertas de disciplinas no curso que abordassem a temática.
Mota (2011) e Venturi (2013) relatam que professores consideram importante uma formação específica em Educação em Saúde, tendo em conta a abrangência dos temas envolvidos na temática. Além do fato de que  disciplinas específicas da área de formação de professores deixaram a desejar no que se refere à abordagem de temas de Educação em Saúde.
As análises das respostas de 18 licenciandos indicaram que o curso dá suporte para trabalhar Educação em Saúde na escola. Entretanto, 11 estudantes afirmaram em suas respostas que são ofertadas poucas disciplinas na área e que o tema é abordado dentro do curso superficialmente.

O curso de Ciências Naturais me auxiliou no preenchimento de algumas lacunas relacionadas ao tema que viram desde o EM. Dessa forma, o curso me proporcionou os caminhos, agora caberá a "mim" pesquisar e praticar aquilo que me foi ensinado.  Visando sempre abordar o tema com os diversos públicos, de diversas maneiras (L48).

Na realidade o curso aborda de maneira bastante superficial, deveriam ser ofertadas mais disciplinas que abordam essa temática. Para uma aula ser realmente efetiva terá que pesquisar e estudar mais sobre o assunto, pois o curso só oferece uma base (L12).

Gavidia (2009) afirma que os temas relacionados à saúde devem estar presentes durante todo o curso, pois, as mudanças de atitude são resultados de um processo, que requerem tempo e ritmo diferenciados.

4.1.5.Durante a graduação, cursou ou está cursando alguma disciplina que abordasse/aborde a temática Educação em Saúde?

Em relação à questão 5, 46 licenciandos responderam "Sim" e 9 responderam "Não".  Conforme pode ser observado no Quadro 3, as disciplinas mais citadas foram praticamente as mesmas que apareceram nas respostas da questão de número 2, tendo mais ênfase a disciplina "Saúde e Ambiente".


Quadro 2: Disciplinas Cursadas pelos Licenciandos

De acordo com Precioso (2004), é importante que as Universidades prepararem, principalmente nos cursos de formação de professores, docentes capazes de trabalhar a Educação em Saúde nas escolas, e para isso o autor julga necessário que temas de saúde sejam inclusos no currículo tanto em disciplinas obrigatórias, como em disciplinas de ciências, e também em atividades extracurriculares.

4.1.6.Você tem conhecimento de como são ministradas as aulas relacionadas à saúde no Ensino Fundamental? Em caso positivo, de exemplos.

Entre os participantes, 37 licenciandos afirmaram não ter o conhecimento de como são ministradas as aulas relacionadas à saúde no Ensino Fundamental, e, somente 18 licenciandos responderam positivamente a esta pergunta.

Dentre aqueles que responderam "Sim" a esta questão, alguns citaram que os temas de saúde apresentam uma metodologia didática, geralmente embasadas em aulas expositivas, palestras, datas especiais, ou em parcerias desenvolvidas entre as escolas e o sistema público de saúde.

Conforme Venturi (2013), para muitos professores a Educação em Saúde na escola consiste na conscientização e orientação. No entanto, eles acreditam que apenas com o repasse de informações para os alunos, estes possam mudar e desenvolver comportamentos e hábitos considerados saudáveis.

4.1.7.Quais são os temas possivelmente trabalhados em Educação em Saúde no Ensino Fundamental?

Entre os temas mais citados encontram-se: doenças de um modo geral (29), alimentação (29), higiene pessoal (12), corpo humano (11), sexualidade (11) e doenças sexualmente transmissíveis (11).  Temas como drogas, saneamento básico, meio ambiente, atividades físicas, gravidez, dengue, obesidade, sedentarismo e saúde pública também foram citadas pelos licenciandos, mas em menor quantidade (variando de 4 a 2 menções).

De acordo com Gavidia (2001), temas transversais, como é o caso do tema saúde, devem ser abordados de maneira mais ampla, englobando também problemas pessoais e sociais discutidos na atualidade.

4.1.8. Qual a importância dos temas de Educação em Saúde na escola?

A maioria dos estudantes afirmou que a importância da Educação em Educação em Saúde está na prevenção doenças.

Prevenção e combate de doenças como hipertensão e obesidade (L13).

Para Dantas et al (2009), Gavidia (2009) e Zancul e Gomes (2011),  a mera transmissão de informações, que muitas vezes não produzem significados  tanto para o educador quanto para o educando, também  não garantem a mudança de comportamentos. Esses autores defendem que as mudanças de atitude são resultado de um processo e, que quando os conhecimentos sobre saúde não são colocados em prática, não se transformam em hábitos.
Já 9 licenciandos afirmaram que a Educação em Saúde é importante para a conscientização, sensibilização e reflexão crítica dos estudantes em relação aos temas de saúde, como pode ser observado a seguir.

É importante porque o professor tem um papel de formar alunos críticos e reflexivos. O professor deve trabalhar a ideia de que a ação de seus alunos interfere na sua qualidade de vida (L17).

Tais afirmações estão de acordo com o que defende Venturi (2013) em relação à Educação em Saúde. Segundo esse autor, na escola, o conhecimento científico e a reflexão sobre este conhecimento devem ser o foco das atividades do professor.

4.2.Resultados da Análise do Projeto Político-Pedagógico

A análise do Projeto Político-Pedagógico (PPP) do curso de Licenciatura de Ciências Naturais teve por objetivo conhecer como a temática Educação em Saúde é abordada nesse documento.  Para isso foram analisadas as duas últimas versões deste documento, referentes aos anos 2010 e 2013.

Observou-se que a referida temática, Educação em Saúde, está presente em pequenos trechos da justificativa do texto introdutório do referido documento, ao se referir à importância profissional dos licenciados em Ciências Naturais, conforme pode ser observado no trecho abaixo.

Outra possibilidade é, depois de formado, o aluno continuar seus estudos em uma pós-graduação, seja ela vinculada ao ensino de ciências, física, química e biologia, ou mesmo em educação ambiental, ecologia, educação em saúde, planejamento e gestão ambiental (Faculdade UnB Planaltina, 2013, p. 8, grifos nossos).

O trecho citado acima mostra que a Educação em Saúde pode ser um campo de atuação dos profissionais egressos deste curso. Entretanto, esse documento não deixa claro como a Educação em Saúde está inserida no currículo do curso de Ciências Naturais e de sua importância na formação docente.

Nesse sentido, fez-se necessária uma análise das ementas de todas as disciplinas ofertadas pelo referido curso (obrigatórias e optativas), buscando analisar se temática Educação em Saúde poderia estar contempladas no corpo das disciplinas. As ementas de todas as disciplinas obrigatórias e optativas encontram-se anexadas nos PPPs de 2010 e 2013.

Tais disciplinas estão organizadas da seguinte forma: as disciplinas obrigatórias estão distribuídas ao longo dos períodos do curso, enquanto as disciplinas optativas estão organizadas por área (Biologia e Ecologia; Educação e Formação de Professores; Física; Química; Geociências; Matemática e; Interdisciplinares e Complementares).

Observou-se pela análise das ementas presentes nos PPPs que são poucas as disciplinas voltadas para a área da saúde, pois apenas uma disciplina é obrigatória, enquanto as demais disciplinas são optativas.

Apenas a disciplina "Saúde e Ambiente I" é de caráter obrigatório e apresenta a seguinte ementa: noções de morfofisiologia integrada e doenças associadas; saúde e seus determinantes; indicadores de saúde pública; atenção primária e prevenção de doenças; vigilância sanitária e ambiental. Essa disciplina é ofertada a partir do 6º semestre, possuindo como pré-requisito a disciplina obrigatória denominada "Célula", como pode ser observado no Quadro 4, adaptado de Ferro (2013).


Quadro 3: Disciplinas da Área da Saúde

Dentre as disciplinas optativas apresentadas anteriormente, apenas "Alimentação e Nutrição na Escola" e "Educação para a Saúde" possuem alguma relação com a temática Educação em Saúde, abordando, de maneira geral, alguma discussão ou reflexão a respeito de Educação em Saúde e promoção da saúde no ambiente escolar. Em relação às disciplinas optativas das outras áreas, observamos que a área de Educação e Formação de Professores, a partir do PPP de 2013, passou a ofertar a disciplina "Abordagem do Corpo Humano no Ensino de Ciências", que aborda alguns temas referentes à Educação em Saúde, apesar de não estar explícito em sua ementa.

A partir da análise realizada nas ementas das versões dos PPPs de 2010 e 2013 pode-se notar que o curso de Licenciatura em Ciências Naturais apresenta uma carência na formação de seus docentes quanto à temática Educação em Saúde.  A análise desses documentos indicou que a formação dos licenciandos em Educação em Saúde não é priorizada, visto que são raras as menções sobre a temática ao longo do texto desses documentos.

Essa ausência de conteúdos relativos ao citado tema também está presente em outros cursos de formação de professores, como apontam os estudos de Precioso (2004), Fernandes et al (2005), Leonello e L'abbate (2006), Santos e Barboni (2010), Zancul e Gomes (2011) e Venturi (2013).

A falta de uma formação inicial não adequada e de uma formação continuada praticamente inexistente, podem ser fatores que corroboram para um trabalho docente em Educação em Saúde bastante limitado. De acordo com Venturi (2013) e Marinho e Silva (2013), é importante que os cursos de formação inicial sejam repensados, além disso, também são necessários cursos de aperfeiçoamento, formação continuada para os professores em exercício, tendo em vista ampliar a discussão sobre a Educação em Saúde na escola temas a serem trabalhados na Educação em Saúde.

5. CONCLUSÕES

A realização deste trabalho propiciou uma reflexão, entre outros aspectos, a respeito das concepções apresentadas por licenciandos do curso de Licenciatura em Ciências Naturais da Faculdade UnB Planaltina (FUP) no que se refere à formação docente e a temática Educação em Saúde.

A partir da análise das respostas obtidas nos questionários aplicados, observou-se que, apesar da importância atribuída à temática, ainda prevalece um discurso limitado da Educação em Saúde, marcado, predominantemente, por uma abordagem tradicional, e restrita principalmente as questões de higiene e doenças. É possível que essa visão limitada da temática esteja relacionada à formação inicial dos licenciandos, já que de acordo com a análise dos PPPs do curso há uma carência de uma abordagem mais ampla sobre a temática Educação em Saúde, principalmente em relação às disciplinas obrigatórias.

A análise dos questionários também evidenciou que licenciandos se sentiram confusos perante a inserção da temática Educação em Saúde no curso de graduação. Em relação à análise das ementas das disciplinas que compõem a grade curricular do curso de Licenciatura em Ciências Naturais da FUP, observou-se que uma abordagem ampla dos diferentes aspectos da Educação em Saúde está presente formalmente em apenas uma disciplina optativa oferecida, denominada "Educação para a Saúde". Tal fato indica que não há uma abordagem transversal da temática ao longo do currículo. 

Considerando o que foi aqui discutido, em consonância com os referenciais teóricos que embasam esse trabalho, acreditamos que para que o desenvolvimento nas escolas de atividades que envolvam uma Educação em Saúde voltada para a reflexão crítica da realidade, é fundamental que o professor de ciências seja bem preparado. Desde a sua formação inicial, como também em sua formação continuada Portanto, defendemos, além da existência de disciplinas curriculares e projetos interdisciplinares, que a temática Educação em Saúde, de uma maneira geral, seja parte do PPP do curso de licenciatura aqui pesquisado e também dos demais cursos de licenciatura. Isto é, a Educação em Saúde deve ser também uma preocupação das Universidades e principalmente nos cursos de licenciatura.

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