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Avá

versão On-line ISSN 1851-1694

Avá  no.31 Posadas dez. 2017

 

DOSSIER

Risco, prazer e cuidado: técnicas de si nos limites da sexualidade

 

Victor Hugo de Souza Barreto*

* Doutor em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisador de Pós-Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ. E-mail: torugobarreto@yahoo.com.br

Fecha de recepción del original: 19/04/2018.
Fecha de aprobación: 13/07/2018.


RESUMO

Uma das propostas desse texto é a de apontar como o cuidado é um dos elementos centrais presentes tanto no discurso quanto nas ações observadas entre meus interlocutores, adeptos de práticas sexuais tidas como “de risco”. Tomo como objeto de análise as práticas sexuais enquadradas como comportamentos para a prevenção de doenças, o cuidado de si e a avaliação dos “riscos” –ou a ausência/falta delas– como experiências sociais e subjetivas, buscando investigar as relações entre prazer e risco existentes nos “roteiros sexuais” presentes entre homens que frequentam espaços comerciais ou organizam eventos voltados ao sexo entre eles.

PALAVRAS-CHAVE: Sexualidade; Prevenção; Doença; Saúde.

ABSTRACT

One of the proposals of this text is to point out how care is one of the central elements present both in the discourse and in the actions observed between my interlocutors, adherents of sexual practices considered as “at risk”. I take as the object of analysis the sexual practices framed as behaviors for the prevention of diseases, the care of oneself and the evaluation of the “risks” –or the absence/ lack of them– like social and subjective experiences, seeking to investigate the relations between pleasure and risk existing on the “sex scripts” present among men who frequent commercial spaces or organize sex-related events among them.

KEY-WORDS: Sexuality; Prevention; Disease; Health.


INTRODUÇÃO

Nesse artigo apresento algumas das conclusões obtidas através de duas pesquisas etnográficas: a primeira foi realizada para meu Doutorado em Antropologia (Barreto, 2017). Ali desenvolvi uma pesquisa sobre a prática do sexo coletivo/grupal em festas organizadas exclusivamente para homens na cidade do Rio de Janeiro. A segunda pesquisa se refere a um atual projeto de pós-doutoramento iniciado na metade de 2017, no qual acompanho alguns grupos de conversas online (seja em aplicativos de celular como WhatsApp, ou alguns fóruns e sites) e seus respectivos encontros de sexo coletivo voltados para interações e trocas sexuais, nas quais problematizo a tensão prazer e risco encontrada nessas práticas. Trata-se principalmente de grupos que organizam encontros e debates sobre sexo bareback (sem preservativo) e do chamado sexo pig (também conhecido como “sexo sujo”, ou seja, um conjunto de práticas sexuais que envolve elementos escatológicos ou daquilo que consideramos “sujeira” ou “nojento”). Os grupos também são exclusivos para homens [cisgêneros] (ainda que eventualmente pessoas transgêneros como travestis e transexuais sejam adicionadas às redes virtuais, sua participação nos encontros presenciais são vedadas); e mesmo que os grupos virtuais possam contar com até 250 participantes, os encontros presenciais podem variar bastante de acordo com os interesses, de uma dinâmica de apenas uma dupla, ou um trio até de eventos festivos com 100 participantes.

A questão que se coloca a todo tempo nesses encontros orgiásticos tem a ver justamente com um manejamento dos limites e dos riscos, o controle de si com o cuidado e a imersão na efervescência das práticas sexuais, nesses êxtases, devires e em estados de alta intensidade. Nesse sentido, o que passa nesses espaços seriam acontecimentos nos quais determinadas práticas sexuais estariam na borda do que Gregori (2010: 3) chama de “limites da sexualidade”, que seria “a zona fronteiriça onde habitam norma e transgressão, consentimento e abuso, prazer e dor”.

É importante observar que termos como “prevenção”, “cuidado” e “risco” são polissêmicos, isto é, seus significados e usos são sempre historicamente situados, relacionais e contextuais (Duarte, 1998), variando de acordo não somente com as escalas locais, mas também entre os diferentes atores implicados. Ao mesmo tempo, Gambôa (2013: 17) também lembra que se faz necessário o reconhecimento da “liberdade criativa das pessoas para a produção de (novos) prazeres”, considerando que “dimensões ‘sensoriais’e ‘sensuais’também mobilizam decisões e escolhas, colocando em cheque a racionalidade instrumental prevalente no campo da saúde”. Fica destacado, portanto a importância de estudos etnográficos nesses contextos e sua contribuição para a construção de conhecimento sobre dimensões dos “roteiros sexuais” (Gagnom, 2006) e sua relação com as práticas sexuais enquadradas como comportamentos para a prevenção de doenças, o cuidado de si e a avaliação dos “riscos” –ou a ausência/falta delas–.

O que meus interlocutores parecem estar produzindo naquelas interações e circulação de fluidos são concepções outras, concepções próprias de “saúde”, “doença”, “cuidado” e “risco”; nas quais diversos fatores contribuem para essas percepções. Ao contrário do que se possa imaginar sobre um evento orgiástico, não imperaria um descontrole sem regras ou um “desgoverno de si”. Muito pelo contrário1. Mesmo entre os participantes dos grupos de bareback há a preocupação de se afirmar que suas práticas partem de valores como a “responsabilidade”, o “consentimento” e o “cuidado”. O que meus interlocutores estão chamando atenção é para o fato deles serem responsáveis e conscientes dos riscos possíveis nas práticas em que se estão engajando, ao mesmo tempo que são autônomos e livres para todas as escolhas possíveis (desde que tomadas de forma consciente e que sejam consentidas por todos os presentes); e que também são atentos a alguma forma de cuidado, mesmo que seja no “gerenciamento dos riscos”. É sobre esse último ponto, o do cuidado, que quero me deter nas próximas páginas.

Esse artigo, portanto, trata de uma fronteira complexa e que, como espero demonstrar ao longo do texto, e também porosa. Aquela entre o prazer e o risco, ou do prazer no risco em certas práticas sexuais, principalmente naquilo que se refere a práticas de cuidado observadas durante minha etnografia. E isso já coloca para o autor alguns desafios que é o de definir “prazer”, “risco” ou “cuidado” sem que essas categorias correspondam ou sejam capturadas por um sentido “estatal” dado a elas. Falar de práticas sexuais “de risco”, de “cuidado” e “prevenção” nos termos do Estado é concordar não só com uma classificação da qual deriva políticas públicas de saúde e epidemiológicas que podem (e devem) ser problematizadas em vários níveis, como também corresponder a uma “biopolítica” que atende historicamente ao controle de certas populações específicas (seja em termos de gênero e sexualidade, como também de raça, classe, idade e etc.). A maneira como esses termos irão aparecer nesse trabalho se referem aquilo que meus interlocutores atendem ou entendem enquanto tais, mesmo que os sentidos dados por eles também correspondam ou sejam atravessados por esses mesmos sentidos “estatais”.

O CUIDADO

Uma das propostas desse texto é a de apontar como o cuidado é um dos elementos centrais presentes tanto no discurso quanto nas ações observadas entre meus interlocutores, adeptos de práticas sexuais tidas como “de risco” (bareback e pig). É importante destacar que o acionamento da dimensão do cuidado (ou de qualquer outro elemento que atente para uma ideia de racionalidade) também trata-se de um recurso de legitimação, obviamente, muito comum entre os praticantes de uma sexualidade tida como “dissidente”.

O elemento que se convencionou como principal critério para a separação entre o ato permitido e o abusivo (ou mesmo como legal e legítimo) é o “consentimento”. Elemento que se tornou fundamental como ferramenta de legitimação de determinadas práticas sexuais como o BDSM2 (Cf. Zilli, 2009); daí a sigla que se convencionou chamar SSC (são, seguro e consentido). Não haveria nenhum tipo de abuso ou violência sexual, já que se tratariam de práticas seguras nas quais todos ali participam conscientes e consensualmente. Como afirma Lowenkron (2015: 35), a ideia de consentimento é herdada de um determinado paradigma liberal, “nos princípios de livre disposição de si e autonomia da vontade do sujeito racional responsável e senhor de si (...) no ideal individualista moderno”.

Se o discurso de legitimação das chamadas práticas sexuais dissidentes foi o daquele que acionava diversas dimensões como a da chave do consentimento, da higiene, da sanidade, do apagamento do risco, da neutralização das desigualdades de gênero e possíveis violências, o mesmo não poderia ser dito, a princípio, do bareback ou do sexo pig. Haveria um possível ponto de conflito nessas práticas que seriam apontadas como “irresponsáveis” ou focadas nos perigos de um prazer egoísta e individual de alto risco. Porém, o que meus interlocutores apontam é para a recorrência e repetição de discursos e práticas de valores ligados à “responsabilidade”, ao “consentimento” e ao “cuidado”.

É claro que a prática sexual sem preservativo, o contato direto com fluidos corporais do outro, práticas como a escatologia ou aquelas que experimentam os limites com relação à violência, jogos de humilhação e a resistência à dor são “empreendimentos de risco”, tal como conceitua Gregori (2010: 4), um evento no qual “o risco àintegridade física e moral das pessoas éuma possibilidade aberta e não dada de antemão”. A intenção aqui não é a de invisibilizar os riscos em prol de uma valorização do gozo e dos prazeres e nem dizer que os meus interlocutores façam estritamente isso. Ainda mais que muito do desejo e do prazer nas práticas analisadas aqui vem justamente de certa erotização dos riscos e perigos e não do desconhecimento deles. Por isso que, em principio, pode soar como incongruente: falar sobre uma valorização (ainda que contraditória) do cuidado nesse contexto.

O exemplo de um interlocutor que chamarei de Pedro, talvez deixe isso mais claro. Pedro é branco, está na faixa dos quarenta anos, é militar, mas recentemente vem se engajando cada vez mais em uma carreira acadêmica na sociologia. Conheço Pedro já tem alguns anos, foi um dos meus interlocutores durante minha pesquisa para a tese. Me disse que começou a participar de festas bareback depois que foi voluntário de uma pesquisa para a PrEP3 e, desde que a incorporou como principal forma de prevenção ao HIV/AIDS, se sente seguro e mais à vontade para ir e “brincar” nesses eventos. Nos encontramos em uma dessas festas organizadas pela cidade e por morarmos próximos também me ofereceu uma carona no final do evento, na qual pudemos conversar com mais detalhes sobre as suas impressões. Durante toda a conversa, Pedro destacou em sua fala o fato de ser uma pessoa responsável e atenta a vários cuidados: disse que era “todo certinho”, que não queria comer no restaurante fast food que propus (“faz muito mal àsaúde, minha alimentação émuito saudável”), não bebe, não fuma, não usa drogas, não costuma sair à noite, quase não vinha a festa inclusive, porque achou que ela começava muito tarde (23 hrs) e ele não só dorme e acorda cedo como também tem muito medo da violência atual do Rio de Janeiro. E ainda me repreendeu por causa do cigarro que acendi na saída da festa: “émeio estranho ouvir essas coisas de alguém que acabou de sair de uma orgia bareback né? Acabei de transar com um monte de cara sem camisinha e estou aqui te julgando dizendo que fumar faz mal”.

A proximidade e o tempo de convivência com Pedro me fez ter acesso a esses “cuidados” estendidos para outros e diferentes âmbitos de sua vida. Tal acesso não foi possível com todos os meus interlocutores, daí o meu foco se centrar aos cuidados tomados e voltados para a prática sexual em si. Seja antes, durante, ou depois das interações, mas aquelas que foram passíveis de observação tanto pelo fato de terem sido expostas e comentadas durante as conversas nos meios digitais, quanto pela minha presença durante os eventos organizados.

A intenção aqui não é afirmar também o que são cuidados “maiores” ou “menores”, nem mesmo trazer uma ideia de cuidado “relativizado”, mas sim de analisar algo a partir da percepção de que meus interlocutores produzem uma certa “hierarquia de riscos” (que é atravessada continuamente pela chave do prazer seja compondo ou desestabilizando essa hierarquia) e que constroem conceitos, noções e técnicas próprias de cuidado. Aproxima-se da ideia que Foucault (2013) traz sobre o aparecimento de uma “ética de si”, baseada nas “práticas”, “técnicas” e no “cuidado de si”. Um conjunto de experiências e práticas elaboradas pelo próprio sujeito que conformariam a sua relação consigo mesmo e com o mundo. O que aponto é essa elaboração própria do que seja cuidado, mesmo que “contraditória”, como no caso de Pedro.

Porém, antes de nos determos na descrição e análise dessas técnicas e cuidados percebidos nessas práticas sexuais, algumas palavras precisam ser ditas sobre a relação entre o prazer o risco nesses eventos e a potência de “tensor libidinal” que ela pode alcançar.

O RISCO E O PRAZER NO RISCO

Felipe - Não sei se vou na próxima festa. Embora esteja com vontade, mas não queria viciar.

Investigador - Viciar? Por quê?

- Tem a exposição né. Perigo de doença e tal. Mas que dámuito tesão, isso dársrs

- Mas éuma festa bare né…

- Sim.

- Exposição estámeio que embutido no evento. Imagino eu, pelo menos. Mas também sófui ao evento poucas vezes. Ainda não conheço as pessoas para saber como elas se cuidam ou não.

- Agora com a PrEP a exposição contra o HIV diminui, mas tem outras doenças. E não sódoença, um monte de coisa lá, perigoso se perder. Mas o lance éo tesão da liberdade. De brincar com o perigo, sabe? Não digo que écerto e não aconselho a ninguém, pois sempre tem algum risco. Eu, pelo menos, procuro me cuidar. Mas o tesão éfoda…”

Essa conversa via WhatsApp com o interlocutor que eu vou chamar aqui de Felipe, já deixa claro um aspecto central envolvido nessas práticas sexuais que estou propondo analisar, e da qual o pesquisador não pode se furtar, que é a presença do elemento do risco. Mais especificamente de um prazer envolvendo ou passando pelo risco, em que ele esteja de alguma forma presente ou sendo conjurado, já que é esse elemento que funciona aqui como um catalisador de intensidades.

A busca por sensações ou experiências (principalmente físicas) cada vez mais intensas e a maneira como isso se relaciona com a nossa sexualidade, sensualidade e sensibilidade, faz parte de um movimento ocidental de construção de uma certa forma de hedonismo mapeada por Duarte (1999). Naquilo que o autor chama de contemporaneidade voltada para o “império dos sentidos” reside a tensão entre o “mundo extensivo” e o “mundo intensivo”, que é perceptível nas ações mais cotidianas e presente na fala transcrita de Felipe acima que se preocupa mesmo em não “se perder”.

“Trata-se da tensão entre a maximização da vida (através da totalidade da pessoa), que éum investimento no longo prazo e na duração, e a otimização do corpo (através da concentração no prazer), que éuma aposta no curto prazo e na intensidade. Essa éuma tensão muito vívida para diversos problemas centrais que enfrentamos como analistas sociais” (Duarte, 1999: 28).

Como apontei em outros espaços sobre a maneira como o “princípio da putaria” é produzido nesses eventos (Barreto, 2017b e 2018), a putaria, ou a própria festa, tal como me apresentam seus participantes, é um acontecimento de “jogação”, de “safadeza”, de “brincadeira” que precisa guardar uma relação de equilíbrio com as outras áreas da vida dessas pessoas. Como percebi no desenvolvimento da pesquisa, os homens que frequentam essas festas não trabalham em uma lógica disjuntiva (ou...ou...). A maneira como eles parecem lidar com os diferentes “mundos” e “categorias” em que vivem assemelha-se muito mais a uma lógica da conjunção (e...e...). O que não quer dizer que elas se misturem. A maioria das pessoas com quem conversei, por exemplo, afirma preferir que a ida a esses lugares não seja do conhecimento de amigos e familiares, sem contar o fato do número representativo de pessoas casadas ou em alguma forma de relacionamento que também aparecem nas festas. Precisa-se saber gerenciar a putaria com o restante. Aproxima-se daquilo que Eugênio (2006) chama de “hedonismo competente”, uma competência em saber articular os compromissos da vida cotidiana com as práticas de “perdição”, de “êxtase”. Das falas dos participantes pode-se perceber como a putaria ocupa um lugar singular em suas vidas e no seu cotidiano.

A ideia de que o risco ou o perigo possa contribuir para uma maior intensidade e singularidade da experiência em princípio pode parecer contraditória, a de que as pessoas arriscariam suas vidas e seus corpos em algo que não traria recompensas maiores sob certos pontos de vista, é nos levar a uma problematização infrutífera de “porques” motivacionais. Minha proposta é a de me aproximar de “como” essas experiências se organizam e de que maneira meus interlocutores lidam com essa tensão.

A coletânea organizada pelo sociólogo Stephen Lyng (2005) é uma das primeiras tentativas de apresentar uma análise do ponto de vista das ciências sociais sobre o que ele chama de “ação de risco voluntária”. Os capítulos se debruçam sobre um leque de atividades, desde a prática de esportes radicais até ações criminosas, cuja base é essa atração pela exploração “dos limites da cognição humana e a capacidade em procurar novas possibilidades de ser/estar”(Lyng, 2005: 23). O risco, para esse autor, é um meio para negociação de fronteiras, de exploração de limites que lidem principalmente com a (in)sanidade, a (in)consciência, a vida e a morte. A presença do elemento do risco é que traria uma potência intensiva à essas experiências, já que seriam capazes tanto de alterar a relação espaço/tempo durante esses momentos, quanto a de trazer uma sensação de “hiperrealidade”, de “transportar os participantes para fora da realidade mundana e racional e os levar para um mundo de sensualidade (no sentido de sensação) imediata”(Lyng, 2005: 24). A ideia não é de total perda de controle, mas de justamente colocar o autocontrole à prova, em risco. “Arriscar-se écolocar em prova as capacidades e competências próprias aliado às sensações poderosas que acompanham essas práticas e que são valorizadas por seus participantes”(Lyng, 2005: 4). Daí a leitura de “liberdade” tal como levantada por Felipe anteriormente.

“Mas vamos ser claros: não éautocontrole por causa do autocontrole, nem de alguns regimes rígidos autoimpostos. Claro que não. Éo auto controle em lugar do controle da Igreja, Estado ou trabalho, baseado no entendimento de que, se vocênão se controlar, outra pessoa irá. Éo autocontrole por causa da auto determinação, o auto controle cortado com grandes doses de aleatoriedade e espontaneidade, o autocontrole no interesse de manter sua vida enquanto a deixa ir. Em última análise, éum tipo de autocontrole que te deixa ‘chapado’, que te deixa contido na autonomia da auto invenção e no poder coletivo da desorganização” (Lyng, 2005: 81).

Diante dessa leitura, a ideia de risco ou de um prazer no perigo, na chave da intensidade, não se torna algo tão contraditório como a princípio, mas sim num ponto de tensão. Naquilo que nos interessa mais de perto, as práticas sexuais que se encontram em um “limite da sexualidade” como o bareback ou sexo pig, também jogam com esses elementos, como apontado em algumas análises de discurso de praticantes: “No sexo desprotegido, ocorre a valorização de uma experiência corporal, sensorial, que se concretiza a partir de um contato mais intenso com o outro, um prazer excedente que surge pela expansão e transgressão das fronteiras e limites do próprio corpo. Com a realização desse prazer, as pessoas parecem adquirir maior autonomia e liberdade frente às normas e discursos socialmente estabelecidos” (Vasconcelos, 2008: 16).

A busca por uma excitação, por uma experiência mais intensa ou de um prazer maior, apontam certas emoções como forças motivadoras4. O ponto para o qual eu queria chamar a atenção aqui é como, a partir do contato e do acompanhamento dessas práticas pesquisadas, percebi que essas emoções passam por um determinado recorte de gênero. Estou apontando para certas emoções que se relacionam principalmente com um determinado modelo de masculinidade, de emoções generificadas, ou melhor ainda, que em sua performance também fazem gênero. O gosto por um certo risco, por um prazer nos limites, a coragem, o que a princípio pode ser entendido como uma “falta de cuidado”, são aceitas socialmente, e também nesses eventos, como algo masculino e são altamente valorizados; muito diferente da culpa, do “peso na consciência”, do medo, da hesitação e da preocupação que seriam emoções e atitudes tidas como feminilizantes e, dessa forma, desvalorizadas, principalmente se elas atrapalharem de alguma forma a intensidade das interações propostas durante os encontros5.

Consigo perceber também aqui, o que já tinha chamado a atenção em outro espaço (Barreto, 2017), de como o silêncio é um elemento central que circunda essas práticas sexuais dissidentes e compõem uma certa atmosfera que contribui tanto para que esses “roteiros sexuais” se estabeleçam quanto para que as performances de gênero ligadas ou não a essas emoções se estabilizem. Como aponta Heig (2006, 863) “O silêncio contribui para uma performance de gênero, jáque homens de verdade assumem os riscos e permanecem em silêncio. Para esses homens, tais silêncios estão entrelaçados com um desejo pelo masculino e uma sensação de que muita conversa arruina a onda”.

Em um ensaio publicado em 2007, no auge das notícias em diversas mídias sobre a prática bareback, David Halperin procura relacionar as questões de sexo, risco e subjetividade que circundariam essa prática, sob o sugestivo título de “O que os homens gays querem?”. A preocupação do autor é de fugir de qualquer leitura patológica ou mesmo psicologizante sobre as práticas sexuais homoeróticas, mesmo aquelas que tenham o “risco” como componente. Entende que a valorização de uma determinada masculinidade dentro daquilo que poderia se chamar de “cultura gay”, seja uma característica tóxica desse grupo que em muito contribuiu para a reprodução de normas misóginas e homofóbicas, mas que isso não implicaria necessariamente em algum tipo de produção desejante de auto destruição. O autor lança a provocação de que talvez estejamos comprando muito taxativamente estatísticas alarmantes e as noções de “doença”, “risco”, “cuidado” e “saúde” implícitas em alguns discursos moralizadores científicos ou estatais e não estamos atentos justamente para as práticas locales de “redução de danos” ou de “gerenciamento de riscos”.

O que percebo ser elaborado na decisão do uso ou não do preservativo e na exposição a determinadas situações “perigosas”, a partir de minhas etnografias, é a construção do que Pelúcio (2009), em sua pesquisa sobre a prevenção de doenças na prostituição travesti, chama de uma “hierarquia de riscos”. Um exemplo clássico é aquele referente às posições durante o ato sexual, da exigência da camisinha se você for atuar como passivo naquela interação, mas a não obrigatoriedade se você for o ativo, “só coloco se pedem, senão vai sem mesmo”6. Esse pensamento seria justificado pela ideia de que é só quando você esta sendo passivo é que tem mais chance de se contaminar com alguma coisa. Ou de como após uma interação sem o preservativo que eu acompanhei, aquele que estava sendo o passivo se virou e disse para o outro: “nossa, que loucura! A gente nem chegou a usar nada!” e o outro respondeu: “Pode ficar tranquilo, eu sou casado”. Como se o fato de estar casado o fizesse uma pessoa com menos perigo de contaminação, mais pura.

“Esta hierarquia relaciona-se com a classificação do parceiro(a) como alguém conhecido/familiar e desconhecido/estranho, e as associações que daíadvêm: confiança, segurança versus perigo e risco respectivamente. No cômputo da elaboração dessa escala hierárquica entram, ainda, as práticas eróticas e que posição se assume nelas. O ativo/penetrador/emissor, tanto na penetração anal ou oral, vêseus riscos diminuídos. Enquanto o(a) parceiro(a) passivo/penetrado/receptor se arrisca consideravelmente. E aíentra todo o simbolismo, não sódos significados da cadeia passivo/penetrado/receptor associado ao desvio, ao perigo e ao impuro, como também as representações acerca dos fluidos corporais” (Pelúcio, 2009: 174- 175).

A ideia das práticas e dos “prazeres perigosos” é preciso ser olhada com mais atenção. O “se jogar”, se arriscar, ou se colocar numa situação de potencial perigo principalmente naqueles relativos a algum tipo de contaminação não acontece por algum desconhecimento ou falta de informações técnicas sobre formas de contágio. Nem mesmo uma “atitude rebelde” de desobediência ao controle médico dos “poros e das paixões” (Perlongher, 1985). O que eu percebo é a elaboração de um conhecimento outro, próprio, que usa de vários elementos, sejam eles vindos do saber médico, do cotidiano, e/ou de experimentações próprias. O que há ali é uma “ciência do concreto”, em termos lévi-straussianos mesmo (1989), a elaboração de um saber construído e posto em prática (nem por isso menos ‘científico’) sobre o que é risco, o que é perigoso, sobre formas de contaminação e maneiras e técnicas para evitá-las. Se expor ou não a algo é um “cálculo infinitesimal” feito a partir do prazer que se sente, da intensidade da interação e do que se percebe como riscos menores ou maiores.

Formas, maneiras ou técnicas de cuidado de si atravessam essas práticas a todo momento, seja “negociando”, “gerenciando” ou “reduzindo” os riscos e os perigos constituintes dessas interações, produzem uma verdadeira “ciência do concreto” local. É sobre essa ‘teoria nativa’ que gostaria de me debruçar a partir de agora para que possamos pensar através dela nossas concepções estabilizadas de “saúde”, “doença”, “cuidado” e etc.

AS TÉCNICAS DA CIÊNCIA DO CONCRETO LOCAL

A análise que irei apresentar nessa parte do texto também pode ser uma contribuição ao que estudos recentes da área da Saúde chamam de “itinerários terapêuticos”. Esse conceito apareceu entre gestores e trabalhadores de serviços de saúde como uma necessidade de se compreender os caminhos percorridos por pessoas em processos terapêuticos e que não coincidiam com os esquemas racionais e pré-determinados de tratamento proposto pelas instituições estatais. “Suas escolhas expressam construções subjetivas individuais e também coletivas acerca do processo de adoecimento e de formas de tratamento, forjadas sob as influências de diversos fatores e contextos”. Itinerários terapêuticos são, portanto, “constituídos por todos os movimentos desencadeados por indivíduos ou grupos na preservação ou recuperação da saúde, que podem mobilizar diferentes recursos que incluem desde os cuidados caseiros e práticas religiosas atéos dispositivos biomédicos predominantes (atenção primária, urgência, etc.) Refere-se a uma sucessão de acontecimentos e tomada de decisões que, tendo como objetivo, o tratamento da enfermidade, constrói uma determinada trajetória” (Cabral et al., 2011: 4434).

As técnicas de cuidado de si que são apontadas por meus interlocutores a partir da ciência do concreto local compõem parte significativa do que poderíamos entender, sob o ponto de vista dos estudos da Saúde, como seus itinerários terapêuticos.

Os cuidados observados durante o trabalho de campo estão presentes em vários âmbitos das práticas sexuais, seja como forma de intensificá-las ou como “preservação” do corpo ou da “saúde”, antes, durante e depois das mesmas. As preparações anteriores aos encontros e eventos orgiásticos, por exemplo, são sempre compartilhados nos grupos virtuais. Abarcam tanto questões estéticas como corte de cabelo, barba, unhas e depilação quanto a atenção a uma dieta mais adequada, leve, a evitação de certos alimentos e pratos gordurosos ou apimentados e também as lavagens intestinais, por exemplo. As dicas e conhecimentos tidos a partir de experiências pessoais sempre são compartilhadas:

“-Preparando meu kit-foda para a festa de amanhã[posta foto de uma bolsa pequena contendo tubos de lubrificante, um vidro de poppers, lenços umedecidos e um tubo de pomada de policresuleno com cloridrato de cinchocaína para tratamentos de hemorróidas, inflamações, sangramentos e fissuras na região anal. No grupo as pessoas logo perguntam que pomada era aquela e para que servia]. Na verdade ela seria para curar cus detonados…mas na foda ajuda nas penetrações. Foi ótima na última festa…muito boa para quem gosta, como eu, de sair da festa falando ‘fofo’.

-Eu sempre tomo um Dorflex [marca de analgésico muscular] antes e depois das festas também. Ajuda muito na recuperação.

-Vou falar uma coisa pra vocês também: eu curto muito scat [práticas eróticas que envolvam escatologia], e sempre depois de me alimentar de merda eu tomo um vermífugo e algum antibiótico de amplo espectro para evitar qualquer tipo de infecção. Principalmente se for de alguém que eu ainda não conheço ou se estamos no início de uma relação.”(Conversa em WhatsApp, 14/08/2017).

Os grupos virtuais, por vezes, quase se tornam espaços para consultas médicas e anamneses pessoais. Os participantes que percebem qualquer tipo de alteração ou sensação nas regiões do pênis ou do ânus, costumam postar fotos no grupo para que os outros possam dizer se reconhecem ou se já passaram por aquele tipo de situação e, da mesma forma, indicar possíveis tratamentos. Inflamações ou infecções na glande, aparecimento de machucados ou fissuras no ânus, sangramentos, dores e etc., são relatados com palavras e imagens tendo como retorno a indicação de remédios, formas de cuidado, a sugestão de médicos específicos ou o convencimento de certo tratamento a partir de uma relação custo-benefício, como fica mais claro nos exemplos abaixo:

1:- Irritação na cabeça do pau acontece se você ficar muito tempo fodendo. Se for de camisinha então…Fica vermelho e pode atésangrar.

-Mas eu sempre trepei muito e nunca aconteceu nada disso. Estávermelho e com uma leve irritação.

-Tem ferida?

-Não.

-Se não éirritação por ter ficado horas metendo ou pelo látex, pode ser DST, aíte aconselho a ir na emergência do hospital X, jáfui láe eles são de boa.

-Esse hospital fica meio longe pra mim. Faço acompanhamento nos exames e não deu nada. Deve ser o sabonete ou algo assim. Mas vou ver certinho.

-Ésempre bom.”(Conversa em WhatsApp, 27/10/2017).

2:- Olha, eu curto transar sem camisinha. Mas não éassim com qualquer um. Porque tem uns caras que não se cuidam, me aparecem com o cu com HPV, verrugas e tal, eu não como esse tipo sem camisinha, não quero meu pau com verrugas de HPV, então nesses casos realmente uso camisinha sim. E recomendo comprar solução de benjoim por 20 reais e fazer cauterização fria, 3 passadas e saem as verrugas. Eu peguei na minha primeira relação sexual, de um cara aos 20 anos e jáme fudi. O tratamento foi esse. Sempre indico. Porque para que pagar 250 reais para um dermato ou urologista para uma coisa que vocêpode pagar 20 reais, ou então sem precisar ficar esperando meses pelo SUS e ficar infestado de verrugas? A decisão ésua…”(Conversa em WhatsApp, 15/12/2017).

Durante as práticas sexuais efetivamente diversas formas de conhecimento também são acionadas como técnicas de cuidado. Chamei a atenção para algumas delas rapidamente em Barreto (2017) e apresento com mais profundidade aqui. Tomemos um exemplo para que fique mais claro, o do sexo oral: durante todo o trabalho de campo nunca observei alguém fazer sexo oral usando preservativo; ainda que essa seja uma recomendação médica, sabe-se que a possibilidade de contaminação por esse ato é muito pequena. Uma quantidade muito pequena de risco principalmente diante da quantidade de prazer que causa. Isso não quer dizer que não haja várias técnicas. Ainda no exemplo do sexo oral sem preservativo vários conhecimentos são compartilhados: você precisa observar se o pênis é muito “babão” (ou seja, se ele libera muito líquido seminal); se sim, você pode guardar o líquido na boca e cuspir de tempos em tempos, evitando engolir a “baba”. É melhor evitar a ejaculação direto na boca, se não conseguir evitar, uma opção é que o esperma seja imediatamente cuspido; se não quiser ou não conseguir cuspir, então que ele seja engolido rapidamente (“o ácido do estômago mata todos os vírus, émais fácil se contaminar na boca que no estômago”); lavar a boca com enxaguante bucal depois é outro cuidado para se diminuir os riscos de alguma contaminação.

Contrário a esse “ensinamento”, certa vez ouvi no banheiro: “se vocêfez sexo oral eu não indicaria fazer isso (usar o enxaguante bucal). Listerine tem ácido e pode machucar”. Trata-se de um conjunto de conhecimentos, receitas pessoais e uma determinada medicina particular criada e compartilhada pelas pessoas ali. Há toda uma ideia do que se pode ou não fazer, do que pega ou não pega, do que é risco ou não, enfim, uma profilaxia própria. Não é só a hierarquização de riscos, é uma elaboração própria de conhecimento, tal como uma “ciência do concreto”.

Outro exemplo é o da própria penetração anal: deve-se primeiro reparar no pênis e evitar os “paus babões”. Se a interação estiver caminhando para o não uso do preservativo, começa-se colocando o pênis aos poucos: “vou sóbrincar, sócolocar a cabecinha, sómais um pouco”. O uso de bastante gel lubrificante ou saliva para evitar o atrito é recomendado. Se a penetração sem a camisinha ocorrer de fato, que se evitem os movimentos bruscos ou uma penetração mais agressiva, “assim vocênão rompe vaso nenhum, não se machuca, mas épreciso estar bem relaxado e nunca, nunca, deixe gozar dentro, porque esse éque éo perigo todo, sempre fora”.

É preciso chamar a atenção, portanto, para como a ideia de “prevenção” ou “cuidado” nesse contexto observado, aquilo que estou chamando aqui de teoria nativa ou ciência do concreto local, é atravessado por uma série de experiências pessoais e “saberes encorporados”, nas quais até mesmo sentidos como a visão, o gosto e o cheiro servem como categoria científica para identificar qualidades e perigos. A interação observada durante um desses eventos com o interlocutor que irei chamar de Rodrigo é um bom exemplo nesse sentido. Rodrigo tem em torno de 40 anos, engenheiro civil e é casado com seu marido faz quase 15 anos. Os dois gostam de participar desses eventos de sexo grupal, ainda que não tenham a “obrigação” de estarem sempre juntos durante as interações têm o acordo de sempre usarem camisinha nas relações fora da díade. Rodrigo faz questão de me afirmar que a “segurança” é a sua preocupação principal nesses eventos.

Em uma das festas acompanhadas observo Rodrigo interagindo com uma das pessoas que ele conheceu ali no evento. Rodrigo usa camisinha para penetrar um rapaz de aparência mais jovem e cabelos compridos até que este ejacule sobre a própria barriga. Os dois permanecem mais um tempo deitado juntos e fazendo carinhos, até que Rodrigo se abaixa e começa lamber o esperma da barriga do rapaz. Ainda trocam um beijo demorado antes de se despedirem, trocando um pouco do sêmen no beijo. Quando encontro Rodrigo novamente o pergunto sobre o ato, principalmente sobre ele ter lambido o sêmen de um desconhecido. Me disse que não costumava fazer isso, que era muito raro, mas que tinha ficado com vontade ali, principalmente com aquele rapaz. Mas que tinha tomado o cuidado de perceber se o sêmen na barriga do rapaz já tinha “mudado”. Peço para ele me explicar melhor:

“Cara, quando a porra sai, ela sai tipo leite né, branquinha, quente e tal. E com o tempo, ela vai esfriando e fica transparente, parecendo um gel. Se vocêdeixar ela sem mexer, no ar, atéseca sozinha, fica sóaquela raspinha branca. Se vocêdeixar ela secar na roupa ou no lençol sófica aquela mancha amarela. Não éassim? Então, esses vírus, principalmente o HIV, eles morrem em contato com o ar. O perigo équando a porra táquente e branca daquele jeito, recém-saída. Se vocêdeixar um tempo, tipo ficar transparente, jánão tem perigo nenhum”.

O fato do vírus HIV realmente sobreviver pouco tempo fora do corpo humano e em contato com o ar ficando livre de seu poder de infecção (ainda que esse tempo exato seja de difícil estimativa nas pesquisas laboratoriais) é substantivado para Rodrigo no momento de mudança física do próprio fluido. Ali, quando o sêmen perde a sua cor original, quando muda de temperatura se esfriando e passa a ter outra textura é que ele perde a sua “força”, se torna um sêmen “fraco”, os riscos são amenizados e o perigo de causar alguma doença, pelo menos a mais “preocupante” delas, é visto com uma probabilidade bem menor.

Assim como afirma Ondina Leal (1994) em sua pesquisa sobre o papel do sangue e do sêmen na ideia de fertilidade e concepção entre camadas populares, não é a minha intenção classificar essas noções como ignorância, falta de informação ou “resquícios de uma cultura tradicional”. “O que se faz necessário ébuscar a lógica que ordena tais representações a respeito do corpo” (Leal, 1994:128)7. Como afirmei anteriormente, não se trata de falta de um conhecimento científico ou medicinal sobre doenças e formas de contágio. Nem mesmo algo que possa ser respondido em termos de classe. Em Barreto (2017) já tinha demonstrado o quanto fica difícil tentar, por exemplo, traçar um perfil dos participantes das festas relativo à classe, raça, idade ou forma corporal. Ainda que esses recortes sejam elementos centrais na composição de hierarquias e de desejos nesses eventos, e presentes mesmo nas escolhas com relação à cuidados maiores ou menores, como veremos no final desse texto.

Outro ponto importante é a própria significação, nesses contextos, das políticas públicas de prevenção em determinados usos de um tipo de tecnologia farmacêutica, como nos medicamentos utilizados para PEP (profilaxia pós-exposição) e PrEP (profilaxia pré-exposição)8. As primeiras análises sobre o fenômeno bareback se centraram no caráter transgressor que a prática teria (Schernoff, 2006 e Dean, 2009), justamente como uma forma de se colocar “contra” um discurso higienista e de controle biopolítico sobre os corpos e as populações, daí até mesmo a alcunha pejorativa de “terroristas biológicos” (Garcia, 2009) que os praticantes de sexo “no pelo” ou “sem capa” receberam. Interessante de questionar se, do ponto de vista da biopolítica, até que ponto a PEP e a PrEP não retira ou esvazia o potencial transgressor dessa prática (Dean, 2015).

Ainda que, seja necessário um olhar crítico a respeito destes protocolos, no sentido de que tais modelos se baseiam em um tipo de poder hegemônico do discurso científico ao formular “soluções técnicas imediatas e infalíveis” (Biehl e Petryna, 2013: 8) desenhadas por profissionais da epidemiologia e da farmacologia, não podemos ignorar os “usos outros” que essa “ciência do concreto nativa” pode elaborar sobre essas políticas de Estado e sobre como elas são entendidas e usadas, de fato, no cotidiano, assim como acontece com outros remédios e medicamentos (alguns já citados aqui). Ou seja, ainda que permaneça enquanto forma biopolítica de poder e controle, é preciso atentar para como esses protocolos acabam entrando na dinâmica das práticas9.

Alguns interlocutores no campo das festas de orgia, por exemplo, chamavam a minha atenção para pessoas que faziam uso desses medicamentos a partir de uma profilaxia própria, permitindo-se práticas “mais perigosas” com o plano de, logo no dia seguinte, fazer uso do remédio, chamando-o mesmo de “pílula do dia seguinte”, ou mesmo por já fazerem uso diário de comprimidos como o Truvada10. O Truvada é a medicação mais famosa usada na PrEP, por pessoas não infectadas, para reduzir o risco de contágio sexual pelo HIV. No Brasil, a utilização da PrEP foi recentemente liberada via SUS11(Dezembro de 2017), e, ainda que perceba uma sensação de maior “segurança” ou mesmo “liberdade” para as interações entre meus interlocutores, é muito recente para se falar em mudanças de hábitos já estabelecidos. Porém, qualquer visita rápida aos grupos virtuais e fóruns de discussão, já é possível perceber a grande maioria dos participantes que são usuários desse tratamento se identificando enquanto tais12. As profilaxias permitem, portanto, “práticas que visam diminuir o medo e a culpa, através do melhor ‘gerenciamento do risco’no sexo sem preservativo”, devido a seu efeito de “rearrumação de categorias” (Bezerra, 2017: 157-158).

As práticas ou técnicas de cuidado de si descritas neste texto são indicativas de uma concepção de saúde ou doença particulares. A produção de uma hierarquia de riscos própria que é atravessada e tensionada o tempo todo pela chave do prazer revela que a ideia de perigo, de risco ou de doença nesse contexto não é uma totalidade dada. Assim como as fronteiras de controle de si, de êxtase e intensidade são negociadas e tensionadas a cada interação, o mesmo pode ser observado com relação à uma construção da ideia de doença nessas práticas sexuais. Se aproxima daquilo que Moll (2002) afirma sobre a doença enquanto um processo que se constrói numa prática, relacionalmente e contextualmente.

“Deslocando o foco de estudo de sistemas de significados para práticas, Moll questiona a ideia de que o corpo e a doença sejam totalidades formadas a priori, mas totalidades que são perseguidas em um campo de práticas. Ou seja, não háuma doença independente do que se pensa e se faz. Nesse sentido, agir, ser afetado, pensar e sentir são fenômenos que caminham juntos no desenvolvimento de processos de adoecimento e tratamento” (Alves, 2015: 39).

Nesse sentido, as conversas e trocas de informações nos grupos virtuais, os valores e concepções sobre os corpos e seus fluidos, além dos fatores relativos ao momento específico das interações, são mecanismos que o pesquisador pode se utilizar para analisar esses modos práticos de compreender a doença. “Não éuma relativização da doença. Para Moll, ‘doença’refere-se a distintos modos de vivenciar e produzir sofrimento. Assim, sendo atuada em cada espaço social, a ‘doença’produz novas formas de ser. Transforma-se na medida em que atua em contextos específicos e, portanto, requer do indivíduo e dos grupos sociais novos aprendizados, aquisições de habilidades específicas” (Alves, 2015: 40).

O desafio desse texto foi apreender uma parte dessa produção e das diversas técnicas de cuidado em um contexto de tensão libidinal entre prazer e risco presente nessas práticas que se encontram nos “limites da sexualidade”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Gostaria de dedicar esses parágrafos finais para uma questão que mereceria mais atenção e um desenvolvimento próprio em outro trabalho, que é a proposta de uma abordagem interseccional nesses espaços. De como o cuidado e o “gerenciamento dos riscos” é atravessado por fatores que também demarcam diferenças sociais em diversos aspectos. Ou seja, de que outros fatores são agenciados na tensão prazer e risco, como a apresentação corporal do outro, os afetos que podem ser produzidos ali na interação, os cheiros, os toques, a classe, a cor, a idade, etc. Pode-se estar mais disposto a determinadas práticas com uma pessoa que com outra, levando esses fatores em consideração e preferindo os parceiros que “passem mais confiança” e que essa “confiança” passa também por esses marcadores. Podemos lembrar de como Rodrigo se sentiu mais à vontade com um determinado rapaz para experimentar seu sêmen. Ou como me explicou um dos interlocutores durante o trabalho de campo: “...os caras escolhem com quem vão transar sem camisinha. Olham um cara gato, corpão, com aparência saudável, tranquilo, imaginam que uma pessoa daquela não deve ter nada. O cuidado vai aparecer naqueles que eles acham que estão mal cuidados, magros demais, com aparência de doentes ou que sejam muito putos, que devem transar com um número muito grande de pessoas e não se cuidam e tal…”

A pergunta de ‘¿quais seriam os inúmeros fatores que fazem com que as pessoas se sintam mais seguras e à vontade para abrir mão de certos controles?’ é algo a se observar com mais atenção, porém o que os dados produzidos em minhas pesquisas apontam é para algumas pistas que demonstram que essas dinâmicas eróticas são recortadas sim tanto por hierarquias quanto pelos tensores libidinais das mesmas (Barreto, 2017b e 2018 ).

Portanto, o fato de eu perceber esses espaços comerciais voltados para o sexo como um território privilegiado de usos outros do corpo e de produção de técnicas de cuidado não quer dizer que não perceba o quanto ele é atravessado pelos chamados marcadores sociais de diferença (como classe, idade, status, cor da pele, etc.), seja na configuração de desigualdades, seja na própria composição de prazeres. Pelo contrário, é possível perceber uma tensão constante nesse sentido. Daí a importância de atentar para o tipo de rede que se encontra nesses eventos e como eles configuram isso que Ayres et al. (2006) chamam de “contextos de vulnerabilidade”. O contraste dessas redes e contextos pode trazer novos sentidos para os modos como os atores lidam com a tensão entre “prazer” e “risco” presente nesses eventos, bem como um aprofundamento dos estudos já realizados sobre a predominância de contaminação de certos grupos e seus “contextos de vulnerabilidade” à infecção (Veras et al., 2015). Uma tarefa que a continuação da pesquisa poderá responder com mais acuidade.

NOTAS

1 É o que vem demonstrando uma série de estudos contemporâneos que vem procurando levar a sério o engajamento dos sujeitos em certas práticas sexuais tidas como “dissidentes”. Para um panorama dessas pesquisas ver a coletânea de trabalhos reunidos em Díaz-Benítez e Fígari (2009).

2 BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) é a sigla que agrupa um conjunto de práticas eróticas que ritualizam jogos de poder.

3 A sigla refere-se à “Profilaxia Pré-Exposição” cujo protocolo tratarei com mais detalhes adiante.

4 A ideia de emoção como força motivadora está na base de uma das etnografias clássicas na Antropologia sobre os hongot de Rosaldo (1980), na qual a autora aponta que o questionamento de por que os hongot cortam cabeças é inseparável de um entendimento desse grupo sobre emoções como o pesar e o ódio.

5 Proponho que um dos princípios fundamentais nessas práticas sexuais coletivas seja o da masculinidade, já que percebo a produção de uma performance de gênero que chamo de “masculinidade exagerada” (Barreto, 2018b).

6 Ainda que meus interlocutores se digam adeptos da prática bareback, que participem de grupos virtuais de troca e discussão sobre esse tema e que participem com certa regularidade dos eventos organizados, o uso em si do preservativo é algo que costuma ser decidido ali no próprio jogo contextual de cada interação. O que eu quero dizer é que o fato de você estar participando de um evento bareback, não quer dizer que seja obrigado a não usar o preservativo e que isso seja permanente em todas as relações. Em todos os eventos que estive presente percebi que o uso da camisinha podia ser negociado continuamente entre os participantes.

7 A questão de relações estabelecidas a partir de fluidos poderia gerar uma discussão bem maior da que tenho espaço para desenvolver aqui. O fato de Rodrigo me afirmar de que não seria com “qualquer um” que ele teria “confiança” e mesmo vontade de querer tomar o sêmen, demonstra o quanto esse ato é prenhe de significados e intensidade. Gostaria de chamar a atenção nessa nota o quanto uma primeira leitura do fenômeno bareback se apressou em afirmar que a troca de fluidos estabeleceria laços (até mesmo de “parentesco”) entre seus participantes (Dean, 2009), configurando uma espécie de “brotherhood”, de “irmãos de leite” ou de qualquer outro nome que jogue com a ideia das trocas seminais. Minha leitura é que a erotização dos fluidos masculinos passa muito mais pelas interações momentâneas do que por uma espécie de “acordo de confraria”.

8 De acordo com o site oficial do governo brasileiro (http://www.aids.gov.br), aPrEP (que começou a ser implementada no país só no final de 2017) é usada como estratégia de intervenção para a prevenção da transmissão entre “populações prioritárias” – HSH, gays, profissionais do sexo, travestis, transexuais, usuários de drogas e pessoas privadas de liberdade e em situação de rua. A PrEP consiste no uso diário de antirretrovirais em pessoas não infectadas, mas em risco elevado de infecção pelo HIV. E a PEP é uma medida de prevenção que consiste no início do uso de medicamentos até 72 horas decorridas de uma provável exposição ao vírus HIV. Ela já é utilizada, basicamente, em duas situações: em casos de risco de contaminação por HIV de profissionais de saúde na atividade laboral, devido a acidentes, e em casos de relações sexuais em que ocorre falha nas medidas de prevenção, para reduzir o risco de transmissão do HIV.

9 Enumero alguns desafios para esse tipo de análise em Barreto (2018c).

10 Seria preciso fazer uma descrição um pouco mais detalhada sobre a diferença entre os usos da PEP e da PrEP, até mesmo nas suas formas de acesso e em relação ao discurso e comportamento da equipe médica. A PEP costuma ser distribuída em postos de saúde específicos para casos emergenciais em que o paciente precisa buscá-la se utilizando de um discurso de “acidente” ou de “erro”, passando quase que por um “tribunal de expiação de culpa” por parte de técnicos como psicólogos e enfermeiros, enquanto que a PrEP seria visto como uma atitude ou escolha mais “responsável”, por ser uma precaução préexposição e mesmo pelo maior comprometimento de uma medicação que precisa ser tomada diariamente.

11 O Sistema Único de Saúde (SUS) é a denominação do sistema público de saúde no Brasil.

12 A prova de que o debate sobre a recém implantação da PrEP no Brasil enquanto política pública é polêmico é que em março de 2018 uma das revistas semanais de maior circulação no país publicou uma matéria de capa sobre o remédio chamada “O novo azulzinho”. O texto da matéria, que causou o repúdio de várias instituições de pesquisa na área da saúde e de representantes da sociedade civil, se utilizava de termos reducionistas e discriminatórios em um tom alarmista sobre o suposto fato de que homossexuais estavam deixando de usar a camisinha por causa do remédio e que isso estaria aumentando a disseminação de DSTs, como a sífilis, por exemplo. Nenhum tipo de dado efetivo e confiável era apresentado.

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