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Boletín de la Sociedad Argentina de Botánica

versão On-line ISSN 1851-2372

Bol. Soc. Argent. Bot. vol.56 no.4 Córdoba dez. 2021

http://dx.doi.org/10.31055/1851.2372.v56.n4.32900 

Ecología y conservación

Distribuicáo e estrutura das espécies lenhosas em uma restinga ecotonal no litoral Amazónico Maranhense, Brasil

Distribution and structure of woody species in an ecotonal restinga on the Amazon coast of Maranháo state, Brazil

Luciana Belfort1 

Flávia Raquel Fernandes do Nascimento2 

Eduardo Bezerra de Almeida Jr.

1. Programa de Pós-Graduaao em Biodiversidade e Conservado, Universidade Federal do Maranhao, Av. dos Portugueses, 1966, Sao Luís, Maranhao, Brasil

2. Departamento de Patologia, Universidade Federal do Maranhao Av. dos Portugueses, 1966, Sao Luís, Maranhao, Brasil

3. Departamento de Biologia, Pós-Graduaao em Biodiversidade e Conservado, Universidade Federal do Maranhao Av. dos Portugueses, 1966, Sao Luís, Maranhao, Brasil.

Resumo

Introdugao e objetivo: As restingas sao peculiares por se estenderem ao longo do litoral em variadas extensoes, com fitofisionomias compostas por estrato variando entre herbáceo a arbóreo. O objetivo deste trabalho foi analisar o arranjo estrutural, a diversidade e a distribuigao da comunidade lenhosa de uma restinga ecotonal no litoral maranhense, nordeste do Brasil.

M&M: Para amostragem da vegetagao foi utilizado o método de pontos-quadrantes (50 pontos), cujo critério de inclusao foi Perímetro a Altura do Solo > 10cm. Foram analisados os parámetros fitossociológicos, a estrutura da comunidade e o padrao de distribuigao fitogeográfica.

Resultados: Foram amostradas 22 espécies, 18 géneros e 14 familias. As familias mais representativas foram Myrtaceae, Arecaceae, Fabaceae, Ochnaceae, Polygonaceae e Rubiaceae. As espécies de maiores Valores de Importancia (VI) foram Astrocaryum vulgare (20,36%), Attalea speciosa (19,40%), Himatanthus drasticus (14,72%), Chamaecrista ramosa (10,68%) e Eugenia biflora (10,27%). O índice de diversidade de Shannon foi 2,401 nat.ind-1 e a equitabilidade de Pielou 0,749. O padrao de distribuigao local mostrou que as espécies estao distribuidas aleatoriamente.

Conclusoes: A estrutura e dinámica da restinga ecotonal entre os litorais amazónico e nordestino indica que a área tem riqueza e diversidade de espécies com valores semelhantes as restingas do nordeste, ressaltando a necessidade de protegao e valoragao das plantas das áreas de restinga.

Palavras Chave: Fitossociologia; Maranhao; Nordeste; valor de importancia

Summary

Background and aims: Restinga vegetation is an ecosystem that extends along the coast of Brazil in several extensions, with phytophysiognomies composed of strata varying from herbaceous to arboreal. The objective of this work was to analyze the structural arrangement, the diversity and distribution of the woody community of an ecotonal restinga on the coast of Maranhao, Northeast Brazi

M&M: For sampling the vegetation, the method of points-quadrants (50 points) was used, whose inclusión criteria was Perimeter at Ground Height > 10cm. Phytosociological parameters, community structure and phytogeographic distribution pattern were analyzed.

Results: The sampling resulted in 22 species, 18 genera and 14 families. The most representative families were Myrtaceae, Arecaceae, Fabaceae, Ochnaceae, Polygonaceae e Rubiaceae. The species with the highest Importance Values (IV) were Astrocaryum vulgare (20,36%), Attalea speciosa (19,40%), Himatanthus drasticus (14,72%), Chamaecrista ramosa (10,68%), and Eugenia biflora (10,27%). The Shannon's diversity index was 2,401 nat.ind-1 and Pielou's equality was 0,749. The pattern of local distribution showed that the species are randomly distributed.

Conclusions: The structure and dynamics of the ecotonal restinga between the Amazon and Northeastern coastlines indicate that the area has richness and diversity of species with values similar to the restingas of the northeast, highlighting the need for protection and valuation of plants in restinga areas.

Key words: Importance value, Maranhao state; Northeast of Brazil, phytosociology

Introducáo

A intensa antropizagao nas regioes costeiras para o desenvolvimento do turismo, especulagao imobiliária e instalagoes de portos, provocam degradagao e perdas irreparáveis á diversidade vegetal das restingas, sendo necessária a implementagao de efetivas unidades de conservagao para protegao deste ambiente (Rocha et al, 2007; Braz et al., 2013). No Brasil, as restingas sao peculiares por se estenderem ao longo do litoral em variadas extensoes, com fitofisionomias compostas por estrato variando entre herbáceo a arbóreo (Suguio & Tessler, 1984; Braz et al., 2013).

Considerando a riqueza da flora, a extensao territorial, os riscos de ameaga e a carencia de dados ecológicos sobre as restingas, esforgos foram intensificados para conhecer a diversidade e estrutura da vegetagao litoranea (Zickel et al., 2015). Nesse contexto, estudos fitossociológicos mostram-se importantes por caracterizar a comunidade vegetal (Walter et al., 2015), auxiliar no entendimento do arranjo estrutural dessas comunidades e subsidiar medidas de recuperagao, manejo e conservagao dos ecossistemas (Velazco et al., 2015; Martins et al., 2017), na costa Norte e Nordeste do Brasil.

Nesta última década, análises sobre a diversidade da comunidade lenhosa de restingas foram realizadas ao longo do litoral nordestino, com destaque para os estados de Pernambuco (Almeida Jr. et al., 2011; Cantarelli et al., 2012; Zickel et al., 2015) e Bahia (Menezes et al., 2009; Silva & Menezes, 2012; Santos et al., 2015). Todavia, apenas tres estudos (Machado & Almeida Jr., 2019; Almeida Jr. et al., 2020; Paiva & Almeida Jr., 2020) foram desenvolvidos no litoral maranhense, necessitando de mais pesquisas para ampliar o conhecimento sobre a distribuigao das espécies ao longo da costa do Estado do Maranhao, considerada a segunda maior do Nordeste.

Cabe ressaltar que o litoral maranhense se encontra dividido em duas vertentes. A porgao oeste, caracterizada como litoral amazónico e a porgao leste pertencente ao litoral nordestino setentrional (Villwock et al., 2005). A Ilha do Maranhao encontra-se na divisa entre o litoral amazónico e o nordestino (Silveira, 1964). E, considerando que as restingas sao colonizadas por espécies de ecossistemas adjacentes (Scarano, 2002), espera-se que nas restingas maranhenses, no trecho referente ao litoral amazónico se verifique uma maior representagao de espécies do dominio Amazónico, e no litoral nordestino um maior registro de espécies do Cerrado. Diante disso, acredita-se que por ser uma regiao ecotonal, a costa da Ilha do Maranhao apresente caracteristicas vegetacionais comuns aos litorais amazónico e nordestino, sendo um diferencial quanto á sua composigao e distribuigao de espécies.

Apesar desta particularidade, pesquisas sobre as áreas ecotonais da restinga da Ilha do Maranhao ainda sao escassas quanto ao conhecimento e caracterizagao do estrato lenhoso (Machado & Almeida Jr., 2019; Paiva & Almeida Jr. 2020; Almeida Jr. et al., 2020). Embora existam registros da riqueza florística das restingas maranhenses (Cabral-Freire & Monteiro, 1993; Serra et al., 2016; Lima & Almeida Jr., 2018; Correia et al, 2020; Guterres et al., 2020) faz-se necessário compreender a organizagao e o arranjo estrutural da vegetagao.

Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o arranjo estrutural da comunidade lenhosa de uma área de restinga ecotonal. Para isso, foram levantadas as seguintes questoes: i) Qual a composigao estrutural da comunidade lenhosa da restinga de Panaquatira? ii) Qual a diversidade do estrato lenhoso da restinga de Panaquatira? iii) Em quais tipos de vegetagao as espécies da restinga de Panaquatira ocorrem?

Material e Métodos

Area de estudo

O estudo foi desenvolvido em uma área de restinga na praia de Panaquatira (02°28’23”S 044°03’13,8”W, Fig. 1), localizada no municipio de Sao José de Ribamar, estado do Maranhao, Brasil. Com extensao de 5,6 km, a praia de Panaquatira apresenta topografía plana com declive suave (Souza et al, 2006), ficando na regiao de transigao entre os dois tipos do litoral brasileiro (Lima e Almeida Jr., 2018), o litoral amazónico e o litoral nordestino setentrional. A regiao apresenta clima tropical do tipo Aw, conforme a classificagao de Koppen (Peel et al, 2007). As temperaturas na Ilha do Maranhao variam ao longo do ano de 25,5 °C a 28,6 °C, com indice pluviométrico médio em torno 2.000 mm/ano (IMESC, 2011).

Fig. 1: Localizagao da área de estudo. A. Brasil; B. Estado do Maranhao; C. Praia de Panaquatira. Fonte: Lima et al. (2017). 

A restinga da praia de Panaquatira possui vegetagao de manguezal em trechos rebaixados da área que ficam sujeitas a alagamentos por águas estuarinas (Lima et al., 2017). A restinga do presente estudo é considerada uma das áreas de maior expressividade em relagao á vegetagao de restinga do Maranhao, por presentar um bom estado de conservagao, quando comparada com outras áreas do litoral do Estado, apresentando uma flora com alta riqueza e diferentes tipos fisionomicos (Lima et al, 2017; Lima & Almeida Jr., 2018).

Amostragem da vegetagao

A amostragem foi realizada na fisionomia frutíceto fechado nao inundável (fisionomia com aspecto fechado, que apresentam uma composigao de arbustos e arvoretas se desenvolvendo muito próximos, com justaposigao das copas (Lima et al., 2017). Para isso, foi utilizado o método de pontos-quadrantes (Cottam & Curtis, 1956), onde foram instaladas cinco transecgoes paralelas, de 100m cada. Em cada transecgao foram alocados 10 pontos quadrantes, espagados 10 m entre si, perfazendo o total de 50 pontos. Foram incluidos na amostragem os individuos lenhosos vivos com perímetro á altura do solo (PAS) > 10 cm. Para cada individuo foi medido o perímetro do caule (com auxilio de uma fita métrica), a altura da planta (estimada com auxilio de vara graduada) e a distancia da planta até o centro do quadrante. Para as palmeiras foram medidas as estipes aéreas, considerando o mesmo valor de critério de inclusao, com PAS >10 cm; cabe destacar que na área nao foi registrada nenhuma palmeira com estipe subterranea.

Individuos ramificados ao nivel do solo foram considerados na amostragem quando pelo menos uma dos ramos atendia ao critério de inclusao, com PAS >10 cm. Diante disso, o perímetro de cada ramificagao era medido e depois todos os valores eram somados para ser calculado e transformado no valor correspondente ao diámetro da planta (Moro & Martins, 2011). Os valores dos perímetros foram convertidos em diámetros para os cálculos dos parámetros estruturais. Todos os arbustos, árvores e palmeiras amostrados foram etiquetados com plaquetas de PVC e numerados sequencialmente.

As espécies amostradas foram coletadas conforme técnicas usuais para plantas vasculares (Peixoto & Maia, 2013). Em laboratorio, foram identificadas a partir de referencias bibliográficas especializadas (Barroso et al., 1999; Barbosa et al., 2013; Morokawa et al., 2013; Silva et al., 2014) e comparagao com o acervo do Herbário do Maranhao (MAR) (Almeida Jr., 2015) da Universidade Federal do Maranhao (UFMA). A organizagao das familias seguiu a classificagao do APG IV (APG, 2016) e após identificagao, as amostras foram depositadas, como colegao testemunho, no Herbário MAR.

Análise dos dados

A estrutura horizontal foi analisada a partir dos parámetros fitossociológicos calculados para cada espécie amostrada. Foram determinados os parámetros de frequencia relativa (FR), densidade relativa (DR), domináncia relativa (DoR), valor de cobertura (VC) e valor de importáncia (VI) além do índice de Shannon-Wienner (H’) e equabilidade de Pielou (J), através do pacote FITOPAC 2.1 (Shepherd, 2009).

Foram construidos histogramas de distribuigao dos indivíduos por classes de diámetro, com intervalos de 10cm e por classes de alturas, com intervalos de 1m. Esses valores de intervalos foram adotados no intuito de seguir o padrao de outros estudos realizados em áreas de restinga da regiao Nordeste do Brasil (Zickel et al., 2015; Santos-Filho et al, 2015; Santos et al., 2015; Machado & Almeida Jr., 2019; Almeida Jr. et al. 2020; Paiva & Almeida Jr., 2020).

Para melhor descrigao fitossociológica e conhecimento das espécies ocorrentes na restinga estudada caracterizou-se a estrutura da comunidade com base no Valor de Importáncia das espécies, conforme proposto por Pereira et al. (2004). De acordo com esses autores as espécies foram classificadas em dominantes (VI > 10), intermediárias (10 > VI > 1) e raras (VI < 1). O padrao de distribuigao espacial local das espécies foi estimado segundo o índice de Morisita padronizado (Ip) proposto por Smith-Gill (1975), adaptado por Krebs (1999), que desconsidera as espécies com apenas um individuo. Cada espécie pode ser classificada como regular (Ip < -0,5), aleatória (-0,5 < Ip > 0,5) ou agregada (Ip > 0,5). Assim, foi avaliado o padrao de distribuigao de 13 espécies.

Para conhecimento sobre a distribuigao dos táxons nos principais dominios fitogeográficos brasileiros (Amazonia, Caatinga, Cerrado, Floresta Atlántica, Pampa e Pantanal) foram utilizados os dados da Lista de espécies da Flora do Brasil (2020) e literatura especializada. Para essa análise foram considerados, apenas, os táxons identificados até epíteto especifico.

Resultados

Foram identificadas 22 espécies, distribuídas em 18 géneros e 14 familias de plantas arbustivas e arbóreas (Tabela 1), correspondendo a 200 individuos amostrados. Dentre as espécies registradas, Attalea speciosa, Coccoloba ramosissima, Guettarda angelica e Himatanthus drasticus sao caracterizadas como endémicas do Brasil.

As familias mais ricas em número de espécies foram Myrtaceae, com quatro espécies, seguida de Arecaceae, Fabaceae, Ochnaceae, Polygonaceae e Rubiaceae, com duas espécies, cada. As demais familias apresentaram apenas uma espécie. Quanto ao número de individuos, Arecaceae (com 56 individuos), Myrtaceae (com 39), Fabaceae (36) e Apocynaceae (com 35) foram as familias que se destacaram no arranjo estrutural da restinga, contabilizando 82,5% dos individuos amostrados. O indice de Shannon foi 2,401 nat.ind-1 e a equabilidade de Pielou resultou em 0,749.

Dentre as espécies com maior abundáncia destacaram-se Himatanthus drasticus (35), Attalea speciosa (33), Chamaecrista ramosa (33), Eugenia biflora (27) e Astrocaryum vulgare (23). Essas espécies também apresentaram destaque quanto ao Valor de Importáncia (VI) ecológico, porém em uma ordem diferente, a saber: Astrocaryum vulgare (20,36%), Attalea speciosa (19,40%), Himatanthus drasticus (14,72%), Chamaecrista ramosa (10,68%), Eugenia biflora (10,27%) e Byrsonima crassifolia (4,66%) (Tabela 1).

Tabela 1: Espécies amostradas na área de restinga em Panaquatira, Sao José de Ribamar, Maranhao. Parámetros fitossociológicos: Número de individuos (Ni); Frequéncia Relativa (FR); Densidade Relativa (DR); Domináncia Relativa (DoR); Valor de Cobertura (VC); Valor de Importáncia (VI). Dominios fitogeográficos: Amazonia (AM); Caatinga (CAA); Cerrado (CR); Floresta Atlántica (FA); Pampas (PA); Pantanal (PN). Espécies ordenadas por Valor de Importáncia. 

As espécies de maior VI representaram mais da metade (80,11%) do total do Valor de Importancia. As espécies avaliadas como intermediárias foram representadas por 16 espécimes (19,89% do VI). A dominancia por poucas espécies indica que a comunidade estudada apresenta uma estrutura oligárquica. Astrocaryum vulgare representa a espécie mais importante devido a dominancia relativa (37,50%), assim como Attalea speciosa que apresentou dominancia relativa de 26,94%. Himatanthus drasticus foi a espécie que se destacou quanto a frequencia e densidade relativa, com 18,12% e 17,50%, respectivamente.

Os valores de diámetro variaram de 3,18 cm a 110 cm. O maior número de individuos (73%) concentrou-se na primeira classe diamétrica, com intervalo de 3cm a 13cm; para a segunda classe, foram registrados 16,5% do total de individuos (Fig. 2). Os maiores valores diamétricos foram registrados em dois individuos, representados por Pouteria ramosa sp., com 110cm e Astrocaryum vulgare, com 89,17cm. Sobre as plantas ramificadas desde a base, obteve-se um total de 41 individuos (20,5%), destacando-se Eugenia biflora, Himatanthus drasticus, Chamaecrista ramosa, Myrcia multiflora, Attalea speciosa, Astrocaryum vulgare e Matayba guianensis.

A altura dos individuos registrados neste estudo variou de 0,3m a 16m, com altura média de 3,16m. A maior frequencia de altura dos individuos amostrados corresponde a segunda (1,1-2m) e terceira (2,1-3m) classes, com 65 e 49 individuos, respectivamente, totalizando 77,5% (Fig. 3). O individuo de menor altura foi representado por Chamaecrista ramosa, amplamente registada na área, desenvolvendo-se em grandes moitas e com grande representatividade na restinga. A última classe contemplou dois individuos com alturas superiores a 10m, um espécime de Anacardium occidentale com 15m e outro espécime de Byrsonima crassifolia com 16m.

Fig. 2: Distribuigao dos individuos arbustivos e arbóreos por classe de diámetro (10 cm) na restinga de Panaquatira, Sao José de Ribamar, Maranhao. 

Fig. 3: Distribuido dos individuos arbustivos e arbóreos por classe de altura (1m) na restinga de Panaquatira, Sao José de Ribamar, Maranhao. 

Foi avaliado o padrao de distribuido local de 13 espécies, das quais 12 encontram-se distribuidas aleatoriamente na área. A única espécie com padrao de distribuido diferenciado foi Chamaecrista ramosa, apresentando distribuido do tipo agregada, com Ip igual a 0,51. Na análise de distribuido nos principais dominios fitogeográficos brasileiros, 20 espécies foram analisadas. Deste total, Anacardium occidentale, Byrsonima crassifolia e Chamaecrista ramosa apresentaram registro em quase todos os diferentes tipos de vegetado no Brasil. Cinco espécies (Chomelia obtusa, Eugenia stictopetala, Matayba guianensis, Myrcia multiflora e Protium heptaphyllum) apresentaram registro em quatro dominios fitogeográficos e as demais espécies ocorrem em menos de tres dominios fitogeográficos; destacando assim as variagoes quanto a amplitude de distribuido dessas espécies. A partir dos dados analisados, cerca de 84% das espécies registradas neste estudo sao comuns ao dominio Amazónico, 79% ao Cerrado, 63% a Caatinga, 52% a Mata Atlántica, 21% aos Pampas e 5% ao Pantanal (Tabela 1). Com isso,

percebe-se a influencia de espécies do dominio Amazónico, Cerrado e Caatinga na colonizado da restinga de Panaquatira, demonstrando a condigao ecotonal, diante das particularidades quanto a paisagem, fisionomias e diversidade, e essa mistura reforga uma configuragao de vegetagao em mosaico para a área de estudo.

Discussáo

As familias mais ricas registradas no presente estudo também se destacam nas restingas do litoral nordestino setentrional. No entanto, ressalta-se aqui a ausencia de estudos fitossociológicos da comunidade lenhosa em áreas do litoral amazónico, impossibilitando assim comparagoes entre estudos que utilizaram os mesmos critérios metodológicos. Apesar disso, considerando os estudos florísticos para as restingas dos estados do Pará e Amapá, as familias Fabaceae, Rubiaceae, Myrtaceae, Apocynaceae e Melastomataceae destacam-se como as mais representativas em número de espécies (Silva et al., 2010; Silva et al., 2021). Reforjando a importancia desse conjunto de plantas para a colonizagao das áreas litoraneas do Maranhao.

A riqueza específica representada por Myrtaceae já foi constatada para diferentes áreas de restingas do litoral brasileiro (Giaretta et al., 2013; Santos et al., 2015). Em análises sobre a estrutura da vegetagao lenhosa no litoral nordestino, Myrtaceae também foi registrada como a mais rica nas restingas da Bahia (Santos et al., 2015), Pernambuco (Almeida Jr. et al., 2011), Rio Grande do Norte (Medeiros et al., 2014), Alagoas (Medeiros et al, 2010) e Paraíba (Vicente et al, 2014). Essa riqueza se deve pela grande quantidade de espécies registradas no Brasil (Sobral et al., 2015). E por essas espécies se desenvolverem em diferentes tipos de ambientes, estando presente na maioria das formagoes vegetais (Oliveira-Filho & Fontes, 2000). Incluindo as áreas de solos arenosos como as restingas (Rosário et al., 2005; Souza et al., 2007; Amorim & Almeida Jr., 2021); que possuem solos ácidos, com baixa fertilidade e baixa disponibilidade hídrica (Scarano, 2002; Magnago et al., 2012; Santos-Filho et al., 2013).

Apesar de Myrtaceae ter apresentado maior riqueza específica na área amostrada, nao foi a familia mais abundante, assim como verificado em outros estudos ao longo do litoral brasileiro (Thomazi & Silva, 2014; Santos-Filho et al., 2013; Santos-Filho et al., 2015; Almeida Jr. et al., 2020; Paiva & Almeida Jr., 2020). Arecaceae foi a familia que se destacou em abundancia, sendo representada por Astrocaryum vulgare e Attalea speciosa. No Brasil, as espécies de Arecaceae ocorrem em praticamente todas as formagoes vegetais (Souza & Lorenzi, 2012).

A diversidade encontrada (2,401 nat.ind-1) foi similar aos valores registrados em estudos semelhantes realizados por Santos-Filho et al. (2015) no Piauí (2.22 nat.ind-1), Castro et al. (2012) no Ceará (2.8 nat.ind-1) e por Almeida Jr. & Zickel (2012) no Rio Grande do Norte (2,59 nat.ind-1), nas restingas do litoral nordestino setentrional. Ao analisar apenas o litoral, pode-se confirmar que as restingas da Bahia, Alagoas, Pernambuco e Paraíba apresentam maior diversidade quanto a composigao lenhosa, apresentando valores de 3,553 nat.ind-1 (Santos et al., 2015), 3,330 nat.ind-1 (Medeiros et al., 2010), 3,508 nat.ind-1 (Almeida Jr. et al., 2011) e 3,018 nat.ind-1 (Vicente et al., 2014). Considerando os estudos do Maranhao, o presente estudo (2,401 nat.ind-1) apresentou diversidade menor em relagao aos que foram registrados nas restingas de Curupu (2.9 nat.ind-1), município de Raposa (Machado & Almeida Jr., 2019), Itatinga (2.92 nat. ind-1), em Alcántara (Almeida Jr. et al, 2020) e na restinga da praia da Guia (3.03 nat.ind-1), em Sao Luís (Paiva & Almeida Jr., 2020). Os valores de diversidade para essas regioes pode estar relacionada a quantidade de espécies raras amostradas (Felfili & Rezende, 2003) devido ao maior valor que o índice atribui a esse grupo de plantas ou devido as particularidades de cada área.

O valor obtido para a equabilidade (J’ de 0,749) pode representar uma área com pouca agregagao de espécies e distribuigao aleatoria da maioria dos indivíduos na área (Medeiros et al., 2010). O padrao pode ser uma resposta ás interagoes intra e interespecíficas, como competigao, predagao, dispersao, crescimento, reprodugao entre outras características.

E diante das particularidades observadas no Maranhao, devido aos ambientes ecotonais, os valores do H’ encontrados representam uma alta diversidade para as restingas; por se tratar de um ecossistema com baixa disponibilidade hídrica, escassez de nutrientes no solo, alta salinidade, fortes ventos que também podem estar associados a outros fatores como inundagoes, queimadas, pastagens, supressao da vegetagao, construgoes imobiliárias e até o pisoteio (causados pelo fluxo de pessoas caminhando no ambiente) (Santos-Filho et al., 2013; Paiva & Almeida Jr., 2020).

O teste de Morisita confirmou que as espécies se desenvolvem aleatoriamente, devido a organizagao espacial das plantas acontecerem de forma independente no ambiente (Araújo et al., 2014). Essa distribuigao pode estar relacionada ao tipo de agente dispersor (Jorge et al., 2015), nesse caso, o vento, que pode ser considerado como mais eficiente para áreas litoráneas; e também estar relacionada aos padroes estocásticos de estabelecimento, crescimento/desenvolvimento e competigao das espécies na restinga do presente estudo. Com isso, a predominancia de espécies com distribuigao espacial aleatoria destaca uma homogeneidade no ambiente, permitindo assim que sejam analisadas quais espécies, a partir do número de individuos, podem ser “exploradas” ou mantidos na área, de forma adequada e direcionada para que seja garantida a reprodugao dessas espécies.

Chamaecrista ramosa foi uma excegao na amostragem, pois apresentou padrao de distribuigao agregado. Esse tipo de distribuigao ocorre geralmente em espécies autocóricas, por depositarem as sementes próximos á planta mae, estabelecendo o padrao agregado (Araújo et al., 2014). Além disso, esse padrao pode estar associado a ocorrencia de diferentes microhábitats e condigoes edáficas (Lima & Prado, 2007). A dispersao de espécies de Fabaceae (como o genero Chamaecrista) em campos rupestres, por exemplo, ocorrem mesmo com ventos fortes e ar mais seco (Dutra et al., 2009); condigoes ambientais semelhantes as quais Chamaecrista ramosa está submetida na restinga estudada, explicando assim o maior destaque dessa populagao na área. Cabe destacar, também, que espécies que apresentam reprodugao vegetativa, pode ter uma tendencia á formagao de padroes agregados; visto que os individuos se desenvolveriam mais próximos entre si.

As espécies Astrocaryum vulgare, Attalea speciosa, Himatanthus drasticus, Chamaecrista ramosa, Eugenia biflora e Byrsonima crassifolia

foram as que mais contribuiram, quanto ao valor de importancia, no arranjo estrutural da restinga ecotonal. E Attalea speciosa, Coccoloba ramosissima, Guettarda angelica e Himatanthus drasticus sao consideradas endémicas do Brasil (Flora do Brasil, 2020), destacando a importancia de conservagao dessa restinga ecotonal.

Astrocaryum vulgare é uma planta pioneira e sua abundancia na área pode estar relacionada a capacidade de desenvolvimento em solos pobres e/ou excesso de perfilhos que facilitam a regeneragao (Shanley & Medina, 2005). Attalea speciosa também é considerada uma espécie pioneira e uma colonizadora eficiente (Ribeiro & Walter, 1998; Mitja & Ferraz, 2001) de ambientes arenosos. Himatanthus drasticus destaca-se por sua capacidade de rebrota a partir das raizes (Moro et al., 2011), o que contribui para seu desenvolvimentos em áreas de restinga.

No Maranhao, Machado & Almeida Jr. (2019) ao analisarem o estrato lenhoso de uma restinga em uma regiao de transigao entre os litorais amazónico e nordestino, destacaram Astrocaryum vulgare e Eugenia biflora como as de maior VI. Essa semelhangajustifica-se pela proximidade geográfica e por ambas as áreas pertencerem a mesma regiao ecotonal. Diferente dos estudos realizados em restingas do litoral nordestino (Almeida Jr. et al., 2011; Cantarelli et al., 2012; Santos et al., 2015; Zickel et al., 2015), que nao registraram nenhuma das espécies de maior VI catalogadas no presente estudo. Isso demonstra as diferengas estruturais e as distintas influencias recebidas pela vegetagao, considerando o componente lenhoso ao longo do litoral nordestino.

Quanto a caracterizagao da estrutura da comunidade com base no VI (Pereira et al., 2004), foram observadas poucas espécies dominantes. Isso se deve, provavelmente, aos fatores adversos aos quais a comunidade está submetida (Scarano, 2009), como solo arenoso de baixa fertilidade, escassez de água, alta salinidade, intensa agao do vento, comuns ao ecossistema de restinga (Castro et al., 2012; Menezes et al., 2012; Medeiros et al, 2014). O estabelecimento de espécies dominantes pode ter possibilitado condigoes para o desenvolvimento de espécies menos resistentes ás condigoes ambientais extremas das restingas (Araújo et al., 2016).

As distribuigoes de diametro e altura do presente estudo mostraram que a comunidade é dominada por individuos jovens de baixo porte e com troncos finos, semelhante vegetagao de restinga de Curupu (Machado & Almeida Jr., 2019). A distribuigao diamétrica decrescente, em forma de J-invertido, caracteriza uma comunidade em equilibrio entre mortalidade e recrutamento dos individuos (Rodrigues & Magalhaes, 2011). Os maiores valores de diámetro foram registrados em um individuo de grande porte, representado por Pouteria ramosa (110cm), e um individuo de muitas ramificagoes, representado por Astrocaryum vulgare (89,17 cm). A quantidade de individuos ramificados pode ter relagao com a capacidade de rebrota de cada espécie, sendo uma estratégia de crescimento, diante das particularidades das áreas de restinga.

Em relagao aos dominios fitogeográficos, a espécie Anacardium occidentale foi a única com registros para todos os dominios. Esse fato pode estar relacionado a distribuigao dessa espécie em regioes tropicais e subtropicais (Souza & Lorenzi, 2012), por ser nativa e de grande importancia económica (Araújo et al., 2010), sendo mantidas nas áreas litoráneas onde já existem ou sendo inseridas e cultivadas, onde nao se encontrava de forma natural, devido ao potencial económico do fruto (Zickel et al, 2015). Entre as espécies amostradas, nenhuma é restrita a um único bioma, assim como nao há registro de endemismo. E por estar situada em uma área ecotonal do litoral maranhense, muitas espécies sao comuns aos dominios Amazónico e Cerrado, porém com maior proporgao de plantas Amazónicas; conferindo maior singularidade a essas restingas.

Conclusáo

A estrutura da restinga entre os litorais amazónico e nordestino mostra que a área apresenta um valor de diversidade que deve ser considerado alto por ser tratar de área ecotonal. E apresentaram valores de diversidade similares a outras áreas de restingas do nordeste. A vegetagao estudada mostra uma estrutura oligárquica, dominada por individuos jovens de porte baixo e calibres finos, representando uma comunidade com espécies advindas da floresta amazónica e do cerrado, cujas particularidades reforgam a necessidade de conservagao.

Apesar da ausencia de estudos com os mesmos critérios metodológicos, impossibilitando comparagoes com as restingas do litoral amazónico, as familias registradas no presente estudo também se destacaram na composigao florística das áreas da costa amazónica e da costa nordestina. Isso se deve a facilidade de desenvolvimento das espécies dessas familias diante das condigoes limitantes dos ecossistemas litoraneos. A análise do valor de importancia indica possiveis diferengas estruturais entre a restinga ecotonal da costa maranhense com as restingas do litoral nordestino. No entanto, faz-se necessário mais estudos nas áreas ecotonais para elucidar questoes referentes ao arranjo estrutural e distribuigao das espécies nas restingas da costa do Maranhao.

Contribuicáo dos autores

LF contribuigao com a coleta de dados, análise e interpretagao dos dados, elaboragao do manuscrito. FRFN revisao critica, adigao de conteúdo intelectual e supervisao geral. EBAJ contribuigao com a conceituagao o desenho experimental, revisao critica, adigao de conteúdo intelectual e supervisao geral.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Fundagao de Amparo á Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhao - FAPEMA pelo financiamento do projeto. Á Coordenagao de Aperfeigoamento de Pessoal de Nivel Superior -CAPES (finance code 001). Ao CNPq e ao FINEP. A Universidade Federal do Maranhao (UFMA) e ao Laboratório de Estudos Botánicos (LEB) pela estrutura fisica e recursos humanos, em especial a Ariade Silva, Bruna Freire, Gustavo Lima e Ana Cássia Medeiros.

Bibliografía

ALMEIDA JR, E.B., SANTOS-FILHO, F.S., ARAÚJO, E.L. & ZICKEL, C.S. 2011. Structural characterization of the woody plants in restinga of Brazil. J. Ecol. Nat. Environ. 3: 95-103. https://doi.org/10.5897/JENE.9000098 ALMEIDA JR., E.B. & ZICKEL, C.S. 2012. Análise fitossociológica do estrato arbustivo-arbóreo de uma floresta de restinga no Rio Grande do Norte. Agrária 7: 286-291. https://doi.org/10.5039/agraria.v7i2a1218 [ Links ]

Recebido: 30 de Abril de 2021; Aceito: 29 de Setembro de 2021

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