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Acta toxicológica argentina

versión On-line ISSN 1851-3743

Acta toxicol. argent. vol.23 no.1 Ciudad Autónoma de Buenos Aires mayo 2015

 

REVISIONES

Flavonóides: constituição química, ações medicinais e potencial tóxico

Flavonoids: Chemical composition, medical actions and toxicity

 

Rodrigues da Silva, Laís1; Martins, Lívia do Vale2; Bantim Felicio Calou, Iana3; Meireles de Deus, Maria do Socorro3; Ferreira, Paulo Miche Pinheiro1, Peron, Ana Paula1*

1Universidade Federal do Piauí. Campus Senador Helvídio Nunes de Barros (CSHNB) Departamento de Ciências da Natureza. Curso de Ciências Biológicas. Endereço: Rua Cícero Duarte, 940. Bairro Junco. Picos, Piauí, Brasil. CEP 64600-640. Fone (89) 3422-1024.
2Bairro Iningá. Universidade Federal do Piauí (UFPI). Campus Ministro Petrônio Portela (CMPP). Centro de Ciências Agrárias (CCA). Teresina, Estado do Piauí. CEP 64049-550.
3Rua Cícero Duarte, 940. Bairro Junco. Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Senador Helvídio Nunes de Barros (CSHNB). Núcleo de Pesquisa Aplicada a Saúde e ao Meio-ambiente (NUPBSAM). Laboratório de Citogenética Vegetal e Animal, Picos, Estado do Piauí. CEP 64607-670.

*anpapegenpes@hotmail.com

Recibido: 22 de marzo de 2014
Aceptado: 4 de abril de 2015

 


Resumo. Os flavonóides são um grupo de substâncias naturais com estrutura fenólica variável, e portanto, de considerável interesse científico e terapêutico. Assim, teve-se por objetivo realizar uma revisão bibliográfica, de forma extensa porém objetiva, sobre as principais ações terapêuticas e a toxicidade das principais classes de flavonóides. A partir desta revisão da literatura, verificou-se, em ensaios pré-clínicos, que estes compostos tem o potencial de modificar a biossíntese de eicosanoides (resposta anti-prostanoide e antiinflamatoria); de proteger o colesterol-LDL da oxidacão (inibindo formação de placa aterosclerotica); de prevenir a agregacão plaquetária tendo efeitos anti-trombóticos; de promover o efeito anti-hipertensivo e anti-isquêmico; de regenerar antioxidantes primários, como a vitamina C, no organismo; de ter efeito antipromocionais na carcinogênese de alguns tipos de câncer; de amenizar os sintomas da menopausa; de aumentar a lipólise; de desacelerar o processo degenerativo em bainhas de mielina; de aumentar a secreção de insulina; de aumentar a expressão de genes responsáveis pela produção de proteínas sinápticas; de estimular os linfócitos B a produzirem anticorpos e de possuir atividade leishmanicida. Quanto a toxicidade dos flavonóides, estudos demostram que em altas doses e em utilização crônica, estes compostos desencadeiam reações alérgicas em humanos; modificam as membranas de hepatócitos causando necrose e morte celular em ratos; causam mutagenicidade e clastogenicidade em medula óssea de camundongos; interferem de forma significativa no funcionamento da tireóide e inibe a ação de citocromos P450 causando alterações drásticas no funcionamento do fígado de roedores. Dessa forma, pode-se verificar que os flavonóides tem uma grande capacidade terapêutica quando bem utilizado, devendo-se sempre levar em consideração doses e tempo de exposição aos organismos aos quais são administrados. Essas considerações são importantes por servirão de base para o estabelecimento de doses seguras e eficazes de utilização dos flavonóides para a população.

Palavras-chave: Compostos flavonóicos; Fármacos naturais; Ações medicinais; Toxicidade

Abstract. Flavonoids are a group of natural substances with variable phenolic structure and therefore, considerable scientific interest and therapeutic. Thus, the objective was to conduct a literature review of but objective extensively on major therapeutic actions and on the toxicity of flavonoids class. In this literature review, it was found that, in preclinical studies, these compounds have the potential to modify the biosynthesis of eicosanoids; protect LDL cholesterol from oxidation; prevent platelet aggregation with antithrombotic effects; promote the antihypertensive and anti-ischemic effect; regenerate primary antioxidants like vitamin C in the body; not to promote some carcinogenic effects on certain types of cancer; alleviate menopausal symptoms; increase lipolysis; slow down degenerative process in myelin sheaths; increase insulin secretion; increase the expression of genes responsible for the production of synaptic proteins; stimulate lymphocytes B to produces antibodies and have leishmanicydal activity. About the toxicity of flavonoids, studies show that, at high doses and in chronic use, these compounds trigger allergic reactions in humans; modify the membranes of hepatocytes, causing necrosis and cell death, in rats; cause mutagenicity and clastogenicity in mouse bone marrow, interfere significantly on thyroid function and inhibit the action of cytochrome P450, causing drastic changes in the function of the liver in rodents. Thus, it can be seen that the flavonoids have a wide therapeutic capacity when properly used, taking into account doses and exposure times to whom they are administered. These considerations are important because they set the bases for the establishment of safe and effective doses of flavonoids on the population.

Keywords: Flavonoid compounds; Natural drugs; Medicinal actions; Toxicity


 

Introdução

O uso de plantas medicinais tem sido significativo nos últimos tempos. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que 80% da população mundial faz uso de plantas na amenização ou cura de doenças (Lima et al. 2010). Assim, nos últimos anos tem-se verificado um grande avanço científico no entendimento do mecanismo de ação de compostos presentes nas plantas com ações medicinais, como por exemplo, os flavonóides, alcaloides, triterpenos, sesquiterpenos, taninos e lignanas, sendo isto claramente observado pelo número de trabalhos científicos publicados nesta área em congressos e em periódicos científicos nacionais e internacionais.

Os flavonoides são considerados um dos maiores grupos de me¬tabólitos secundários das plantas, e encontrados amplamente em frutas, folhas, chás e vinhos. São pigmentos naturais importantes e nas plantas tem como função principal proteger estes organismos contra agentes oxidantes (Lopes et al. 2010). Basicamente, todos os flavonóides são constituídos por três anéis, onde os seus carbonos podem sofrer variações químicas, como hidroxilação, hidrogenação metilação e sulfonação, proporcionando a formação de mais de quatro mil compostos flavonóides, que são agrupados em classes (Georgiev et al. 2014). Estão diariamente presentes na dieta humana e considerados por especialistas da área da saúde importantes protetores naturais do organismo contra vários efeitos adversos (Ribeiro et al., 2006)

Suas principais classes são as antocianinas, flavanas, flavonas, os flavonóis e isoflavonóides (Lazary 2010). Estas classes polifenólicas, desde a década de 80, se destacam por suas propriedades farmacológicas. Até o momento, em testes com animais, estes compostos demonstram ter ação terapêutica, como por exemplo, aos sistemas imunológico, circulatório, cardiovascular e nervoso (Georgiev et al. 2014). No entanto, apesar de Havsteen (2002) afirmar que a toxicidade promovida por flavonóides é rara, e de Ribeiro et al. (2006) citar que, salvo em raros casos de alergia, pouca relevância toxicológica é dada ao consumo de flavonóides, estes polifenólicos em doses altas e em uso prolongado ocasionaram toxicidade significativa em mamíferos.

Assim, em função do amplo estudo feito com as classes de flavonóides nos últimos tempos e por não haver na literatura científica uma revisão sistêmica que aborde simultaneamente o mecanismo de ação medicinal e a toxicidade deste polifenólicos, este estudo teve por objetivo realizar um levantamento bibliográfico, de forma extensa porém objetiva, sobre as principais ações terapêuticas e de toxicidade dos flavonóides.

Metodologia

Para uma completa revisão, somente fontes primárias foram usadas. As bases de dados pesquisadas foram MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), SciELO (Scientific Eletronic Library Online), PubMed, Higwire e Google acadêmico. As informações, disponibilizadas em Inglês ou Português, foram coletadas usando as seguintes palavras-chave: plantas medicinais, flavonóides, ações medicinais, toxicidade. Estipulou-se como período de análise para a seleção dos trabalhos o início da década de 90 até os dias atuais.

Desenvolvimento

Flavonóides: origem, estrutura química e classes

Os flavonóides compõem uma ampla classe de compostos polifenólicos de origem vegetal, cuja síntese não ocorre na espécie humana (Lopes et al. 2010). São encontrados nas partes aéreas das plantas de diferentes ecossistemas, com ênfase as angiospermas, e considerados compostos relativamente estáveis por resistirem a oxidação, altas temperaturas e mode¬radas variações de acidez. Podem se apresentar como agliconas, glicosídeos ou fazerem parte de outros compostos químicos, como as flavolignanas (Kumar e Pandey 2014).

Estes polifenólicos são biossintetizados pela via do ácido chiquímico, um importante intermediário na biossíntese de substâncias aromáticas em plantas, que tem por função originar o ácido cinâmico e seus derivados, como os ácidos cafeico, ferúlico e sináptico, com nove átomos de carbonos; e pela via do acetato que origina um tricetídeo com seis átomos de carbonos. A condensação de um dos derivados do ácido cinâmico com o tricetídeo gera uma composto com 15 átomos de carbonos formando assim o precursor inicial de todas as classes de flavonóides (Dewik 2010).

Assim, a estrutura química básica destes compostos, conhecida como flavilium, consiste de 15 carbonos distribuídos em dois anéis aromáticos (anéis A e B), os benzenos, interligados a uma estrutura heterocíclica central, o pirano (anel C), onde o primeiro benzeno é condensado com o sexto carbono do pirano, que na posição 2 carrega um grupo fenila (Dornas et al. 2010), conforme pode ser visualizado na Figura 1.


Figura 1. Estrutura básica dos flavonóides.
Fonte: www.google.com.br

De acordo com Machado et al. (2008), a grande diversidade estrutural encontrada nos flavonóides ocorre em função das pequenas modificações químicas ocorridas na estrutura básica destes compostos, que podem ser por meio de hidroxilação, metilação, acilação, glicosilação, hidro¬genação, malonilações e sul¬fatações, condição esta forma as diferentes classes de flavonóides.

As principais classes destes compostos são as Antocianinas, encontradas predominantemente em frutas e flores e tendo como principais representantes a cianidina, delfinidina e a peomidina; as flavanas encontradas em frutas, chás, lúpulo, nozes e água de coco. Seus principais representantes são as catequinas, as epicatequinas, o luteoforol, as proceanidinas e as theaflavinas; as flavonas, encontradas quase que exclusivamente em frutas cítricas e sendo a hesperidina e a naringerina seus principais representantes; os Flavonóis, presentes exclusivamente em frutas e folhas, sendo representados pelas quercetinas, rutinas, micertinas e os camferóis; e os isoflavonóides, que em alguns casos são chamados de isoflavonas, encontrados em legumes, particularmente na soja, e representados principalmente pela daidzeína e genisteína (Lazary 2010).

As isoflavonas podem ocorrer tanto na forma de aglicona como na forma glicosilada, quando possui uma ose de um dos seus anéis benzenos. A forma glicosilada ocorre naturalmente nos grãos da soja e na farinha de soja; já os acetil-derivados e as agliconas são formados durante o processamento industrial da soja ou no metabolismo da soja no organismo (Lopes et al. 2010).

Além das atividades desempenhadas nas plantas, como a pigmentação de frutos e flores, a regulação do crescimento vegetal e a proteção da planta contra agentes oxidativos, ensaios in vivo e in vitro demonstraram ampla variedade de atividades biológicas dos compostos flavonóides, com ênfase aos onóides e isoflavonóides. Dessa forma, percebe-se que a pesquisa com flavonoides é motivada por duas questões principais que são a diversidade estrutural muito ampla e o grande espectro de atividades biológicas atribuídas a substâncias pertencentes a este grupo. A cada dia, novos arranjos estruturais são observados e estudados para a verificação de suas atividades biológicas. Assim, é fato que o mecanismo de ação dos flavonóides depende da sua estrutura química. No entanto, as ações realizadas na planta bem como o seu potencial medicinal depende amplamente do sinergismo entre a estrutura química dos flavonóides e as estruturas químicas de outras classes de compostos, como os terpenos. Dessa forma, apesar do amplo estudo já realizado com flavonóides, verifica-se que ainda não está claro o mecanismo entre a atividade medicinal e a sua estrutura química.

Também é importante relatar que as diferenças individuais dentro de cada classe destes compostos resultam na variação e no número e posição dos grupamentos hidroxilas, por modificação nos anéis e no grau de metilação e glicosilação. Estas modificações dependem do estágio em que a planta se encontra, se jovem ou adulta, e de quais compostos químicos estão prevalecendo naquele momento. Um dos únicos mecanismos de ação bem estabelecidos e descritos na literatura é a ação oxidativa destes compostos, onde a estrutura básica dos mesmos reage com muitos radicais livres formando complexos estáveis pela conjugação das ligações duplas de suas cadeias carbônicas, porém, certos aspectos biofísicos de seu funcionamento ainda não estejam claros.

Mecanismo de ação de flavonóides com potenciais terapêuticos

Neste tópico será abordado o mecanismo de ação terapêutica dos flavonóides. Todos os relatos descritos comprovando esta ação foram obtidos a partir de experimentos em laboratórios utilizando, principalmente, roedores como organismos de prova e com doses consideradas ideais de uso pelos pesquisadores para o sistema-teste utilizado.É relevante citar que os estudos avaliando as ações medicinais destes compostos em humanos são escassos, e os que estão relatados na literatura científica são tidos como inconclusivos por muitos especialistas, em função das análises epidemiológicas não terem confirmado a correlação entre o consumo de flavonóides e a melhora da saúde.

Assim, exames laboratoriais e clínicos em organismos- testes demonstram a eficácia dos flavonóides na prevenção de doenças cardiovasculares, cancerígenas, imunológicas, etc. Para a construção deste tópico, muitos artigos foram lidos, todavia, optou-se por colocar apenas as citações bibliográficas atuais em função de que, quase sempre, um trabalho é a comprovação do outro, com a diferença de que os flavonóides testados foram extraídos de plantas diferentes. Estes compostos são estudados desde os anos 80. No entanto, no início da década de 90, com o intenso apelo comercial para o consumo de produtos à base de plantas medicinais, as pesquisas com estes compostos químicos foram intensificadas. Após a consulta às bases de dados MEDLINE, Scielo, PubMed e Google Acadêmico, pode-se observar que do ano 1996 até os dias atuais, em média, 150 trabalhos envolvendo a atividade medicinal destes compostos fenólicos são publicados anualmente.

Dentre os flavonóides com ação medicinal estão os flavonóis, com ênfase as quercetinas e o caempeferol, nas concentrações de 0,1; 1,0; 3,0 e 100,0 μM, em tratamento agudo. Estes dois compostos, em ação conjunta, demonstram ter grande potencial anti-inflamatório por modular a ação de componentes celulares envolvidos no mecanismo da inflamação, como por exemplo, a proliferação de linfócitos T, a produção de citocinas pró-inflamatórias como as TNF-a e IL-1, e a atividade das enzimas da via do ácido araquidônico, tais como fosfolipase A2, ciclo-oxigenase e lipo-oxigenase. Estas ações promovem a agregação de plaquetas e redução à trombose (Queiroz et al. 2014; Todorova e Trendafolova 2014).

Ainda, as quercetinas mostram, na concentração de 35 mg/Kg em tratamento crônico, ter ação vasodilatadora por modificar a biossíntese de eicosanoides que é a resposta anti- prostanóide e antiinflamatória de proteger o colesterol-LDL da oxidação com a função de impedir a formação de placa aterosclerótica, de prevenir a agregação plaquetária e, nas concentrações de 150 mg/Kg em tratamento crônico, de promover efeito anti-hipertensivo e anti-isquêmico (Pirie et al. 2014; Sheuder et al. 2014). A classe de flavonóis, de maneira geral, também exerce efeito hepatoprotetor ao fígado, protegendo-o contra a falência induzida por isquemia-reperfusão, nas concentrações de 125,0; 250,0 e 500 mg/mL em tratamento por 7 dias (Dong et al. 2013; Wang et al. 2013).

Em relação aos isoflavonóides, estudos demonstraram que, nas doses de 1 a 10μM estes compostos são grandes doadores de elétrons por apresentarem estruturas químicas conjugadas em anel β, ricas em grupos hidroxilas, que tem grande ação antioxidante por reagirem e inativarem ânions superóxido, oxigênio singleto, radicais peróxido de lipídios e/ ou estabilizando radicais livres envolvidos no processo oxidativo. A ação desta classe de flavonóides demonstra potencializar a ação de polimerases de revisão diminuindo danos ocasionados ao DNA e inibir a promoção de tumores em vários tipos de câncer iniciados a partir da ação de radicais livres (Yang et al. 2013; Yan et al. 2014).

Já o isoflavonóide Daidzeína, em várias concentrações diferentes e em tratamento crônico, demonstra atuar como protetor e regenerador dos antioxidantes primários do organismo, como o ácido ascórbico (vitamina C), o tocoferol (vitamina E) e o β-caroteno (vitamina A) (Brewer et al. 2014; Ma 2014). Estes mesmos autores relatam que este polifenólico pode, efetivamente, inibir as reações oxidativas deletérias a tecidos e retardar os fenômenos fisiopatológicos da aterosclerose e da trombôgenese. Este composto, 1 a 10 μM, também mostrou ter a propriedade de inibir várias enzimas envolvidas na carcinogênese promovendo efeitos anti-iniciais e antipromocionais na carcinogênese de pele, mama e próstata (Pan et al. 2013; Pericleous et al. 2014).

Ainda, em muitos estudos observou-se que as isoflavona, consideradas fitoestrógenos, tem efeito benéfico nos distúrbios da pós- -menopausa que são caracterizados pela suspensão da função ovariana, declínio da secreção de estrogênio e alterações histomorfológicas e metabólicas. Assim, estes isoflavonóides demonstram reduzir as manifestações da menopausa como o ressecamento vaginal, a diminuição da libido, ansiedade, dores musculares e das articulações, aumento de temperatura e doenças cardiovasculares (Pericleous et al. 2014).

Outros estudos também demonstraram que as isoflavonas agem sobre a espessura do endométrio uterino, o acúmulo de gordura tecidual, o colesterol HDL e a glicose plasmática em animais ovariectomizados, ou seja,é eficiente na diminuição dos estoques de gorduras uterina e retroperitoneal, no aumento de HDL e na redução da glicemia. Dessa forma pode se dizer que estes flavonóides promovem a redução da adiposidade, reduzindo a lipogênese e aumentando a lipólise (Torrezan et al. 2008).

É sabido que em função das cadeias cíclicas que compõe os flavonóides estes são pouco solúveis em água, e assim possuem uma tendência a acumular-se em membranas biológicas desacelerando o processo degenerativo da bainha de mielina de neurônios de roedores com doenças neurodegenerativas. Também podem interagir com diferentes receptores e transdutores de sinal influenciando no funcionamento da célula por meio da modulação no comportamento das camadas lipídica presentes em suas membranas (Takahovsky et al. 2014).

Os flavonóis, as antocianidinas e as isoflavonas também exercem efeito benéficos no tratamento da diabetes por aumentar a secreção de insulina, diminuindo a apoptose e promover a proliferação de células β-pancreáticas. Também regulam o metabolismo da glicose em hepatócitos, reduzem a resistência à insulina, à inflamação e estresse oxidativo em tecidos musculares e adiposo (Babu et al. 2013). Outro estudo também evidenciou a ação dos flavonóis no aumento da expressão de genes que produzem proteínas sinápticas auxiliadoras do impulso elétrico durante as sinapses, demonstrando potencial no tratamento de doenças como o mal de Parkinson e a depressão (Xu et al. 2013).

Oda et al. (2011), em um trabalho, demonstraram que os flavonóides tem a propriedade de estimular os linfócitos B a produzirem anticorpos. Estes mesmos autores ainda relatam que estes polifenólicos tem atividade leishmanicida, por causar alterações morfológicas nas formas promastigotas das Leishmanias em geral e melhorar a resposta imunológica frente a estes protozoários, ativando macrófagos.

Apesar da atividade biológica de alguns compostos presentes em plantas com ações medicinais, como os flavonóides, muitos podem ser nocivos ao organismo, ou seja, assim como qualquer fármaco sintético pode ser tóxico, compostos presentes em plantas medicinais também podem causar toxicidade, em nível sistêmicos e celular, dependendo do tempo de utilização e das doses utilizadas. Apesar do grande número de trabalhos sobre as ações terapêuticas das classes flavonóicas percebe-se que muitos dados são semelhantes quando comparado com outros artigos, mudando-se muitas vezes apenas o organismo de prova. Outro problema é a não apresentação clara e objetiva dos resultados obtidos com estes compostos polifenólicos, ocasionando rejeição por parte de outros pesquisadores em utilizá-los como referência ou modelo para a realização de outras pesquisas com estes compostos.

As ações medicinais dos flavonoides são estudadas há quase quatro décadas. No entanto, no início da década de 2000, com o intenso apelo comercial para o consumo de produtos à base de plantas medicinais, as pesquisas com estes compostos foram intensificadas no mundo todo. Em consulta as bases de dados MEDLINE, Scielo e Google acadêmico observa-se que do ano de 2001 ao ano de 2014, em média, 150 trabalhos sobre a atividade medicinal destes compostos polifenólicos são publicados anualmente. Diferentemente, poucos são os trabalhos encontrados na literatura científica sobre a toxicidade dos flavonóides.

Toxicidade dos flavonóides

É de conhecimento que a cura de doenças ou amenização de seus sintomas por meio das plantas sempre foi uma prática comum em todo mundo, principalmente em países em desenvolvimento econômico (Frescura et al. 2012). No Brasil, essa prática é amplamente difundida, porém, quase sempre realizada de forma indiscriminada e sem orientação médica (Asare et al. 2012). A utilização de plantas medicinais sempre foi marcada pelo apelo comercial de que o "natural" não faz mal. No entanto, muitos componentes com atividades medicinais extraídos de plantas já demonstraram ter ação citotóxica, genotóxica e/ou mutagênica (Varanda, 2006), condições que podem contribuir de forma significativa para o desenvolvimento de câncer (Meyer et al. 2011).

No caso dos flavonóides, Meotti (2006) relata que estes polifenólicos são fracamente antigênicos, mas cita que reações alérgicas ocorrem em cerca de 3 a 5 % da população após ingerir alimentos com altas concentrações destes compostos. Este autor ainda informa que a dose letal 50 (DL50) de isoflavonas é igual a 2 g/Kg em ratos, quando administradas via intravenosa e em tratamento crônico.

Em outros estudos foi demonstrado que as concentrações elevadas de flavonóides causam alterações morfológicas nas membranas dos hepatócitos de camundongos, promovendo necrose celular e morte do animal (Verma et al. 2013) Também foi observado que altas doses destes compostos polifenólicos causam atividade mutagênica as células de medula óssea de ratos Wistar, em função dos radicais epóxidos formados durante a sua biotransformação no trato gastrointestinal destes animais (Porto et al. 2013).

Em outras pesquisas foi verificado que a ingestão excessiva e por tempo prolongado de quercetina, podem interferir na função da tireóide, inibindo captação de iodeto. Estes dados foram obtidos em experimento a fim de investigarem os efeitos inibitórios da quercetina na função da tireóide in vivo através da avaliação da captação de iodo radioativo em ratos Sprague Dawley (Giuliani et al. 2014). Em outro estudo utilizando o teste do Cometa e o teste de Micronúcleos foi verificado danos significativos a estrutura dos cromossomos por meio da ação de flavonóides. Estes mesmos autores ainda relatam que os isoflavonóides em altas concentrações tem o potencial de inibir a ação de citocromos P450 promovendo alteração drásticas no funcionamento do fígado (Silva et al. 2013).

Como já mencionado, em busca de trabalhos na literatura, percebeu-se claramente que o número de trabalhos avaliando as ações medicinais dos flavonóides é superior ao número de pesquisas de avaliação da a sua toxicidade. Isto é preocupante, em função de que e conforme já relatado, o uso de compostos naturais, principalmente de maneira indiscriminada, causa reações adversas ao organimos. Apesar destes testes sobre as propriedades medicinais dos flavonóides terem sido comprovadas apenas em animais, a mídia audio- -televisiva, revistas e outros meios de comunicação, consideram que estes compostos tenham a mesma ação em humanos, e ressaltam as propriedades "milagrosas" dos mesmos, não considerando os efeitos tóxicos e as consequências que os mesmos podem causar. Ainda, muitos trabalhos não deixam claro em quais doses e tempo de exposição os flavonóides são tóxicos, o que ocasiona, muitas vezes, o não interesse de outros pesquisadores em utilizá-los como referência ou modelo para a realização de outras pesquisas com estes compostos. Acredita-se que em função disso as classes flavonóicas sejam consideradas na literatura científica e pela mídia em geral isenta de atividade tóxica.

Conclusão

A realização desse trabalho que incluiu os aspectos químico dos flavonoides, seu uso terapêutico e seu potencial de toxicidade a organismo, contribuirá para o conhecimento sobre potencial desses compostos naturais. Também espera-se estimular a realização de novas avaliações quanto as suas propriedades medicinais e tóxicas.

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