SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.38 número2El Capital en Hegel: Estudio sobre la lógica económica de la Filosofía del DerechoBreviario de ética índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

  • No hay articulos citadosCitado por SciELO

Links relacionados

  • No hay articulos similaresSimilares en SciELO

Compartir


Revista latinoamericana de filosofía

versión On-line ISSN 1852-7353

Rev. latinoam. filos. vol.38 no.2 Ciudad Autónoma de Buenos Aires nov. 2012

 

COMENTARIOS BIBLIOGRÁFICOS

Edgardo Castro, Diccionario Foucault: Temas, conceptos y autores, Buenos Aires, Siglo Veintiuno, 2011, 432 pp.

 

Dono de um pensamento fértil, vigoroso, provocador e nômade, Michel Foucault produziu, na segunda metade do século XX, uma verdadeira revolução nos campos da Filosofia, da História, do Direito, da Educação, da Medicina (e aí, especialmente, das chamadas áreas psi). Certamente se pode dizer que a produção intelectual do filósofo destacou-se por quatro características principais: abrangeu as mais variadas questões dos saberes e atividades humanas, abordou e problematizou de maneiras nada convencionais assuntos que até então eram tidos como tranquilos, foi muito prolífica e, por fim (mas não menos importante), mantevese em permanente movimento, isso é, jamais se manteve fiel a si mesmo, jamais se ocupou de apenas um tema e jamais tentou fixar seus conceitos ou construir algum sistema teórico ou metodológico.
Essas quatro características fazem com que qualquer tentativa de sistematizar a obra foucaultiana seja um empreendimento difícil, delicado e até perigoso. Foi a tal empreendimento difícil, delicado e perigoso que se lançou o Professor Edgardo Castro, ao escrever, há alguns anos, El Vocabulario de Michel Foucault.1 Pela absoluta importância e qualidade dessa obra, foram envidados grandes esforços e, finalmente, ela foi traduzida para a língua portuguesa, no Brasil.2
Mas a história não termina aí... Em 2011, foi lançado, em Buenos Aires, o Diccionario Foucault. Logo que examinei esse Diccionario, me dei conta de que não se tratava de uma nova edição do Vocabulario de Michel Foucault. Eu estava diante de uma nova obra; essa agora não era somente maior ou mais detalhada, mas seguia uma arquitetura melhor e incluía os cursos que Foucault havia ministrado no Collège de France e que só muito recentemente foram compilados e finalmente publicados.
De fato, Edgardo Castro procedeu, nesse novo livro, a uma cuidadosa e muito útil revisão e ampliação no texto do anterior, bem como a um correto enxugamento nas referências bibliográficas, de modo a tornar mais fácil, objetiva e rápida a tarefa do leitor ou consulente. Aliás, quando falo em "leitor" e "consulente" chamo a atenção para o fato de que, apesar de se tratar de uma obra de referência, o Diccionario pode ser lido como um livro comum, continuamente da primeira até a última página.

*

Voltemos à quarta questão que mencionei no início deste meu Comentário Bibliográfico: a constante mobilidade temática, metodológica e teórica de Michel Foucault, ao longo das três décadas de sua produção intelectual. Na Arqueologia do Saber, o filósofo foi bem claro: "Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo: é uma moral de estado civil; ela rege nossos papéis. Que ela nos deixe livres quando se trata de escrever".3 É justamente da associação entre, de um lado, esse nomadismo intelectual e, de outro lado, o tratamento quase sempre incomum e invertido que Foucault dedicava aos variados temas que estudou que resultam as maiores dificuldades para quem quiser esclarecer os conceitos criados ou utilizados pelo filósofo e até mesmo se aventurar a seguir as linhas ao longo das quais ele desenvolveu suas teorizações. E notem que, aqui, não me refiro a uma (suposta) teoria de Foucault, mas, sim, às teorizações que ele desenvolveu; seguindo Nietzsche, que sempre nos preveniu contra os sistemáticos, Foucault nunca quis elaborar um sistema filosófico nem, muito menos, construir um edifício teórico.
Pois bem, nesse Diccionario Foucault, Edgardo Castro enfrentou magnificamente bem tais dificuldades e se aventurou com êxito pelos meandros da extensa obra foucaultiana. Temos bons exemplos disso principalmente nos verbetes que tratam dos vários conceitos criados por Foucault ou por ele profundamente ressignificados, como é o caso de, entre outros: dispositivo, discurso, locura, (neo)liberalismo, poder, normalidad, dominación, práctica, gubernamentalidad, razón de Estado, saberes, sexualidad. Com rigor, clareza, competência e agudeza analítica incomuns, Castro discorre sobre cada um dos mais de trezentos verbetes que constam de sua obra; e note-se que muitos desses verbetes ocupam várias páginas...
E como se tudo isso não bastasse, é preciso salientar a imensa contribuição que o Diccionario Foucault traz para quem quiser se inteirar da extensa bibliografia que Foucault nos deixou. Logo após cada verbete, seguem-se extensas relações bibliográficas nas quais Edgardo Castro registra as obras do filósofo -com as respectivas páginas- onde o leitor poderá encontrar referências sobre aquele assunto. Está-se diante de um trabalho minucioso e hercúleo que, certamente, consumiu muitas e muitas horas de trabalho árduo ao seu autor. Tais relações bibliográficas são, por si só, de um valor inestimável para quem quiser adentrar pelos Estudos Foucaultianos.
A combinação entre os textos de excepcional qualidade que Edgardo Castro dedica a cada verbete e as relações bibliográficas que constam ao final de cada um fazem do Diccionario Foucault uma obra ímpar, não só no campo dos Estudos Foucaultianos como, também, na bibliografia filosófica em geral. E certamente não estarei exagerando se afirmar que isso vale não apenas para a língua castelhana. Ainda que a cada dia aumente mais e mais a quantidade de textos publicados sobre Michel Foucault ou a partir de seu pensamento, e ainda que existam alguns "vocabulários Foucault" de boa qualidade em circulação entre nós, o Diccionario Foucault, de Edgardo Castro, ocupa uma posição absolutamente sem paralelo.

Alfredo Veiga-Neto
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

NOTAS

1. Castro, Edgardo, El Vocabulario de Michel Foucault, Buenos Aires, Prometeo, 2004.
2. Castro, Edgardo, Vocabulário de Foucault, tradução de Ingrid M. Xavier, revisão técnica de Walter Kohan e Alfredo Veiga-Neto, Belo Horizonte, Autêntica, 2009.
3. Foucault, Michel, A Arqueologia do Saber, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1995, p. 20.

Creative Commons License Todo el contenido de esta revista, excepto dónde está identificado, está bajo una Licencia Creative Commons