SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número126Experiencia de usuario positiva, durante el proceso de diseño de materiales y la influencia de los factores demográficosReproponer el cuero desde una perspectiva de diseño sostenible índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

  • No hay articulos citadosCitado por SciELO

Links relacionados

  • No hay articulos similaresSimilares en SciELO

Compartir


Cuadernos del Centro de Estudios en Diseño y Comunicación. Ensayos

versión On-line ISSN 1853-3523

Cuad. Cent. Estud. Diseñ. Comun., Ensayos  no.126 Ciudad Autónoma de Buenos Aires ene. 2024  Epub 01-Ene-2024

http://dx.doi.org/10.18682/cdc.vi126.4564 

Artículo

La piel de las cosas: de la poética intercorporal a la experiencia del design

Adriana Dornas1 

Angélica Adverse2 

1 Departamento de Design / Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Brasil

2 Departamento de Moda, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Brasil.

Resumen

La piel de las cosas: de la poética intercorporal a la experiencia del design. El artículo examina cómo la relación intercorporal plantea interrogantes sobre la experiencia del devenir en design. La acción Corpo Presente (2018) de Rodrigo Almeida problematiza la co-presencia. El estudio investiga la construcción de significados conceptuales desencadenados por el cambio en las relaciones significativas de usos y funciones. Retomaremos la noción de intermezzo de Gilles Deleuze para pensar el evento como una experiencia en design. Investigaremos la transfiguración de la piel de los cuerpos y la superficie de los objetos como una nueva experiencia estética en Design-Arte.

Palabras clave: Diseño-Arte; Experiencia; Evento; Piel; Intercorporal.

Resumo

O artigo examina como a relação intercorporal suscita questões sobre a experiência do devir no design. A ação intitulada Corpo Presente (2018), de Rodrigo Almeida, problematiza a co-presença. O estudo investiga a construção de sentido conceitual desencadeada pela mudança das relações significantes dos usos e das funções. Retomaremos a noção de intermezzo de Gilles Deleuze para pensar o acontecimento como experiência no design. Investigaremos a transfiguração da pele dos corpos e da superfície dos objetos como uma nova experiência estética no Design-Arte.

Palavras chave: Design-Arte; Experiência; Acontecimento; Pele; Intercorporal

Abstract

The Skin of Things: From Intercorporeal Poetics to Design Experience. The article examines how the intercorporeal relationship raises questions about the experience of becoming in design. The action entitled Corpo Presente (2018) by Rodrigo Almeida problematizes copresence. The study investigates the construction of conceptual meaning triggered by the change in the significant relationships of uses and functions. We will resume Gilles Deleuze’s notion of intermezzo to think of the event as an experience in design. We will investigate the transfiguration of the skin of bodies and the surface of objects as a new aesthetic experience in Design-Art.

Keywords: Design-Art; Experience; Event; Skin; Intercorporal.

Introdução

Tudo libera o saber da relação.

Edouard Glissant

Uma rede que pulsa interiorizando em si um rosto, gestos múltiplos, gritos sem voz e rumores têxteis. O trabalho de Rodrigo Almeida (2018) explicita como a produção do objeto de design apresenta o devir. O devir de um corpo presente. Intermezzo é a força que estrutura uma rede construída por organismos vivos e que expressam as cores do sangue, da flora, do céu e da terra: vermelho, verde, azul e marrom. O devir Design-Arte sugerido pelo trabalho de Rodrigo Almeida aborda o nascimento de um corpo objeto derivado do passado colonial. Um corpo rede que se constitui pela experiência da fratura, experiência que se impõe pela imagem do patchwork na superfície da rede e à qual podemos associar a ideia de fratura advinda da noção de intermezzo de Deleuze e Guattari. A questão que se apresenta é a da constituição de um passar-entre. Dito em outras palavras, é a presentificação do intervalo no qual um corpo se transforma em outra coisa.

Na performance Corpo Presente (2018) o intermezzo pode ser percebido como um tipo de rito que apresenta o devir, onde o objeto rede transfigura-se em design, moldando-se pelos gestos de um corp’outro. E tal como a noção de Deleuze e Guattari, o intermezzo apresenta-nos o inter-ser, isto é, um corpo que se liga a um outro para representar o movimento de transformação das coisas no espaço e no tempo. O que vemos é um processo de desterritorialização no qual tanto o corpo quanto o objeto são ressignificados. Assim, a experiência de interação do sujeito com o objeto perpassa um novo território voltado, então, à dimensão estética.

Dessa maneira, a função e a usabilidade do objeto cedem lugar para a sensorialidade. Esta ação corrobora a construção de um novo sentido para os objetos no design. O agenciamento proposto pela performance Corpo Presente realizada na Galeria Nicoli em 2018 apresenta-nos a imagem do devir: Design-Arte. É a partir desse processo que o objeto rede ativa os sentidos pela relação intercorporal. O corpo torna-se inseparável do objeto e na medida que a rede é agenciada pelo corpo do bailarino Eduardo Fukushima, as expressões sonoras e visuais propiciam ao espectador ou ao usuário participar da produção de um corpo outro, um corpo sem órgãos e com uma nova vida. A rede é um rosto que nos olha, um corpo presente que engendra agenciamentos das partes fraturadas do patchwork para a concepção do todo. Lembra-nos Deleuze: “o rosto não age aqui como individual, é a individuação que resulta da necessidade de que haja rosto (...) agenciamentos de poder têm necessidade de produção de rostos, outros não” (Deleuze, 2015, p. 47).

Retomamos tais aspectos para problematizar essa nova vida expressa pelo movimento do objeto encarnado. Objeto que pulsa e respira gerando novas percepções para o design e para a arte. O devir Design-Arte é o movimento de nascimento do corpo-rede no qual o gesto pulsante anuncia o rizoma, relacionando delicadamente a história, a cultura e os corpos.

A partir da performance Corpo Presente (2018), discutiremos a energia sonora do objeto Casulo, uma rede que se faz ouver, isto é, de um objeto que une dois sentidos: a visão e a audição. A rede é um corpo sem órgãos que se constrói pela sonoridade dos movimentos do bailarino, pela paragem do movimento corporal, pelo devaneio de cores que nos levam a pensar o passado colonial da cultura brasileira.

I. Casulo: Pelos Gestos de um Corp’Outro

O mais profundo é a pele. Paul Valéry

Encontramos em Deleuze (1988) a ideia de efeitos da superfície, que nos leva a enxergar a transformação das coisas sob outra perspectiva. Para Deleuze (1988, p. 5), os corpos das coisas (objetos e os demais seres vivos) são causas uns para os outros, logo, a relação que se estabelece entre esses agentes são acontecimentos. Para Deleuze, esse acontecimento de transformação é como um cristal (tal como o reflexo de um espelho ou como a superfície de uma reprodução imagética). Deleuze sugere pensarmos no espelho de Alice, de Lewis Carrol, como um acontecimento próprio ao devir. Pois a superfície acolhe a construção de sentido de tais mudanças: os corpos incorporais. Por isso, todo movimento de devir de um corpo que se transforma em um outro implica, igualmente, uma mudança ética, quer dizer, a mudança da essência das coisas. A transformação desses corpos e dos objetos pelo devir é um acontecimento que efetua a passagem do real para o simbólico, do histórico para o mítico, da criação para a fabulação.

A intercorporalidade designa as correspondências e os sentidos desencadeados pelas relações que estabelecemos com as coisas: “O sentido não existe fora da proposição (...) trata-se da coexistência de duas faces (...) o sentido é o exprimível (...) qual é o sentido de um acontecimento: o acontecimento é o próprio sentido” (Deleuze, 1974, p. 23). A profundidade da pele é uma alegoria utilizada por Deleuze para pensar todo e qualquer acontecimento de criação.

O designer Rodrigo Almeida concebe a performance Corpo Presente (Figura 1), utilizando como dispositivo o objeto de design intitulado Casulo. Tal objeto é uma rede cuja inspiração advém dos Parangolés do artista Hélio Oiticica. As redes na obra de Oiticia recebiam uma significação singular, pois elas estavam relacionadas à incorporação, ou seja, à encarnação do corpo na obra. Almeida afirma: a “Rede-casulo é como a semente que nos leva para um momento de interiorização e compreensão do próprio corpo no espaço cotidiano. É nascimento de um novo indivíduo que explode e eclode” (Almeida, 2020, p. 5) e complementa: a rede é um objeto atávico, mutante e protetor. O conceito do trabalho é, segundo Almeida, a incorporação dos gestos do objeto enquanto roupa e o movimento do corpo fomentando desse modo o sentido da rede. Enredar-se seria portanto restituir ao objeto a possibilidade de seu devir ora como roupa ora como rede.

Figura 1 Casulo, Almeida e Fukushima, dimensões variadas, couro textura crocodilo, algodão de tear manual, seda e manta acrílica, (PA+ 3), Galeria Nicoli, São Paulo. Fonte: Acervo Rodrigo Almeida. 

A rede vincula-se ao artefato vernacular da cultura brasileira e permite a Almeida investigar a estética do corpo, do objeto e do gesto, vinculando-se a outras narrativas. Como consequência, cria um outro vocabulário, por meio de apropriação e ressignificação. A força da fusão do objeto com o corpo eclode em novas possibilidades que deslocam o design de seu lugar estabelecido para outros territórios, nesse caso, o campo da arte. Esse deslocamento possibilita ao espectador experenciar o sensível a partir da imagem. Como afirma Coccia (2010, p. 44), o espírito e a cultura de um povo podem se produzir somente nessa atividade de emissão do sensível. Almeida evidencia a partir do sensível a fusão da cultura brasileira com outras referências, procurando desenvolver uma linguagem híbrida. A partir de um novo vocabulário para o design brasileiro, ele intenta lançar um manifesto por uma poética intercorporal, no qual se articulam os corpos e as coisas.

II. A Pele como Intermezzo das Coisas

O pensamento do rizoma estaria no início do que chamo de uma poética da relação, segundo a qual toda identidade se estende em relação ao Outro. Edouard Glissant

O objeto Casulo questiona noções universais do significado de vestir no que concerne ao vestuário funcional. Ademais, ele também questiona a utilidade da rede enquanto mobiliário destinado ao repouso do corpo. A confecção da matéria pela técnica do patchwork aponta para a leitura simbólica das texturas que, à maneira de Deleuze e de Guattari, manifestam o sentido da multiplicidade do rizoma. Nesse sentido, a justaposição dos extratos tem dimensão topológica, as texturas da pele animal, da trama do algodão e da tecedura do tear manual manifestam as práticas ameríndias anteriores à chegada dos europeus.

A multiplicidade dos materiais na superfície rompe com as hierarquias de valores e com as classificações relacionadas às práticas do artesanato e do projeto em design. Trata-se, nesse caso, de examinar o patchwork como uma alegoria das alianças culturais entre a América Latina e Europa. A rede de Almeida nos remete aos conflitos entre a modernidade e a tradição que configuram a nossa topografia geocultural. O casulo é portanto o intermezzo que configura a relação entre espaço e tempo, suscitando os conflitos da colonização e os desafios de romper com tais fluxos pelo processo crítico e memorial do pensamento decolonial.

Na cultura brasileira a rede é responsável pelo repouso e relaxamento de seus usuários, mas na leitura de Almeida ela adquire movimento e lirismo surreal. A partir dessa liberdade formal, ele cria um novo vocabulário integrando o objeto à roupa, a roupa ao mobiliário e o mobiliário ao corpo. Por intermédio da linguagem do patchwork, ele encontra uma superfície fecunda para colocar em questão o nascimento e a morte, o móvel e o imóvel, os limites e as fronteiras.

O projeto desenvolvido por Rodrigo Almeida (2018) evidencia não somente a experiência relacional no design, mas também revela o acontecimento-devir entre realidade e simulacro com a rede se apresentando como um objeto atávico, mutante e protetor. Retomando Glissant (1990, p. 23), podemos dizer que é por intermédio do objeto rede que efetua-se o rizoma. É a partir do estilo, que se configura em seu trabalho pela poética da relação, que nós podemos pensar no aspecto identitário. A dimensão intercorporal efetuada pelo hibridismo de materiais e pela interação com o usuário, tende a colocar em xeque a tradicional oposição entre o colonizador e o colonizado. O que encontramos em seu trabalho é, de certo modo, semelhante à proposição de Glissant. A poética da relação é, portanto, reconhecer a diferença que nutre o encontro entre os fragmentos, as texturas e os intervalos, tal como discutimos em nosso artigo: o intermezzo.

Esse intervalo no qual a diferença entre as partes é ressaltada resultado movimento dos materiais na superfície. Eles são, como dissemos anteriormente, a alegoria do acontecimento do devir. Para Germano (2018), o corpo ativado de cada bailarino tem o papel crítico de pensar a relação com os materiais, eles revelam o quanto os corpos dos objetos também são prenhes de vida. Eles são corpos vivos, flexíveis, mutantes e com limites. Foram eles que aqui ditaram as regras para o nascimento de novos móveis que nasceram com alma, com corpos presentes. Pode-se dizer que com a performance, a rede foi projetada para modificar a forma como nos relacionamos com o espaço e para propor a possibilidade de um outro deslocamento no espaço.

Considerações finais

Como vimos em nosso artigo, o projeto de Almeida (2018) possui uma autonomia que se constitui como expressão performativa da pele porque a rede é utilizada como um dispositivo corporal. Nessa instância relacional, inicia-se uma multiplicidade de experiências alicerçada por gestos processuais. Eles são um convite para nos movimentarmos, dançarmos e dialogarmos. O objeto rede remete à ideia de casulo porque desvela o ser em devir.

A performance cria uma experiência poética que transcende os limites entre o design e a arte. Como consequência, emerge a linguagem do Design-Arte, a partir do qual o usuário vivencia novas interpretações e sensações estéticas. O devir como o acontecimento da obra leva-nos a pensar os corpos e os objetos a partir das relações, não o inverso. Como resultado, há uma sensibilização dos corpos como um acontecimento -feito, tal como apresentamos por intermédio dos conceitos de Deleuze (1974). Nele, a matéria da superfície(in) forma a poética que fornece ao usuário o sentido da pele das coisas.

Referências

Almeida, R. (2020). @rodrigoalmeidastudio. [Perfil do Instagram]. Instagram. 17 set. 2020, em https://www.instagram.com/rodrigoalmeidastudio/ [ Links ]

Deleuze, G. (1974). Lógica do Sentido. São Paulo: Perspectiva. [ Links ]

Germano, B. (2018). Corpo Presente. São Paulo. Galeria Nicoli, em: https://galerianicoli.com [ Links ]

Glissant, E. (1990). Poétique de la Relation. Paris: Gallimard. [ Links ]

Valéry, P. (1979). Introdução ao Método de Leonardo da Vinci. Rio de Janeiro: Arcádia. [ Links ]

Received: December 01, 2020; Accepted: February 01, 2021; pub: March 01, 2021

Creative Commons License Este es un artículo publicado en acceso abierto bajo una licencia Creative Commons