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versão On-line ISSN 1853-9912

Palabra clave vol.7 no.1 Ensenada out. 2017

 

Dossier: Gestión de la información dilemas y perspectivas
[Perspectivas teóricas]

Bases teóricas de gestão da informação: das origens aos desafios na sociedade contemporânea

Regina Celia Baptista Belluzzo

Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Brasil
rbelluzzo@gmail.com


Resumo

Apresenta-se um cenário da gestão da informação, com reflexões acerca de suas bases teóricas, origens e os principais desafios que essa área deve enfrentar na sociedade contemporânea, cujas características trazem consigo demandas e necessidades de informação que requerem novas condutas de gestão e protagonismo das organizações, com destaque às bibliotecas e aos profissionais que nela atuam, em relação à temática que norteia as comunidades no sentido da exequibilidade da sustentabilidade. Considerações são oferecidas sobre a importância da gestão da informação como fator preponderante para auxiliar o processo de disseminação da informação, como mais uma estratégia para a tomada de consciência das comunidades envolvidas, considerando-se que aquelas que têm acesso à informação gerida adequadamente, considerada relevante, no tempo certo e utilizada de forma inteligente podem se intitular como competentes em informação e estão capacitadas para erradicar a pobreza e a desigualdade, melhorar a agricultura, proporcionar educação de qualidade e promover a saúde, a cultura a pesquisa e a inovação – palavras de ordem para essa área de gestão no mundo contemporâneo.

Palavras-chave: Gestão da informação; Sociedade contemporânea; Competência em informação; Gestores de informação; Acesso à informação.

Theoretical Bases of Information Management: from origins to challenges in contemporary society

Abstract

It presents a scenario of information management, with reflections about its theoretical bases, origins and the main challenges that this area must face in the contemporary society, whose characteristics bring with it demands and information needs that require new conducts of management and protagonism of the organizations, with a special emphasis on libraries and the professionals that work in it, in relation to the theme that guides communities towards the feasibility of sustainability. Considerations are offered on the importance of information management as a preponderant factor to help the process of dissemination of information, as a strategy to raise awareness of the communities involved, considering that those who have access to properly managed information considered relevant, at the right time and intelligently utilized, can be labeled as information literate and able to eradicate poverty and inequality, improve agriculture, provide quality education and promote health, culture, research and innovation – Important themes for this area of ​​management in the world contemporary.

Keywords: Information management; Contemporary society; Information literacy; Information managers; Information access.


Introdução

Conhecimento e informação são considerados como componentes decisivos das principais atividades produtivas da sociedade contemporânea. As fronteiras entre as organizações se diluem e a informação passa a ter, cada vez mais, valor inestimável, exigindo sistematização e organização para disponibilidade de uso imediato e à medida da necessidade.

Para Barreto (1994), ao mencionar a informação na sociedade como um fenômeno humano relata que:

A informação sintoniza o mundo. Como onda ou partícula, participa na evolução e da revolução do homem em direção à sua história. Como elemento organizador, a informação referencia o homem ao seu destino; mesmo antes de seu nascimento, através de sua identidade genética, e durante sua existência pela sua competência em elaborar a informação para estabelecer a sua odisseia individual no espaço e no tempo. A importância que a informação assumiu na atualidade pós-industrial recoloca para o pensamento questões sobre a sua natureza, seu conceito e os benefícios que pode trazer ao indivíduo e no seu relacionamento com o mundo em que vive.

A emergência de um novo paradigma, organizado em torno de inovações tecnológicas para a comunicação e a informação, tem possibilitado que a própria informação se torne produto e insumo do processo produtivo. A produtividade e competitividade das organizações dependem de sua capacidade de gerar, processar e aplicar com efetividade a informação, criando-se um novo modelo econômico baseado na informação e no conhecimento.

Dentre os maiores problemas enfrentados pelas organizações está saber lidar com a informação. A informação interna e externa que precisa ser tratada, organizada, distribuída e compartilhada, requer competência no que tange à capacidade de gerir a informação. “Na era da informação, qualquer que seja o produto ou serviço ofertado pelas organizações, a informação está presente no processo de desenvolvimento, buscando a informação adequada e relevante a ser aplicada no momento oportuno” (Ferreira e Perucchi, 2011, p. 446).

Para Valentim (2008) trabalhar com a informação requer competências específicas que qualificam a informação quanto à precisão, relevância e propósito. Entretanto, vale lembrar que nas organizações parece predominar uma variação no uso dos termos – dados, informação e conhecimento – em diversas formas e situações, quase sempre existindo uma ausência do entendimento conceitual dessa tríade e, em decorrência, pode haver prejuízo para ações que envolvem a seleção, classificação e o tratamento das informações realmente relevantes para a gestão em ambientes de negócios.

Considera-se como sendo dados os elementos brutos, sem significado, desvinculados da realidade. Segundo Davenport (1998, p. 19) os dados constituem “observações sobre o estado do mundo”, sendo símbolos ou imagens que não diminuem incertezas. São importantes para as organizações porque a partir dessa matéria-prima é promovida a criação da informação. A informação, por sua vez, diferentemente do dado, tem um significado, sendo os dados que fazem a diferença. Já o conceito de conhecimento possui um sentido mais complexo que o de informação, sendo a informação processada pelos indivíduos. Desse modo, pode-se dizer que a transformação de “dados” para “informação” pode ser apoiada por várias tecnologias e sistemas de informação, no sentido de organizar e dar contexto aos dados. No entanto, a conversão da informação em conhecimento requer um processo cognitivo individual no qual “(...) o conhecimento é produto de um sujeito cognitivo que a partir da internalização de diferentes informações e percepções elabora ou reelabora seu ‘novo’ conhecimento” (Valentim, 2008, p. 19).

Mediante o exposto, depreende-se ser necessária uma ampliação dos horizontes conceituais que tragam novas diretrizes e novos subsídios e permitam uma mínima organização de ideias e conceitos sobre a informação em um plano mais amplo e possível de se relacionar com o ambiente das organizações, no sentido de avançar em sua compreensão e permitir o desenvolvimento de instrumentos eficazes para sua gestão, sendo este o propósito deste artigo.

Inicia-se por apresentar as diferentes concepções da informação e que, certamente, influenciam as condutas de sua gestão nas organizações. Desse modo, ressalta-se a contribuição de Krippendorff (1993) que aponta para o fato de que a informação somente existe em face de um contexto relacionado a um conceito de verdade e a uma ética – como fator social – cujo consenso acerca deles existe ao menos de modo delimitado no seio de um grupo social. Segundo o autor, entretanto, estes conceitos e este consenso não se constituem um fenômeno isolado dos diversos grupos sociais, mas remetem a uma configuração institucional estável, contando com o apoio de um paradigma mais abrangente que prescreve uma lógica, uma noção de causalidade e também está vinculado aos conceitos de uma sociedade particular e ao papel dos indivíduos nela. Além disso, Braman (1989) propõe a introdução de uma hierarquia no pluralismo teórico que envolve as políticas de informação a partir das quais será possível articular uma regra para a tomada de decisão, um dos principais fatores que se inserem nos processos e ações das organizações. Esta hierarquia é baseada em diferentes níveis de abrangência, compreendida como em qual extensão os fenômenos sociais estão incorporados ao conceito, e de complexidade, ou quão elaborada e diversificada é a articulação da organização social que aparece através da ótica de uma definição em particular. Se se trabalha a partir destas dimensões, as definições de informação mais presentes em debates sobre políticas de informação podem ser agrupadas em quatro vertentes: informação como recurso (resource), informação como uma mercadoria (commodity), informação como uma percepção de padrões, e informação como uma força constitutiva da sociedade.

Braman (1989) conceitua a informação como recurso considerando que seus criadores, processadores e usuários são vistos como entidades discretas e isoladas, sendo que as informações surgem como partes que não se acham relacionadas a conjuntos de conhecimento ou fluxos de informações nos quais possam ser organizadas. Por este aspecto, a estrutura social é simples, composta somente de duas classes: os que detêm e os que não detêm a informação, e em ambos casos a extensão dos fenômenos tratados é limitada. A informação é vista como não tendo nenhum poder em si, tendo seu principal papel em sustentar outros conceitos. Para conceituar a informação como mercadoria, requer como complemento o conceito de uma cadeia de produção de informação, cujas etapas incluiriam: criação da informação (geração e coleta), processamento (humano e mecanizado), armazenamento, transporte, distribuição, destruição e busca. Diferentemente da noção de informação como recurso, que presume ausência de poder, fica perceptível o quanto a informação como mercadoria ganha em poder econômico. A informação como percepção de padrões amplia o conceito de informação ao incluir a ideia de contexto. As mais simples definições desta perspectiva abordam a capacidade da informação de reduzir incertezas, sendo um aspecto importante desta conceituação sua capacidade de melhor compreender a realidade da criação, processamento, fluxo e uso da informação. Assim, as definições nesta categoria ganham maior complexidade e ampliam os fenômenos e processos que podem ser considerados, tornando-as aptas a ser aplicadas em estruturas sociais altamente articuladas. Por último, a informação considerada como sendo uma força constitutiva da sociedade, adquire um papel ativo na modelagem do contexto, uma vez que ela não só é afetada pelo ambiente, mas torna-se ela própria um ator que afeta os outros elementos do ambiente, dado que – dependendo da totalidade dos fenômenos e processos nos quais a informação está envolvida e do nível de complexidade – pode ser aplicada a estruturas sociais com qualquer grau de articulação e complexidade. Além disto, este tipo de definição outorga à informação, seus fluxos e usos um enorme poder na construção da realidade social.

Certamente, que todas essas vertentes devem estar articuladas com as diretrizes que envolvem as condutas de gestão da informação nas organizações, a fim de que se consolide um ciclo de vida da informação, desde sua criação com elementos implícitos e explícitos de conhecimento, uma vez que diferentes tipos e recursos de informação, em distintos formatos e de natureza vária, demandam estruturas próprias dessa gestão.

Agestão da informação e os desafios contemporâneos

Mas, o que seria a gestão da informação nas organizações contemporâneas? Quais os seus desafios para os gestores? Que novas diretrizes e condutas são relevantes? São alguns dos questionamentos que emergem nesse contexto e que nos levam a algumas reflexões.

A gestão da informação é uma das preocupações e desafios que transparecem nos artigos científicos na área da ciência da informação e em outras áreas do conhecimento. Uma definição bastante citada é a da pesquisadora Regina Cianconi (1999), que em linhas gerais se assemelha às outras definições disponíveis. No entanto, é importante destacar que a autora detalha em seu artigo os aspectos que contemplam a informação considerando o processo da gestão, tais como “planejamento, seleção, coleta, análise, organização, otimização dos fluxos, normalização, disponibilização para uso e avaliação” (Cianconi, 1999, p. 33).

As origens da gestão da informação, segundo Black e Brunt (1999), não apresentam um consenso na literatura especializada, ocupando espaço significativo entre os anos 1980 e 1990. O termo gestão da informação surge nos anos oitenta, nos Estados Unidos e na Inglaterra, como gerência dos recursos informacionais, com foco em gerenciar a informação como recurso estratégico, tendo como marco a publicação do documento US Public Act -A130, pelo Governo dos Estados Unidos, segundo Cianconi (1999).

Para González de Gómez (1999), os processos percorridos na gestão da informação são imprescindíveis no uso decisório e estratégico da informação e sua aplicabilidade ao contexto das políticas governamentais e, igualmente, nas organizações produtivas.

De acordo com Lopes e Valentim (2010), a gestão da informação tem como objetivo apoiar a gestão das organizações por meio de processos que tragam eficiência e acessibilidade à informação e sua articulação em âmbitos de natureza vária a fim de propiciar a criação do conhecimento.

A gestão da informação também pode ser caracterizada como sendo um conjunto de princípios, métodos e técnicas utilizados na prática administrativa colocada em execução pela liderança para atingir a missão e os objetivos individuais e coletivos (Dias e Belluzzo, 2003). Pode-se complementar essa conceituação com a definição dada por Davenport e Prusak (1998, p.173) para a gestão da informação como um processo relativo a “um conjunto estruturado de atividades que incluem o modo como as empresas obtêm, distribuem e usam a informação e o conhecimento”. Em decorrência, é possível afirmar que a gestão da informação apresenta alguns pontos que podem ser considerados essenciais para o desenvolvimento de suas políticas compreendendo novas condutas, tais como: importância da qualidade, produção com criatividade e criticidade, e a satisfação do cliente, a fim de que a organização alcance objetivos que se voltam para as questões de produtividade, competitividade, inovação e desenvolvimento. Como resultados esperados e desejáveis deverão ocorrer: a satisfação dos clientes, a melhoria da imagem, a agregação de valor à informação e a criação de ambiência de aprendizado contínuo (Dias e Belluzzo, 2003). Desse modo, vale lembrar que as organizações passam a ser ambientes de aprendizagem, com novas características que se apresentam na forma de estruturas horizontais, colaboradores com poder, compartilhamento de informações, estratégia colaborativa, cultura adaptativa e conhecimento como o principal fator de vantagem competitiva.

Um aspecto de importância para a adoção de novas diretrizes relacionadas às condutas de gestão da informação nas organizações é a questão da subjetividade que se faz sempre presente, isto porque é um tema que está na ordem do dia em função da emergência de uma nova visão que destaca a importância da cultura, da liderança comunicativa e da aprendizagem organizacional. A ideia não se refere especificamente à complexidade, mas apresenta indícios da importância da subjetividade nas várias interpretações que ela possibilita (Uribe, 2001).

No mundo de negócios, as relações empresariais mudaram com as tecnologias da informação e comunicação, e as organizações ficaram mais complexas, sendo que os meios de produção sofreram modificações substanciais em decorrência desses avanços tecnológicos. Portanto, uma organização não pode mais ficar atrelada a métodos e técnicas de produção ultrapassada; a atualização passa, principalmente, pela gestão da informação para a geração do conhecimento.

Todavia, as organizações são sistemas complexos que, por sua vez, não apresentam um comportamento linear ao longo do tempo. O fenômeno da mudança tem sido explicado desde o enfoque de diversas perspectivas pelos mais diferentes teóricos organizacionais. Planejar a mudança é um importante passo na gestão de uma organização, porque se não for bem administrada os resultados podem ser ineficazes. Uma organização nada mais é que um agrupamento de pessoas com valores, desejos e aspirações diferenciadas, que acabam refletindo no próprio comportamento organizacional. E dado que a resistência é inerente ao processo de mudança, as organizações têm que ser criativas ao propor novas regras de conduta e ao incentivar a participação criativa dos próprios integrantes.

Já em 1999, Blondin fazia menção da emergência de um novo paradigma que afetaria a toda a atividade humana, derivado da extensão e a quase universalização das tecnologias (Quevedo, 2005, p. 30). É interessante ressaltar a visão desse autor porque, de fato, na sociedade contemporânea ela se faz presente, podendo-se sintetizá-la como segue: as mudanças deverão envolver a migração de um velho paradigma (caracterizado por fatores que envolvem sistemas analógicos, transistores, tratamento de dados, máquinas de calcular, softwares fechados, ordenadores individuais, multimídia, saturação da informação, continentes, produtos estáveis, produtos com serviços, custos, mercados baseados na oferta, mercados nacionais e de massas, criação-produção-difusão, culturas nacionais e hierarquias) para o elo com um novo paradigma, cujas características principais deverão envolver: sistemas digitais, microprocessadores, tratamento da informação, máquinas de comunicar, softwares abertos, trabalho em equipes, mídias convergentes, agentes inteligentes, conteúdos, evolução rápida de produtos, grupos virtuais, valor agregado, mercados baseados em demanda, mercado globais, segmentação de mercados, criação-difusão-produção, multiculturalidade e organizações em rede.

Essas mudanças já se tornaram realidade, algumas foram implementadas e outras se encontram em curso, influenciando o modelo de sociedade cuja identidade mais básica e essencial está residindo na gestão da informação sob influência dos seguintes aspectos:

    Tanto as organizações como as pessoas, precisam estar conscientes de que a informação está cada vez mais massiva, e, em decorrência da existência de um grande volume de informação, proporcionalmente, há pouco conhecimento decorrente do seu uso. Daí a importância de se efetuar a gestão de pessoas e a gestão do conhecimento nas organizações.

    Em uma sociedade com excesso de informação há necessidade de se investir na melhor compreensão acerca da informação de qualidade mediante a reflexão crítica.

    A internet surge como sendo um fator crítico de transformação das organizações em todas as suas formas de gestão da informação, isto porque ela mesma é considerada como sendo a própria informação, permitindo representar as organizações em suas formas de processos e atividades, e de como se relacionam com seu entorno (Cornellá, 2000).

Isso nos leva a refletir sobre estar sendo, neste século XXI, um lugar comum considerar que as chaves de êxito das organizações contemporâneas no enfrentamento dessas mudanças residem em sua capacidade para processar a informação mais massiva, gerando a partir dela o conhecimento e que tornam possível que o ciclo de inovação tecnológica possa ser socialmente interiorizado, apropriado e reutilizado de diferentes formas e que não sejam óbvias ou predeterminadas, expandindo o seu alcance inicial até o conjunto da sociedade.

Além disso, a gestão da informação também traz consigo a exigência de domínio sobre aspectos tais como: conhecimento dos diferentes tipos de informação utilizada na organização, a dinâmica dos seus fluxos, o ciclo de vida da informação e o conhecimento das pessoas acerca das relações que estabelecem com a informação (Ponjuán Dante, 2004). Ressalta-se, para tanto, a importância da adoção de novas diretrizes e condutas de gestão da informação que devem estar articuladas com esses aspectos, especialmente em relação ao ciclo de vida da informação, que se inicia desde que a informação é gerada em uma organização e que, por sua vez, dependem da colocação à disposição de pessoas e grupos, de elementos implícitos ou explícitos de conhecimento, demandando também diferentes tipos ou recursos de informação, em distintos formatos e que demandam estruturas próprias de gestão. Nesse sentido, para Tarapanoff (2001, p. 44), “o principal objetivo da gestão da informação é identificar e potencializar os recursos informacionais e sua capacidade de informação, ensiná-la a aprender a adaptar-se às mudanças ambientais”. De acordo com Choo (2006) as principais estratégias nesse sentido envolvem: promover a informação como insumo crítico e conscientizar sobre a corresponsabilidade relacionada ao processo de gestão; incentivar o compartilhamento da informação em processos e áreas de natureza vária na organização; estabelecer uma arquitetura informacional para a facilidade do trânsito de dados e sua interpretação; garantir a padronização e a consistência para a representação da informação; garantir a segurança dos fluxos e dos repositórios de informação; garantir a disponibilidade e o acesso aos dados e às informações, de forma contínua e pontual, e, ainda, estabelecer procedimentos de estímulo e que capacitem os colaboradores no acesso de informação apropriada e relevante. Todas essas condutas referem-se a uma área de destaque na gestão da informação e que se denomina governança informacional.

Outra questão importante nesse cenário organizacional em mudança é a posição de relevância que ocupam os fluxos de informação ou fluxos informacionais. Valentim (2010, pp.13-15) menciona que:

Os fluxos de informação ou fluxos informacionais se constituem em elemento fundamental dos ambientes informacionais, de tal forma que não existe ambiente informacional sem haver fluxos de informação e vice-versa. Os fluxos informacionais são reflexos naturais dos ambientes ao qual pertencem, tanto em relação ao conteúdo quanto em relação à forma. (...) destaca-se que o ambiente organizacional naturalmente impõe um ambiente informacional, cujos fluxos de informação trafegam conteúdos integrados aos saberes e fazeres daquele ambiente...

Essa mesma autora afirmou também que, em relação à sua constituição em ambientes organizacionais, os fluxos informacionais são constituídos por pelo menos três níveis organizacionais: o estratégico, o tático e o operacional, os quais estão relacionados com ações vinculadas às atividades e tarefas distintas. Além disso, destacou que há diferentes graus de complexidade, enquanto o nível estratégico enfoca as ações de longo e médio prazo, o nível tático se volta às questões gerenciais de médio e curto prazo, e o nível operacional se aproxima dos procedimentos que subsidiam as ações de curto prazo (Valentim, 2010). Face esses níveis e aos graus de complexidade que envolve a informação, portanto, pode-se afirmar que a gestão da informação é responsável por atender as necessidades e demandas informacionais dos sujeitos organizacionais, que depende de uma dinâmica própria e contínua, e que recebe a influência das mudanças de paradigmas que ocorrem ao longo do tempo e, mais especificamente, na sociedade contemporânea. Ressalta-se a importância das questões informacionais que promovem essa dinâmica, do contexto organizacional e do ambiente do entorno, encontrando na gestão da informação um importante aliado para desenvolver um ambiente organizacional favorável à criação de significado, à construção de conhecimento e à tomada de decisão, elementos esses identificados por Choo como sendo importantes (2006, p. 27-29) para a eficácia organizacional. A gestão dos fluxos informacionais nos âmbitos formal quanto informal, portanto, permitem que os sujeitos organizacionais possam usufruir dos benefícios que estes propiciam, quais sejam: melhor compreensão das mudanças que ocorrem, tanto no ambiente interno quanto externo; maior segurança para tomar decisões; maior capacidade para gerar conhecimento voltado à inovação; maior facilidade de acesso, uso e reuso de dados, informações e conhecimentos; melhor condição para a aprendizagem e o compartilhamento de ideias e conhecimento, entre outros (Santos e Valentim, 2014).

A gestão da informação enfrenta, ainda, outro desafio, uma vez que muitas organizações apresentam-se de certa forma vinculadas a territórios caracterizados por uma alta densidade de fluxos de interações sociais. Em decorrência, devem ser capazes de se vincular significativamente com esses fluxos para incentivarem a inovação nos respectivos ambientes de negócio. Mas, vale ressaltar também que essa área de gestão deve estar apoiada na visão de mundo que as ideias parecem estar substituindo o capital em sua função geradora de riqueza, sendo que o talento humano tem grande influência nesse contexto organizacional, como afirmou Castells (1994), que pela primeira vez na história, a mente humana é uma força produtiva direta. Em decorrência, as organizações estão buscando competências, uma vez que constituem o conhecimento utilizável em um contexto organizacional e de trabalhos específicos. Nesse sentido, o conceito dessas competências incluem três aspectos principais: uma base de conhecimento teórico resultante do acesso e uso da informação de forma inteligente, uma parte de conhecimento aplicado ao saber fazer e que depende da aplicação do conhecimento teórico e, por último, um espaço de aplicabilidade determinado pelos objetivos que a organização deseja alcançar. A conversão da informação em competência deve ser a missão da gestão da informação em um mercado competitivo que se baseia em uma mescla de conhecimentos teóricos, experiências, capacidades cognitivas, sentido comum, talento para resolver problemas e para agregar valor às interações sociais intensas, enaltecendo o trabalho em equipe e em rede.

Tem grande importância, nesse cenário que foi delineado, o papel das bibliotecas e dos profissionais que nelas atuam, uma vez que precisam ser protagonistas nas iniciativas formadoras para o desenvolvimento e a consolidação dessas competências. Destaca-se, em especial, a competência em informação, a qual deverá exercer sua missão principal no âmbito da gestão da informação, indo além de crescentes e marcantes possibilidades de acesso e compartilhamento de informação que são disponibilizadas nas organizações, enfrentando a relação dialética e o vínculo de poder dos criadores de conteúdos, os emissores e receptores que se mesclam em uníssono em uma só condição nos fluxos informacionais criados e decorrentes das relações sociais em redes.

Considerações finais

É importante destacar que despontam na sociedade contemporânea necessidades e demandas de diversas naturezas, destacando-se um tema de atenção primária – a sustentabilidade – enquanto um processo que está integrado nos mais variados âmbitos. Isso leva ao entendimento de que a sua gestão necessita do uso de informações de alto nível, ao passo que a geração de conhecimento será crucial para o desenvolvimento de soluções inovadoras para os problemas que envolvem os processos decorrentes.

A questão da sustentabilidade foi inserida na Declaração de Lyon (IFLA), durante a realização do Congresso Mundial da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA), cujo objetivo foi sensibilizar os “... Estados-Membros das Nações Unidas a reconhecer que o acesso à informação e as habilidades para seu uso de forma eficaz, são necessárias para o desenvolvimento sustentável (...)” (IFLA, 2014, p. 3). Isso vem inserir e consolidar a gestão da informação no documento que trata dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os ODS são um conjunto de 17 (dezessete) objetivos universais e 169 (cento e sessenta e nove) metas que compõem a Agenda 2030, considerada como um documento norteador das políticas governamentais dos Estados-Membros para o período 2016-2030 (IFLA, 2017). Esse documento da IFLA, elaborado em Lyon, fundamenta-se principalmente no acesso à informação como uma força transformadora do contexto social do indivíduo, por permitir que ele possa exercer os seus direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais; que possa ser economicamente ativo, produtivo e inovador; por possibilitar a aprendizagem e a aplicação de novas habilidades nas suas atividades cotidianas; por permitir o enriquecimento de sua identidade e expressões culturais; por possibilitar que ele tome parte na tomada de decisão e participe de uma sociedade civil de forma ativa e engajada; por assegurar a participação e o empoderamento, possibilitando que o indivíduo possa medir e avaliar o progresso dos compromissos públicos e privados de desenvolvimento sustentável (IFLA, 2014). A partir desses novos parâmetros ditados pela Agenda 2030 e pelos ODS, pode-se entender que a gestão da informação é fator determinante para a exequibilidade do desenvolvimento sustentável, corroborando com as afirmações de Pacheco Júnior et al. (2011, p. 78), em defesa de que a “dimensão da exequibilidade diz respeito à capacidade e habilidade de uma organização em atender às demandas explícitas e implícitas das sociedades, mostrando serem os seus resultados convergentes ao conceito de desenvolvimento sustentável”.

Para atender à exequibilidade, destacam-se, ainda, as afirmações de Valentim e Teixeira (2012), que identificaram a gestão da informação como o processo que engloba as ações e estratégias para a obtenção e utilização de recursos humanos, tecnológicos, financeiros, físicos e suas correlações que são utilizadas para gerir as informações internas e externas em formatos diversos. Posteriormente, a informação é oferecida como um insumo de grande utilidade e com valor agregado para pessoas, grupos e organizações objetivando atender suas necessidades informacionais. Assim, é recomendável que se estabeleça um elo entre a gestão da informação e a gestão da sustentabilidade porque o compartilhamento e uso de informações podem não ser a solução para o processo de exequibilidade, mas com certeza darão o suporte necessário para tomadas de decisão e criação de conhecimentos, além de agregar valor às ações das bibliotecas, enquanto organizações produtivas em favor da sociedade. Isso, certamente, irá resultar na solução dos problemas que surgirão no decorrer do processo de implementação da gestão da sustentabilidade.

A gestão da informação, nesse contexto, pode auxiliar o processo de disseminação da informação como mais uma estratégia para a tomada de consciência das comunidades envolvidas. Desse modo, aquelas que têm acesso à informação gerida adequadamente, considerada relevante, no tempo certo e utilizada de forma inteligente podem se intitular como competentes em informação e estão capacitadas para erradicar a pobreza e a desigualdade, melhorar a agricultura, proporcionar educação de qualidade e promover a saúde, a cultura a pesquisa e a inovação – palavras de ordem para essa área de gestão na contemporaneidade.

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Recibido: 28 de mayo de 2017
Aceptado:
 4 de septiembre de 2017
Publicado:
 09 de octubre de 2017

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