1. Introdução
Os debates em torno da competência em informação (CoInfo) tem se tornado cada vez mais latentes no cenário educacional, social, político, cultural e econômico devido às transformações e (re)significações que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) vêm empreendendo nas ações profissionais, institucionais e pessoais no que se refere ao uso inteligente crítico, reflexivo, criativo, proativo, responsável e ético das informações.
A CoInfo refere-se aos conhecimentos, habilidades, atitudes, capacidades e valores que os indivíduos devem se apropriar e internalizar para buscar, recuperar, avaliar, produzir, comunicar e utilizar a informação de maneira inteligente, responsável e ética para entenderem seu papel na e para a sociedade. Expressa-se a necessidade de internalizar a CoInfo “[...] para atender aos desafios que se fazem presentes ante a multidiversidade cultural e a complexidade atual de acesso e uso da informação encontrada em suportes de natureza vária” (Belluzzo, 2007, p. 35).
Tal é a transformação que as TIC engendram na vida das pessoas, que a Association of College and Research Libraries (ACRL, 2016) renovou o conceito “uso da informação” para “meta-uso” (meta-gestão) da informação ou metaliteracy que compreende o conjunto superior de conhecimentos, habilidades, atitudes, capacidades e valores em que as pessoas são consumidoras e criadoras de informação em espaços colaborativos. O “meta-uso” da informação requer compromissos comportamentais, afetivos, cognitivos e metacognitivos em sua relação com o ecossistema da informação.1
No âmago desse cenário, a Organização das Nações Unidas (ONU, 2014) acentua que as bibliotecas devem dispor as habilidades e recursos necessários para ajudar governos, instituições e indivíduos a comunicar, organizar, estruturar e compreender dados e informações que sejam fundamentais para o desenvolvimento sustentável, social, educacional e econômico de um país. Destaca que as bibliotecas podem oferecer treinamentos e desenvolver competências para ajudar as pessoas a acessar e compreender as informações e os serviços mais úteis para elas (ONU, 2014).
A International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA, 2012) aponta que as ações formativas em CoInfo devem ser trabalhadas em uma linha de transversalidade (integradas) e devem ser ofertadas pelas bibliotecas considerando “[...] tanto os aspectos gerais, comuns aos usuários/público a quem se dirige a formação, como as particularidades, de acordo com as condições de idade, gênero, nível educativo, disciplinas, profissões, cultura, língua e acesso ao conhecimento e uso das TIC” (IFLA, 2012) a fim de que essas ações respeitem os seus ritmos e estilos de aprendizagem e se ajustem às suas necessidades de informação e formação e ao tipo de organização a que pertencem e onde se inserem.
Na educação superior, a CoInfo deve ser reconhecida como um elemento de transformação social, visto que é nesse nível educacional que, em grande parte, são gerados os estudos e pesquisas que resultam em avanços científicos e tecnológicos. A CoInfo deve ser um elemento didático-pedagógico que apoia o tripé ensino, pesquisa e extensão, a integração social, a qualificação profissional, a liberdade de expressão e a salvaguarda dos valores democráticos.
As bibliotecas universitárias devem ser reconhecidas como instituições que amparam o processo de ensino-aprendizagem da CoInfo para a geração de conhecimento, inovação, apoio à pesquisa científica, desenvolvimento social e empoderamento. Os bibliotecários devem apoiar as propostas institucionais (Catts & Lau, 2008), o que nos remete à reflexão sobre o seu aprimoramento profissional em relação aos fundamentos da CoInfo.
O aprimoramento profissional é pontuado como uma das tendências de bibliotecas publicado no Relatório da International Federation of Library Associations and Institutions (2021) - IFLA Trend Report 2021 Update na “Tendência 17 – Qualificações importam”. O bibliotecário deve buscar formação para que a atualização de seus conhecimentos estejam em consonância com a complexidade do universo informacional. A IFLA (2021) disserta sobre a necessidade do bibliotecário desenvolver competências sobre o uso de ferramentas digitais, ter conhecimento sobre codificação e programação, ter a capacidade para avaliar as necessidades da comunidade, entre outras.
Em função das premissas dialogadas, o bibliotecário deve ter a CoInfo para que possa proporcionar as condições ideais de desenvolvimento/aprimoramento dessa competência em sua comunidade. Compreendendo esse cenário, o Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade Federal de São Carlos (SIBi-UFSCar)2 implementou o Programa de Formação de Competência em Informação para sua equipe, a partir da criação de espaços de conversa, interação e de formação. Esse Programa faz parte do Plano de Desenvolvimento de Pessoas (PDP) da Divisão de Desenvolvimento de Pessoas (DiDP) da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (ProGPe) e conta com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão (ProEx) e parcerias com a Coordenadoria de Inovações Pedagógicas e Formativas (CIPeF) da Secretaria Geral de Educação à Distância (SEaD) da UFSCar e do Grupo de Competência em Informação (GT - CoInfo) da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas de Informação e Instituições (FEBAB).3
A proposta deste trabalho fundamenta-se em apresentar este programa a partir de seu alinhamento com os documentos de literatura especializada sobre CoInfo “Plano de ação” da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA, 2007) e framework de Santos (2020). Espera-se que o programa e sua inter-relação com os documentos sirvam como referenciais teórico-práticos projetivos para a institucionalização da CoInfo em bibliotecas.
2. Referenciais e diretrizes para a elaboração de programas de competência em informação
A CoInfo consiste em um processo de desenvolvimento/aprimoramento de conhecimentos, habilidades, atitudes, capacidades e valores relacionados à busca, à recuperação, à avaliação, à produção, à comunicação, à disseminação e ao uso crítico, ético e responsável das informações (meta-uso) para a construção de conhecimento, o empoderamento, o exercício da cidadania, a compreensão da realidade, a tomada de decisão, entre outros.
Essa competência tem ganhado representatividade nos discursos de marcos políticos oriundos de declarações, manifestos e cartas como um pré-requisito educativo que conduz ao desenvolvimento social, cultural, econômico e político e à inclusão social e laboral dos indivíduos por meio do meta-uso da informação (FEBAB, 2011, 2013; IFLA, 2005, 2007, 2012; ONU, 2014; UNESP, UnB & IBICT, 2014). Os apontamentos expressos nesses marcos são incisivos em destacar a atuação do bibliotecário como o principal protagonista na promoção e desenvolvimento da CoInfo nas instâncias da educação, do trabalho, da ciência e tecnologia, do Estado e da sociedade civil organizada.
A International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA, 2019, tradução nossa) destaca que o setor bibliotecário deve ser unido e forte e que deve contribuir “[...] para o desenvolvimento de sociedades alfabetizadas, informadas e participativas”. Essa ação deve partir de um trabalho cooperativo, participativo e integrado das bibliotecas de todo o globo para que sejam ouvidas e ganhem representatividade e reconhecimento em âmbito mundial.
As discussões desses marcos destacam a imprescindibilidade de bibliotecários que atuam em bibliotecas universitárias de estabelecer parcerias com docentes, coordenadores, gestores, agentes culturais e demais profissionais para desenvolver programas e constituir uma comunidade de prática na instituição, com o objetivo de promover uma rede colaborativa para o compartilhamento de experiências e vivências em âmbito nacional e internacional em prol do “movimento” da CoInfo.
Uma das formas de se trabalhar com a formação da CoInfo é por meio de programas que consistem em ações institucionais sistematizadas e integradas por meio de um rigoroso planejamento que deve estar em consonância com as metas e os objetivos da instituição.
A Association of College and Research Libraries (ACRL, 2019) publicou uma diretriz que apresenta as práticas notáveis dos programas de excelência de CoInfo. Tem por objetivo auxiliar no desenvolvimento, na avaliação e na implementação de programas de CoInfo para diferentes públicos, pois correspondem a um conjunto de ideias que podem ser usadas para estabelecer, desenvolver, aprimorar e avaliar um programa. A ACRL (2019) destaca que esta lista não é prescritiva, uma vez que essas características devem servir como um guia que considera o contexto institucional, as metas e as estratégias do programa. As categorias propostas neste documento são: Categoria 1: Missão, Metas e Objetivos; Categoria 2: Planejamento; Categoria 3: Apoio Administrativo e Institucional; Categoria 4: Sequenciamento de Programas; Categoria 5: Pedagogia; Categoria 6: Comunicação e Advocacy; e Categoria 7: Avaliação.
Na esfera das discussões que permeiam os programas de CoInfo, as bibliotecas têm a responsabilidade de assumir seu compromisso pedagógico, empreendendo ações educacionais para o contexto da informação, utilização dos recursos e serviços informacionais. Para tanto, os bibliotecários devem desenvolver e aperfeiçoar suas competências a fim de que possam promover e ofertar diferentes tipos de serviços e produtos para sua comunidade.
Para fins desta pesquisa, apresenta-se os documentos que foram norteadores para o delineamento do Programa de CoInfo do SIBi-UFSCar.
2.1 Diretrizes sobre desenvolvimento de habilidades em informação para a aprendizagem permanente da International Federation of Library Associations and Institutions
A International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA, 2007) pontua que os bibliotecários são os especialistas na gestão da informação e devem assumir o papel principal no ensino da CoInfo. O bibliotecário desempenha sua função educativa quando, em parceria com outros profissionais, estrutura programas de desenvolvimento/aprimoramento de CoInfo para a comunidade de sua instituição.
Para a criação de um programa, é necessário criar um plano de ações autodirigido que auxilie na definição das ideias sobre como se pretende alcançar os objetivos propostos e deve-se levar os seguintes elementos para seu planejamento:
Missão: corresponde aos papéis essenciais do plano.
Visão: planejar os resultados a curto, médio ou longo prazo.
Justificativa: elencar os motivos, demandas e benefícios do programa. Tem um propósito de convencimento para viabilizar a execução do projeto.
Forças e fraquezas: destaque para uma análise da capacidade da biblioteca de desenvolver o plano.
Análise ambiental: descrever os fatores internos e externos que favorecem ou limitam a execução do plano.
Estratégias: descrever como se pretende alcançar os objetivos propostos.
Metas e objetivos: definição de metas gerais e dos objetivos do Programa.
Ações: atividades que serão desenvolvidas.
Recursos/ Requisitos: especificar quais recursos serão necessários em cada uma das ações.
Orçamento: estimativa de custo dos recursos para a conclusão das ações.
Cronograma: prazos para conclusão das atividades (IFLA, 2007).
A IFLA também ressalta que é fundamental que o programa seja arquitetado de acordo com as necessidades e os padrões de planejamento da instituição para que todas as ações formativas em CoInfo sejam significativas para a comunidade.
2.2 Framework para a implantação e o desenvolvimento da competência em informação em bibliotecas de Santos
O framework desenvolvido por Santos (2020) parte da prerrogativa de que o bibliotecário deve ter um olhar holístico sobre as ações que antecedem, efetivamente, o mapeamento e a implantação de um programa de desenvolvimento/aprimoramento da CoInfo em uma biblioteca de modo que as práticas formativas em informação sejam significativas para a comunidade.
Apresenta uma estrutura macro e transversal, não rígida, com referenciais teórico-práticos que objetivam guiar as ações dos bibliotecários a partir das reflexões: “Como começar? – Nível Institucional”, “Como desenvolver? – Nível de Ensino” e “O que desenvolver? – Nível da Aprendizagem”. Para cada nível, há as seguintes recomendações: ideia central: consiste em uma contextualização de cenários e de conceitos referente ao nível macro em que a instituição está inserida; marcos gerais: traçam um conjunto de disposições didáticas para a operacionalização da ideia central; e linhas de ação: são as atitudes que levam à aplicação dos marcos gerais:
Nível Institucional: a biblioteca deve apresentar o contexto em que está inserida, pois este será o ponto de partida para o desenvolvimento do programa. Esta etapa busca traçar um diagnóstico da instituição e deve caracterizar seus “profissionais, ações, práticas, serviços, experiências e processos institucionais e informacionais”. Seus marcos gerais consistem em adotar um conceito de CoInfo para relacioná-lo à missão, aos valores, às metas, aos objetivos e aos princípios pedagógicos da unidade de informação. Também consistem na definição de condições estruturais e financeiras no desenvolvimento de um programa.
Nível de Ensino: corresponde ao mapeamento da CoInfo dos profissionais e visa obter dados relacionados aos conhecimentos e percepções que eles têm sobre essa competência. Nesta esfera, deve-se trabalhar com a sensibilização e conscientização dos bibliotecários sobre os princípios e práticas da CoInfo. Este eixo destaca a função educadora do bibliotecário condição que demanda que ele esteja apto para promover essa competência. Seus marcos gerais consistem em mapear a CoInfo dos profissionais da informação, estabelecer parcerias com diferentes profissionais, pesquisadores e docentes e selecionar um modelo de CoInfo para auxiliar na estruturação dos planos e ações didático-pedagógicas.
Nível da Aprendizagem: busca empreender as ações voltadas para o desenvolvimento/aprimoramento da CoInfo dos usuários. Aconselha-se iniciar por um mapeamento de suas competências com a finalidade de estruturar atividades sobre o uso crítico, ético e responsável da informação. Seus marcos gerais consistem em mapear e desenvolver/aprimorar a CoInfo dos usuários por meio da criação de espaços de aprendizagem que retratem a cultura de sua comunidade de modo que as atividades formativas sejam significativas (Santos, 2020).
O bibliotecário, no âmbito da CoInfo, ativa suas funções educadora, mediadoras e gestoras, pois estabelece parcerias com vários profissionais, elabora estratégias formativas, educativas e informacionais para mapear e desenvolver/aprimorar a CoInfo dos profissionais que atuam em sua instituição e a de sua comunidade.
Para o planejamento e efetivação do Programa CoInfo SIBi-UFSCar trabalhou-se com o Nível Institucional, com o Nível de Ensino que encontra-se em andamento e, futuramente, o Nível da Aprendizagem será implantado nas ações do sistema.
3. Procedimentos metodológicos
A pesquisa é de abordagem qualitativa e caracteriza-se como descritiva-exploratória cujo universo é o Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Brasil. Considera-se pesquisa descritiva aquela que visa traçar um perfil relativo às características de determinada população ou de um fenômeno com a finalidade de identificar possíveis relações entre variáveis (Gil, 2022; Marconi & Lakatos, 2022) que, no artigo em foco, buscou compreender como a CoInfo estava inserida nas ações institucionais e na formação dos bibliotecários do SIBi-UFSCar. Já a pesquisa exploratória busca “[...] proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses” (Gil, 2022, p. 42), cuja discussão em pauta buscou inter-relacionar as ações do Programa CoInfo SIBi-UFSCar com documentos consolidados de literatura especializada sobre CoInfo a fim de traçar compreender o “estado da arte” dessa competência no sistema.
Utilizou-se a observação participante e o questionário como técnicas de pesquisa da realidade social entendida como os aspectos que envolvem o homem e seus múltiplos relacionamentos com outros indivíduos e instituições sociais (Gil, 2019). A observação participante possibilita ao pesquisador e aos participantes desenvolverem uma relação de confiança, necessária para os participantes revelarem “os bastidores das realidades” de sua experiência (Paterson, Bottorff & Hewat, 2003). Neste estudo, uma das pesquisadoras atuou como a coordenadora do Programa CoInfo junto à diretora do SIBi-UFSCar e de todas as ações que o envolveram, utilizando-se do questionário para realizar mapeamento institucional e dos conhecimentos e percepções dos servidores acerca da CoInfo.
3.1 Caracterização do universo de pesquisa
O SIBi é uma unidade vinculada à Reitoria da UFSCar e tem a responsabilidade de desenvolver, de maneira articulada, as políticas de gestão administrativa e informacional das bibliotecas e unidades vinculadas. É constituído por um Conselho, um Comitê Gestor composto pelos dirigentes das unidades vinculadas, Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho, Diretoria, Divisão de Tecnologia (DiT), Departamento de Produção Gráfica (DePG) e Departamento de Produção Científica (DePC). É responsável também pelo Repositório Institucional (RI) da Universidade, Portal de Periódicos da UFSCar, Comissão Permanente de Publicações e Oficiais Institucionais (CPOI). Estão vinculadas ao SIBi, quatro bibliotecas da UFSCar, quais sejam: Biblioteca Comunitária (BCo) no Campus São Carlos, Biblioteca Campus Araras (BAr), Biblioteca Campus Lagoa do Sino (B-LS) e Biblioteca Campus Sorocaba (B-So) e Unidade Multidisciplinar de Memória e Arquivo (UMMA).
A equipe do SIBi é constituída por 66 servidores distribuídos em suas unidades sendo 31 bibliotecários, 33 assistentes/auxiliares administrativos, 1 pedagogo e 1 administrador público.
O SIBi-UFSCar tem por objetivo apoiar o desenvolvimento do projeto institucional da UFSCar, disponibilizar e promover o acesso à informação, desenvolver/aprimorar a CoInfo e oferecer serviços de informação e espaços democráticos de acesso à cultura e ao lazer, transformando as bibliotecas universitárias em espaços de conversação e acolhimento de conhecimentos para ampliar o sentimento de pertencimento à comunidade e a aproximação da universidade com a sociedade.
Dentre várias perspectivas futuras do SIBi, destaca-se a modernização dos serviços e produtos oferecidos, motivados principalmente pela necessidade de atender novas demandas da comunidade acadêmica, desenvolver um programa padronizado de capacitação dos usuários e fortalecer a comunicação via mídias sociais. Considerando esse cenário, considerou-se pertinente e relevante propor o Programa CoInfo SIBi-UFSCar a fim de colaborar para que o SIBi-UFScar alcance essa perspectiva de desenvolvimento de modernização dos serviços e produtos oferecidos, qualificando, primeiramente, sua equipe e, posteriormente, sua comunidade.
3.2 Planejamento do Programa CoInfo do SIBi-UFSCar
O planejamento do programa teve início a partir de reuniões com a equipe de gestão do SIBi e com o GT - CoInfo da FEBAB. As discussões com os bibliotecários que atuam na gestão do sistema foram realizadas no mês de maio de 2021 e ocorreram semanalmente pela Plataforma Google Meet.
A partir das percepções e sugestões apontadas nas reuniões, o projeto foi estruturado em consonância com os objetivos propostos no planejamento estratégico da gestão do Sistema pelas bibliotecárias coordenadoras do projeto e pela diretora do SIBi. Posteriormente, foram definidos os resultados esperados com o Programa CoInfo SIBi-UFSCar a curto, médio e longo prazo. Na ocasião, aprovou-se duas propostas, a saber:
1) cronograma para efetivação de cada uma das fases; 2) realização de um evento interno denominado “Roda de Conversa” que visa integrar a equipe e apresentar o programa para todos.
A proposta aprovada pela gestão do SIBi foi encaminhada, no mês de maio, para reunião do Comitê Gestor. Na ocasião, a bibliotecária responsável pelo projeto Cristina Marchetti Maia e a diretora do SIBi Camila Cassiavilani apresentaram as propostas e objetivos do programa e da “Roda de Conversa”. Concomitantemente com as reuniões internas da equipe, foram firmadas parcerias com a ProGPe (UFSCar), reuniões com a CIPeF da SeAD (UFSCar) e com o GT - CoInfo da FEBAB. A ProGPe formalizou a proposta de educação continuada dos servidores, a CIPeF assessorou no planejamento pedagógico dos cursos e na definição de instrumentos avaliativos e o GT - CoInfo da FEBAB conferiu suporte na definição das fases e dos elementos constitutivos do Programa e na análise dos questionários com aplicação de pré-teste na Universidade Federal do Ceará (UFC) com bibliotecários que atuam na Biblioteca da instituição. O GT - CoInfo da FEBAB também ministrou aulas no 1º Ciclo de Formação e, futuramente, participará dos próximos Ciclos.
A partir da aprovação pelo Comitê Gestor da UFSCar e das parcerias firmadas, o evento interno foi realizado nos meses de junho a agosto de 2021. De setembro a dezembro de 2021 ocorreu o 1º Ciclo de Formação em Pesquisa Acadêmica. O 2º Ciclo de Formação sobre o uso ético da informação e boas práticas na pesquisa acadêmica teve início em março de 2022 e está em andamento. A proposta é que a cada semestre um novo Ciclo de formação seja promovido para que todas as dimensões e temáticas relacionadas à CoInfo sejam trabalhadas.4
3.3 Mapeamento da competência em informação das ações ofertadas nas unidades e da equipe
Realizou-se uma avaliação diagnóstica da CoInfo da equipe e das ações promovidas pelas unidades a fim de arquitetar o Programa de acordo com as necessidades do SIBi-UFSCar. Para tanto, foram estruturados 2 questionários intitulados “Questionário de Práticas de Competência em Informação” (questionário 1) e “Questionário para avaliação de competência em informação - SIBi-UFSCar” (questionário 2).
O questionário 1 foi encaminhado para 6 gestores com o intuito de identificar as ações que as unidades oferecem para promover a CoInfo. O instrumento teve 7 perguntas abertas e 3 fechadas e um campo, não obrigatório, para inserir informações adicionais. Em sua descrição, foi inserido um conceito sobre CoInfo para auxiliar os gestores que não estavam familiarizados com a temática. Os 6 gestores descreveram as atividades e conteúdos oferecidos nas respectivas unidades, relataram se houve análise diagnóstica ou estudo de usuários, explanaram como é realizado o planejamento das atividades, a metodologia utilizada e as estratégias adotadas para avaliação da aprendizagem dos usuários.
O questionário 2, composto por 19 questões abertas e 3 fechadas, teve como objetivo mapear as competências dos 66 servidores do SIBi-UFSCar a fim de obter uma compreensão sobre o conhecimento que tinham sobre os princípios da CoInfo e subsidiar a definição das atividades de formação. Ele foi estruturado considerando os seguintes elementos da CoInfo: identificação do servidor, área e setor onde atua e detalhes de sua formação; perguntas de autoavaliação acerca de seus conhecimentos e habilidades (níveis: básico, intermediário, avançado ou não tem conhecimento). Esses elementos permearam aspectos sobre necessidade, busca, avaliação, organização, síntese, comunicação e disseminação, tratamento da informação, desenvolvimento de coleções, acessibilidade, capacitações e ferramentas e recursos informacionais. Dos 66 servidores que compõe o SIBi, 44 pessoas responderam, sendo todos os bibliotecários e alguns assistentes.
A aplicação dos questionários propiciou averiguar os conhecimentos que os gestores e os servidores têm acerca da CoInfo, ação que oportunizou uma visão holística do contexto para o delineamento dos conteúdos das ações formativas que culminaram nos ciclos de formação.
4. Resultados
As diretrizes da IFLA (2007) e o framework de Santos (2020) destacam a importância da consonância das ações com a missão educacional da instituição e com o planejamento estratégico da biblioteca. Em conformidade com essa premissa, o Programa de Formação de Competência em Informação (CoInfo SIBi-UFSCar) foi postulado em analogia com esses documentos a fim de se obter uma visão global e reflexiva sobre os ciclos formativos, seus conteúdos, as ações concretizadas e futuras.
A escolha pelas diretrizes da IFLA (2007) e pelo framework de Santos (2020) nortearam todo o processo de elaboração do programa de CoInfo, auxiliando na identificação das necessidades da equipe, na definição das temáticas e das atividades desenvolvidas nos Ciclos Formativos e nas estratégias que serão delineadas para os próximos anos do Programa. Posteriormente, relata-se a experiência “Roda de Conversa”, ação que complementa o programa.
4.1 Alinhamento das atividades do Programa CoInfo SIBi-UFSCar com o framework de Santos
O Programa de Formação de CoInfo SIBi-UFSCar para bibliotecários tem suas linhas de ações institucionais e de ensino fundamentados no framework de Santos (2020), tal como se apresenta no Quadro 1.
Quadro 1 Atividades do Programa CoInfo SIBi-UFSCar com base no framework de Santos (2020).

Fonte: elaborado pelas autoras.
Um dos resultados da intersetorialidade das práticas do Programa CoInfo SIBi-UFSCar com o framework de Santos (2020) foi o 1º Ciclo de Formação de CoInfo dos bibliotecários da equipe do SIBi.
Os encontros ocorreram via plataforma Google Classroom. Em 6 deles, abordou-se discussões sobre fontes de informação e uso de recursos para busca e avaliação de conteúdo. Permeou-se conteúdos sobre critérios de confiabilidade e classificação das fontes de informação para tomada de decisão; técnicas para pesquisa em bases de dados e recursos on-line como formas de recuperação da informação; avaliação crítica da informação; apresentação de características e conceituações de coleções bibliográficas especiais pautadas nas perspectivas da memória e do patrimônio e orientação na formulação de estratégias para divulgação e disseminação de acervos especiais em bibliotecas. Posteriormente, houve 2 encontros: um focado no acompanhamento do trabalho final e o outro na apresentação dos resultados e reflexão com a equipe para verificar a percepção dos participantes a respeito do curso.
A efetivação do programa com base no framework destacou os seguintes pontos na formação em CoInfo dos bibliotecários: a atualização dos profissionais nos requisitos fontes de informação, estratégias de pesquisa e avaliação da informação; a importância de se traçar parcerias com profissionais e pesquisadores que possuem como foco de trabalho a informação em suas diversas aplicações e correntes; a integração de conteúdos para se elaborar um produto útil e significativo à comunidade da instituição e ao público externo; a troca de experiências para a construção de conhecimento e o estabelecimento de estratégias e ações.
Como resultado final do 1º Ciclo de Formação, foi elaborado um “Guia prático de Recursos informacionais da UFSCar”, com lançamento previsto para julho de 2022. O conteúdo foi criado de forma colaborativa pelos profissionais do SIBi e participantes do curso, tendo como base os conteúdos debatidos nos encontros dialogados.
Destaca-se que a parceria com o GT - CoInfo da FEBAB foi relevante para o planejamento e efetivação do Programa dadas a formação e a experiência profissional e acadêmica das integrantes com a CoInfo.
Os ciclos de formação terão continuidade para que outros princípios da CoInfo sejam trabalhados na perspectiva dos profissionais, a fim de que eles tenham condições efetivas de definir ações dessa competência voltadas para a comunidade da UFSCar e para o público externo.
4.2 Programa CoInfo SIBi-UFSCar com base no Plano de Ação da IFLA
Apresenta-se a descrição das atividades do Programa CoInfo do SIBi que já foram realizadas e que estão previstas para serem efetivadas de acordo com os elementos do plano de ação da IFLA (2007), tal como se ilustra no Quadro 2.
É importante destacar que todas as atividades do Programa CoInfo do SIBi corroboram com a “Tendência 4 - A ascensão de competências transversais” das tendências para bibliotecas publicadas no Relatório da IFLA (2021).
A IFLA (2021) trata da necessidade do bibliotecário reciclar seus conhecimentos e pontua a importância da incorporação das soft skills (competências suaves) na atualização de saberes desse profissional, quais sejam: resiliência, agilidade, flexibilidade, construção da confiança da comunidade, construção de parcerias, resolução de problemas e capacidade de responder positivamente ao inesperado. Todas essas competências são trabalhadas nos bibliotecários que congregam o Programa CoInfo do SIBi-UFSCar.
Essa tendência aponta que, por conta da evolução das TIC, é cada vez mais importante que os bibliotecários sejam capazes de inovar e adaptar-se a situações imprevistas. Tais circunstâncias são previstas no planejamento do programa.
A Tendência 4 também pontua que o bibliotecário deve ter a capacidade de compreender e responder às necessidades de sua comunidade, com base em inteligência emocional, de modo que os indivíduos tornem-se participantes ativos na Sociedade da Informação e do Conhecimento. Nas atividades do programa, fica perceptível que competências de colaboração, de escuta e de trabalho conjunto são permeadas na formação em CoInfo dos bibliotecários.
Após as fases de planejamento e escrita do projeto, organizou-se um evento interno para aproximar os servidores, promover conexões entre eles e tratar do início da aplicação do programa.
4.3 Rodas de Conversa
Os 6 encontros virtuais síncronos denominados “Rodas de Conversa” objetivaram promover a discussão e a interação entre a equipe do SIBi-UFSCar e ocorreram nos meses de junho e agosto de 2021. Os 3 encontros do mês de junho foram dedicados à interação da equipe com apresentação das Unidades, das Câmaras Técnicas e dos Grupos de Trabalho, vinculados ao SIBi. Os 3 encontros do mês de agosto foram dedicados às discussões de temáticas indicadas pela equipe. Para tanto, convidou-se palestrantes externos que dialogaram as seguintes temáticas: “Conversando sobre diversidade e acessibilidade”, “Práticas integrativas para promover a saúde e bem estar no trabalho remoto” e “Tendências, inovação e bibliotecas universitárias: o caso da BU/UFSC”.
Os encontros aconteceram semanalmente às terças-feiras dos meses de junho e agosto com 2 horas de duração (em média). Os encontros foram gravados e disponibilizados posteriormente, junto com as apresentações utilizadas pelos palestrantes, em ambiente virtual Google Classroom, cujo acesso está disponível aos servidores.
De acordo com o feedback dos participantes, obtidos por meio da aplicação de 2 questionários ao final de cada mês, este espaço virtual foi considerado positivo e acolhedor, uma vez que foi possível que todos se conhecessem dada a situação de distanciamento causada pela pandemia da COVID-19.
Também permitiu que a equipe conhecesse todo o trabalho que tem sido produzido pelo SIBi-UFSCar e dos resultados da nova gestão obtidos até o momento. Foi indicado pelos participantes que outras edições do evento ocorram periodicamente, diante da sua relevância para despertar o espírito de pertencimento ao sistema e auxiliar no desempenho de atividades de forma individual e coletiva.
Considerações finais
O presente trabalho descreveu a experiência de estruturação e planejamento do Programa de CoInfo para bibliotecários do SIBi-UFSCar. Destaca-se que orientar as ações com base nas diretrizes da IFLA (2007) e nos princípios do framework de Santos (2020) foi fulcral para estabelecer as relações intra e extra institucionais que otimizaram a consecução das estratégias do programa.
Evidencia-se que o apoio institucional é um diferencial, visto que os objetivos do programa devem estar em consonância com os da biblioteca a fim de que os bibliotecários sejam sensibilizados sobre sua participação e contribuição na melhoria do atendimento à comunidade.
Sublinha-se também, a importância do papel das parcerias internas e externas estabelecidas que auxiliaram e apoiaram todo o processo de planejamento nos níveis institucional e de ensino na formação em CoInfo dos bibliotecários.
Espera-se que a experiência relatada possa servir como norteadora para que bibliotecários alinhem, junto às instâncias gestoras e políticas de sua instituição, ações de formação e atualização de seus conhecimentos sobre a CoInfo.