1. Introdução
Como o periódico é o principal veículo de divulgação científica, um estudo bibliométrico pode destacar o valor teórico e prático de um campo de pesquisa (Cochrane & Mello, 2020; Concolato, Cunha & da Gama Afonso, 2020; Santos Germano, Mello & Motta, 2021; Silva Duarte, Costa Lima, Alves, Prado Rios & Motta, 2021). Seguindo tal linha metodológica e perspectiva, autores do setor de transportes tem buscado reconhecer as principais tendências e avanços, principalmente, àqueles relacionados a questões energéticas, de qualidade no transporte aéreo e impactos econômicos / ambientais dos transportes (Badassa, Sun & Qiao, 2020; Cavaignac & Petiot, 2017; Leung, Burke, Cui & Perl, 2019; Rocha, Costa & Silva, 2022; Zhao, Ke, Zuo, Xiong & Wu, 2020). Poucos estudos bibliométricos têm avançado sobre a perspectiva de reconhecer o transporte por bicicleta no âmbito do planejamento da mobilidade urbana. Perante os imensos desafios que se apresentam para a mobilidade, uma pergunta se faz: como tem sido a evolução dos estudos que destacam a bicicleta como alternativa para a mobilidade nas cidades?
Estudos emergem enfatizando a bicicleta como modo de transporte capaz de contribuir com o sistema de mobilidade das cidades, e como tecnologia capaz de contribuir para a saúde física e mental, ao mesmo tempo em que auxilia na preservação do meio ambiente (Akhand, Habib, Kamal, & Siddique, 2021; Bi & Romão, 2021; Viola, Torres & Cardoso, 2021; Zhang, Zhang, Duan & Bryde 2015), e que se apresenta como uma alternativa que, segundo Campisi, Acampa, Marino & Tesoriere (2020), pode contribuir com a redução dos imensos congestionamentos e com a melhoria da qualidade de vida das pessoas. E segundo Nikitas (2019), uma solução como meio de transporte simples, limpo e eficiente e que, inclusive, altera padrões de comportamento, contribuindo com novas perspectivas para o planejamento urbano.
Ao longo dos séculos, a bicicleta tem adquirido muitos significados, estabelecendo relações e contribuições no meio social, cultural e econômico (Pacheco & Velozo, 2017), emergindo como um meio de transporte alternativo viável, uma vez que há um interesse global pela promoção de soluções mais limpas e sustentáveis nas grandes cidades (Fishman, Washington & Haworth 2014; Oliveira, Nery, Costa, Silva, & Lima, 2021). Assim, a partir do tripé Bicicleta – Transporte – Mobilidade, este artigo tem o objetivo de realizar uma análise bibliométrica dos metadados nas bases da Scopus e da Web of Science (WOS), de 1999 até o ano de 2021, descrevendo dentre outras coisas, quais autores se debruçaram sobre esse tripé, que publicações alcançaram maior notoriedade, quais países de procedência de autores mais se destacaram, a quantidade de publicações anuais, as palavras chave mais utilizadas e a quantidade de citações por autores.
Esse estudo se justifica e se torna importante porque busca autores e pesquisas que redefinam ou vejam o problema da mobilidade urbana nas suas múltiplas dimensões e sob um novo prisma, e que, dessa forma, saiam dos modelos de solução que favoreçam grupos específicos de pessoas e/ou que sejam apenas paliativos. Nesse sentido, este estudo está alinhado com a perspectiva de Mello & Portugal (2017) ao transferir o foco do tráfego veicular para a mobilidade de pessoas. Como apontam Souza & Dantas (2020) e Akhand et al. (2021), questões de infraestrutura e determinadas características das cidades se tornaram grandes desafios, exigindo que gestores planejem políticas públicas para a mobilidade e não apenas projetem extensões das rodovias existentes que estejam saturadas e/ou criem novas rodovias. Para isso, segundo Zhang et al. (2015), a bicicleta surge como uma opção de transporte inteligente, sustentável e saudável, o que se torna viável, segundo Gössling & Choi (2015), devido a transformação de partes das vias destinadas ao tráfego de automóveis, em ciclovias e/ou ciclofaixas, garantido acessibilidade e segurança.
Além desta introdução, o artigo apresenta uma seção metodológica, que destaca os procedimentos seguidos em sua elaboração e, na sequência, a seção resultados e, por fim, a seção considerações finais e as referências utilizadas.
2. Metodologia
Esta pesquisa procura identificar e analisar de forma bibliométrica, por meio dos exames das bases científicas da Scopus e da WOS, a relevância da temática Bicicleta – Transporte – Mobilidade, amparada na quantidade de estudos e documentos que vem sendo desenvolvidos. Ou seja, para além dos estudos de Fishman et al. (2014), Akhand et al. (2021) e Viola et al. (2021), que outros estudos abordam a bicicleta como meio de transporte.
Segundo Dervis (2019) e Santos & Cunha Reis (2021), a metodologia empregada na bibliometria permite avaliar, quantitativamente, a produtividade dos resultados científicos. A pesquisa nos bancos de dados foi realizada e exportada no dia 26 de setembro de 2022. Para a obtenção dos metadados analisados de forma bibliométrica seguiu-se um roteiro que envolveu: a) a seleção da temática pretendida; b) a definição e utilização de palavras chaves e; c) a escolha da linha temporal.
Palavras buscadas: "Bicycle" and "Transport" and "Mobility"
Tipo de Acesso: Aberto
Pesquisar em: “Coleção principal da “WOS” e “Scopus”
Ano de Publicação: Limitado ao publicado até 2021
Tipo de Documento: Artigo em periódico
Campos de metadado: Tópico (título, resumo, palavras-chave do autor e o keywords plus).
Na base de dados da WOS foram encontrados 187 artigos entre os anos de 1999 e 2021, enquanto que na base da Scopus, foram encontrados 249 artigos para o mesmo período, exportando-se um total de 436 documentos. Para a verificação da integridade e exclusão de repetições foi utilizada a seguinte linha de comando no software R. Studio:
#Definir o diretório onde estão os arquivos e serão gravados outros
setwd("/Palabra_clave")
getwd()
#Carregar o app Bibliometrix para o ambiente R
library(bibliometrix)
#Importar os arquivos da busca para o ambiente R e convertê-los em tabela (dataframe)
S=convert2df("scopus.bib", dbsource = "scopus", format = "bibtex")
View(S)
W=convert2df("wos.bib", dbsource = "wos", format = "bibtex")
View(W)
#Fazer a união das duas tabelas com os dados das buscas nas bases de dados
Database=mergeDbSources(S, W, remove.duplicated = TRUE)
View(Database)
dim(Database)
#Gravar a tabela resultante em um arquivo formato Excel para a limpeza final dos dados
library(openxlsx)
write.xlsx(Database, file = "Database.xlsx")
Na junção dos documentos em um mesmo arquivo, obteve-se um resultado de 333 artigos válidos, dada a exclusão de 103 artigos em duplicidade (que aparecem, simultaneamente, em duas ou mais bases). Os 333 artigos selecionados foram baixados para estudos bibliométricos gerais. Por conta de incompatibilidades entre as bases, os arquivos no formato BibTeX das duas bases Scopus e WOS também foram utilizados, a fim de serem analisados com o apoio do software R. Studio, para, posteriormente, serem examinados no Biblioshiny.
O Biblioshiny é um ambiente de apuração bibliométrica com dados reunidos nas bases científicas, em que a interface gráfica é baseada na Web, por meio de arquivos consolidados na linguagem R. O software R é uma linguagem de código aberto e gratuito, na qual é possível selecionar o tipo de exame dos dados mais conveniente, de acordo com o objetivo do analista (Macedo, Lebres & Junior, 2022; Santos & Cunha Reis, 2021). As informações coletadas fornecem uma quantidade significativa de dados que podem ser cruzados, permitindo gerar análises de conteúdos, referências de autores que mais abordam a temática, palavras mais influentes e países com maior publicação.
3. Resultados bibliométricos
Na tabela 1, podem ser observadas as principais informações coletadas na pesquisa bibliométrica. Ao todo, aparecem 133 fontes, 333 artigos identificados com a abordagem foco do estudo, 956 autores, sendo 33 artigos com autoria única e uma média de 2,87 autores por artigo.
Observando-se a evolução temporal das produções científicas, é possível perceber, com o apoio da figura 1, que o tema começa a ser abordado nas publicações pelo mundo no final do século XX, mas é, sobretudo a partir do início do século XXI, que o tripé bicicleta, transporte e mobilidade ganha maior destaque, abordado em um quantitativo significativo de pesquisas (Zhao et al., 2020). Entre 1999 e 2011 verifica-se apenas 11 produções científicas, enquanto entre os anos 2012 e 2017 chega-se à marca de 71 produções. Contudo, a partir de 2018 há um salto, tendo-se, entre este ano e o ano de 2021, 251 produções, sendo 97 produções científicas sobre a temática apenas em 2021.
Ou seja, mais de 29 % das produções cientificas coletadas são do ano de 2021, o que sinaliza para a existência de um potencial de publicações ainda consideráveis para a década atual (2020-2029), uma vez que há um interesse global pela promoção de soluções mais limpas e sustentáveis nas grandes cidades (Oliveira et al., 2021).
A produção dos autores é algo importante para ser destacado nas análises bibliométricas realizadas, considerando-se também quem são esses autores e a que instituições e linhas de pesquisa estão atrelados. A figura 2 destaca os 20 autores mais relevantes sobre o assunto abordado, destacando-se os autores Axhausen, Nikitas e Behrendt, cada um com 5 documentos publicados.
Contudo, observou-se com a tabela 2, após análises dos dados, que o documento mais citado sobre tem como autor Fishman et al. (2014), com 289 citações. Publicado em 2014, sob o título: Bike share’s impact on car use: evidence from the United States, Great Britain, and Australia, o estudo avaliou o impacto do compartilhamento de bicicletas sobre o uso de carros, se tornando uma referência no assunto.
Com base na figura 2 e na tabela 2, se aponta que autores mais citados não necessariamente serão os que compõem a lista dos mais produtivos, ou seja, ter mais artigos publicados não significa ser autor de artigo mais citado.
Outro ponto que merece destaque é a produção científica de acordo com sua distribuição geográfica, conforme será destacado nas figuras 3 e 4. Verifica-se que 48 países registraram produção científica nas bases WOS. A figura 3, referente a WOS, demonstra que os Países Baixos, a Espanha e o Reino Unido lideram no quesito número de publicações, com 73, 68, 67 artigos, respectivamente, representando, aproximadamente, 32% de todas as publicações identificadas. Em seguida, se registram Alemanha (33), Itália (30), Estados Unidos (30), Brasil (29), Canadá (26) e China (26).
Em uma faixa inferior de publicações se ressalta, dentre outros países representados na figura 3, que Argentina, Bangladesh, Equador, Quirguistão, Lituânia, Cingapura, Tailândia, Venezuela, Chipre, Filipinas, Coreia do sul, Vietnã, tiveram menos que 3 artigos publicados sobre o assunto na base indexadora WOS. Isso é uma clara evidência de que o assunto desperta grande interesse de pesquisadores em países mais desenvolvidos, e que estudos de caso relativos aos países onde o tema está menos presente ainda possam ser uma interessante agenda de pesquisa científica, até mesmo de colaboração internacional.
Do total de 51 países registrados em Scopus, figura 4, se evidencia que os países Reino Unido, Países Baixos e Estados Unidos lideram no quesito número de publicações, com 54, 53, 52 artigos, respectivamente, representando, aproximadamente, 27 % de todas as publicações sobre a temática. Em seguida se registram Espanha (48), China (32), Itália (31), Bélgica (29), Alemanha (25), Brasil (23).
Na faixa inferior de publicações se ressalta, dentre outros países representados na figura 4, que Argentina, Bangladesh, Chipre, Equador, Quirguistão, Letónia, Lituânia, Malásia, Peru, Arábia Saudita, Sérvia, Venezuela, tiveram somente 1 artigo publicado sobre o assunto na base indexadora Scopus.
Já no que diz respeito aos países com o maior número de citações. Dos 10 países mais citados, o Reino Unido lidera, tendo 1015 citações, seguido pelos Países Baixos, Estados Unidos e Itália. Vale destacar que quando se observa a figura 3, quanto aos países com maior número de publicações na WOS, os Países Baixos estão na 1. posição com 73 publicações e Reino Unido na 3. e Espanha em 2.. Logo, podemos dizer que os artigos publicados por pesquisadores da Espanha não obtiveram o mesmo impacto que os do Reino Unido e Países Baixos.
Ressalta-se, inclusive, a capacidade de repercussão que os artigos dos Estados Unidos alcançaram. Na tabela 3, com dados do indexador WOS e Scopus que não podem ser somados por haver repetições que não podem ser glosadas, se destacam os estudos do Reino Unido (1015, 774), Países Baixos (870, 767), e Estados Unidos (731, 712). Fenômeno semelhante ocorre com Canadá, que consegue ter boa repercussão nas revistas indexadas em WOS, mas baixo impacto nas revistas indexadas em Scopus.
Em WOS se registram 74 periódicos que publicaram artigos com o foco mencionado. Em Scopus são 106 periódicos que apareceram nos metadados. O periódico Sustainability se destaca como principal veículo de divulgação temática com o dobro de artigos publicados em comparação com a revista Transportation research parte A: policy and practice. A revista Sustainability é tão expressiva que, sozinha, tem mais publicações que as duas revistas subsequentes do ranking juntas (tabela 4). Outro periódico que mais publicou foi a revista Transportation Research Part A: policy and practice. As outras publicações encontram-se fragmentadas em diversos periódicos.
Um dado que chama atenção nas bases é a grande quantidade de revistas, sendo 50 com uma única publicação na WOS e 74 na Scopus. Embora esses dados revelem uma variedade de revistas que abordam a temática, também realçam, mais uma vez, o predomínio da revista Sustainability na produção de estudos que tratam de bicicleta, transporte e mobilidade. Isolando-se as revistas mais citadas em cada base estudada, se observa que a revista Transport policy, que publicou um artigo seminal de 2007, consegue se posicionar como uma das mais citadas na Scopus. Mas não entre as revistas indexadas na base WOS.
Interessante destacar o periódico Sustainability que teve uma primeira publicação em 2017, desde então publicou 36 artigos de grande repercussão nas bases, tanto Scopus quanto WOS. Também há de se destacar a revista Transportation research Part A, que fez a primeira publicação com tal foco e que com 18 artigos publicados obteve citações de 416 na Scopuse 752 na WOS.
Seguindo na análise, se avança sobre as palavras chaves dos autores. Utiliza-se a nuvem de palavras por destacar os termos com maior relevância, que estão sendo mais mencionados, discutidos, compartilhados e presentes nas pesquisas sobre o tema. Na figura 5 e 6 estão destacados os assuntos mais importantes do campo temático proposto. Logo, percebe-se que os conteúdos referentes a Transporte, Bicicleta, Mobilidade, tem como palavras mais destacadas: transporte por bicicleta e mobilidade. Mas também pode se apontar um direcionamento para palavras ou expressões como bicicletas, transporte público, seguidos de comportamento de viagem e sustentabilidade.
Embora em menor proporção, há menção de bicicleta elétrica, vislumbrando-se menções a tendências que, acredita-se, serem irreversíveis, além de serem assuntos de grande interesse de pesquisadores que estudam mobilidade urbana.
Sobre o processo de colaboração científica, verificado por meio de coautorias, evidenciando troca de conhecimento e experiências, verifica-se, como apresenta a figura 7, que o Reino Unido e a Espanha são os países com o maior índice de colaborações em WOS.
Já na colaboração científica em periódicos indexados em Scopus, verifica-se, como apresenta a figura 8, que Estados Unidos, Reino Unido e Países Baixos são os países com o maior índice de colaborações em Scopus.
Ao analisar as figuras 7 e 8 se percebe grandes similaridades entre as colaborações dos artigos publicados, intensa colaboração entre países da Europa e pouca interação entre pesquisadores da América do Sul. A análise proposta neste artigo mapeou como o meio de transporte bicicleta tem sido estudado no contexto da mobilidade sustentável.
O artigo trás evidencias de que o tema é emergente na literatura, que há muita literatura recente sobre a temática e oportunidade de colaboração internacional que vem avançando dentre os pesquisadores das bases selecionadas. É necessário observar que poucas revistas indexadas oriundas da América do Sul, África e Asia, tem publicado sobre o assunto, o que pode ser uma evidência de que o assunto ainda não alcançou interesse dos pesquisadores da região ou os indexadores WOS e Scopus ainda não conseguiram indexar periódicos nessas regiões em uma quantidade que viabilize mensurar a repercussão das pesquisas desenvolvidas nelas.
É importante notar que a realização de deslocamentos por bicicleta só assumiu uma posição de destaque nas redes de pesquisas a partir da intensificação do debate sobre sustentabilidade. As duas primeiras publicações datam de 1999, depois 2007. Até 2012 só havia o registro de 16 artigos publicados com a ênfase escolhida. Acredita-se que o avançar das redes de pesquisa sobre o tema meio ambiente conduz e ratifica que os países mais produtivos ainda são os países mais citados, o que sinaliza que os trabalhos desenvolvidos por pesquisadores de países menos desenvolvidos têm dificuldade de despertar o interesse de pesquisadores dos países mais ricos. A base de dados também permitiu identificar pouca interação entre pesquisadores de países em desenvolvimento e os desenvolvidos.
Considerações finais
A mobilidade urbana é uma questão sensível praticamente em todas as metrópoles do mundo e por causa disso, é mister a necessidade de elaboração de um plano de mobilidade urbana comprometido com a sustentabilidade, como apontam Mello & Portugal (2017). As modalidades de transporte menos poluentes acabam se destacando nesses debates e por isso, a temática Bicicleta-Transporte-Mobilidade foi alvo do presente estudo, que buscou compreender e analisar a realidade das publicações científicas sobre o assunto por meio de abordagem bibliométrica.
A pesquisa identificou a importância do assunto principalmente a partir da relevância que periódicos de todo o mundo, indexados nas bases de dados da Scopus e WOS, deram a temática. Os resultados das análises bibliométricas, com o uso do pacote Bibliometrix, do Software R Studio, evidenciaram quais países, pesquisadores e periódicos têm se debruçado sobre o tema ao longo das últimas décadas.
A primeira publicação encontrada nas bases data do final do século XX, ano de 1999. Como era de se esperar, com temáticas que envolvem mudança de cultura e comportamento, os estudos identificados começaram a ser desenvolvidos de forma embrionária, com apenas 6 publicações científicas ao longo de 12 anos. Contudo, a partir de 2018, foram registrados 333 artigos, sendo 97 produções científicas, apenas no ano de 2021, o que representa conforme abordam Mello & Portugal (2017), uma mudança de paradigma no planejamento da mobilidade urbana sustentável, com a valorização do transporte coletivo, e, sobretudo, o incentivo e o reconhecimento das contribuições que o transporte não motorizado pode dar para essa transformação.
Ao todo, foram encontrados, nas duas bases de dados, 333 artigos publicados, sendo o periódico de maior prevalência de publicações a revista internacional, interdisciplinar, acadêmica, de acesso aberto e revisada pelos seus pares, Sustainability. Em relação à distribuição geográfica das produções científicas e da influência destas, percebe-se que no primeiro item, os Países Baixos se destacam, seguidos de países da Europa e dos Estados Unidos. Porém esse destaque se inverte quando se observa a influência considerada por meio das citações, já que os artigos oriundos do Reino Unido foram os mais imponentes, com 1015 citações em WOS e 774 em Scopus.
A análise proposta neste artigo mapeou como o meio de transporte bicicleta tem sido estudado no contexto da mobilidade sustentável. O artigo trás evidencias de que o tema é emergente na literatura, que há literatura recente sobre a temática e oportunidade de colaboração internacional que vem avançando dentre os pesquisadores das bases selecionadas. Voltando-se agora para os autores, vê-se que dentre os 20 autores com mais publicações revelados pela plataforma de análise biblioshiny. O levantamento bibliométrico revelou ainda que o trabalho Fishman et al. (2014) tem sido de grande relevância, tendo alcançado mais de 289 citações até o ano de 2022. Por fim, dentre as palavras mais evidenciadas na nuvem de palavras estão transporte de bicicleta, mobilidade, transporte público, bicicletas, comportamento de viagem e sustentabilidade, permitindo perceber algumas prováveis conexões que tem sido feitas nestes estudos. Nesta análise é possível perceber que as palavras de maior destaque se conectam ao fato de que a bicicleta é um meio de transporte desejável, como aponta Zhang (2015) por vários motivos, principalmente pelo fato de que andar de bicicleta é ecologicamente correto, barato, saudável e agradável.
De uma maneira geral a bicicleta entrou na agenda de pesquisa de pesquisadores de diversas áreas, revistas de engenharia, de geografia, de sustentabilidade, de gestão, transportes, energia, uma lista de áreas com periódicos que abriram espaço para publicação de estudos que permeiam desde questões mais simples relacionadas ao uso e comportamento, até as relacionadas a saúde, ao processo de descarbonização das cidades, e ao processo de infraestrutura de compartilhamento. Como sugestão de estudos futuros se aponta a relevância do desenvolvimento de estudos sobre bicicletas nas cidades, principalmente no que se refere a descarbonização das cidades e infraestrutura de compartilhamento.