SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.34 número2Tendencias de investigación en la enseñanza de la física en revistas académicas iberoamericanasConstrucción de un sistema de detección de partículas para su aplicación en la enseñanza de física de partículas índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

  • Não possue artigos citadosCitado por SciELO

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista de enseñanza de la física

versão impressa ISSN 0326-7091versão On-line ISSN 2250-6101

Rev. enseñ. fís. vol.34 no.2 Cordoba set. 2022

 

10.55767/2451.6007.v34.n2.39482

Investigacón didáctica

Uso de história em quadrinhos na abordagem do conteúdo quantidade de movimento e impulso

Using comics for approaching momentum and impulse

 

Marcela Vitoria Silva Oliveira

Weimar Silva Castilho

Wellington Pereira de Quelros

 

1    Licencianda do Curso de Física do Instituto Federal de Educado Ciencia e Tecnología do Tocantins - Campus Palmas Quadra AE 310 Sul, Av. NS 10, S/N - Plano Diretor Sul, Palmas - TO, 77021-090.

2    Professor de Física do Instituto Federal de Educadlo Ciencia e Tecnologia do Tocantins - Campus Palmas Quadra AE 310 Sul, Av. NS 10, S/N - Plano Diretor Sul, Palmas - TO, 77021-090.

3    Professor do Instituto de Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Bloco V - Rua UFMS -Vila Olinda-CEP 79070-900 -Campo Grande, MS, Brasil.

*E-ma¡l: weimar@ifto.edu.br

 

Recibido el 15 de julio de 2022

Aceptado el 16 de noviembre de 2022

 

Resumo

Há mais de um sáculo, as Historias em Quadrinhos (HQs) promovem diversao e sao utilizadas para divulgadlo aos seus leitores. As HQs possuem um potencial pedagógico que pode ser aproveitado em diversos conteúdos, combinando a leitura e a interpretadlo visual. Neste trabalho, analisamos os processos de ensino e de aprendizagem de uma estratágia que utiliza HQs no primeiro ano do Ensino Mádio. Este relato de experiencia apresenta um estudo de cunho quali-quantitativo. As HQs foram utilizadas na introdudao dos conteúdos de quantidade de movimento e impulso com a finalidade de explicar os fenómenos físicos abordados. Os resultados evidenciam que o uso das HQs como estratágia de ensino pode facilitar os processos de ensino e de aprendizagem de forma eficaz, servindo como elo entre a realidade do estudante e os conceitos científicos apresentados em sala de aula.

Palavras-chave: Aprendizagem; Ensino de Física; Historias em Quadrinhos.

Abstract

Comics, for more than a century, have been promoting entertainment and are also used for dissemination to their readers. Comics have the pedagogical potential that can be used in different contents, combining reading and visual interpretation. In this work, we analyze the teaching and learning process of a strategy using comics to teach the concepts of momentum and impulse, in the first year of high school. This experience report presents a qualitative-quantitative study. The comics were used to introduce the contents of momentum and impulse, in order to explain and motivate about the physical phenomena addressed. The results showed that the use of comics as a teaching strategy can facilitate the teaching and learning processes effectively, serving as a link between the student's reality and the scientific concepts presented in the classroom.

Keywords: Learning; Teaching Physics; Comics.

 

i. introducto

 

Os desbravadores, ao saírem na colonizagao de outros continentes, difundiram em muitos países um modelo de ensino que nao se preocupava com o desenvolvimento crítico dos estudantes (Megid Neto, 1990). Diante disso, o ensino de Física, que se tornou uma disciplina nos currículos secundaristas no Brasil em 1837, ao longo das décadas caracterizou-se como uma unidade curricular com métodos expositivos, baseados em memorizagao e repetidlo mecánica dos seus conceitos, com uma transmissao sistematizada do conteúdo (Megid Neto, 1990). O modelo de ensino dos dias atuais nao difere do ensino do período do Brasil Império. As similaridades apresentam-se de forma complexa e distante da realidade dos estudantes, e os conteúdos sao tratados de forma técnica, resultando em uma prática pedagógica desvinculada e totalmente descontextualizada da realidade do estudante (Cristino, 2016).

Os avangos culturais e tecnológicos influenciam diretamente o comportamento e a vivencia de uma sociedade, assim como o ambiente escolar. Segundo Brum da Rosa e Kalhil (2019), a escola necessita acompanhar o desenvolvimento da sociedade, procurando compreender novos interesses e formas de aprendizagem que estimulem o desenvolvimento dos estudantes, através do emprego de novas metodologias que os tornem protagonistas da própria aprendizagem, e abandonando a transmissao sistematizada do conteúdo produzida pelo ensino ultrapassado. Nesse sentido, Baez (1979, p. 9) aponta em relagao a aprendizagem de ciencias: "Pode-se afirmar com seguranga que nao há país no mundo, avangado ou em desenvolvimento, que nao necessite aprimorar o ensino de ciéncia".

As críticas ao ensino tem voltado a atengao de educadores para novas metodologias que atendam as expectativas dos estudantes e acompanhem os novos interesses causados pelo desenvolvimento cultural e tecnológico da sociedade. "Na aprendizagem ativa, entende-se que o estudante é o protagonista, o maior responsável pelo processo de aprendizado, que deve se engajar de maneira ativa na aquisigao do conhecimento, focando seus objetivos e indo atrás do conhecimento de maneira proativa" (Gudwin apud Zavatini, 2021).

Diante desse contexto, Silvério e Rezende (2012), Souza (2018), Vergueiro (2004), Testoni (2010) e Alvares (2019) avaliaram a possibilidade do uso de Historias em Quadrinhos (HQs) e tirinhas para facilitar os processos de ensino e de aprendizagem de Física. Nota-se que, de acordo com Mendonga (2005), tirinhas sao um subtipo das HQs, produgoes mais curtas de até quatro quadrinhos que mantem os mesmos elementos na sua construgao. A problematizagao do trabalho gravitou em torno da seguinte questao: as HQs podem contribuir para incentivar os estudantes do Ensino Médio a aprenderem os conteúdos de quantidade de movimento e impulso? Para que a aprendizagem seja efetiva, é importante que o material desperte o interesse e motive o estudante, assim, propoe-se utilizar as HQs como objeto auxiliar didático.

A Física é comumente ministrada apenas com o auxílio do livro didático, dessa forma, os estudantes tem sua imaginagao limitada as figuras utilizadas no material. Para que os conceitos físicos, tao abstratos, sejam compreendidos dentro da sala de aula, é viável utilizar historias em quadrinhos pois as mesmas tem o poder de produzir a imaginagao ao leitor, visto que, quando se le um quadrinho, imaginam-se os movimentos do ambiente, dos personagens e até mesmo de suas falas, fator importante para entender conceitos físicos dentro da sala de aula. Portanto, este trabalho tem como objetivo analisar os processos de ensino e de aprendizagem de uma estratégia que utiliza HQs para ensinar os conceitos de quantidade de movimento e impulso, no primeiro ano do Ensino Médio, e demonstrar a releváncia do uso de materiais auxiliares lúdicos, como as HQs, em sala de aula.

II. O DESENVOLVIMENTO DAS HQS E O USO NO BRASIL

Ao lembrarmos da arte rupestre e de artes como a tapegaria de Bayeux (séc. XI), observamos como o uso da imagem sempre esteve presente como meio de comunicagao na sociedade, se desenvolvendo e continuando presente no dia a dia. Para Quella-Guyot (1994), as HQs sao definidas como uma arte narrativa que se apresenta por meio de uma sucessao de imagens sequenciais, fixas e organizadas. Eisner (1999) define como "arte sequencial", uma manifestado artística e literária por meio da disposigao de figuras e palavras para narrar uma historia ou dramatizar uma ideia. Essa definigao é muito ampla, permitindo também a insergao dos desenhos animados.

As HQs, como forma de comunicagao em massa, se consolidaram principalmente nos Estados Unidos no final do século XIX (Vergueiro, 2004). No início da Guerra Fria, multiplicaram sua popularidade com diversos géneros, desde tirinhas religiosas as historias de terror, e como forma de expressao entre os jovens, que criavam HQs para discutir assuntos como drogas e sexualidade. Apesar da popularidade, a sociedade estadunidense vivenciou um movimento contra a produgao das HQs, com bases em publicagoes científicas questionáveis, como o livro Seduction of the Innocent (1954), do psiquiatra alemao Frederic Wertham, que tinha a tese de que as HQs eram uma literatura popular que poderia trazer más influencias, um sério fator com potencial de gerar delinquencia juvenil.

Apos os movimentos contra a produgao das HQs diminuírem, o uso das HQs de cunho educacional foi redescoberto na década de 1970 na Europa, desde entao, em diversos países, cada vez mais obras foram produzidas devido ao seu sucesso comercial (Eisner, 1999). No Brasil, as HQs receberam inicialmente o nome popular de gibis. Com a lei n. 9.394/96 (LDB) e com os Parámetros Curriculares Nacionais (PCNs), as HQs foram reconhecidas como ferramentas didáticas que podem facilitar a compreensao dos conteúdos ensinados (Vergueiro e Ramos, 2009). Alguns projetos seguindo as diretrizes legais sobre o uso das HQs foram desenvolvidos e disponibilizados na internet e podem auxiliar os professores em suas aulas, tais como: Física em Quadrinhos (Souza, 2014), Introdujo Ilustrada a Física (Gonick e Huffman, 1994), Guia Mangá Universo (Ishiwata, 2010), Guia Mangá de Física: Mecánica Clássica (Nitta e Takatsu, 2010), Guia Mangá de Eletricidade (Fujitaki, 2010) e Quadrinhos para Cidadania (Caruso e Silveira, 2009), além de outros materiais pedagógicos.

Dentro do contexto da construyo do conhecimento por meio da autonomia dos estudantes, é interessante incorporar a ludicidade das HQs, visto que sao bem utilizadas em outras unidades curriculares de ensino. De acordo com Silvério e Rezende (2012), as HQs contribuem para que o estudante amplie e aprofunde a leitura; além disso, apresentam-se como um instrumento didático pedagógico que nao limita o conhecimento apenas a sala de aula, ensejando a autonomia do leitor. Como as HQs sao populares em meio ao público infantojuvenil, existe uma facilidade de trabalhá-las em sala de aula; assim, para Vergueiro (2004), essas artes sequenciais podem aumentar a motivado dos estudantes, agujando sua curiosidade e desafiando seu senso crítico, através da combinado de imagem e texto, que produzem a imaginario. O alto nível de informado das HQs amplia a compreensao dos conceitos de uma forma que outras atividades isoladas nao seriam capazes. Alvares (2019) utiliza as HQs no ensino de Física com o objetivo de evidenciar os conteúdos ministrados, auxiliando nos processos de ensino e de aprendizagem, além de promover a comunicarlo e a interarao entre os estudantes.

Horn e Leite (2016) obtiveram como resultado do uso das HQs no ensino de Física o aprofundamento no conteúdo por parte dos estudantes, importante para a aprendizagem autónoma, e a interdisciplinaridade e interatividade com outras matérias, como Portugués e Artes, que tornou o projeto mais divertido para os alunos e professores. As historias em quadrinhos também permitem a proximidade da turma com a disciplina de Física, além de motivar o aperfeiroamento do conhecimento do conteúdo e da contextualizarao que a ilustrarao traz. A linguagem científica deve ser transmitida em sala de aula de forma que alcance os estudantes, de forma que nao os intimide, visto que, ao se tratar de Física, já existe uma resisténcia no aprendizado. Dessa forma, por serem consideradas uma atividade lúdica e interessante, as HQs podem ser aplicadas em todas as séries, do nível fundamental ao médio, através de uma linguagem adequada e que ainda assim consegue transmitir os conceitos físicos de forma adequada (Horn e Leite, 2016).

Existe uma facilidade de encontrar conceitos da mecánica Newtoniana dentro da ilustrarao das HQs, visto que estao presentes no dia a dia e sao muito discutidos nos anos iniciais do Ensino Médio, o que facilita seu uso como um objeto pedagógico. Junior e Valentim (2020), propuseram utilizar as HQs do Homem-Aranha no ensino de quantidade de movimento e impulso (uma vez que o universo lúdico de super-heróis é tao popular quanto as HQs no meio jovem), ampliando o raciocínio dos estudantes durante a leitura da HQ e chamando atenrao para os detalhes que envolvam Física na ilustrarao, como por exemplo: de quais variáveis físicas os movimentos dependem e quais variáveis podem ser calculadas, contextualizando o conteúdo dentro da tirinha e afirmando que sua utilizarlo é ilimitada.

Essa metodologia de ensino tem o potencial necessário para atrair a atenrao de quem lé as HQs, sendo um instrumento que pode ser aproveitado pelos professores, ainda mais considerando sua previsao na LDB. Apesar da facilidade de obtenrao das HQs e de sua utilizarlo em sala de aula, Santos e Vergueiro (2012) apontam para a necessidade de seu uso correto pelos professores, pois elas sao produzidas para diversos públicos e podem ter diversas utilizares como ferramenta auxiliar didática.

A proposta releváncia deste artigo justifica-se pelos pressupostos de que o estudo do uso das HQs como estratégia de ensino de Física constitui um importante esparo de atuarao dinámica docente, e de que sao necessárias investigares que apresentem e contribuam com propostas de intervenrao didática que incentivem o uso de metodologias criativas, e que revelem a potencialidade do trabalho lúdico em sala de aula, como com as HQs, pois, além de ser um material acessível e familiar, abre esparo para a interarao, criatividade e motivarao dos estudantes e do professor, podendo ser trabalhado de diversas maneiras.

III. A CATEGORIZACÁO DOS QUADRINHOS DE ACORDO COM TESTONI

Ao utilizar as HQs para promover os processos de ensino e de aprendizagem de Física, articulando conteúdos cognitivos e produrao artística, é preciso selecionar as que serao utilizadas em sala de aula de acordo com uma perspectiva pedagógica, pois, estudando a combinarao de imagem e texto, pode-se aproveitar o seu caráter didático e promover o seu uso de modo satisfatório. Sendo assim, de acordo com Testoni (2010, p. 6), "para a análise da influéncia da utilizagao de uma Historia em Quadrinhos em sala de aula, bem como o planejamento docente de atividades que envolvam este tipo de material", as HQs sao classificadas de acordo com seu objetivo didático no conteúdo de Física, nas seguintes categorias:

•    Quadrinhos de caráter ilustrativo: comumente encontrados em livros didáticos tradicionais, apresentam a situagao tratada no texto de forma gráfica, mostrando o conteúdo estudado com humor.

•    Quadrinhos de caráter explicativo: o quadrinho aborda um fenómeno físico, com explicado didática nas imagens, para aprofundar um conteúdo já estudado. Sao encontrados em manuais ou guias.

•    Quadrinhos de caráter motivador: como o próprio nome já diz, essa categoria tem a característica de motivar o leitor, sem conter uma explicagao prévia, fazendo-o buscar aprender mais.

•    Quadrinhos de caráter instigador: traz uma reflexao ao leitor sobre o assunto, procurando responder a um questionamento mais aprofundado.

Apesar da classificagao, as sequencias didáticas podem variar em seu uso de acordo com o contexto de aplicagao, ou seja, nao é uma regra, por exemplo, que uma historia em quadrinhos definida como instigadora em determinado contexto tenha igual propósito em outras situagoes. Testoni (2010) também aponta que, pelo fato de as HQs possuírem poder de síntese de conceitos importantes, a aplicagao em sala de aula nao acontece de forma automática, pois ainda depende da intermediagao do professor.

IV. ASPECTOS METODOLÓGICOS

A proposta foi desenvolvida por meio de ensino remoto (devido a pandemia de Covid-19), com caráter quali-quantitativo. Foi aplicada em uma turma do primeiro ano do Ensino Médio, de uma escola pública federal na capital do estado do Tocantins, com o total de 42 estudantes, identificados de E1 até E42 de forma aleatoria. O conteúdo de Física ministrado foi quantidade de movimento e impulso, em conformidade com o projeto político-pedagógico do curso. As HQs foram utilizadas como material auxiliar na introdugao do conteúdo, selecionadas pelo seu caráter instigador, e como atividade assíncrona. A seguir serao descritas as estratégias de ensino em tres etapas: Questionários e Historias em Quadrinhos utilizadas; Aplicagao das Historias em Quadrinhos utilizadas e discussao; e Produgao de novas Historias em Quadrinhos. Foram selecionadas algumas historias em quadrinhos produzidas pelos estudantes que foram entregues na versao física, com boa qualidade de imagem para digitalizagao e analisadas a luz das ideias de Testoni (2010).

V. ESTRATEGIA DE ENSINO

A. Questionários e Historias em Quadrinhos utilizadas

A fim de identificar os conceitos prévios dos estudantes, que antecedem os conteúdos ministrados, foi aplicado um questionário de avaliagao diagnostica sobre leis de Newton e vetores no início da primeira aula. O objetivo dessa avaliagao consistiu em realizar uma sondagem retrospectiva da situagao do desenvolvimento do estudante, examinando o que aprendeu. Essa avaliagao diagnostica nos permitiu fazer o planejamento para solucionar possíveis dificuldades conceituais encontradas nos conteúdos de quantidade de movimento e impulso.

A avaliagao diagnostica consistiu de cinco perguntas: 1. O que voce entende sobre a primeira lei de Newton? Explique-se. 2. O que voce entende sobre a segunda lei de Newton? Explique-se. 3. O que voce entende sobre a terceira lei de Newton? Explique-se. 4. O que voce entende por conservagao de energia e conservagao da quantidade de movimento? 5. Como surgiu o vetor resultante V, da Figura 1?

FIGURA 1. Representagao dos vetores.

Na sequéncia da aula de quantidade de movimento, foi utilizada e apresentada uma HQ que conceituasse o conteúdo ministrado, assim como em outra aula, quando iniciou o conteúdo de impulso, que utilizou-se outra tirinha que contextualizasse aquele conteúdo. Ambas as historias em quadrinhos foram utilizadas na introdujo dos respectivos conteúdos. Utilizamos HQs de caráter motivador e ilustrativo, na perspectiva de Testoni (2005). Para cada conteúdo ministrado, levaram-se em conta a ludicidade e os fatores psicolinguísticos, como ilustram as Figuras 2 e 3.

Com a finalidade de diagnosticar a aprendizagem, foi proposta a elaboradlo de HQs pelos próprios estudantes como atividade assíncrona no final da exposigao dos conteúdos, deixando em aberto o tema das HQs e sua classificagao. A situagao-problema inserida no enredo das HQs foi trabalhada sob a ótica construtivista dos processos de ensino e de aprendizagem, nesta perspectiva, a fungao da professora durante a discussao, como deve ser em qualquer processo construtivista, foi fazer o estudante pensar e avaliar as diversas situagoes desencadeadas pela tirinha/pergunta, sem fornecer a resposta de imediato, com a intengao de fazer o próprio estudante chegar a conclusao. E, por fim, a professora aplicou um questionário com duas perguntas para investigar a concepgao dos estudantes sobre a experiencia com as HQs. De acordo com Testoni (2005), a leitura de uma HQ é relaxante, comportamento explicado pelo mecanismo psicológico da catarse; assim, essa descontragao causada pela atividade lúdica faz com que ocorra uma compreensao do conteúdo, ainda que inconscientemente, como afirma Ramos (1990), esperando-se assim um resultado positivo no último questionário.

B. Aplicadlo das Historias em Quadrinhos utilizadas e discussao

A primeira tirinha utilizada foi elaborada pelo Grupo de Reelaborag!o do Ensino de Física (GREF) com a temática quantidade de movimento (ver a Figura 2). A HQ apresenta características da categoria de quadrinhos instigadores, por possuir estrutura dinámica e desafiadora (Testoni, 2005), visto que a sequencia de quadrinhos procura entender explicitamente um movimento físico e a responder um questionamento, despertando um comportamento em acordo com a proposta metodológica desta pesquisa. Após as explicagoes da dinámica do péndulo de Newton, procuramos instigar a curiosidade e levantar uma discussáo sobre os princípios físicos apresentados na tirinha, questionando os estudantes sobre quais conceitos poderiam estar ligados ao movimento do péndulo e buscando chegar a uma explicagáo científica para o fenómeno físico retratado. Depois que mais da metade da turma se manifestou, o movimento retratado na figura foi explicado de forma correta para os alunos após a conclusáo do estudo do conteúdo que esclarece o fenómeno discutido: a energia potencial gravitacional da primeira esfera se transforma em energia cinética e a esfera ganha uma quantidade de movimento; ao colidir com a próxima esfera, transferem-se energia e quantidade de movimento, mantendo o movimento através da quantidade de movimento e a energia constante em cada esfera (em um sistema ideal), resultando no movimento do Péndulo de Newton.

FIGURA 2. História em quadrinhos utilizada para iniciar o conteúdo de quantidade de movimento. Fonte: Gref, 1998, p. 16.

A segunda tirinha (Figura 3), da Turma da Mónica, foi utilizada para apresentar o conteúdo de impulso e mostra a personagem empurrando alguns colegas em um único balango. Assim como o quadrinho da Figura 2 foi utilizado para instigar os alunos, o mesmo foi feito com a tirinha da Figura 3. Apesar de náo ter havido questionamentos explícitos, coube a professora questionar os alunos sobre o movimento provocado pela personagem Mónica nos quadrinhos, direcionando a discussáo. A metodologia utilizada foi a mesma empregada na apresentagáo do conteúdo de quantidade de movimento. O intento n!o foi apenas despertar a curiosidade dos estudantes, mas permitir que refletissem e aprendessem o conceito abordado através de suas próprias dedugoes e conclusoes, como discute Testoni (2005).

FIGURA 3. Historia em quadrinhos utilizada para iniciar o conteúdo de impulso. Fonte: Sant'Anna et al., 2016.

C. Produfao de Historias em Quadrinhos

Finalmente, após os conteúdos serem ministrados, propos-se aos estudantes que cada um produzisse uma historia em quadrinhos, especificamente sobre o conteúdo de quantidade de movimento e impulso, em situares do dia a dia. Essa foi uma forma de avaliar o conhecimento abordado, além de estimular a criatividade, a comunicadlo e a autonomia sobre a atividade, construindo o seu conhecimento e tendo a professora apenas como mediadora dessa construyo. Como os estudantes já tinham familiaridade com a estrutura artística básica das HQs, nao foi necessário orientá-los quanto ao esquema das tirinhas, apenas acerca do conteúdo que deveria ser desenvolvido no contexto. Algumas historias em quadrinhos foram selecionadas para análise e discusslo.

VI. RESULTADOS E DISCUSSOES

Os conteúdos abordados durante as aulas necessitavam do conhecimento das leis de Newton e da interagao das variáveis umas com as outras, como massa e velocidade, para construir o conceito de quantidade de movimento e impulso, assim, através do diagnóstico prévio, trabalhamos quaisquer dúvidas ou lacunas que houvessem no aprendizado dos alunos com maior direcionamento, assim, através do primeiro questionário, foi possível avaliar os conhecimentos prévios dos estudantes. As primeiras questles do questionário abordaram o que os estudantes entendiam sobre as tres leis de Newton, sendo que 82,6% dos estudantes entendem o conceito da primeira lei, 73,9% entendem o conceito da segunda lei e 91,3% entendem o conceito da terceira lei. A penúltima pergunta discutia o conceito de conservadlo de energia e conservagao da quantidade de movimento, com 34,8% de acertos; e a última pergunta do questionário tratava da soma de vetores - apenas 21,7% conseguiram identificar a operadlo vetorial. Esses resultados demonstram que a maioria dos estudantes tinha conhecimentos prévios, subsungores para o desenvolvimento de novos conhecimentos. As operadles com vetores, como sentido, direglo e soma vetorial, necessárias para a compreenslo do conteúdo ministrado, foram amplamente discutidas em sala de aula para melhor entendimento dos estudantes. As atividades propostas, como situadles discutidas e questles resolvidas durante as aulas, também se basearam nesses resultados, de forma que fossem trabalhados com maior clareza os conceitos que geravam dúvidas entre os alunos, visto que, slo ponto de ancoragem para as novas informadles, e para que os alunos percebessem a conexlo das novas informadles com seus conhecimentos prévios.

As HQs utilizadas no inicio das aulas para introduzir os conteúdos de quantidade de movimento e impulso (Figuras 2 e 3) propiciaram o aumento da comunicadlo entre os estudantes e a investigadlo do tema. Durante a discusslo do conteúdo, as tirinhas utilizadas auxiliaram os estudantes a relacionar diversos conceitos físicos para construir uma explicadlo sobre os movimentos do Péndulo de Newton e do empurrlo da Monica, tais como forda, velocidade, tempo, massa e energia. Alguns dos questionamentos foram: "a massa tem influencia no movimento?", "qual a diferenda se a Monica empurrar por mais tempo ou menos tempo?" e "o impulso depende de que?". Os estudantes tiveram autonomia para discutir entre eles e tentar chegar a uma concluslo que pudesse explicar os movimentos ilustrados; a professora manteve a postura mediadora (Souza, 2018; Chicorá e Zavatini, 2021).

Após as discussles, os conteúdos foram ministrados e pode-se observar que os estudantes que estiveram discutindo sobre as HQs mantiveram sua atendlo e motivadlo durante a explicadlo do conteúdo (Vergueiro, 2004), facilitando a aprendizagem durante a aula. Em todas as etapas dos conceitos físicos ministrados, observávamos novamente as tirinhas, construindo o conceito físico ilustrado aos poucos. Assim, no final do conteúdo os estudantes já tinham capacidade para identificar e assimilar o conteúdo através da ilustradlo (Moreira e Masini, 1982).

A seguir slo expostas algumas HQs produzidas pelos estudantes. Verifica-se que essa atividade desempenhou papel significativo no aprendizado dos estudantes, culminando na capacidade deles de articular arte e conhecimento na elaboradlo das suas próprias HQs. Nota-se que as HQs elaboradas pelos estudantes tém a estrutura comum de uma tirinha: cenários divididos quadro a quadro, falas de personagens em baloes e tragos que representam movimento ou expressoes contextualizam o cotidiano com o tema abordado, demonstrando compreensao e conexao com o conteúdo na vida real (Testoni, 2005); ou se relacionam com algo de interesse, deixando claro que houve assimilagao dos conceitos estudados em sala de aula, tais como esportes, jogos e acidentes de transito. Algumas tirinhas contextualizam o conceito físico na prática e outras sao de caráter explicativo.

FIGURA 4. Historia em quadrinhos sobre o conceito de quantidade de movimento. Fonte: Estudante E5.

Na Figura 4, podemos observar que o conteúdo, os cálculos e os exemplos citados durante a aula foram transcritos para o desenho, encaixando-se nas categorias de quadrinhos explicativos e ilustrativos (Testoni, 2010). A exposigao do conceito de quantidade de movimento é objetiva e clara: em um sistema nao ideal, o primeiro carro colide com o segundo carro, transferindo quantidade de movimento e fazendo com que os dois carros passem a se movimentar juntos. Ironicamente e brincando com a situagao no transito, o personagem diz que prefere outro tipo de colisao: choque perfeitamente elástico. O aluno teve capacidade de ilustrar e diferenciar os tipos de colisoes estudadas em sala de aula, além de contextualizar o conteúdo com humor.

FIGURA 5. Historia em quadrinho sobre o conceito de colisao. Fonte: Estudante E7.

A imagem ilustrada na Figura 5 apresenta os conceitos de colisao e impulso, como indicam as categorias de tirinhas ilustrativa e motivadora (Testoni, 2010). O personagem, ao chutar a bola, transfere uma quantidade de movimento suficiente para movimentá-la até a parede e voltar, atingindo-o em seguida. O estudante utiliza humor no enredo, o que pode ser observado nos detalhes dos quadrinhos: o personagem chega a noite, as 10 horas, cansado, chuta a bola, que retorna e acerta a sua face, causando o desmaio, e ele acorda apenas as 6 horas da manha, fato observado no penúltimo quadrinho, que está completamente escuro, o que indica que o personagem desmaiou devido a colisao. Através da HQ, percebe-se como o estudante compreendeu o conteúdo ministrado e o contextualizou em uma situagao inédita.

SÍQ -«?

muftós

¦ícrmolctS


/'ói r

vioü ¿o es£p^

obfet Cj0.tví,vJctl<¿ hloVx'tTe-tÍP

J-\M escotó /


/fe definida is fe->s da me<5n, ysbon i ena. soas •mtJds -psssarrí «Ept- nrocíiíiViató

\ll! *

Qt a Q > -j»<^u«> rjt>¿c4n ’*^9( e. inlc¡3l. ifít&'Jdlo <3&

tóempo.

\p-i>fcr^3 r?St>/ian.

FIGURA 6. Historia em quadrinhos de caráter explicativo sobre quantidade de movimento. Fonte: Estudante E27.

A Figura 6, de ilustradlo simples e categoria explicativa (Testoni, 2010), traz o desenvolvimento do conceito de quantidade de movimento e também as fórmulas apresentadas na sala de aula. Pela facilidade de execugao, a maioria das historias em quadrinhos recebidas na atividade tem essa característica explicativa, ainda que em contextos diferentes, ocupando um espago gráfico maior e aprofundando o conteúdo abordado (Souza, 2018).

Na Figura 7, produzida de acordo com a categoria motivadora (Testoni, 2010), vemos representado de forma simples o conceito do impulso, similar a da tirinha da Turma da Mónica utilizada na introdujo do conteúdo. A personagem empurra a outra com tanta forga que ela atravessa uma competidlo e chega em primeiro lugar, sem precisar se esforgar.

FIGURA 8. Historia em quadrinhos sobre esportes e jogos. Fonte: Estudante E40.

Na Figura 8, o estudante elaborou uma HQ da categoria explicativa (Testoni, 2010), exemplificando o que é o impulso. É importante observar que o aluno se utilizou do jogo "Genshin Impact" para ilustrar a atividade proposta. O local "Teyvat" é o nome do "mundo" onde o jogo acontece e os personagens saltam para se movimentarem; e a personagem feminina é uma personagem do jogo. No quadrinho 4 o personagem exemplifica o teorema do impulso relacionando forga, tempo e quantidade de movimento.

Na análise das produgoes das HQs, pode-se perceber que os estudantes ilustraram acontecimentos do dia a dia associados ao fenómeno físico estudado em sala de aula, bem como acontecimentos ficcionais (Testoni, 2010). A maioria das tirinhas possui conteúdo de caráter instigador ou explicativo (ver Figuras 4, 5 e 6), de acordo com a categorizagao de Testoni (2010), além de serem ilustradas em diversos ambientes. Assim, podemos concluir que os estudantes integraram os conceitos físicos compreendidos com seus interesses, como jogos (ver Figura 8), ou os ilustraram de acordo com exemplos utilizados na sala de aula (ver Figuras 4 e 7), desenvolvendo a narrativa gráfica através da explicagao em baloes de falas de personagens. Para que os conceitos físicos utilizados nas tirinhas sejam corretos, os estudantes necessitam entende-los de forma sucinta, caso contrário a tirinha nao fará sentido. Assim, deduzimos que os estudantes tiveram competencia para aplicar os conceitos aprendidos em sala de aula em suas HQs, além de reconhecerem e ilustrarem a prática do conteúdo de Física em ambientes fora da sala de aula, construindo um significado para a nova informagao (Alvares, 2019).

Observa-se que o estudante demonstra ampla aprendizagem ao esquematizar seu aprendizado e assimilar os conteúdos vistos em sala de aula com ambientes fora da escola, sendo capaz de aplicá-los e reconhece-los. Ao expressarem uma nova informagao, assimilando um conhecimento básico aos conhecimentos subsequentes e aplicando-os contextualmente nos desenhos, os estudantes constroem um significado para a nova informagao e formam uma estrutura maior que o conhecimento primitivo, assim, sao capazes de compreender e resolver novas situagoes a partir desse conhecimento, como destaca a teoria da aprendizagem de Ausubel (Pontara, Aguiar e Comério, 2020; Moreira, 2006; Moreira e Masini, 1982).

O segundo questionário aplicado teve como objetivo investigar a concepgao dos estudantes sobre a experiencia das HQs como ferramenta auxiliar no ensino. Foram aplicadas as seguintes perguntas: "Qual sua opiniao sobre o uso das HQs no inicio do conteúdo de Física?" e "Qual sua opiniao sobre a atividade de construir a própria HQ que contemple o conteúdo de Física?". Em relagao a opiniao dos estudantes sobre o uso das HQs na introdugao do conteúdo, a maioria da turma considerou que a utilizagao das tirinhas na introdugao do conteúdo é uma estratégia viável, que melhora a compreensao e a dinámica do conteúdo, além de ser atraente, divertida e interativa. A seguir, no Quadro 1, sao transcritas as respostas obtidas pelos estudantes.

QUADRO 1. Respostas a pergunta 1 do questionário: "Qual sua opiniao sobre o uso de quadrinhos no inicio do conteúdo de Física?" Fonte: Elaborado própria.

Entrevistados

Respostas

Estudante 1

Sao exemplos qie (sic) facilitam a compreensao.

Estudante 5

Acho bem interessante da parte da explicagao.

Estudante 7

Eu achei bastante interessante. Consegui absorver, mais facilmente, as ideias.

Estudante 12

Eu gosto bastante, é uma dinámica muito legal e na maioria das vezes ajuda a compreender melhor o conteúdo.

Estudante 18

Assim, foi legal de fazer essa atividade.

Estudante 22

Eu achei uma excelente ideia!

Estudante 27

Na minha opiniao, trazer historias em quadrinhos para os conteúdos de física torna algo mais atrativo e dinámico.

Estudante 30

Na minha opiniao nao me ajudou muito, pois para mim só se aprende praticando, ou seja, fazendo exercícios.

Estudante 31

Na minha opiniao, o uso de historia em quadrinhos para aprender o conteúdo foi totalmente irrelevante na minha aprendizagem, mesmo sendo uma atividade interativa.

Estudante 33

Foi legal, uma forma de prender colocando em pratica sem ser de forma magante e pesada, além de ser bem descontraído.

Estudante 35

Auxilia na questao de explicar, pois mostra uma prática de como ocorre o processo.

Estudante 38

Foi bem interessante, ficou de uma forma mais interativa e divertida.

Estudante 41

Acho uma ideia legal e que ajuda a compreender o conteúdo.

Os resultados obtidos evidenciam que a estratégia foi aceita pela maioria dos estudantes. Observamos que eles se mostraram ávidos e interessados pela discussao iniciada com o uso das HQs. Ao primeiro contato, os estudantes iniciaram sua leitura sem que fosse preciso uma orientado prévia. A discussao gravitou em torno da situagao-problema baseada na temática quantidade de movimento e impulso. De forma espontanea, os estudantes manifestavam entre si os pontos de vista com base nos conhecimentos prévios e, a partir disso, puderam desenvolver informagoes sobre o conteúdo estudado, ampliando seus conceitos prévios com os novos conceitos. Destacamos que a discussao tomou conta da sala sem que a professora precisasse sugerir que isso ocorresse. Os estudantes realizaram a atividade sozinhos e coube a professora apenas orientar as discussoes.

As HQs elaboradas pelos estudantes nos permitem inferir que houve aprendizagem significativa do conteúdo de quantidade de movimento e impulso, que se relaciona com os conteúdos das leis de Newton já estabelecidos na estrutura cognitiva dos estudantes, como observamos no resultado do diagnóstico inicial. Ao compreenderem as leis de Newton, os estudantes tiveram capacidade para associar o movimento de objetos, com variáveis como forga, velocidade, massa e tempo para construir um novo conhecimento, como o de quantidade de movimento, que relaciona a velocidade e a massa, e posteriormente compreenderem a conservagao da quantidade de movimento, colisoes e o impulso, que relaciona todas as variáveis citadas. Eles foram capazes de reformular novas sentengas, construindo novos significados para seus conhecimentos prévios, como expressa Ausubel (1982).

Corroboramos com Ausubel (2003) que afirma em seus estudos sobre a Aprendizagem Significativa: é fundamental que o estudante esteja predisposto a aprender, e o aprendizado precisa ter significancia lógica e psicológica. Além disso, "quer na aprendizagem por memorizagao, quer na significativa, a reprodugao real do material retido também é afetada por fatores tais como tendencias culturais e de atitude..." (p.20).

Em relagao a produgao individual das HQs como atividade assíncrona, as opinioes se dividiram. Grande parte avaliou a atividade como interessante e complementar; entretanto, alguns a julgaram complicada. As respostas a pergunta 2 estao descritas no Quadro 2, abaixo:

QUADRO 2. Respostas a pergunta 2 do questionário: "Qual sua opiniao sobre a atividade de construir uma história em quadrinhos que contemple o conteúdo de Física?" Fonte: Elaboragao própria.

Entrevistados

Respostas

Estudante 1

Foi um pouco complicado de inicio, mas depois de finalizada a atividade, foi interessante analisar e perceber onde se encaixava o conteúdo.

Estudante 5

Em relagao a produgao sou totalmente contra, pois é muito trabalho em desenhar e produzir, sendo que podemos ter esse tempo para aprofundar mais no próprio conteúdo.

Estudante 7

Eu gostei bastante. Fazendo a historia em quadrinho, eu consegui aprender o conteúdo de uma forma extremamente interessante e eficaz.

Estudante 12

Dependendo do conteúdo, eu acho bem legal e fácil as vezes.

Estudante 18

Temos que pensar antes de fazer, e foi divertido fazer.

Entrevistados

Respostas

Estudante 22

Eu gostei muito dessa atividade, porque promove o desenvolvimento das habilidades para desenhar e a criatividade!

Estudante 27

Para mim que leio HQs desde pequeno, considero muito divertido e instrutivo com relagao ao conteúdo.

Estudante 30

Achei que foi um pouco complicada, pois nao é tao fácil criar uma historia e ainda mais aplicar o conteúdo nela de uma forma correta.

Estudante 31

Creio que para elaboragao de uma historia fica complicado em encaixar com o conteúdo de física.

Estudante 33

Foi legal realizar esse trabalho, deu um pouco de dor de cabega, mas foi bem divertido.

Estudante 35

Auxilia a complementar os estudos, pois assim vemos se aprendemos realmente o que foi proposto.

Estudante 38

Foi legal, a atividade interativa deu um ar menos sério a essa matéria.

Estudante 41

Acho que é uma atividade legal, que desperta a criatividade dos alunos e demonstra que eles realmente entenderam o assunto de uma forma geral.

O objetivo da proposta foi atingido, pois a aplicado das HQs contribuiu para uma aprendizagem significativa, onde percebemos a associagao dos conhecimentos prévios dos alunos com os conceitos abordados em sala de aula. As HQs potencializaram a aprendizagem por investigadlo e descoberta e observa-se que houve, por parte dos estudantes, compreensao genuína dos conceitos apresentados, pois as HQs expressam os conhecimentos adquiridos de forma clara e precisa. Assim, verificou-se a validade da estratégia, pois esta desempenhou papel importante no aprendizado dos estudantes, culminando na capacidade de articular arte e conhecimento na elaboradlo de suas próprias HQs.

VII. CONSIDERARES FINAIS

Levando em consideradlo o ensino remoto, contexto em que essa experiencia didática foi desenvolvida, e com todas as problemáticas enfrentadas em sala de aula durante a pandemia, como baixa motivadlo e comunicadlo durante as aulas e desinteresse dos estudantes, a utilizadlo das HQs como ferramenta auxiliar pedagógica revelou ter um potencial didático para as aulas de Física do primeiro ano.

Do ponto de vista geral, apresentamos um meio de comunicadlo de massa, um material familiar aos estudantes, de escrita obrigatoriamente acessível e popular. Os estudantes tem familiaridade com as artes sequenciais, que sempre estiveram presentes em outras componentes curriculares e no cotidiano; portanto, nlo foi difícil a introdudlo desse contexto. As HQs propiciam aos leitores o desenvolvimento de uma série de adles em níveis cognitivos como análise, interpretadlo, classificadlo, comparadlo e imaginadlo, entre outros. Uma vez que o conteúdo ainda ministrado é considerado pelos estudantes como baseado em memorizadlo de equadles e repetidlo de conceitos, a estratégia do uso das tirinhas despertou uma dinámica que gerou interadlo entre os estudantes em sala de aula.

As possibilidades do uso das tirinhas vlo além de sua produdlo, podendo ser trabalhadas em outras atividades, individuais ou em grupo, como ilustradles criadas pelo professor para adequar ao conteúdo e motivar os estudantes, ou criadlo de oficina de artes e exposidlo dos trabalhos. Considerando as concepdles prévias obtidas no questionário inicial, as observadles e constatadles feitas em sala de aula e a análise das HQs produzidas pelos estudantes, temos fortes indícios de que houve uma evoludlo no que diz respeito a aprendizagem dos conceitos de quantidade de movimento e impulso pela maioria dos estudantes. Destacamos a releváncia do uso das HQs nesse processo, por meio da motivadlo e interadlo que geraram em sala de aula.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio financeiro a pesquisa.

 

REFERENCIAS

 

Ausubel, D. P. (1982). A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. Slo Paulo: Moraes.

Ausubel, D. P. (2003). Aquisigao e retengao de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva (1a ed.). Slo Paulo: Pantano. Ausubel, D.; Novak, J. D.; Hanesian, H. (1980). Psicologia educacional (2a ed). Rio de Janeiro: Interamericana.

Alvares, V. (2019). Física em quadrinhos: material de apoio ao professor utilizando Historias em Quadrinhos no ensino. Dissertagao (Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física). Sorocaba: Universidade Federal de Sao Carlos.

Baez, A. (1979). International Science Education with special reference to lesser developed countries: an issues and option paper. University of California, Berkeley (mimeo.).

Brum da Rosa, J. E. e Barrera Kalhil, J. (2020). Metodologias ativas no ensino de física: um panorama da pesquisa stricto sensu brasileira. Colloquium Humanarum,    16(4),    121-136. Disponível em:

<https://journal.unoeste.br/index.php/ch/article/view/3229>. Acesso em: 14 abr. 2022.

Caruso, F. e Silveira, C. (2009). Quadrinhos para a cidadania. Historia, Ciencias, Saúde - Manguinhos, 16(1), 217-236.

Cristino, C. S. (2016). O uso da ludicidade no ensino de física. Dissertagao (Mestrado em Ensino de Ciencias - Física). Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto.

Eisner, W. (1999). Quadrinhos e arte sequencial. Sao Paulo: Martins Fontes.

Fujitaki, K. (2010). Guia mangá de eletricidade. Sao Paulo: Novatec.

Gonick, L., Huffman, A. e De Menezes, L. C. (1994). Introdugao ilustrada á física. Sao Paulo: Harbra.

Grupo De Reelaboragao Do Ensino De Física. Física 1: mecánica. Sao Paulo: Edusp, 1998.

Horn, D., Leite, M. (2016). Historias em quadrinhos para entender física: uma proposta interativa e de criagao. Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE, 1, 2-18.

Ishiwata, K. (2010). Guia mangá universo (1a ed.). Sao Paulo: Novatec.

Junior, A. X. B., Valentim, M. X. G. (2020). O ensino de física a partir dos quadrinhos do Homem Aranha. Revista INTERSABERES, 15(36), 720-736.

Megid Neto, J. (1990). Pesquisa em Ensino de Física do 2° grau no Brasil: concepgao e tratamento de problemas em teses e dissertagoes. Dissertagao (Mestrado em Educagao). Campinas: Universidade Estadual de Campinas.

Mendonga, S. F. (2005). O trabalho com historia em quadrinhos (6a ed.). Sao Paulo: Ática.

Moreira, M. A. (2006). A teoria da aprendizagem significativa e sua implementagao em sala de aula. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

Moreira, M. A. e Masini, E. A. F. (1982). Aprendizagem significativa: a Teoria de David Ausubel. Sao Paulo: Moraes.

Nitta, H. e Takatsu, K. (2010). Guia mangá física: mecánica clássica. Sao Paulo: Novatec.

Pelizzari, A., Kriegl, M. L., Baron, M. P., Finck, N. T. L. e Dorocinski, S. I. (jul. 2001/jul. 2002). Teoria da Aprendizagem Significativa segundo Ausubel. Revista PEC, 2(1), 37-42.

Pontara, A. B., Aguiar, A. F. e Comério, E. F. (2020). Produgao textual em forma de historia em quadrinhos (HQ) para verificagao de aprendizagem em química, biologia e matemática. Kiri-Keré: Pesquisa em Ensino, 8, 258-278. Disponível em: <https://www.periodicos.ufes.br/kirikere/article/view/30099>. Acesso em: 1 abr. 2022.

Quella-Guyot, D. (1994). As historias em quadrinhos. Sao Paulo: Loyola.

Ramos, E. M. F. (1990). Brinquedos e jogos no ensino de física. Dissertagao (Mestrado). Sao Paulo: Universidade de Sao Paulo.

Sant'Anna, B., Martini, G., Reis, H. C. e Spinelli W. (2016). Conexoes com a Física - Volume 3. Sao Paulo: Moderna.

Santos, R. E. e Vergueiro, W. (jan.-abr. 2012). Historias em quadrinhos no processo de aprendizado: da teoria a prática. EccoS, 27, 81-95.

Silvério, L. B. R. e Rezende, L. A. (2012). O valor pedagógico das historias em quadrinhos no percurso do docente de língua portuguesa. Jornada de Didática - O ensino como foco e I Fórum de Professores de Didática do Estado do Paraná, 1, 217234.

Souza, E. O. R. (2014). Física em quadrinhos: uma abordagem de ensino. Dissertagao (Mestrado em Ensino de Biociencias e Saúde). Rio de Janeiro: Instituto Oswaldo Cruz.

Souza, E. O. R. (2018). Física em quadrinhos: uma metodologia de utilizagao de quadrinhos para o ensino de física. Dissertagao (Doutorado em Ensino em Biociencias e Saúde). Rio de Janeiro: Instituto Oswaldo Cruz.

Testoni, L. A (2005). A utilizagao de historias em quadrinhos no ensino de física: uma proposta para o ensino da inércia. Enseñanza de las Ciencias, v. extra, 1-5.

Testoni, L. A. (2010). Historias em quadrinhos nos livros didáticos de Física: uma proposta de categorizagao. Comunicagao apresentada no 12° Encontro de Pesquisa em Ensino de Física. Águas de Lindoia, Sao Paulo. Disponível em: <http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/epef/xii/sys/resumos/T0044-1.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2022.

Vergueiro, W. (2004). Uso das HQs no ensino. In. Sao Paulo: Contexto.

Vergueiro, W. e Ramos, P. (Orgs.) (2009). Quadrinhos na educagao: da rejeigao á prática. Sao Paulo: Contexto.

Zavatini. R. M. (2021). Estratégias didáticas para o ensino de Física: uma análise das tendéncias do MNPEF. TCC (Graduagao). Sorocaba: Universidade Federal de Sao Carlos.

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons