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Historia de la educación - anuario

versión On-line ISSN 2313-9277

Hist. educ. anu. vol.20 no.1 Ciudad autonoma de Buenos Aires. jun. 2019

 

DOSSIER

Arquitetura Moderna e o Campus Reitoria da Universidade Federal do Paraná (Curitiba, década de 1950)1

 

Marcus Levy Bencostta2


Resumo

Este artigo discute alguns dos significados da arquitetura universitaria vinculada ao movimento moderno brasileiro na década de 1950 ao adotar como objeto de análise, o Campus Reitoria da Universidade Federal do Paraná, localizado na cidade de Curitiba. O tratamento aqui apresentado está centrado na problematizaijáo de um conjunto de fontes, tais como fotografías, plantas arquitetònicas e desenhos que levam á considerares que reconhecem a inserto do Campus Reitoria no movimento da arquitetura moderna brasileira e, também, como o grupo de seus edificios dialogam com as transformares do tecido urbano e as políticas educacionais do período investigado. Ñas principáis referenciais constam apropria9Óes pontuais de leituras indispensáveis de dois importantes pesquisadores que trataram da historiografía da arquitetura moderna brasileira, Yves Bruand e Hugo Segawa. E do ponto de vista da historiografía da educasáo, o artigo utiliza do pensamento de AntonioViñao.

Palavras-chave

Historia da educaçâo, arquitetura moderna, campus universitàrio.

Abstract

This article discusses some of the meanings of the university architecture linked to the Brazilian modern movement in the 1950s by adopting as the object of analysis the Rectory Campus of the Federal University of Paraná, located in the city of Curitiba. The

Catarina (Brasil), Tel Aviv University (Israel), Universidade Tiradentes (Brasil), The Hebrew University of Jerusalem (Israel) e no Centro de Investigación y de Estudios Avanzados (México). É Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Historia da Arquitetura Escolar (NEPHArqE) e Pesquisador Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Brasil). treatment presented here is centered in the problematization of a set of sources, such as photographs, architectural plans and drawings that lead to the considerations that recognize the insertion of the Rectory Campus in the movement of modern Brazilian architecture and, as well as the whole, how the group of its buildings dialogue with the transformations of the urban fabric and the educational policies of the investigated period. In the main references there are occasional appropriations of indispensable readings of two important researchers dealing with the historiography of modern Brazilian architecture, Yves Bruand and Hugo Segawa. And from the point of view of the historiography of education, the article uses the thought of Antonio Vinào.

Keywords

History of Education, Modern Architecture, University Campus.


 

Introduco: origens da Arquitetura Moderna no Brasil

Ao iniciar este artigo é importante sinalizar que a arquitetura moderna no Brasil soube bem se apropriar de aspectos 3

político-militar, o entáo presidente da República, Washington Luiz, e assume os plenos poderes do país, estabelecendo urna ditadura. Se na sua primeira fase (1930-1937), o regime foi identificado por um contexto de profundas mudanzas aquilatar o projeto do governo na elaborado de representares que identificassem o Estado brasileiro como moderno, quando foi projetada a sede do Ministério da Educa^áo e Saúde Pública, por iniciativa do ministro da pasta correspondente, Gustavo Capanema que o encomendou ao arquiteto Lucio Costa e sua equipe.4

A singularidade dessa edificado, além de todas as particularidades históricas da concepto de seu projeto, em 1937, reside no emprego intencional e convicto da linguagem arquitetónica moderna em sua gramática. Tal como afirma o próprio Lucio Costa, em carta ao Ministro da Fazenda de Vargas, em 1939.

Figura 1. Edificio do Ministério da Educando e Sáude Pública (Atual Palácio Capanema).

Fonte: Instituto do Patrimonio Histórico Artístico Nacional.

 

O fato, entretanto, é que, neste caso, nao estamos, Sr. Ministro, a imitar aqui o que já se fez em outros países, nem tampouco a improvisar coisa alguma. Estamos simplesmente a aplicar, com consciencia, os principios reconhecidos pelos arquitetos modernos no mundo inteiro como fundamentáis da nova técnica de construido, muito embora nenhum governo aínda os tivesse oficialmente adotado em obra de tamanho vulto. Trata-se assim, de um empreendimento de repercussáo nacional e que como tal terá o seu lugar na historia da arquitetura contemporánea (Carta de Lucio Costa enderezada ao Ministro da Fazenda, a pedido do Ministro Capanema, 27 de out. 1939. In: Costa, 1995: 133).

Logo após a sua finalizaqáo, em 1945, este edificio foi precocemente tombado5 pelo Instituto de Patrimonio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1948, inventariado como a primeira obra monumental produzida pelo Estado que seguiu a risca os principios da arquitetura moderna (Instituto, 1948). Entretanto, apesar do reconhecimento internacional como urna referéncia da arquitetura moderna, nao é possível afirmar que a Ditadura Vargas tenha feita a opcáo única e exclusiva por essa linguagem na construido de prédios públicos (Segawa, 2006).

O reconhecimento internacional provocou euforia na comunidade brasileira de arquitetos à procura de expressóes que os aproximassem dos preceitos racionalistas preconizados por Walter Gropius, do brutalismo de Le Corbusier e do minimalismo de Ludwig Van der Rohe, contribuido dessa maneira para que essa arquitetura se tornasse urna das mais valiosas contribuiqòes à cultura contemporànea (Reis Filho, 1983).

 

Na década de 1950, com o regime político redemocratizado e livre da Ditadura de Getúlio Vargas, junta-se à trajetória do processo que consagrará definitivamente essa linguagem no Brasil, a construqáo de Brasilia, a nova capital do país. Coube a Oscar Niemeyer a responsabilidade pelos projetos dos edificios públicos e o Plano Piloto ao veterano Lucio Costa, com quem ele já tinha trabalhado no Edificio sede do Ministério da Educaqào e Saúde Pública, quando a capital do país aínda residía na cidade do Rio de Janeiro.

como de interesse público, quer seja pelo seu valor para a memoria e historia do lugar, quer seja pela sua importáncia arqueológica, artística, bibliográfica ou etnográfica. Também sao passíveis de tombamento os monumento naturais, os sitios e paisagens que importa conservar e proteger.

Arquitetura Moderna e o Campus Reitoria da Universidade Federal do Paraná (Curitiba, década de 1950)

Figura 2. Plano Piloto de Brasilia, de autoria de Lúcio Costa, vencedor no Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, em 1956. Fonte: Costa (1991).

Ambos foram contumazes defensores de um pensamento urbano que se harmonizava com o receituário do movimento moderno. Como é possível perceber na Praqa dos Tres Poderes, composta por trés edificares que abrigam o poder legislativo (Palácio do Congresso Nacional), o executivo (Palácio do Planalto) e o judiciário (Supremo Tribunal Federal).

Segundo o testemunho de Niemayer:

Mas a ideia de que o Congresso deveria se integrar na Prai^a me preocupava, o que explica ter mantido a cobertura desse palácio no nivel das avenidas, permitindo aos que se aproximassem ver, por cima déla, entre as cúpulas projetadas, a Praija dos Tres Poderes da qual este fazia parte. E com essa soluto as cúpulas do Senado e da Cámara se fizeram mais imponentes, monumentais, exaltando a importancia hierárquica que no conjunto representam (Niemeyer, 2004: 181).

Figura 3. Palácio do Congresso Nacional (Brasilia).

Fonte: Biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografìa e Estatística.

 

 

Continua o testemunho do arquiteto:

Ao desenhar os Palácios do Planalto e do Supremo, deliberei manté-los dentro das formas regulares, tendo como elemento de unidade plástica o mesmo tipo de apoio, o que explica o desenho mais livre que para as colunas desses dois edificios adotei. E os palácios apenas tocando o chao (Niemeyer, 2004: 151).

Essa linguagem que se fortaleceu ñas décadas de 1940-1960 tornou-se urna das vanguardas que modelaram obras icones que consolidará a experiencia do pensamento arquitetónico brasileiro. É interessante destacar que acáo continuada de modelagem da arquitetura moderna brasileira foi elaborada entre os anos da ditadura de Getúlio Vargas, com a construyo do Edificio do Ministério da Educado e Saúde na cidade do Rio de Janeiro, e o governo democrático do presidente Juscelino Kubitschek, com a criando de Brasilia, a nova capital da República.

Algumas referéncias da Arquitetura Moderna em Curitiba (Paraná, Brasil)

Urna das constantes preocupaçôes nos anos iniciáis da incorporaçâo da arquitetura moderna na capital do Estado do Paraná (Curitiba) foi o rompimento com o vocabulário eclético, preponderante desde os fins do Século XIX. A técnica do concreto armado era urna novidade a ser enfrentada, assim como a vanguarda da arquitetura moderna brasileira, juntamente com outras cidades, tais como, Sao Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.6 7 8

Na data simbólica de 19 de Dezembro de 1953, e nao por coincidéncia, a mesma que comemorou 100 anos da Emancipado Política do Paraná da Provincia de Sao Paulo, o governador do estado na época, Bento Munhoz da Rocha, com a presenta do Presidente da República do Brasil, Café Filho, decide oportunamente inaugurar, mesmo que incompleto, o primeiro centro administrativo do Brasil, que desde a ideia original foi denominado de Centro Cívico.

Seguindo urna gramática arquitetónica moderna que aplicou os principios dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (Xavier, 1985), ele foi coordenado por urna equipe de jovens urbanistas liderada pelo professor da Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil (Rio de noticia ressaltada com vigor pela imprensa que enaltecía a iniciativa do governo.

A construido desse grupo arquitetònico de gigantescas proporcòes, que é empreendimento dos mais notáveis da engenharia nacional, obedece às mais modernas técnicas funcionáis, a que se juntarào belos e impressionantes detalhes, formando um todo em que estarào reunidas à utilidade das construqòes, e beleza de trapos e a harmonía do conjunto, características desse primeiro Centro Cívico o Brasil (Edipào, 1953: 192).

O Centro Cívico do Paraná9 10 é também reconhecido por seus edificios monumentais em comparapào a outro marco desse estilo: o Edificio sede do Ministério da Educapào e Saúde, já tratado anteriormente. Assim, como sustenta Yves Bruand:

A renovacào da arquitetura foi orientada num sentido monumental com o Ministério da Educacào e Saúde, onde foi abordado o tema do prèdio administrativo tratado com magnificéncia, inúmeras vezes retomado por governos locáis (por exemplo, o do Paraná, em Curitiba) (Bruand, 1981: 373).

O projeto do Centro Cívico trouxe consigo a marca da arquitetura moderna da escola do Rio de Janeiro. Mas o desenrolar da experiéncia dessa linguagem no Paraná também contou com a contribuido da escola paulista de arquitetura na formado dos profissionais do curso de arquitetura da Universidade Federal do Paraná, criado em 1962.

A Universidade Federal do Paraná: 106 anos de historia

Foi pela iniciativa de um grupo de intelectuais composto por Victor Ferreira do Amaral e Silva, Nilo Cairo, Reinaldo Machado, Hugo Simas, Panfílio de Assundo, Joáo David Perneta, Flávio Luz, Daltro Filho, Euclides Beviláquia, Júlio Teodorico Guimaráes, dentre outros, que a Universidade do Paraná foi criada em 19 de dezembro de 1912, aquela mesma data em que se comemora a Emancipando Política do Paraná da Provincia de Sao Paulo (1853).

Nos primeiros meses de 1913, o governo do Estado do Paraná reconheceu a nova instituido (Lei 1284, de 27 de marico de 1913), que inaugurou suas atividades académicas com a oferta dos cursos de Direito, Engenharia Civil, Odontología, Farmácia, Obstetricia e Comércio.

Com a Reforma de Carlos Maximiliano (Decreto 11.530 de 18 de mar^o de 1915), responsável por centralizar na administrado federal a criado das institui<;óes de ensino superior no Brasil, a Universidade do Paraná foi obrigada a se reorganizar,

Cf. Campos (2008) e Cintra (2014).

em 1918, no formato de très faculdades: Faculdade de Direito (cursos de Direito e Comércio), Faculdade de Engenharia (cursos de Engenharia Civil e Agronomia) e a Faculdade de Medicina (Cursos de Medicina, Odontologia, Obstetricia e Veterinària).11 Após duas décadas, em fevereiro de 1938, foi incorporada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e o Instituto Superior de Educaçâo (cursos Educaçâo, Filosofia, Química, Geografia, Historia, Ciências Sociais e Políticas).12 De modo que esta nova reorganizaçâo levou o Ministério da Educaçâo, em 1946, a reconhecer oficialmente a Universidade do Paraná.

Poucos anos seguidos do reconhecimento, a Reitoria iniciou o movimento pela federalizaçâo da Universidade do Paraná, cujo principal objetivo era transferir a responsabilidade de sua manutençâo ao poder público da Uniâo. E após inúmeros debates, em 1950, o governo federal assume esta obrigaçâo e, desde entâo, a universidade passou a ser denominada Universidade Federal do Paraná. É no contexto de sua federalizaçâo, que resultou na sua expansâo, muito por conta dos investimentos originários do poder central, que trataremos da opçâo que sua administraçâo teve na escolha de urna linguagem arquitetônica moderna para a construçâo de novos campi, em especial, nesse estudo, as novas instalaçôes daquele que abrigaría a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Edificio D. Pedro I), a Faculdade de Ciências Económicas (Edificio D. Pedro II), a Biblioteca Central (transecto) e um grande auditòrio (Teatro).

Arquitetura Moderna: o exemplo do Campus Reitoria da UFPR David Abujamra e Rubens Meister

Coube ao Reitor da Universidade Federal do Paraná, Flavio Suplicy de Lacerda, realizar o convite ao arquiteto David Azambuja, o mesmo do Palacio Iguacu inaugurado em 1953, para projetar um novo campus. O compromisso assumido por Azambuja com o reitor para executar a construyo dos très edificios académicos nào o incumbiu de projetar o teatro. Esta tarefa ficou sob a responsabilidade do colega Rubens Meister, o arquiteto que projetou o Teatro Guaira. A aproximado entre eles foram várias, mas em nosso estudo cabe destacar a escolha que ambos tiveram pelo partido da linguagem moderna e ocuparem posi<;5es de destaque no ambiente arquitetónico paranaense. Além do currículo e a forma<;ao que tiveram na escola carioca, tinham reconhecimento pelos pares que estavam aptos a participar e contribuir com sua arte e técnica, o momento de transformado que a arquitetura universitària brasileira estava passando na segunda metade do século XX.

Para o novo campus foi destinado todo o quadrilàtero que compreende as Rúas XV de Novembro, Dr. Faivre, Amintas de Barros e General Carneiro. Apesar de situar-se cerca de 650m de distancia do prèdio central que abrigava a Faculdade de Ciéncias

Jurídicas (Prai^a Santos Andrade) e a 500m da Faculdade de Ciéncias Médicas (Rúa Padre Camargo), todos localizados em espatos privilegiados da malha urbana da cidade de Curitiba, o seu impacto no entorno daquela paisagem urbana nao teve qualquer obra que competisse com o mesmo porte de sua monumentalidade.

Figura 6. Estudo preliminar do conjunto arquitetónico da Reitoria da UFPR. Fonte: Rosa (1952).

 

Figura 7. Estudo preliminar do Rubens Meister.

Fonte: Acervo Histórico da Universidade Federal do Paraná.

Figura 8. Estudo preliminar do conjunto arquitetónico da Reitoria da Universidade Federal do Paraná.

Fonte: Rosa (1952).

 

Do ponto de vista da linguagem arquitetônica, a horizontalidade de linhas rígidas nos très estudos indicados acima está plenamente harmonizada com as vanguardas europeias. Com poucas variaçôes entre os estudos e a sua execuçâo, o projeto final é composto por dois edificios de altura desigual, ligados por um transecto de très pavimentos que interliga os dois edificios maiores por galerías localizadas no segundo e terceiro piso. O corpo mais alto (Edificio D. Pedro I) está composto com 11 andares e nele foi instalada a Faculdade de Filosofía, Ciências e Letras, o menor (Edificio D. Pedro II) com 8 andares, a Faculdade de Ciências Económicas, o transecto que no projeto original deveria funcionar a Biblioteca Central, para ele foi transferida a Reitoria da Universidade, o que ocasionou este complexo a ser denominado de Campus Reitoria. E por fim, o Teatro da Reitoria.13

 

A adoáo de brise-soleil fixas de estrutura sanfonada de concreto armado, composta por pestañas verticalizadas voltadas para o lado sul, que seguem a modulado das esquadrias, permitiram, por um lado, a iluminado sem intensidade excessiva

 

 

Os edificios sao muito parecidos na concepto do projeto e na questáo da distribuido dos espatos —mesma linguagem com características relevantes da arquitetura moderna, tais como o uso de pilotis que, nesse exemplo, viabilizaram a passagem regular de transeúntes, permitindo cruzar o ventre dos edificios levando-os a acessar o pátio que os separam.11 regularmente para manifestanóes políticas das categorías da comunidade universitária.

Figura 14. Vitrai da Capela Nossa Senhora do Carmo (Campus Reitoria) Fonte: Acervo Histórico da Universidade Federal do Paraná.

 

Inaugurado em 1958, o Teatro da Reitoria foi projetado para abrigar 700 pessoas e contava na época com toda a infraestrutura necessària para funcionar como casa de espetáculos, mas também para cerimónias de formaturas, assembleias dos sindicatos das categorias da universidade e múltiplos eventos académicos.

Diferentes de outras paisagens arquitetónicas modernistas, para este projeto nao foi urna preocupando imediata de David Azambuja investir em par cena com artistas plásticos, escultores ou paisagistas para compor a arquitetura do Campus Reitoria, a única condicáo que ele privilegiou foi o de acomodar o vitral de artista desconhecido, representando a via crucis, instalado na capela no primeiro pavimento do Edificio D. Pedro I.15

No que diz respeito a participando de Rubens Meister, ela reside na sua contribuinao como o arquiteto do Teatro da Reitoria. Sua intervenndo soube harmonizar o espano que fora destinado com a linguagem adotado por Azambuja, tornando-o integrado ao conjunto, apesar de nao ter adotado a verticalizanao como gabarito.

 

 

 

Sao também significantes a moderna ambientando de seus interiores, a visibilidade do palco de 120m2, o foyer e os seus camarins que, para além do atendimento do programa almejado pela reitoria de modernizar a universidade, presenteou a cidade com um novo espado cosmopolita destinado ao espetáculo teatral e musical. Assim, esse delicado e funcionalista edificio teatral, que aplicou em sua fachada principal urna cortina envidra^ada emoldurada por colunas de sustentando que se prolongam por toda a cobertura, foi, em grande parte, singular na arquitetura de teatros e protagonista da modernizando da dramaturgia paranaense ao emprestar seu tablado para inúmeras expressóes de vanguarda.

Este orgulho exacerbado foi, em certa medida, consequéncia do canteiro de obras monumentais instalado na Curitiba na década de 1950. Dentre elas merecem ser citadas, o Grupo Escolar Tiradentes (Rubens Meister, década de 1950), Banco Comercial do Paraná (Romeu Paulo da Costa, 1953), Centro Cívico do Paraná (David Xavier de Azambuja, 1953), Biblioteca Pública do Paraná (Romeu Paulo da Costa, 1954), Teatro Guaira (Rubens Meister, 1954), Palácio Igua<;u (David Xavier de Azambuja, 1954), Hipódromo do Tarumá (Edmir D’A villa, 1955), Departamento de Estradas e Rodagens (Ayrton Lolo Cornelsen, 1955), Centro Politécnico da UFPR (Rubens Meister, 1956, dentre outros).

Assim, podemos afirmar que os projetistas do Campus Reitoria da UFPR mantiveram fortes ligares com as manifestares inspiradas nos mestras das vanguardas arquitetónicas internacionais, mas nao deixando de lado as trocas estabelecidas com o movimento moderno no Brasil.

Pelo conjunto de sua composito, que comprovadamente é reconhecido como alinhado à historia do movimento modernista, foi que no final de 1997 ele foi registrado como bem tombado e protegido pela Coordenado de Patrimonio da Secretaria de Estado e Cultura do Paraná Número de inserido (123) Livro Tombo (II) n.° do processo (002/95).

Por firn, a arquitetura do Campus Reitoria expressa beleza plástica do objeto construido, transformando-o segundo a tòpica de Vinào (1998), em um espado universitàrio enquanto territòrio. Ao longo das décadas, esta plasticidade tem reproduzido rea^óes enaltecedoras que reconhecem o impacto dessa arquitetura no cenário da universidade, mas também o desagrado é audível ñas queixas de seus usuários, possivelmente pela disposilo interna de seu espado, decorrente do crescimento do número de unidades administrativas, de pesquisa e de ensino; a auséncia de um espado adequado para o lazer e o esporte coletivos; a insatisfa^ao de um espado que foi adaptado para exposicóes artísticas (hall do Edificio D. Pedro I); a falta de obras de arte contemporánea espalhadas nos locáis de grande circulado; nao existir um centro de convivéncia para a comunidade universitària; instalares sanitárias insuficientes à populado de usuários; protejo acústica escassa que nao impede os sons da malha urbana, em especial, os originários do intenso tráfego de automóveis em todas as vias de seu quadrilàtero etcetera, etcetera e mais etcetera. Todas elas, circunstáncias justificadas de um territòrio que neste ano de 2019 completa 61 anos, e traz consigo o peso de urna responsabilidade de nao atender as expectativas da sua comunidade universitària, para além do que lhe foi prometido em 1958.

Tais críticas demonstram, certamente, a insatisfa<;áo dos usuários contemporáneos com o espa<;o de experiéncia vivenciada nesse objeto arquitetónico, as quais residem nao somente em seus aspectos formáis, mas também em sua configurado volumétrica.

Contudo, enquanto foi possível, essa arquitetura soube bem utilizar em sua dimensáo funcional e simbólica, o discurso moderno presente na primeira metade do Século XX, o que permitiu, segundo Habermas (1985, p. 29), «[...] que se unissem livremente o viés estético do construtivismo e a vinculacáo a finalidades do funcionalismo estrito».

Recibido: 15 de junio de 2019 Aceptado: 29 de julio de 2019

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Ilustraçôes

Figura 1. Edificio do Ministério da Educado e Sáude Pública (Atual Palácio Capanema). Fonte: Instituto do Patrimonio Histórico Artístico Nacional.

Figura 2. Plano Piloto de Brasilia, de autoria de Lúcio Costa, vencedor no Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, em 1956. Fonte: Costa (1991).

Figura 3. Palàcio do Congresso Nacional (Brasilia). Fonte: Biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica.

Figura 4. Palàcio do Planalto (Brasilia). Fonte: Biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica.

Figura 5. Supremo Tribunal Federai (Brasilia). Fonte: Biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica.

Figura 6. Estudo preliminar do conjunto arquitetónico da Reitoria da UFPR. Fonte: Rosa (1952).

Figura 7. Estudo preliminar do Rubens Meister. Fonte: Acervo Histórico da Universidade Federal do Paraná.

Figura 8. Estudo preliminar do conjunto arquitetónico da Reitoria da Universidade Federal do Paraná. Fonte: Rosa (1952).

Figura 9. Estudo preliminar do conjunto arquitetónico da Reitoria da Universidade Federal do Paraná. Fonte: Rosa (1952).

Figura 10. Diferentes fases da execui^áo do Campus Reitoria. Fonte: Acervo Histórico da Universidade Federal do Paraná.

Figura 11. Diferentes fases da execu<;áo do Campus Reitoria. Fonte: Acervo Histórico da Universidade Federal do Paraná.

Figura 12. Edificios D. Pedro I e D. Pedro II (Campus Reitoria). Fonte: Acervo Histórico da Universidade Federal do Paraná.

Figura 13. Detalhe do Edificio D. Pedro I (Campus Reitoria). Fonte: Acervo Histórico da Universidade Federal do Paraná.

Figura 14. Vitral da Capela Nossa Senhora do Carmo (Campus Reitoria). Fonte: Acervo Histórico da Universidade Federal do Paraná.

Figura 15. Planta do auditorio do Teatro (Campus Reitoria). Fonte: Acervo Histórico da Universidade Federal do Paraná.

Figura 16. Fachada do auditorio do Teatro (Campus Reitoria). Fonte: Acervo Histórico da Universidade Federal.

   Pesquisa financiada com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

2

   Doutor em Historia pela Universidade de Sao Paulo (Brasil) e Professor Titular de Historia da Educaçâo da Universidade Federal do Paraná (Brasil), com pós-doutorado pela École Nationale Supérieure d'Architecture de Versailles (França) e aperfeiçoamento em Arquitetura Escolar pela Universitédu Québec à Montréal (Canadá). Foi professor visitante na Universidade do Estado de Santa

3

A Ditadura Vargas é considerada o evento mais contundente da historia política do Brasil da primeira metade do século XX. Ela se inicia quando Getúlio Vargas, líder da denominada Revolucáo de 1930, depós por meio de um golpe

4

no cenário político e social brasileiro, quando, dentre outras medidas, estabeleceu o direito de voto feminino, promulgou novas leis que protegiam os trabalhadores e incorporou um teor nacionalista bastante acentuado para a economía, na sua fase posterior, ele é marcada por um processo de profunda radicalizado de Getúlio Vargas, que liderou pessoalmente a instalando do Estado Novo (1937-1945), fazendo-o permanecer como chefe supremo dañando até o final da ditadura, em 1945. Momento em que o Brasil opta por um período de redemocratizanao, mas que irá durar quase duas décadas, quando se inicia a ditadura civil-militar de 1964 a 1982. Para maiores aprofundamento sugiro a

5

Dentre os significados que o verbo tombar possui na língua portuguesa está o de inventariar com fins de inscrever bens nos arquivos do Estado. No campo patrimonial esta expressáo significa que um bem material ou imaterial tombado é aquele que o Estado assume a responsabilidade de conservá-lo e protegé-lo

6

   Em Sao Paulo, o arquiteto e imigrante russo, Gregori Warchavchik, foi o primeiro a construir urna casa modernista (1927), introduzindo um novo repertorio que o tornou em importante expoente da arquitetura moderna no Brasil.

7

   Arquiteto do Movimento Moderno e professor da Universidade Federal do

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Paraná (UFPR), Rubens Meister ficou conhecido como o Pai de obras como o Teatro Guaira —um dos símbolos culturáis do estado, da rodoferroviária da capital e do Palácio 29 de Marceo —a casa da Prefeitura. O arquiteto aínda é responsável pelos projetos da sede da Federado das Indústrias do Paraná (Fiep), do edificio Baráo do Rio Branco, do prédio da Caixa Económica Federal na Pra^a Carlos Gomes, do Teatro da Reitoria e do complexo do Centro Politécnico da

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   O Plano de Urbanizacao de Curitiba foi concluido em 1943 e teve a contribuíalo do renomado urbanista francés Donat Alfred Agache.

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   Na data de 26 de agosto de 2011, o Conselho do Patrimònio Histórico e Artístico (CEPHA), da Coordenadoria de Patrimònio Cultural, órgào da

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Este pátio foi utilizado durante anos como estacionamento de veículos oficias da administrando e de funcionários da universidade. Na década de 1980, ele foi definitivamente transformado em espado de circulando e lazer, utilizado

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