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Pampa (Santa Fe)

versión On-line ISSN 2314-0208

Pampa  no.18 Santa Fe dic. 2018

 

05 O mercado da soja no Paraguai: concentração e transnacionalização

Valdemar João Wesz Junior
Universidade Federal da Integração Latino, Americana (UNILA), Brasil
Correo electrónico: valdemar.junior@unila.edu.br

Fecha de recepción: 02 | 04 | 2018
Fecha de aceptación final: 08 | 10 | 2018

RESUMO

Nas últimas décadas, a produção de soja se tornoua principal atividade agrícola no Paraguai. Este artigodescreve a expansão desta commodity no país, identificando os principais atores envolvidos nesta cadeia produtiva (produtores rurais e empresas) e seu poder de mercado. Para tanto, realizou–serevisão da literatura acadêmica, levantamento de dados secundários, consulta nos relatórios das empresas do setor, visitas às principais feiras agropecuárias do país e entrevista comatores–chaves. Os resultados apontam que o mercado da soja no Paraguai apresenta um movimento conjunto de concentração e transnacionalização dos produtores e das empresas.

Palavras–chave: Mercado da soja; agronegócio; empresas transnacionais; Paraguai.

The soy market in Paraguay: concentration and transnationalization

SUMMARY

In the last decades, soybean production has become the main agricultural activity in Paraguay. This article describes the evolution of the productive process of such commodity in that country, identifying relevant actors (rural producers and companies) and depicting their market power. Information have been collected from a literature review, national surveys, reports from production companies, visits to the main Paraguayan agricultural fairsand interview with key actors. Results indicate the presence of a process of concentration and transnationalization of Paraguayan producers and companies within the soybean market.

Key words: soy market; agribusiness; transnational companies; Paraguay.

1. Introdução

O sistema agroalimentar contemporâneo tem passado por profundas e inter–relacionadas transformações políticas, institucionais, econômicas, regulatórias, financeiras, sociais, tecnológicas e organizacionais (Bonanno e Constance, 2008; Wilkinson, 2009; Cohen, 2007; Clapp e Fuchs, 2009; Sauer e Leite, 2012). Entre estas mudanças, cabe mencionar a institucionalização de formas globais de governança, a maior integração e extensão da cadeia de valor, a ampliação e intensificação do papel do capital nos processos produtivos, a estandardização das tecnologias usadas, a maior concentração da terra (em poucos produtores) e da produção (em poucas atividades agropecuárias), a crescente participação de atores estrangeiros e não agrários ea priorização das necessidades do consumidor global em comparação ao local (Gras e Hernández, 2013).
Os novos contornos e as recentes configurações dos mercados agroalimentares ganharam muito impulso no Paraguai via complexo soja (grão, óleo e farelo), que tem sido identificado como «la columna vertebral del agronegocio em Paraguay» (Rojas Villagra, 2009), sendo o maior cultivo em termos de valor bruto da produção, extensão e infraestrutura de industrialização e escoamento (Ferreira e Vázquez, 2015). Enquanto que em 1995 o grão dominava 28,3 % da área cultivada no verão e 11,6 % das exportações totais (Fogel e Riquelme, 2005; OEA, 2009), em 2014 passou a ocupar 71,2 % das terras aráveis do país e a responder por 40,4 % das exportações totais (MAG, 2016; BCP, 2016). Em paralelo, Paraguai se solidificou como sexto maior produtor mundial e quarto exportador de soja em grão (USDA, 2017).
Apesar desta grande centralidade que o complexo soja assumiu no Paraguai, há uma grande carência de estudos acerca dos principais atores por traz do avanço desta cadeia produtiva no país1. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar a expansão da soja no Paraguai, identificar os principais atores envolvidos nesta cadeia produtiva (produtores rurais e empresas a montante e a jusante) e, na medida do possível, mapear seu poder de mercado.
Além da utilização de uma literatura acadêmica especializada na discussão dos temas abordados, foi feito um levantamento de dados secundários, consultando Censos Agropecuários, além dos dados disponibilizados pelo Ministerio de Agricultura y Ganaderia (MAG), Cámara Paraguaya de Exportadores y Comercializadores de Cereales y Oleaginosas (Capeco), Cámara Paraguaya de Procesadores de Oleaginosas y Cereales (Cappro), Banco Central del Paraguay (BCP), Dirección Nacional de Aduanas (Aduana), Centro de Importadores del Paraguay (CIP), Divisão de Estatísticas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (Faostat), Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), entre outros.
Paralelamente, foram coletadas informações em materiais midiáticos, especialmente jornais e revistas, além de um levantamento nos relatórios, boletins institucionais e balanços particulares das empresas que atuam na cadeia produtiva da soja no Paraguai.Para complementar asinformações, foram visitadas as principais feiras agropecuárias do país, como a Expo Santa Rita 2015 e 2016 (no distrito de Santa Rita – Alto Paraná), Innovar 2017 (no distrito de Colónia Yguazú, Alto Paraná) e Expo Regional Canindeyú 2017 (no distrito de La Paloma do Espírito Santo, Canindeyú). Nestas feiras, além de observar algumas dinâmicas comerciais, foram entrevistados representantes de 16 empresas de diferentes segmentos (máquinas, revendas de insumos e compra de grãos). Por fim, foram entrevistados representantes da Capeco e Cappro.
Este artigo está estruturado em quatro partes, além da Introdução e das Considerações Finais. Inicialmente apresenta o tema da expansão do cultivo da soja no Paraguai, evidenciando as variações nasuperfície plantada, produção, rendimento médio por área e regiões de cultivo. Na sequencia trazalgumas características dos produtores rurais que cultivam a oleaginosa, sobretudo em termos de estrutura fundiária e nacionalidade. Em seguida aborda os atores envolvidos a montante da cadeia produtiva, isto é, segmento de máquinas e de insumos, como sementes, fertilizantes e defensivos. Por fim, aprofunda nas empresas a jusante, sobretudo nas firmas que exportam produtos do complexo soja (grão, óleo e farelo).

2. Expansão do cultivo da soja no Paraguai

A produção de soja no Paraguai foi completamente residual até a metade do século XX. Os dados do Censo Agrícola de 1943 e do Censo Agropecuário de 1956 indicavam que eram cultivados menos de 250 hectares em todo o país, cuja produção não chegava a 200 toneladas (MAG, 1960). Na década de 1960 o grão começa a se difundir com maior intensidade, mas ainda detinha uma produção inferior a 40 mil toneladas e uma área abaixo de 15 mil hectares, o que significa que ocupava menos de 2 % das terras em cultivo no país. Nos anos 1970 a soja ganhou mais força, superando 350 mil hectares plantados e obtendo 550 mil toneladas colhidas em 1979 (figura 1) (Faostat, 2016). Foi decisivo para esta ampliação o significativo aumento da demanda e do preço no mercado internacional, bem como o fortalecimento do modelo agroexportador estimulado durante a ditadura de Stroessner (1954–1989), principalmente com o Primeiro Programa Nacional de Soja, que foi lançado em 1972 e oferecia aos produtores facilidades para acessar o crédito rural. Entretanto, poderiam participar apenas aqueles agricultores que possuíam as escrituras das terras e que detinham a produção «semimecanizada», pois «esses estariam em condições melhores para aumentar a área cultivada bem como modernizar a produção, conforme almejava o governo ditatorial» (Klauck, 2011:873/4).
Além disso, a expansão do cultivo da soja no Paraguai está fortemente vinculada com o estabelecimento de um grande número de agricultores brasileiros que se instalaram na região oriental do país nas décadas de 1960 e 19702. Esta migração ocorreu em um contexto de expulsão de muitos agricultores de suas propriedades de origem devido à construção da hidrelétrica de Itaipu, responsável pela desapropriação de 42 mil pessoas, em sua maioria pequenos produtores rurais do oeste do Paraná. Além disso, o processo de modernização da agricultura brasileira, caracterizada pela expropriação de milhões de pequenos produtores, parceiros, arrendatários e posseiros e pela concentração da propriedade da terra também foram elementos determinantes para formar um grande grupo de produtores pré–dispostos a migrarem (Zaar, 2001; Moraes Silva e Melo, 2009).
Do lado paraguaio, Stroessner buscava consolidar um modelo de agricultura para exportação e favoreceu a entrada de agricultores brasileiros para que aumentassem as áreas de lavouras —sobretudo soja— destinadas ao mercado internacional. Para tanto, aboliu a lei que proibia a compra de terras por estrangeiros na faixa de 150 quilômetros de suas fronteiras e ofereceu facilidades na concessão de terras e no financiamento das atividades agropecuárias. Além disso, eram elementos atrativos para os agricultores brasileiros os baixos preços da terra e sua alta fertilidade, a baixa densidade populacional na região, os elevados preços internacionais dos produtos, a inexistência de impostos sobre a produção agrícola e a total permissividade do Estado com o desmatamento (Pappalardo, 1995; Nickson, 2005; Rojas Villagra, 2015).
Na década de 1980 a superfície cultivada com soja continuou crescendo, ainda que em 1986 uma forte estiagem tenha provocado uma redução na área e na produção (figura 1). De 1990 a 1991 ocorre uma nova queda da soja no Paraguai, motivada principalmente pela baixa nos preços internacionais e por problemas climáticos. Entretanto, de 1991 a 2015 houve uma ampliação ininterrupta da área cultivada, passando de 550 mil ha para 3,5 milhões de hectares (crescimento superior a seis vezes). A participação da soja sobre o total das terras aráveis no Paraguai passou de 25 % para mais de 70 % no mesmo período (Faostat, 2016), demonstrando a grande concentração e a dependência da agricultura nacional neste grão (de cada três hectares plantados no Paraguai no verão, duas são com a soja).
Já a produção não teve o mesmo desempenho (figura 1), com fortes oscilações entre as safras. Isso decorre, principalmente, das variações climáticas (excesso ou falta de chuvas), que fizeram com que houvesse uma elevada redução no rendimento médio em alguns períodos específicos, com destaque a 2009 e a 2012, quando a queda na produção foi superior a 50 %. Apesar disso, é evidente o crescimento do volume produzido, que saltou de 1,4 milhão em 1991 para praticamente 10 milhões em 2014 (MAG, 2016).

Figura 1
Área cultivada (hectares) e produção (toneladas) de soja no Paraguai (1970–2015)

Fonte: Faostat (2016) e MAG (2016).

O aumento da produção de soja geralmente aparece atrelado ao acréscimo do rendimento por área, como usualmente consta nas apresentações das empresas do setor, sendo fatorchave a incorporação de novas tecnologias (plantio direto, sementes transgênicas, corretivos químicos, equipamentos adaptados, plantio de precisão, etc.), que amplia o rendimento por superfície plantada. Ao analisar este desempenho entre 1980 a 1995, é evidente seu crescimento (166 %), quando passou de 1130 kg/ha para 3008 kg/ha. Entretanto, nos últimos 20 anos não tem havido um aumento sustentado do rendimento. Entre 1995 a 2015, além de não haver média nacional acima de três toneladas/ha, chama atenção as fortes variações entre as safras (com anos alcançando apenas 1500 kg/ha, pelos motivos já comentados). Portanto, ainda que as inovações tecnológicas sejam uma constante no cultivo da soja, os dados do Paraguai indicam a centralidade da expansão por área.
A figura 2 procura ilustrar esse contexto ao apresentar a área plantada com soja e o rendimento médio nacional entre 1980 e 1995 (1980 = 100) e entre 1995 e 2015 (1995 = 100). No primeiro período é evidente que o aumento na produção se deu principalmente em função da produtividade por área. Entretanto, no segundo momento, o que chama atenção é a ausência de um crescimento continuo deste rendimento, enquanto a área com soja é ampliada anualmente. Esse resultado indica que foi na superfície cultivada que se ancorou o aumento da produção de soja no Paraguai, sobretudo nos últimos 20 anos.

Figura 2.
Área plantada com soja e rendimento médio da produção no Paraguai entre 1980–1995 (1980 = 100) e entre 1995–2015 (1995 = 100)

Fonte: MAG (2016).

Ferreira e Vázquez (2015) mostram que existe uma grande diferença na produtividade da soja entre os distritos paraguaios, cujos índices maiores se encontram justamente nas áreas de solo residual laterítico vermelho («terra vermelha»), que abarca todo Departamento de Alto Paraná e partes de Itapúa, Canindeyú e Caaguazú. Mesmo com as disparidades internas, os resultados do rendimento do Paraguai não se distanciam dos países produtores vizinhos. Se considerar a média de produtividade de 2013, 2014 e 2015 de Brasil, Argentina e Paraguai, se percebe semelhança nos resultados, com médias de 48,8, 45,9 e 46,1 sacas/ha, respectivamente (Conab, 2016; MAGyP, 2016; MAG, 2016).
Em termos espaciais, a soja teve início no Departamento de Itapúa, onde já estavam instalados colonos de origem europeia de dispunham de terra e capital para impulsionar a produção do grão. No final dos anos setenta o Departamento de Alto Paraná começa expandir o cultivo, «com o forte impulso dos migrantes brasileiros e das empresas agroindustriais» (Rojas Villagra, 2015:80). Os dados do Censo Agropecuáriode 1981 (figura 3) indicam esse processo, com Itapúa controlando 61,3 % da área e Alto Paraná 17,1 % (MAG, 1983). Entretanto, chama atenção a amplitude do cultivo naquele momento, não estando presente apenas no Departamento de Asunción (MAG, 1983). Esta abrangência se deve ao fato de que fora de Itapúa e Alto Paraná, onde a soja já estava sendo produzida em maior escala para fins comerciais, ela era usada como forragem para o gado leiteiro (Torres Figueredo e Miguel, 2005).

Figura 3
Área cultivada com soja por departamento no Paraguai

Fonte: MAG (1983, 1993 e 2016). Elaboração do autor.

A safra 1990/91 consolida a importância de Itapúa e Alto Paraná, localizados na divisa com Brasil e Argentina, quando respondiam por 80 % da superfície cultivada e eram os únicos com mais de 200 mil hectares cultivados. Já na virada do século, dois processos correlatos podem ser visualizados. Por um lado, houve uma redução no número de regiões produtoras (principalmente aquelas localizadas no oeste do país), que mesmo sem uma área expressiva, apareciam nas estatísticas com algumas dezenas de hectares. Por outro lado, ocorre o fortalecimento dos departamentosde Itapúa e Alto Paraná, além de Canindeyú – regiões onde a presença de produtores brasileiros é majoritária (MAG, 2016).
Nos anos mais recentes mantém–se a importância de Itapúa, Alto Paraná e Canindeyú, além de San Pedro e Caaguazú, todos com mais de 200 mil hectares cultivados com soja (figura 3) e respondendo por praticamente 90 % da área plantada (MAG, 2016). Também ocorreu a ampliação para outros departamentos, como Amambay, Caazapá, Misiones e Concepción. Outra novidade é a expansão daprodução de soja na região do Chaco, sobretudo em Boquerón, que alcançou 5 mil hectares plantada em 2015. Vale reforçar que Capeco, USDA e Universidade de Missouri estão com um projeto para desenvolver o cultivo da soja nas altas temperaturas do Chaco, o que permitiria ampliar ainda mais as áreas de cultivo no país3. Em suma, tem havido a consolidações do cultivo de soja em algumas regiões na parte oriental, bem como o avanço da fronteira para outras áreas (com destaque ao Chaco).
Visto que o aumento da produção de soja no Paraguai está fortemente relacionado com o crescimento da superfície cultivada (figura 2) e com o avanço da fronteira para novas áreas em paralelo à sua intensificação nas regiões pioneiras (figura 3), a cada ano o grão tem adentrado em novos espaços. Esse processo de expansão tem gerado inúmeros conflitos, que se inflamam diante da informalidade jurídica de um grande número de propriedades no Paraguai (Vázquez, 2006). Nesse processo de incorporação de novas áreas para a produção de soja, três dinâmicas inter–relacionadas estão em curso: expansão em grandes e médias propriedades, cujos espaços já vinham sendo usados para outras atividades econômicas, sobretudo a pecuária (Torres Figueredo e Miguel, 2005); avanço sobre áreas de camponeses e indígenas, com redução da superfície destinada à produção de alimentos e de matérias–primas (mandioca, feijão, milho, algodão, gergelim, chia, fumo, etc.)4 (Riquelme e Vera, 2013); expansão da soja sobre a vegetação nativa, sobretudo bosque atlântico, com seu desmatamento5 (Fogel e Riquelme, 2005; Palau 2015 e 2016).
Toda essa dinâmica de expansão da soja no Paraguai tem sido levada a cabo por um conjunto de atores que estão, de alguma forma, articulados nesta cadeia produtiva, como produtores rurais, indústrias de máquinas, fertilizantes e agroquímicos, revendas, bancos, firmas de assistência técnica, silos, agroindústrias, transportadores, cooperativas, organizações de representação dos produtores e das empresas, etc., cujas informações e dados sobre sua atuação são limitadas. Neste estudo nos centraremos nos produtores rurais e nas empresas a montante e a jusante da cadeia produtiva.

3. Produtores de soja no Paraguai

A identificação e caracterização dos produtores de soja no Paraguai ainda é uma incógnita diante da escassez, para não dizer inexistência, de estudos sobre o tema. A principal base de informações disponível, ainda que defasada, provem dos Censos Agropecuários do país (1943, 1956, 1981, 1991 e 2008), sobretudo os dois últimosque permitem identificar a estrutura fundiária e a nacionalidade dos produtores. Em termos do número de agricultores com cultivo de soja, os dados de 1943 e 1956 indicavam a presença de 478 e 665, respectivamente (MAG, 1960). Naquele momento a área média plantada por estabelecimento era inferior a meio hectare, visto que a produção se destinava à alimentação de bovinos e suínos nas propriedades rurais. Já em 1981 o cenário é muito diferente, quando foram mapeados 29 663 agricultores (80 % em Itapúa, Alto Paraná e Canindeyú), com área média de 16,7 ha por estabelecimento (MAG, 1983). Em 1991 há uma redução no número de produtores (26 720), mas com crescimento na superfície média por estabelecimento (20,7 ha) (MAG, 1993).
Entre 1991 e 2008 o número de produtores de soja teve um crescimento modesto, quando passou de 26 720 para 28 917 (aumento de 8,2 %). Por outro lado, a área plantada e a produção tiveram uma ampliação muito superior – 345 % e 551 %, respectivamente (tabela 1), indicando um movimento de concentração no cultivo da oleaginosa. Entretanto, isso se torna mais claro quando são analisados os produtores por tamanho da área total dos estabelecimentos. Com esse recorte, percebe–se que aqueles com menos de 100 hectares têm se mantido na produção do grão e continuam representando praticamente 80 % das unidades com soja em 2008. Se desagregarmos ainda mais, o Censo indica que 50 % dos produtores têm menos de 20 ha. Esse resultado é importante por apontar que grande parte dos «sojicultores» possuem propriedades pequenas, os quais na maioria das vezes não aparecem nos debates sobre esta cadeia produtiva, como se esta fosse composta exclusivamente por grandes produtores6. Mas, apesar da sua presença, vale ressaltar que o crescimento do número de sojicultores foi maior nos estabelecimentos com mais de mil ha, que aumentou mais de 400 % (tabela 1).

Tabela 1.
Número de estabelecimentos produtores de soja, área cultivada com o grão e a sua produção por estratos de área total no Paraguai (1991 e 2008)

Fonte: Censo Agropecuário de 1991 e 2008, MAG (1993 e 2009).

Em termos de área plantada e produção de soja, as transformações são mais evidentes. Os estabelecimentos agropecuários menores que 100 ha detinham aproximadamente 217 mil hectares cultivados em 1991, passando a 277 mil em 2008 (aumento de 27,6 %); já a produção teve uma ampliação de 84 % (saltou de 400 mil para 740 mil toneladas). Contudo, nas unidades maiores que mil hectares, o crescimento ocorreu de modo muito mais intenso: passou de 94 mil para mais de um milhão de hectares (ampliação superior a 10 vezes), sendo que a produção avançou de 178 mil para 3,2 milhões de toneladas (aumento de 1720 %).
Enquanto em 1991 os estabelecimentos menores a 100 ha representaram 40 % da área plantada e da produção de soja, em 2008 este valor chegava a apenas 11 %. Já as unidades maiores a mil hectares, que na primeira data somavam 17 %, em 2008 alcançaram um valor próximo à metade de toda área plantada e da produção do grão no Paraguai. Por tanto, há um processo de transferência, em termos relativos, da área e da produção de soja das pequenas unidades para aquelas com maior disposição de terras. Em suma, os dados do Censo apontam que, apesar de haver uma manutenção do cultivo da soja nos estabelecimentos menores ao longo do período, houve uma forte concentração da área e da produção nas grandes unidades (maiores de mil hectares) (tabela 1).
Outra característica dos produtores de soja refere–se a sua nacionalidade. O estudo conduzido por Galeano (2012), também com base no Censo Agropecuário de 2008, aponta que 64 % de toda superfície de soja era cultivada por produtores estrangeiros, sendo 50 % brasileiros e 14 % de outros países sul–americanos (destaque aos argentinos), europeus (alemães e espanhóis, sobretudo) e asiáticos (japoneses predominantemente). Ao cruzar nacionalidade e tamanho da propriedade (figura 4), fica claro que «son los produtores extranjeros los que predominan em las medianas y grandes explotaciones. Por consiguiente, en la producción de este rubro agrícola, se confirma la correlación entre la concentración y la extranjerización» (Galeano, 2012:415).

Figura 4
Área cultivada com soja pornacionalidade do produtor e tamanho do estabelecimento em 2008 (%)

Fonte: Censo Agropecuário de 2008. Elaborador por Galeano (2012).

Apesar de o Censo Agropecuário já indicar a alta incidência de brasileiros na produção de soja, acredita–se que se trata de valores ainda maiores. Isso porque, o Censo não permite identificar os filhos de brasileiros nascidos no Paraguai (e que constam como paraguaios nestas estatísticas) e a nacionalidade ou a origem do capital das associações, empresas ou sociedades legalmente constituídas (pois o Censo disponibiliza esse tipo de informação apenas para produtores individuais). Outros estudos também tem procurado dimensionar valores, ainda que estimados. Zaar (2001) afirmou que os brasileiros e seus descendentes teriam sido responsáveis por 80 % da soja produzida no país na virada do século passado enquanto que a Revista Exame (2011) nos diz que o percentual atingiria 90 % na safra 2010/11. Independente dos percentuais, é consenso a forte atuação de brasileiros e seus descendentes no cultivo de soja em solo paraguaio.
A atuação de grandes grupos na produção de soja também tem ganhado visibilidade. Entretanto, o nome dos grupos, a área cultivada e a sua nacionalidade são cada vez mais difíceis de serem identificados em função da presença de grandes empresas de capital aberto, controladas por fundos estrangeiros ou por empresários nacionais ligados a outros ramos da economia.Ogrupo de maior visibilidade é o Favero, do brasileiro Tranquilo Favero, que reside no Paraguai desde os anos setenta e está constantemente na mídia por conta de problemas fundiários. É conhecido como «rey de la soja», por ser o maior produtor da oleaginosa no país, com mais de 50 mil hectares plantados na safra 2010/11 (Revista Exame, 2011), o que representava cerca de 8 % da produção nacional. Segundo Rojas Villagra (2009 e 2016), o Grupo possui terras em 13 dos 17 Departamentos do país, chegando a aproximadamente 130 mil hectares, e controla nove empresas, que cobrem um amplo nicho de negócios do setor7.
Outro importante grupo é Paraguay Agricultural Corporation S.A. (Payco), do Grupo Espírito Santo de Portugal associado à DEG, subsidiária do banco alemão KfW. «En noviembre de 2014, las empresas Sociedad Agrícola Golondrina SA, Ganadera Corina SA y Consorcio ForCerPa (Forestería Certificada del Paraguay) se fusionaron conformando PAYCO SA» (Guereña y Rojas Villagra, 2016:62). Esta firma possui 136 mil hectares, principalmente nos departamentos de San Pedro, Caazapá y Ñeembucú (Rojas Villagra, 2016). Além da pecuária e produção florestal, atua na agricultura, sobretudo soja (que ocupa 85 % da área agrícola), além de arroz, algodão, trigo e milho (Payco, 2016). Abaixo das 100 mil hectares de área total existem uma série de outros grupos e produtores individuais que atuam no cultivo da soja no Paraguai. A participação de produtores de soja em cooperativas não assume grande centralidade no Paraguai8 .

4. Segmento a montante na cadeia da soja no Paraguai

O segmento a montante de uma cadeia produtiva é caracterizado pela oferta de máquinas e equipamentos para produção agrícola e de insumos, como sementes, fertilizantes e defensivos (herbicidas, fungicidas, acaricidas e inseticidas). No segmento de tratores e colheitadeiras, segundo dados da Câmara de Distribuidores de Automotores e Máquinas (Cadam, 2017), há uma grande concentração nas três empresas líderes mundiais: CNH (com as marcas Case IH e New Holland), AGCO (com as marcas AGCO, Valtra e Massey Ferguson) e John Deere (figura 5). No Paraguai não há indústria de tratores e colheitadeiras, existindo somente concessionárias que estão espalhadas nas principais regiões agrícolas, que importam estas máquinas e atuam como representantes das marcas. Entre as principais concessionárias, cabe destacar Ciabay (representante das marcas Case IH e New Holland), Automaq (John Deere), DLS – De La Sobera (Massey Ferguson), Rieder & Cia (Valtra), Kurosou & Cia (John Deere) e Agro Silo Santa Catalina (New Holland).

Figura 5
Importação de tratores e colheitadeiras (%) por empresa no Paraguai (2012–2016)

Fonte: Cadam (diferentes anos).

No segmento de insumos para produção de soja (fertilizantes, sementes e defensivos), pode–se dizer que existem dois grandes grupos de atores–chaves: empresas que produzem e comercializam marcas próprias e empresas que comercializam e distribuem marcas de terceiros (revendas). No caso dos fertilizantes, sobretudo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), é muito forte a presença da Mosaic, líder mundial em produção e comercialização de fosfato e potássio concentrados, que foi constituída a partir da fusão da Cargillcom a IMC Global e que, em 2014, comprou o ramo de fertilizantes da ADM no Paraguai (inclusive a fábrica de fertilizantes localizada em Villeta). Além da Mosaic, existem outras firmas que comercializam marcas próprias, como Bunge, Dreyfus e Cofco9. No caso daquelas que chegam no país via revendedores, pode–se citar a Yara, líder global em nutrição de plantas, que tem como principal representante no Paraguai a Agrofértil e a Glymax; e a Fertipar, empresa brasileira de fertilizantes, que é comercializada por Matrisoja, Lar, Ciabay, entre outras.
Em relação às empresas de sementes e defensivos presentes no Paraguai, estão as principais líderes mundiais: Syngenta, Basf, DuPont, Dow, Bayer e Monsanto10. Apesar de não haver dados do faturamento ou do volume de vendas das firmas deste ramo, reconhece–se a importância delas por serem justamente os únicos membros da CAFYF (Câmara de Fitossanitários y Fertilizantes do Paraguai). Com exceção da Basf e da DuPont, as demais possuem sede no país e realizam a importação direta. Mas todas elas têm seus produtos sendo comercializados por diferentes revendas:Agrotec (Basf e DuPont), Agrofértil (Monsanto e Nidera), Dekalpar (Monsanto e Bayer), Diagro (Dow), Ciabay (Bayer e Dow), Glymax (DuPont), Agrícola Colonial (Syngentae Nidera), Aktra (Monsanto), Lar (Dow e Syngenta). Também merece destaque a paraguaia Tecnomyl, que nasceu em 1991 e atua na produção e comercialização de agroquímicos. Além de importar matéria–prima para a elaboração de seus produtos, ela também produz seus próprios ingredientes ativos.
Como já comentado, há uma grande carência de informações estatísticas neste elo da cadeia produtiva. A única fonte disponível refere–se ao volume importado com adubos/fertilizantes (capítulo 31 dentro da NCM, Nomenclatura Comum do Mercosul) e agroquímicos (posição 3808 da NCM) por empresa, que permite estimar o poder de mercado visto que grande parte dos produtos consumidos no país provem de importações e a soja é o cultivo com maior demanda.
Para tanto, separou–se entre empresas que, majoritariamente, produzem e comercializam marcas próprias e empresas que comercializam e distribuem marcas de terceiros (revendedores) (tabelas 2 e 3). Em relação à importação de fertilizantes, chama atenção a presença das companhias líderes na exportação de soja. Isso ocorre devido a uma importante estratégia empresarial assumida por Cargill, ADM, Bunge, Dreyfus y Cofco, que operam de forma verticalizada, ou seja, participam de diferentes elos da cadeia produtiva (esse tema será discutido mais adiante). Na maioria dos anos ADM era quem mobilizava as maiores importações, mas com a compra do ramo de fertilizantes pela Mosaic/Cargill, a empresa saiu deste mercado (tabela 2). No setor de defensivos, as transnacionais Syngenta, Dow, Bayer, Monsanto mobilizam importantes cifras (mais de 50 % em 2014), que seria ainda maior se não ocorresse a importação de seus produtos pelas próprias revendas. Também aparece na lista a paraguaia Tecnomyl (tabela 3).

Tabela 2
Volume importado (%) com fertilizantes por empresa no Paraguai (2012–2016)

Fonte: Aduana (2017).

Tabela 3
Volume importado (%) com agroquímicos por empresa no Paraguai (2012–2016)

Fonte: Aduana (2017)

Já as revendas atuam tanto na importação de fertilizantes como de agroquímicos, ainda que sua participação possa variar entre os dois segmentos. Nesse grupo é evidente a importância de Agrotec (junto com Caelum, que também faz parte do grupo Agrihold), Agrofértil, Glymax, Ciabay, Dekalpar, Grupo Favero (principalmente Agro Silo Santa Catalina e Akra), Somax Agro, Diagro, Matrisoja, Agrícola Colonial, CHS, C. Vale e Timac Agro (tabelas 2 e 3). Estas firmas estão nas principais regiões de produção de soja e também ofereçam insumo para outros cultivos (como milho, trigo, arroz e algodão). É válido pontuar que existem inúmeras outras revendas, sendo que algumas têm uma atuação em municípios ou regiões mais especificas, inclusive comercializando produtos de revendas maiores.
As revendas atuam como representantes das principais empresas transnacionais e, além de comercializarem produtos individualmente, geralmente organizam para os produtores rurais os chamados «pacotes», em que são vendidos sementes, fertilizantes e defensivos de forma agrupada, além da assistência técnica oferecida ao longo da safra11. O pagamento do «pacote» pode ser à vista ou na safra, em dinheiro ou em soja (geralmente o valor é convertido em sacas de soja e é quitado com o grão). Para aqueles que pagam após a colheita, é recorrente a realização de um contrato em que o produtor oferece alguma garantia à empresa em caso de não efetivar o compromisso. Em função dessa lógica (recebimento do grão para pagamento dos insumos), algumas empresas também atuam no armazenamento e na exportação, como será abordado no próximo item. Vale destacar que grandes empresas transnacionais (Cargill, ADM, Bunge e Dreyfus) também formam pacotes com produtos das marcas próprias, e também incluem produtos de empresas parceiras12.
Rojas Villagra (2009) e Garay (2015) fazem uma discussão sobre a origem das empresas que atuam a montante da cadeia produtiva da soja no Paraguai. No caso das firmas transnacionais líderes mundiais predominam firmas americanas (Cargill, ADM, Bunge, Monsanto, Dow, Dupont, John Deere, CNH, AGCO), europeias (Dreyfus, Bayer, Syngenta, Basf, Yara) e, mais recentemente, estão ganhando espaço às chinesas (Cofco, ChemChina). Mas, no caso das revendas, há uma forte influencia do Brasil. Algumas são efetivamente brasileiras (Ovetril, Lar, C. Vale, Amaggi), mas outras foram constituídas no Paraguai, mas são de propriedade (total ou parcial) de empresários estrangeiros, sobretudo brasileiros e seus descendentes. Esse é o caso de firmas como: Agrotec, cujo presidente é o brasileiro Túlio Luiz Neves Zanchet; Agrofértil e Tecnomyl, que tem como presidente o brasileiro José Marcos Saraiva; Grupo Favero, cujo principal proprietário é o brasileiro Tranquilo Favero, mas desde os anos 70 reside em território paraguaio; Ciabay, em que o presidente da empresa é o brasileiro Oscar L. Lourenço (e há outras firmas que também aparecem sob seu nome: Agro Santa Rosa, Agroser e Agrícola Santa Mariana); Diagro, fundada em 1991 pelos brasileiros Jaime Zorzetto, Joacir Alves e Gilberto Rubert; Agrícola Colonial, criada em 2004 por imigrantes brasileiros.
Por fim, cabe destacar que tem sido cada vez mais frequente a articulação de empresas em formatos de grupo, como Grupo Favero (Agro Silo Santa Catalina, Agrotoro, Aktra, Semillas Verónica, entre outros), Agrihold (que envolve Agrotec, Solaris, Caelum, Alta e Interag) e Grupo Hilagro (Hilagro, Transagro e Halten). Também existem grupos menos institucionalizados, geralmente atrelados ao proprietário, como Ciabay (citada acima) e Agrofertil (que além da própria Agrofértil e da Tecnomyl, agrega as firmas Agropecuaria Produza, AgrosiloIbipora e Tierra de Negocios). Também aparecem «alianças» entre empresas, como é o caso da Unexpa (Unión de Exportadores Paraguayos), que tem como sócios Dekalpar, Agro Silos El Productor e Central Nacional de Cooperativas (Unicoop). Geralmente cadafirma tem um foco (produção agrícola, revenda de insumos, armazenagem, logística, etc.), que quando agrupados se complementame permitem expandir sua atuação sobre diferentes ramos da cadeia produtiva.

5. Segmento a jusante na cadeia da soja no Paraguai

O segmento a jusante de uma cadeia produtiva refere–se à etapa «depois da porteira», que inclui os canais de armazenamento, industrialização e distribuição. No caso da soja paraguaia, vale destacar que grande parte da sua produção segue para exportação. Ao realizar a soma das últimas 20 safras (1996/97–2015/16), apenas 7,5 % da soja produzida ficou no país, sendo 4,5 % via óleo e farelo (sobretudo esse último, que é destinado a alimentação animal) e 3,0 % como semente (usada para o plantio da safra subsequente). O restante da produção seguiu para o mercado internacional, sendo 67 % em grão e 25,5 % beneficiada (Capeco, 2016). Nesse sentido, para entender as principais empresas que atuam a jusante, é fundamental compreender as firmas exportadoras.
As principais companhiaspresentes no Paraguai correspondem àquelas que dominam o mercado global: as americanas ADM, Cargill e Bunge e a francesa Dreyfus. Como já comentado acima, elas atuam de forma verticalizada: oferta de insumos (sementes, fertilizantes e agroquímicos), seguro agrícola e financiamento rural, além da compra da soja, armazenagem, processamento (produção de óleo e farelo), transporte e exportação (Rojas Villagra, 2009). Esta é uma das principais estratégias destas empresas, cuja característica central é justamente a apropriação das diferentes etapas da cadeia por uma mesma firma, atuando nas várias fases do processo produtivo de forma coordenada (Wesz Jr., 2016).
Dentre estas quatro empresas (que ficaram conhecidas como ABCD pela coincidência das suas iniciais), não resta dúvidaa supremacia da Cargill, que foi a primeira das quatro a se instalar no país, em 1978, e nos últimos anos tem sido a principal firma exportadora do Paraguai em 2011, no contexto de valorização das commodities no mercado internacional, chegou a responder sozinha por 32,5 % das exportações totais do país (CIP, 2017). Atualmente Cargill possui cerca de 40 unidades de recebimento, seis portos e uma planta industrial, que conta com uma capacidade para processar três mil toneladas de soja por dia (Cargill, 2017). Como consta em seusite institucional, «comercializa más de 1.300.000 toneladas anuales de soja, trigo y maíz. Este volumen es aproximadamente el 30 % del total de la cosecha del país. El equipo de originación de Cargill Paraguay trabaja en estrecho contacto con el productor acompañándolo a lo largo de toda la cadena productiva» (Cargill, 2017:1).
Já a ADM se instalou no Paraguai em 1997, quando comprou as divisões locais de grãos de Agrocereales e Silo Amambay. Atualmente possui 30 silos, quatro portos privados, duas empresas de transporte fluvial (com dezenas de barcaças) e uma esmagadora com capacidade de processar 3,6 mil t/dia, que foi inaugurada em 2013(ADM, 2017; Cappro, 2017). Nos últimos anos tem se mantido como a segunda maior firma exportadora do país, com um percentual próximo de 10 % do total (CIP, 2017). A Louis Dreyfus Company entrou no Paraguai em 2004 e tem investido em diferentes áreas, como a compra de uma planta de esmagamento de soja com capacidade de 530 t/dia (Mercantil Comercial–Merco), construção de armazéns próprios em diferentes regiões do país, aquisição de uma importante frota de barcaças e presença nos principais portos paraguaios (LDC, 2017). A última das quatro a se instalar no Paraguai foi a Bunge, que começou suas operações em 2006 e, assim como as outras três, oferece diferentes produtos e serviços aos agricultores e tem investido em infraestrutura de armazenagem, escoamento e industrialização (Bunge, 2017). Inclusive Bunge e Dreyfus, junto com a empresa Copagra (que pertence à argentina AGD, Aceitera General Deheza), formaram uma joint venture para construção eoperação da Caiasa (Complejo Agroindustrial Angostura), que foi inaugurada no final de 2013 e se tornou a maior planta de esmagamento do país, com capacidade de 4,3 mil t/dia (Cappro, 2017).
Na tabela 4 é possível perceber a grande magnitude que as firmas ABCD detém sobre as exportações do complexo soja, principalmente nos produtos industrializados (óleo e farelo), em que controlam mais de 80 % deste segmento na maioria dos anos. Vale apontar que, para além do grande peso nasoja, ABCD também exercem uma importância no conjunto das vendas ao mercado internacional, geralmente estando entre as cinco maiores empresas exportadoras do Paraguai. Se olhar os últimos 10 anos (2007–2016), ABCD tem controlado entre 22,8 % e 47,6 %13 das exportações totais (CIP, 2017), o que demonstra o elevado poder comercial e econômico que as quatro empresas transnacionais detêm no país, cujo resultado ocorreu de forma rápida, pois até meados dos anos 2000 apenas a Cargill apresentava protagonismo no Paraguai. Ao figuram entre as primeiras exportadoras em nível geral, fica evidente que estas empresas não detêm apenas um poder setorial (complexo soja), pois são de grande importância no comércio exterior como um todo, incluindo a geração de superávit, o que lhes oferece um importante trunfo no momento de negociar temas estratégicos com o Estado.

Tabela 4.
Participação das firmas ABCD na quantidade exportada do complexo soja (óleo, farelo e grão) no Paraguai (2012–2016)

Fonte: Aduana (2017).

Em paralelo ao elevado poder destas quatro firmas no complexo soja, a tabela 4 também permite observar dois outros processos correlatos. O primeiro refere–se à redução da hegemonia da Cargill de 2012 em diante. Embora ela continue como líder nas exportações totais e na exportação de soja em grão, sua fatia de mercado veio se reduzindo nos três segmentos analisados na tabela 4, inclusive com ADM passando a dianteira nas exportações de óleo e farelo. Apesar da perda de parte de seu mercado, um representante da empresa comentou que «agora a Cargill está preocupada com a margem e não tanto com o volume».
A tabela 4 também permite visualizar que outras empresas tem assumido crescente importância na exportação in natura. Se por um lado isso se deve ao investimento crescente de ABCD na industrialização da soja (destinando parte do grão que antes seguia direto para exportação agora para suas indústrias), também ocorreu a entrada de outras firmas neste mercado. Entre aquelas que vêm aumentando seu espaço, merece destaque Cofco e Sodrugestvo. A primeira é de capital chinês e entrou no país em 2014 quando adquiriu duas importantes companhias (Noble e Nidera). Já a segunda refere–e a uma companhia de origem russa que, também em 2014, estabeleceu uma joint venture com os acionistas da Gimenez Family, proprietários da maior cadeia de terminais portuários do Paraguai. Em 2016 Cofco e Sodrugestvo exportaram14,7 % e 11,7 % da soja em grão do Paraguai, respectivamente. Há também outras empresas que também tem ampliado a sua participação nesse mercado, como a argentina Vicentin (alcançando 4,9 % em 2016) e a americana CHS (com 4,5 % no mesmo ano) (Aduana, 2017). Já as cooperativas, sobretudo a Cooperativa Colonias Unidas (que desde 2016 exporta via Transagro), respondem por cerca de 5 % (Aduana, 2017).
Além destas, outro perfil de empresas que tem começado a aparecer nas estatísticas de exportação de soja in naturasão as revendas, que comercializam a produção que recebem como pagamento pelos produtos e serviços repassados aos produtores rurais14. Na lista aparece Agrofértil, Transagro, Lar, Agrocer, Ovetril, Dekalpar, Agrotec, Diagro e Agrícola Colonial, cuja participação conjuntapassou de 3,9 % para 9,1 % entre 2012 e 2016. Conforme foi explicado pelos representantes da Capeco e Cappro em entrevista, estes dados aparecem porque houve uma mudança tributária no país em 2013 (Lei 5.061), que definiu que aquelas firmas que exportam tem a devolução de metade do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que cai de 5 % para 2,5 %. Com isso, muitas empresas menores (sobretudo revendas de insumos e armazéns) passaram a levar sua produção até os portos para receber a restituição do imposto, mas no próprio porto elas comercializam sua safra para as grandes transnacionais, que é efetivamente quem exporta a soja in natura por disporem de infraestrutura logística. Mas, como os dados da Aduana referem–se à empresa que ingressa com a produção nos portos, não é possível captar as transações posteriores. Nesse sentido, os dados de ABCD, além das firmas Cofco e Sodrugestvo, estão subestimados. Mas, segundo informações obtidas em entrevista com representante da Capeco, mais de 70 % da exportação in naturaestá sob controle destas seis companhias.

6. Considerações finais

Ao longo dos últimos 25 anos a soja expandiu de forma impressionante no Paraguai, alcançando 3,5 milhões de hectares. Atualmente, de cada dez hectares cultivados no país no verão, sete estão com este grão (MAG, 2016). Em termos de exportação, se consolidou como principal produto, visto que o grão, o farelo e o óleo de soja são responsáveis por 40 % do valor total das exportações (BCP, 2016). Sendo reconhecida a magnitude do grão no Paraguai, este estudo procurou identificar os principais atores e seu poder de mercado. Os resultados deste trabalho indicam um processo correlato de concentração e de estrangeirização/transnacionalização na cadeia produtiva da soja no Paraguai.
Em termos de concentração, trata–se de uma situação presente nos diferentes segmentos analisados. Na produção de soja, menos de 3 % dos produtores respondiam por praticamente a metade da área cultivada e da produção obtida em 2008 – e os dados do Censo Agropecuário de 2018 deverão evidenciar valores ainda mais concentrados, seguindo o movimento já presente nos censos anteriores. No mercado de máquinas, as duas principais empresas controlam três quartos das importações de tratores e mais de 90 % das colheitadeiras em 2016. No setor de agroquímicos e de fertilizantes, geralmente quatro empresas respondem por mais da metade das importações – essevalor seria maior se pudessem ser obtidos valores de faturamento das vendas, pois parte da concentração fica camuflada pela presença das revendas. Em termos da capacidade de esmagamento de soja no país e do volume exportado com produtos industrializados (óleo e farelo), quatro firmas têm controlado cerca de 80 % do mercado. Já na exportação de soja em grão o cenário não muito diferente, ainda que o grau de concentração seja mais difícil de captar porque os valores estão subestimados, como comentado acima.
E tem crescido o número de firmas que atuam simultaneamente nas várias fases da cadeia produtiva de forma coordenada (integração vertical). Isso já era comum entre ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus, mas tem se difundido entre empresas que optam por estratégias cooperadas (formação de grupos, alianças e joint ventures), atuando em segmentos complementares (produção agrícola, revenda de insumos, armazenagem, escoamento da produção, etc.) para ampliar seu poder no/sobre o mercado.
Em termos da nacionalidade dos atores, a grande maioria não é de origem paraguaia e isso também se espalha entre os diferentes setores. Em 2008, o Censo Agropecuário indicava que, pelo menos, 64 % de toda superfície de soja era cultivada por produtores estrangeiros (50 % brasileiros e 14 % de outros países sul–americanos). Já o segmento de máquinas, insumos (sementes, fertilizantes e defensivos), armazenamento, industrialização e distribuição é controlado principalmente por firmas americanas e europeias, além de algumas chinesas, argentinas e brasileiras. O único setor que aparenta ter maior presença de atores nacionais é entre as revendas, mas quando analisada a origem dos proprietários, novamente constam muitos brasileiros e seus descendentes.
Nos países vizinhos (Brasil, Argentina, Uruguai e Bolívia) a cadeia produtiva da sojatambém é marcada pela concentração e pela presença de atores externos (Oliveira e Hecht, 2016; Wesz Jr., 2016; Bühler, Guibert e Oliveira, 2017; Turzi, 2017). Entretanto, no Paraguai essa situação é mais intensa, sendo cada vez menor o número de beneficiários diretos. Em suma, principal atividade agropecuária do país e o setor com maior peso nas exportações depende fundamentalmente de um pequeno grupo de atores, majoritariamente estrangeiros/transnacionais.

Notas

1Uma exceção é o livro «Actores del Agronegocio en Paraguay» de Rojas Villagra (2009), que trouxe uma grande contribuição para essa discussão.

2Para aprofundar o debate a migração brasileira no Paraguai, ver Souchaud (2007).

3Conforme o presidente da Capeco, em entrevista à imprença em 2014, «desarrollar nuevas variedades de semillas transgénicas para esa región permitiría sumar 2 millones de hectáreas cultivables a los 3,2 millones de hectáreas ya plantadas de soja en Paraguay». http://www.hoy.com.py/nacionales/eeuu-asesora-a-paraguay-para-expandir-soja-en-el-chaco

4Esse tema tem ganhado vários estudos, visto os impactos que a soja tem provocado sobre comunidades camponesas e indígenas (Palau et al. 2009; Riquelme e Vera, 2013; Rojas Villagra, 2016, entre outros).

5Isso vem sendo divulgado por diferentes organizações, como WWF Paraguay, Fundação Rosa Luxemburgo, Amigos de la Tierra, Instituto Socioambiental del Sur, Fundación Vida Silvestre, Reporter Brasil, Organización de los Estados Americanos, entre outros.

6A presença de um número importante de pequenos agricultores na produção de soja coloca a necessidade de aprofundar os estudos neste público, procurando entender as motivações para o cultivo, as dificuldades por eles encontradas, os impactos do grão sobre sua reprodução social e sua segurança alimentar, etc. Alguns estudos tem se debruçado sobre esse tema, como Palau et al. (2009) e Villalba e Wesz Jr (2016).

7O Grupo Favero atua na distribuição de semente, elaboração e importação de agroquímicos e fertilizantes, financiamento de produtores, provisão de maquinários e combustíveis, produção agrícola e pecuária e armazenamento, processamento e a comercialização, tanto para o mercado interno como externo (Grupo Favero, 2017).

8Em 2012/13, «los socios de las cooperativas han participado en 574.680 toneladas de soja, lo que representa un 13 % del total producido en 364.864 hectáreas» (Torre, 2015:37).

9 Vale destacar que a Cofco, empresa estatal chinesa, tem uma atuação recente no Paraguai, que ocorreu quando adquiriu em 2014 duas importantes companhias que já estavam no país (Noble e Nidera) (Wilkinson, Wesz Jr e Lopane, 2016).

10É importante ressaltar que no ano de 2016 houve importantes movimentos de concentração no setor de sementes e defensivos com a fusão das americanas Dow e DuPont; a compra da suíça Syngenta pela estatal chinesa ChemChina; e a compra da estadunidense Monsanto pela alemã Bayer.

11No caso de Ciabay e Grupo Favero (via Agro Silo), além dos insumos e da assistência técnica, também revendem tratores e colheitadeiras.

12Como destacou um representante da Cargill em entrevista, nos últimos anos a empresa optou por atuar na oferta de diferentes produtos e serviços aos agricultores: fertilizantes (Mosaic e Heringer), agroquímicos e sementes (Syngenta e Monsanto, principalmente), assistência técnica, seguro, combustível e linhas de crédito. No próximo item se retomará este debate.

13Grande parte dessa oscilação se deve a variação do preço das commodities no mercado internacional.

14A exportação de soja pelos próprios grupos de produção agrícola ou por grandes produtores rurais, como Agropecuária Campos Nuevos, Payco, Agropecuária Produza e Agrotoro (do Grupo Favero), ainda é um movimento embrionário.

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