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Educación Física y Ciencia

versión On-line ISSN 2314-2561

Educ. fís. cienc. vol.19 no.2 Ensenada dic. 2017

 

ARTICULOS

 

 

Incentivo dos componentes psicossociais na trajetória de atletas de voleibol

 

 

Matheus Santos Mendes*
matheusssmendes@gmail.com

Felipe Goedert Mendes**
felipe_goedert@hotmail.com

Michel Milistetd***
michel.milistetd@ufsc.br

Carine Collet****
ca_collet@hotmail.com

Juarez Vieira do Nascimento*****
juarez.nascimento@ufsc.br

***************Universidade Federal de Santa Catarina. Brasil

Cita sugerida: Mendes, M. S., Mendes, F. G., Milistetd, M., Collet, C. y Vieira do Nascimento, J. (2017). Incentivo dos componentes psicossociais na trajetória de atletas de voleibol. Educación Física y Ciencia19(2), e037. https://doi.org/10.24215/23142561e037

Recibido: 23/10/2017
Aceptado: 20/12/2017
Publicado: 29/12/2017


Resumo: Objetivo: Comparar o incentivo dos componentes psicossociais nas diferentes fases da trajetória esportiva em atletas de voleibol nas categorias de formação. Métodos: Aplicou-se um questionário específico baseado nos elementos dinâmicos da formação esportiva (Côté, 1999; Côté, Turnnidge, & Vierimaa, 2016) em 78 atletas do sexo masculino com média de idade de 19.24±0.9 anos de clubes de reconhecimento nacional brasileiro. Utilizou-se o teste qui-quadrado e a regressão logística multinomial para comparar o nível de incentivo dos componentes psicossociais à prática de voleibol e de outras modalidades em cada fase da trajetória esportiva, adotando nível de significância de 5%. Resultados: Os componentes psicossociais incentivam não apenas à prática da modalidade alvo, mas também à prática de outras modalidades. Entretanto, o incentivo dos familiares (p≤0,001), amigos (p≤0,001) e treinadores (p≤0,001) à prática do voleibol aumentou no decorrer da trajetória esportiva, permanecendo estável o incentivo à prática das demais modalidades esportivas. Conclusão: Os componentes psicossociais exercem importante papel na trajetória esportiva de atletas de voleibol em clubes de reconhecimento nacional brasileiro. Ao agregarem reflexões sobre a importância dos componentes psicossociais na vida esportiva de um indivíduo, os achados fornecem pistas às federações, clubes e locais de iniciação esportiva para estruturação de programas de formação esportiva na modalidade.

Palavras-chaves: Formação esportiva; Voleibol; Trajetória esportiva; Componentes psicossociais.

Incentive of psychosocial components in the trajectory of volleyball athletes

Abstract: Aim: To compare the support of the psychosocial components in different phases of sporting trajectory in volleyball underage teams. Methods: A specific questionnaire based on the Developmental Model Sport Participation (Côté, 1999; Côté et al., 2016) was applied to 78 male athletes with an average age of 19.24 ± 0.9 years old from Brazilian national outstanding clubs. The chi-square test and the multinomial logistic regression were used to compare the level of support of the psychosocial components for the practice of volleyball and other sports in each phase of the sporting trajectory, adopting a significance level of 5%. Results: The psychosocial components encourage not only the practice of the target sport, but also the practice of other sports. However, the encouragement of family members (p≤0.001), friends (p≤0.001) and coaches (p≤0.001) for the practice of volleyball increased during the course of the sport, the support to practice other sports remained stable. Conclusion: The psychosocial components play an important role in the sporting trajectory of volleyball athletes in Brazilian national outstanding clubs. By adding reflections on the importance of psychosocial components in an individual's sporting life, the findings provide clues to federations, clubs, and sports associations for structuring sport training programs in the sport.

Keywords: Sporting formation; Volleyball; Sporting trajectory; Phychosocial components.


Introdução

As crianças e jovens costumam se aproximar de atividades esportivas orientadas para descobrir maneiras de pratica-las, fazer amizades e aprender a lidar com as dificuldades e adversidades (Marques, de Almeida, & Gutierrez, 2007). Entretanto, a prática de esportes orientados não depende só do desejo individual, pois se sabe que o esporte é um fenômeno sociocultural e desperta o interesse da sociedade contemporânea, tendo como principais agentes influenciadores para a sua prática os familiares, os amigos e os treinadores (Gomes, Carvalho, & Vargas, 2015; Reis, Ferreira, & Albuquerque Moraes, 2016).
Os pais podem promover efeitos positivos na trajetória dos filhos no esporte, nomeadamente na autoestima, percepção de competência, autoeficácia, sensação de prazer e diversão na prática esportiva e na orientação motivacional no esporte (Fraser-Thomas, Côté, & Deakin, 2008a). O apoio e a estrutura familiar são importantes para que o indivíduo possa desenvolver suas capacidades esportivas, criar comportamentos saudáveis na vida adulta e também proporcionar as relações com outros colegas (Zanetti et al., 2008). Entretanto, os pais não devem criar expectativas em relação ao alto rendimento, pois pode gerar exigências excessivas e conferir um caráter obrigatório à prática esportiva orientada (Gabarra, Rubio & Ângelo, 2009).
Os treinadores e dirigentes esportivos também desempenham papel fundamental na trajetória esportiva de crianças e jovens, elaborando alternativas para aumentar a adesão e a motivação em realizar atividades esportivas orientadas (Chelladurai, 1990; Gomes, Pereira, & Pinheiro, 2008). Além de direcionarem o processo de aprendizagem (Gabarra et al., 2009) e de fomentarem a aprovação e atenção dos amigos (Scala, 2001), os treinadores são capazes de aumentar a satisfação dos praticantes e o rendimento da equipe (Chelladurai, 1990; A. R. Gomes et al., 2008), especialmente a partir da congruência entre os comportamentos que assumem e aqueles que são exigidos pelo contexto e os que são preferidos pelos atletas.
Alguns estudos têm destacado também o papel dos amigos enquanto fonte de apoio social no esporte, ressaltando a importância dos amigos para a prática regular esportiva (Flowers & Brown, 2002), o engajamento em grupos sociais (Weiss & Stuntz, 2004) e a vivência de experiências positivas, tais como divertimento, prazer, motivação e permanência na prática esportiva (Ullrich-French & Smith, 2006; Weiss & Stuntz, 2004). Entretanto, a vivência de situações negativas com os amigos ou a inserção em um grupo que não possua hábitos esportivos pode contribuir de forma menos positiva no desenvolvimento esportivo de um indivíduo (Livesey, Lum Mow, Toshack, & Zheng, 2011).
Apesar das investigações relatarem a contribuição dos familiares, treinadores e amigos na vida esportiva de um indivíduo, na literatura consultada não foi possível identificar, sobretudo no voleibol brasileiro, o papel de cada componente psicossocial nas diferentes fases da trajetória esportiva propostas por Côté (1999), nomeadamente os anos de diversificação (até 12 anos), anos de especialização (13 a 15 anos) e anos de investimento (16 aos 18 anos). Assim, o objetivo do estudo foi comparar o nível de incentivo percebido dos componentes psicossociais nas diferentes fases da trajetória esportiva em atletas de voleibol nas categorias de formação em clubes de reconhecimento nacional brasileiro.

Métodos

Participantes do estudo

Participaram do presente estudo retrospectivo-quantitativo 78 atletas, do sexo masculino, com média de idade 19.24 ±0.9 anos, pertencentes as categorias sub-19 (n=33) e sub-21 (n=45) de três clubes de reconhecimento nacional do voleibol brasileiro. Os clubes investigados são de estados brasileiros que figuram entre o primeiro e quinto lugar nos Campeonatos Brasileiros de Seleções (CBS) de 2012 a 2016 nas categorias infanto-juvenil e juvenil do sexo masculino, fornecem atletas para as seleções brasileiras de categorias de formação, utilizam jogadores das suas categorias de formação na equipe adulta, foram finalistas do Campeonato Estadual da categoria infanto-juvenil ou juvenil do seu estado no ano de 2015, participaram da Superliga de Voleibol 2015/2016 e já conquistaram, pelo menos, um título da Superliga de Voleibol.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), obtendo aprovação a partir do protocolo de autorização realizado no dia 08 de setembro de 2016, por meio do parecer 1.718.040. Ressalta-se que a participação dos atletas na investigação foi viabilizada a partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, além do Termo de Assentimento para os menores de idade e seus responsáveis legais, na qual foi garantido anonimato durante todo o processo, conforme a Resolução nº 466 de 2012, do Conselho Nacional de Saúde/Brasil.

Instrumentos

O instrumento para obtenção dos dados foi um questionário, construído especialmente para obter informações sobre a formação esportiva de atletas de elite do voleibol. A opção por um questionário é justificada por sua eficiência na gestão do tempo, bem como pela alta possibilidade de retorno da amostra e assegurar o anonimato dos participantes.
O instrumento foi elaborado a partir do referencial teórico sobre formação esportiva (Côté, 1999; Côté et al., 2016), buscando contemplar informações sobre os três elementos dinâmicos da formação esportiva (engajamento pessoal em atividades, relações interpessoais e qualidade dos contextos) nos Anos de Experimentação (até 12 anos), Especialização (13 a 15 anos) e Investimento (16 a 18 anos). Especificamente para o presente estudo, foram abordadas as questões sobre as relações interpessoais, com foco no incentivo dos componentes psicossociais (pais/familiares, professores/treinadores e amigos/pares) durante a trajetória esportiva dos atletas. Estes deveriam atribuir, em uma escala de 1 (muito baixo) a 5 (muito alto) o nível percebido de incentivo relacionado a cada componente psicossocial. O instrumento apresenta índices adequados de validação de conteúdo, estabilidade e consistência interna (Collet, Nascimento, Folle, & Ibáñez, in press).

Procedimentos para a coleta de dados

Inicialmente foi realizado um levantamento para obter informações sobre quais equipes estariam elegíveis como de reconhecimento nacional. Dessa forma, os atletas das categorias infanto-juvenil e juvenil de três equipes foram elegíveis a participar da pesquisa. Em seguida, foi estabelecido o contato, via e-mail e/ou ligação telefônica, com os clubes de voleibol, para apresentação dos objetivos e formalização do convite de participar da pesquisa. Com o aceite do clube, houve a coleta de assinatura do documento de Declaração de Ciência da Instituição para participação na pesquisa, com esclarecimentos sobre as condições que a pesquisa necessitava para ser desenvolvida.
A coleta dos dados foi realizada em cada clube respeitando o planejamento de treinos e as viagens de cada equipe. O pesquisador foi acompanhado pelo responsável legal pela equipe durante o procedimento de aplicação do questionário, nos centros de treinamento de todas as equipes. Na sequência, os dados foram tratados quantitativamente e transcritos para a planilha do software Microsoft Excel 2012, sendo categorizados pelas três fases da trajetória esportiva (até 12 anos, de 13-15 anos e 16-18 anos). Além disso, o nível de incentivo percebido foi re-categorizado sendo que os valores extremos (1 e 5) foram agrupados com seu valor mais próximo, surgindo assim 3 categorias (baixo, moderado e alto), para facilitar a interpretação e o tratamento estatístico dos dados.

Análise estatística

A análise descritiva dos dados contou com frequências absolutas, relativas (%), intervalo de confiança (IC95%), média e desvio padrão das variáveis do estudo. Na análise inferencial foi empregado o teste de qui-quadrado para comparar as categorias de influência percebida dos componentes psicossociais entre a prática de voleibol e outra modalidade esportiva. A regressão logística multinominal foi aplicada nos estratos da prática de voleibol e de outras modalidades, para identificar a associação das fases da trajetória esportiva com a influência percebida dos componentes psicossociais, em que foi adotada como categoria de referência os Anos de Investimento frente as demais fases (Especialização e Experimentação). Os cálculos foram realizados a partir do Software Statistical Package for Social SciencesTM (SPSS 21.0), adotando-se um nível de significância de 5%.

Resultados

Nas comparações entre o grau de incentivo de cada componente psicossocial para a prática do voleibol e em relação às outras modalidades esportivas praticadas em cada fase da trajetória esportiva, os dados da Tabela 1 não mostraram a existência de diferenças significativas.

 

Os dados da Tabela 2 apresentam o nível de associação dos componentes psicossociais (familiares, amigos e treinadores) em relação a cada fase da trajetória esportiva dos atletas investigados. Constatou-se que houve diferenças estatísticas (p<0,002) no grau de incentivo (moderado) dos familiares na comparação entre os Anos de Investimento com os Anos de Especialização. Além disso, enquanto que o incentivo dos familiares (p≤0,001), amigos (p≤0,001) e treinadores (p≤0,001) à prática da modalidade principal (voleibol) aumentou no decorrer da trajetória esportiva. O incentivo à prática das demais modalidades esportivas se mostrou estável em todo o processo de desenvolvimento do atleta.

 

 

Discussão

A partir do objetivo proposto de comparar o nível de incentivo percebido dos componentes psicossociais nas diferentes fases da trajetória esportiva em atletas de voleibol nas categorias de formação em clubes de reconhecimento nacional brasileiro, verificou-se um aumento do incentivo dos componentes psicossociais no voleibol enquanto, nas demais modalidades esportivas, manteve-se o mesmo durante a trajetória esportiva destes atletas. No que diz respeito ao incentivo dos componentes psicossociais para a prática do voleibol e de outras modalidades esportivas em cada fase da trajetória esportiva, os resultados indicam determinado equilíbrio no nível de incentivo dos componentes psicossociais, independente do esporte praticado e em qual fase da trajetória o indivíduo se encontra.
De modo geral, os resultados encontrados no presente estudo mostraram o aumento do grau de influência dos componentes psicossociais para a prática do voleibol. Tais evidências corroboram algumas pesquisas que apontam como fundamental o papel dos familiares, treinadores e amigos na trajetória esportiva para inserção, manutenção e expertise esportiva (Barreiros, Côté, & Fonseca, 2013; Fraser-Thomas et al., 2008a). Além disso, são similares aos estudos realizados com jogadores de futsal (Fonseca & Stela, 2015) e futebol (Verardi & De Marco, 2010), nos quais ficou evidenciada que a grande maioria dos pais incentiva a prática de outras modalidades, além do esporte principal. Além disso, a importância de permitir à criança a livre escolha na hora de optar pelo esporte que ela deseja realizar é reforçada por Gomes, Carvalho e Vargas (2015), considerando que a atividade esportiva deve ser compatível com a vontade da criança, e não especificamente pelo desejo dos pais. Um aspecto evidenciado no presente estudo é o incentivo de familiares, amigos e treinadores não apenas à prática da modalidade alvo, mas também para outras modalidades, fornecendo determinada liberdade às crianças e jovens na escolha do que desejam praticar. De fato, ao perceberem que o incentivo muitas vezes tem a finalidade de engajamento com o exercício físico, a interação com outros praticantes e a melhoria na saúde em geral, o planejamento de uma carreira esportiva não é necessariamente perspectivado (Côté, 1999; Gomes et al., 2015).
Os familiares frequentemente procuram oportunizar a prática esportiva com todos os recursos necessários, proporcionando suporte financeiro, equipamentos, transporte para sessões de treino e para competições (Barreiros et al., 2013). O apoio desta natureza é considerado por Fraser-Thomas et al. (2008a) uma condição prévia para um envolvimento saudável e comprometido com o esporte precocemente, favorecendo também a construção de uma base sólida para um envolvimento prolongado na prática esportiva. Os dados referentes ao incentivo percebido dos treinadores durante a trajetória esportiva dos atletas investigados vão a encontro com o estudo de Coutinho, Mesquita, Fonseca, & Martin-Silva (2014), que verificou um aumento significativo da influência dos treinadores na modalidade alvo ao longo da trajetória de atletas portugueses de voleibol. Entretanto, o mesmo não tem sido observado no que diz respeito ao incentivo dos amigos ao longo da trajetória esportiva de atletas (Barreiros et al., 2013).
Os achados referentes a influência dos treinadores durante a trajetória esportiva de atletas corroboram com o estudo de Coutinho et al. (2014), no qual foi verificado um aumento significativo da influência dos treinadores na modalidade alvo ao longo da trajetória de atletas de voleibol portugueses. Entretanto, divergindo, o estudo com 42 atletas olímpicos portugueses (Barreiros et al., 2013), foi verificado uma constante a influência dos treinadores ao longo das etapas de sua trajetória esportiva na percepção dos atletas. Desta maneira, em ambos os estudos constatou-se o alto grau de importância dada a este agente psicossocial para a trajetória esportiva dos atletas.
Para alguns estudos (Côté, Baker, & Abernethy, 2003; Fraser-Thomas et al., 2008a) a função dos treinadores nos primeiros anos da trajetória dos atletas é proporcionar uma introdução lúdica ao esporte, além da diversificação de práticas e facilitação desenvolvimento global. A entrada no esporte organizado é considerada um momento estressante para uma criança, e por isso este ambiente motivacional e alegre oferecido pelo treinador pode fornecer experiências iniciais positivas e cativantes, refletindo para um envolvimento prolongado no esporte. Com o passar dos anos essa característica de referência vai sendo atribuída para pessoas mais qualificadas e conhecedora acerca da modalidade, que orientem para o aumento do desempenho dos atletas (Côté et al., 2003; Fraser-Thomas et al., 2008a; Fraser-Thomas, Côté, & Deakin, 2008b).
Por fim, a influência de amigos verificou-se na pesquisa com atletas de esportes olímpicos (Barreiros et al., 2013) de maneira diferente do presente estudo, ao não encontrar diferença estatística no grau de influência dos amigos ao comparar os anos da trajetória esportiva dos atletas. Por outro lado, os estudos (Côté et al., 2003; Fraser-Thomas et al., 2008a) convergem ao apontar um papel importante deste agente psicossocial nas fases dos atletas. Os dados do presente estudo corroboram com os resultados de Coutinho et al. (2014) corroborou com o presente estudo ao verificar aumento significativo da influência dos amigos dos Anos de Experimentação até os Anos de Investimento, assim, destacando o importante papel dos amigos em toda a trajetória esportiva de atletas de voleibol portugueses. Em estudo de revisão sistemática, Fitzgerald, Fitzgerald e Aherne (2012) mostraram também a importância dos amigos no incentivo à prática de atividades físicas, independente da modalidade esportiva praticada.
Desta maneira, fica evidente a importância da função dos amigos em toda a trajetória do atleta (Barreiros et al., 2013; Côté, 2002; Côté et al., 2003; Fraser-Thomas et al., 2008a). Para Coutinho et al. (2014) e Fraser-Thomas et al. (2008a), os amigos podem ser uma das razões para influênciam no envolvimento esportivo, além de interferir na manutenção da motivação e engajamento à prática. Para tanto, a filiação com outras pessoas e o desenvolvimento de relações sociais positivas como principais motivos secundários ao interesse da criança para permanecer no esporte (Fraser-Thomas et al., 2008a).

Considerações finais

As evidências encontradas no estudo permitem concluir sobre o grau de incentivo dos componentes psicossociais (familiares, treinadores e amigos) na trajetória esportiva de atletas de voleibol em clubes de reconhecimento nacional brasileiro, indicando algumas pistas acerca da importância que esses componentes têm na vida esportiva do indivíduo. Detectou-se um aumento, com o avançar das fases de desenvolvimento esportivo, do grau de influência dos componentes psicossociais para a prática da modalidade de voleibol, já para as demais modalidades esportivas se manteve estável durante toda a trajetória esportiva dos participantes do estudo.
A realização de um estudo retrospectivo apresentou algumas limitações, como a veracidade das informações devido ao tempo e a dependência das recordações dos pesquisados. Embora a presente pesquisa tenha fornecido algumas orientações acerca da formação de atletas de voleibol no contexto brasileiro, recomenda-se a utilização de outras fontes para a obtenção dos dados, como os treinadores, familiares e amigos. Além de buscarem análises mais robustas, os próximos estudos necessitam ampliar os pontos de vista para este campo de investigação, no sentido de compreender a trajetória esportiva de atletas de forma mais profunda e contextualizada.
Por fim, destacam-se as importantes contribuições do estudo às federações, aos clubes e aos locais de iniciação esportiva da modalidade, auxiliando no recrutamento de atletas e também no desenvolvimento de programas de formação de atletas. As ações em programas de formação esportiva necessitam estar mais direcionadas à idade de início da modalidade e, sobretudo, agregar reflexões sobre a importância dos componentes psicossociais na vida esportiva de um indivíduo.

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