Introdução
O exercício físico é caracterizado como toda atividade física estruturada, planejada e repetitiva que tem por objetivo a melhoria da saúde e a manutenção da aptidão física, sendo uma subcategoria da atividade física (Caspersen, Powell & Christenson, 1985). Sua prática pode e deve ser recomendada para todas as gestantes saudáveis (Nascimento, Godoy, Surita & Silva, 2014). É classificada como gestante fisicamente ativa aquelas que praticam exercício de 4 e 5 vezes na semana em sessões de 30 minutos ou mais, não ultrapassando 60 minutos contínuos (American College of Obstetricians and Gynecologists, 2002, Wolfe & Davies, 2003, Zarvosky & Longo, 2011).
Evidências crescentes sugerem que o exercício desempenha papel na redução do risco de complicações na gravidez, como pré-eclâmpsia, parto prematuro, diabetes gestacional, pode ajudar a prevenir o ganho de peso excessivo na gravidez e a retenção de peso no pós-parto (Fell, Joseph, Armson & Dodds, 2008). Ademais, os benefícios da prática na prevenção de doenças e no fortalecimento da musculatura recrutada durante o parto normal estão intimamente relacionados com a redução das taxas de morbi-mortalidade materno infantil (Dempsey, Butler & Williams, 2004, Fell et al., 2008, Garshasbi & Faghih Zadeh, 2005, Goodwin, Astbury & Mcmeeken, 2000, Kihlstrand, Stenman, Nilsson & Axelsson, 1999, Marquez-Sterling, Kaplan, Halberstein & Signorile, 2000, Poudevigne, O´Connor, 2006, 2005, Yeo, Steele, Chang, Leclaire, Ronis & Hayashi, 2000).
A Política Nacional de Promoção a Saúde (PNPS) determinou a prática corporal/atividade física como um eixo de ação na saúde pública brasileira (Brasil, 2006). Contudo, estudos realizados no Brasil mostram que a porcentagem de gestantes fisicamente inativas ainda é alta e demonstram que esse tema deve ser melhor abordado na assistência pré-natal, sendo este o momento propício para a intervenção de profissionais de saúde (Carvalhaes, Martiniano, Malta, Takito & Benício, 2013, Silva, Araújo, Santana, Lima, Cecchino & Silva, 2015, Tavares, Melo, Amorim, Barros, Takito, Benício & Cardoso, 2009). Tal intervenção deve ter o propósito de aumentar a adesão ao exercício a longo prazo, quando as gestantes devem ser estimuladas a eleger o tipo de atividade que melhor se adapte às suas características e interesses (Nascimento et al., 2014).
Diante disso, o objetivo dessa revisão integrativa foi identificar os determinantes da não adesão à prática de exercício físico durante a gestação, para que os profissionais de saúde envolvidos na assistência pré-natal possam identificar e intervir na atenuação desses fatores limitantes.
Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa elaborada em seis etapas: identificação da questão de pesquisa; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de estudos/amostragem ou busca da literatura; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados e categorização dos estudos; avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; interpretação dos resultados; e apresentação da revisão/síntese do conhecimento (Mendes, Silveira & Galvão, 2008).
A questão norteadora dessa pesquisa foi: Quais os determinantes da não adesão da prática de exercício físico durante a gestação? As buscas foram realizadas entre os meses de março a agosto de 2017, nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Cochrane Library e Science Direct. Utilizou-se os descritores, definidos a partir dos termos indexados no vocabulário estruturado DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), em português e inglês: “exercício” (exercise), “gestante”(pregnant women), “motivação” (motivation), “saúde materno-infantil” (maternal and child health), “cuidado pré-natal” (prenatal care) e “adesão ao tratamento” (patient compliance). Foi utilizado o operador booleano “and” para sistematizar as buscas, fornecendo a intercessão, uma vez que este mostra somente artigos que contenham todos os descritores digitados, restringindo a amplitude da pesquisa.
Para a inclusão dos artigos localizados nessa busca, foram adotados os seguintes critérios: 1) publicado entre janeiro de 2006 e dezembro de 2016, 2) publicado em idiomas inglês, espanhol ou português, 3) disponíveis na íntegra on line e 4) que evidenciaram os determinantes da não adesão de gestantes com risco habitual à prática de exercício físico. Foram excluídos: 1) os artigos repetidos, 2) artigos teóricos (revisão de literatura, metanálise ou diretrizes) , e 3) que não apresentaram temática compatível com os descritores empregados nas buscas.
Na sequência, os artigos que foram incluídos na revisão integrativa foram analisados através do Atlas Ti: The Qualitative Data Analysis & Research Software. Todos os artigos utilizados na revisão integrativa foram migrados para o software onde foram analisados e codificados com etiquetas que remetiam aos determinantes da não adesão à prática de exercício físico durante a gestação.
Resultados e Discussão
A busca eletrônica em bases de dados identificou-se inicialmente 681 artigos. A partir da leitura do título realizou-se o primeiro refinamento da pesquisa, no qual excluiu-se 488 artigos. Na fase seguinte, de leitura dos resumos, foram eliminados 167 artigos. Desse modo, os 77 artigos oriundos das fases de leitura dos títulos e dos resumos, foram analisados e levados para consenso entre os pesquisadores, processo o qual selecionou 56 estudos para serem incluídos na análise da revisão integrativa.
Grande parte dos artigos excluídos se deu pela utilização do termo patient compliance, que remete à cooperação voluntária do paciente ao seguimento do regime de prescrição. Contudo, através da leitura dos resumos, era notório que o termo remetia a outros tipos de tratamento, como por exemplo, de tabagismo e de diabetes gestacional (sem a participação do exercício físico como tratamento não medicamentoso). Desta forma, constatou-se que o modelo biomédico ainda é um limitante da recomendação à prática de exercícios físicos para gestantes na consulta de pré-natal.
Caracterização dos estudos selecionados
Quanto ao ano de publicação, 19,65% (11 estudos) foram publicados no período de 2006 a 2010 e 80,35% (45 estudos) entre os anos de 2011 a 2016. Pode- se perceber que o volume de estudos aumentou nos últimos seis anos. No que tange ao quantitativo de publicações por país, obteve-se achados que abrangeram a população de gestantes de aproximadamente 21 países, uma vez que alguns estudos apenas mencionam os que foram desenvolvidos no Reino Unido, sem especificar o país. A maioria foi realizada nos Estados Unidos (18; 32,14%), Reino Unido (9; 16,06%) e Canadá (5; 8,92%). O Brasil ficou em sexto lugar, juntamente com a Dinamarca, ambos com 3,57% (2 estudos) das publicações. Esse panorama denota a carência de estudos que abordem exercício físico durante a gestação na população brasileira.
Os motivos da não adesão à prática de atividade física, em geral, durante o período gestacional foram investigados por apenas 39,28% (22 estudos) dos achados. O maior volume de artigos (46,42%; 26 estudos) está voltado para estudos experimentais que tinham o objetivo de investigar: benefícios da atividade física em geral e peso da gestante (10,71%; 6), fatores relacionados ao exercício físico e à diabetes gestacional (10,71%; 6), efeitos do exercício físico nos desfechos perinatais (8,90%; 5) e estilo de vida (5,35%; 3).
De uma forma geral, notou-se que, nas amostras das pesquisas selecionadas para revisão, identificou-se que 2% das gestantes eram nulíparas, 1% mulheres com diabetes gestacional, 1% grávidas fisicamente inativas e 1% mulheres com idades entre 16 a 30 anos e mais de 30 semanas gestacional. Outras características observadas se referem ao: estado civil - um estudo feito com 25 gestantes solteiras; ao peso gestacional - outro com 14 mulheres obesas ou com sobrepeso; e hábitos de tabagismo - dois estudos realizados especificamente com gestantes fumantes, somando um total de 821 mulheres, 3% do total geral.
Para melhor compreensão dos dados obtidos, definiu-se os determinantes da não adesão à prática de exercício físico durante a gestação como resultantes das interações individuais com o meio que influenciam a gestante a apresentar comportamentos que contribuem para a não adesão à prática de exercício físico. Por conseguinte, os achados da revisão foram categorizados segundo o Modelo Socioecológico que agrupa os determinantes da não adesão à um determinado comportamento em: fatores intrapessoais, processos interpessoais, fatores ambientais e políticas públicas (Sallis, Owen & Fisher, 2008).
Fatores Intrapessoais
Abrangem os elementos relacionados intrinsecamente à gestante, incluindo as seguintes variáveis: fatores socioeconômicos, fatores físicos, fatores psicológicos e fatores comportamentais, que estão definidos no Quadro 1.
Gesche, Renault, Nørgaard & Nilas (2014), Gjestland, Bø, Owe & Eberhard-Gran (2013), Marshall, Bland & Melton (2013), Mudd, Nechuta, Pivarnik & Paneth (2009), Santos, et al. (2014), Yeo, Cisewski, Lock & Marron (2010) e Whitford & Jones (2011) preconizam que um dos fatores que pode justificar a redução do nível de atividade física durante a gestação é a idade.
Outro fator socioeconômico considerado como variável foi o nível de escolaridade, pois gestantes com baixo nível de escolaridade tendem a ter concepções equivocadas relacionadas à prática de exercício durante a gestação, como por exemplo, sem importância (Doran & Davis, 2011, Newhan, Allan, Leahy-Warren, Carrick-Sen & Alderdice, 2016), desnecessária (Whitford & Jones, 2011) e prejudicial para o feto (Atkinson, Shaw & French, 2016, Connelly, Brown, Pligt & Teychenne, 2015, Costa & Ireland, 2013, Gjestland et al., 2013, Groth & Morrison-Beedy, 2013, Haakstad, Voldner, Henriksen & Bø, 2009, Leiferman, Swibas, Koiness, Marshall & Dunn, 2011; Muzigaba, Kolbe-Alexander & Wong, 2014, Marshall et al., 2013; Newhan et al., 2016; Petherick, et al., 2016; Santos et al., 2014; Yeo et al., 2010).
No que concerne à renda familiar, um estudo com 4.471 gestantes, verificaram que as mais pobres eram menos propensas a se engajarem em atividades físicas, além de outros autores obtiveram dados convergentes ao supracitado (Connelly et al., 2015, Costa & Ireland, 2013, Dlugonski & Motl, 2016, Goodrich, Cregger, Wilcox & Liu, 2013, Groth & Morrison-Beedy, 2013, Haakstad et al., 2009, Marshall et al., 2013, Newhan et al., 2016, Santos et al., 2014, Silveira & Segre, 2012, Yeo et al., 2010, Yeo, 2009, Yeo & Logan, 2014, Whitford, Alder & Jones, 2007, Whitford & Jones, 2011).
Corroborando com os achados anteriores sobre as variáveis pertinentes aos Fatores Socioeconômicos, Goodrich et al. (2013), Leiferman et al. (2011), Muzigaba et al. (2014), Thornton, Kieffer, Salabarría-Peña, Odoms-Young, Willis, Kim & Salinas (2006) e Weir, Bush, Robson, McParlin, Rankin & Bell (2010) afirmam que residir em locais com altos índices de violência urbana é considerada uma barreira para a prática de exercício físico durante a gestação.
A última variável encontrada no que tange aos Fatores Socioeconômicos foi a ocupação das gestantes com tarefas domiciliares e laborais. Nesse contexto, Doran e Davis (2011) encontraram que cuidar de outras pessoas foi a segunda maior barreira reportada pelas gestantes acerca da prática de exercício físico. Esses achados convergem com os resultados de outros estudos que reportam barreiras relacionadas à rotina trabalhista (cansaço físico, falta de tempo em decorrência das responsabilidades trabalhistas e ainda possuírem ocupações consideradas fisicamente ativas) (Atkinson et al., 2016, Connelly et al., 2015, Groth & Morrison-Beedy, 2013, Haakstad et al., 2009, Leiferman et al., 2011, Marshall et al., 2013, Muzigaba et al., 2014, Petherick et al., 2016, Santos et al., 2014, Stafne, et al., 2012, Torres, et al., 2016, Ussher, et al., 2008; Yeo et al., 2010).
Vale destacar que Fatores Físicos é uma das variáveis mais relevantes, pois trata dos elementos primordiais e específicos do estado gestacional. Alguns estudos encontraram os seguintes sintomas gestacionais como barreiras para a prática de exercício físico: cansaço, náusea, desconforto físico (Mudd et al., 2009), falta de energia (Anjana, et al., 2016; Atkinson et al., 2016; Choi, Lee, Vittinghoff & Fukuoka, 2016, Connelly et al., 2015, Costa & Ireland, 2013, Doran & Davis, 2011, Groth & Morrison-Beedy, 2013, Leiferman et al., 2011, Oostdam, et al., 2012, Robledo-Colonia, Sandoval-Restrepo, Mosquero-Valderrama, Escobar-Hurtado & Ramírez-Vélez 2012, Weir et al., 2010), dores musculares e articulares (Atkinson et al., 2016, Connelly et al., 2015, Costa & Ireland, 2013, Doran & Davis, 2011, Duncombe, Wertheim, Skouteris, Paxton & Kelly, 2009, Gaston & Prapavessis, 2014, 2013; Goodrich et al., 2013, Groth & Morrison-Beedy, 2013, Haakstad et al., 2009, Huberty, Buman, Leiferman, Bushar & Adams, 2016, Leiferman et al., 2011; Marshall et al., 2013; Stafne et al., 2012; Ussher et al., 2008).
Dentre as variáveis dos Fatores Psicológicos, motivação intrínseca apresentou o maior volume de achados. Nesse sentido, a falta de auto-disciplina foi classificada como uma das três principais barreiras para a prática de exercício físico durante a gestação (Marshall et al., 2013) junto com a autoconsciência (Torres et al., 2016, Ussher et al., 2015). Outras investigações indicam que uma motivação reduzida contribui para diminuir os níveis de atividade física em gestantes (Connelly et al., 2015, Goodrich et al., 2013, Groth & Morrison-Beedy, 2013, Huberty et al., 2016, Leiferman et al., 2011, Marshall et al., 2013, Mullan, Henderson, Kothe, Allom, Orbell & Hamilton, 2016, Muzigaba et al., 2014, Newhan et al., 2016, Yeo et al., 2010, Weir et al., 2010), assim como a baixa autoeficácia (Costa & Ireland, 2013, Gaston & Prapavessis, 2013, Groth & Morrison-Beedy, 2013).
As duas variáveis que se destacaram nos Fatores Comportamentais foram: histórico da prática de exercício físico antes da gestação (a ausência do mesmo ou experiências negativas) e aulas individuais. Em relação à primeira, Costa & Ireland (2013), Devlin, Huberty & Downs (2016), Haakstad et al. (2009), Leiferman et al. (2011), Marshall et al. (2013), Mullan et al. (2016) e Thornton et al. (2006) comprovam que a ausência de um histórico de prática é fator determinante da não adesão. Ademais, Doran e Davis (2011) acrescentam que a gestante ter um histórico de prática com algum tipo de lesão também é prejudicial para a adesão.
No que tange às características peculiares do tipo de prática de exercício físico, encontrou-se que grupos de mulheres grávidas que se exercitam juntos ou estabelecem um local de prática de exercício físico em suas respectivas comunidades tendem a incentivar a sua participação na prática de exercício físico durante a gravidez (Backhausen, et al., 2014, Muzigaba et al. 2014, Seneviratne, et al., 2016, Yeo & Logan, 2014, Weir et al., 2010).
Processos Interpessoais
Refere-se aos processos relacionais construídos com cônjuge, familiares, amigos, profissionais de saúde e sociedade com os quais a gestante convive, foi educada e interage cotidianamente. As variáveis encontradas foram divididas em: suporte familiar, suporte social e suporte assistencial, que estão definidos no Quadro 2.
A primeira variável remete aos familiares que criticam a gestante no que concerne à prática de exercício físico durante a gestação. Atkinson et al. (2016) realizaram uma investigação na Inglaterra e encontraram que gestantes que optaram por adotar um estilo de vida fisicamente ativo foram criticadas pelos seus familiares, o que gerou uma influência negativa e equivocada. Em contrapartida, gestantes latinas residentes nos Estados Unidos relataram que seus maridos constituíram a fonte mais importante de suporte informacional para o aumento da atividade física. Eles sempre disseram às suas esposas para se exercitarem e perderem peso na gravidez para que elas não se tornassem obesas ou doentes e este conselho geralmente resultou em mulheres envolvidas em mais atividades físicas (Thornton et al., 2006).
A maioria dos achados menciona a importância do suporte dado pelos amigos das gestantes, tanto no que se refere ao apoio em tarefas cotidianas para que a gestante tenha tempo para praticar exercício físico, como encorajamento verbal, companhia durante a prática e até mesmo amigas que servem/serviram como exemplos de gestantes que tinham estilo de vida fisicamente ativo (Atkinson et al., 2016, Connelly et al., 2015, Dlugonski & Motl, 2016, Doran & Davis, 2011, Groth & Morrison-Beedy, 2013, Hawkins et al., 2014, Huberty et al., 2016, Leiferman et al., 2011, Marshall et al., 2013, Oostdam et al., 2012, Petherick et al., 2016, Thornton et al., 2006, Whitaker et al., 2016).
As variáveis encontradas foram referentes à proibição médica da prática de exercício, mesmo a gestante sendo diagnosticada como saudável, o que denota a necessidade de capacitação multidisciplinar dos profissionais atuantes na assistência pré-natal (Connelly et al., 2015). No mesmo âmbito, vários autores reiteram que gestantes saudáveis e fisicamente inativas nunca receberam nenhum profissional da saúde que lhes deu assistência pré-natal ou sequer mencionou o termo exercício físico (Connelly et al., 2015, Costa & Ireland, 2013, Doran & Davis, 2011, Goodrich et al., 2013, Groth & Morrison-Beedy, 2013, Haakstad et al., 2009, Leiferman et al., 2011, Lindqvist, Lindqvist, Eurenius, Persson, Ivarsson & Mogren, 2016, Muzigaba et al., 2014, Shirazian, Monteith, Friedman & Rebarber, 2010, Yeo & Logan, 2014, Weir et al., 2010, Whitaker et al., 2016).
No que tange à carência de intervenções em saúde que possam aproximar o profissional de saúde da gestante, os achados mencionam que essas ações: aprimoram os cuidados em saúde, proporcionam maior controle dos hábitos das gestantes e emitem informações consistentes sobre a prática de exercícios físicos de forma segura (Backhausen et al., 2014, Connelly et al., 2015, Doran & Davis, 2011, Goodrich et al., 2013, Hawkins et al., 2014, Hui et al., 2014, Leiferman et al., 2011, Marshall et al., 2013, Mudd et al., 2009, Muzigaba et al., 2014, Paul & Olson, 2013, Pelaez, Gonzalez-Cerron, Montejo & Barakat, 2014, Ussher et al., 2015, Weir et al., 2010, Whitford & Jones, 2011).
Por fim, no estudo de Backhausen et al. (2014), foi salientada a importância do acompanhamento do profissional de Educação Física desde a prescrição até o acompanhamento da execução dos exercícios físicos, garantindo a segurança da prática.
Fatores Ambientais
É um agrupamento referente ao ambiente físico no qual a gestante vive e com o qual interage. Isso inclui os fatores ambientais naturais, como clima ou ambiente construído, assim como a configuração física das cidades e da vizinhança, os serviços oferecidos pelo comércio local e o ambiente de trabalho. As variáveis foram classificadas em: condições meteorológicas, oferta de serviços e ambiente de prática, que estão definidos no Quadro 3.
A variável das Condições Meteorológicas remete às mudanças climáticas que foram caracterizadas pelos autores como barreiras ambientais (Hui et al., 2014). Gestantes latinas residentes no México e nos EUA afirmaram que as barreiras ambientais interferem nas questões de locomoção e acesso aos locais de prática (Leiferman et al., 2011).
A falta de oferta de serviços voltados à prática de exercícios físicos, como por exemplo: academias, próximos à residência da gestante foi uma barreira relatada pelos autores que vai desde problemas de disponibilidade de espaços privados quanto públicos (Haakstad et al., 2009, Muzigaba et al., 2014, Osuji, Lovegreen, Elliot & Brownson, 2006).
Os estudos de Barakat et al. (2012) e Barakat, Cordero, Coteron, Luaces & Montejo (2011) preconizam que a temperatura adequada de um ambiente é fator relevante por conta da temperatura corporal da gestante que deve evitar temperaturas acima de 32° C. Os mesmos autores acrescentam que um ambiente com música agradável também pode ser fator motivante para a prática. Marshall et al. (2013) desenvolveram um estudo com gestantes norte-americanas residentes de uma comunidade rural e encontram achados semelhantes.
Políticas Públicas
Engloba fatores políticos que influenciam a vida cívica da gestante a nível internacional, nacional, regional e individual. As variáveis encontradas foram divididas em: transporte público, autoridades locais e publicidade, que estão definidos no Quadro 4.
No Transporte Público foi encontrada apenas uma variável referente à inexistência de transporte público. O estudo de Costa e Ireland (2013), realizado no Canadá com 84 gestantes, e o de Oostdam et al. (2012), desenvolvido na Holanda com 101 gestantes, encontraram que a carência de transporte público acessível é uma barreira frente à prática de exercício físico.
Os estudos de Leiferman et al. (2011) e de Torres et al. (2016) também encontraram resultados semelhantes. Entretanto, merecem destaque, pois o primeiro foi realizado com base em um modelo socioecológico, com 25 gestantes norte- americanas de baixo nível socioeconômico e utilizou o software Atlas Ti para fazer análise e codificação das entrevistas realizadas. O segundo foi realizado em Porto Rico com 200 gestantes hispânicas de comunidades com barreiras econômicas, ambientais, culturais e sociais.
Na subdimensão Autoridades Locais encontrou-se duas variáveis: não existência de programa/serviços de prática de exercício físico para gestantes que tenham baixo custo e flexibilidade de opções de exercícios (à domicílio ou em grupo) e a inexistência de programas ou equipamentos públicos para a prática de exercício físico para gestantes com acompanhamento profissional no bairro onde moram.
Os estudos que deram embasamento teórico para esses achados foram realizados nos EUA, Canadá, África do Sul e Escócia. Vale ressaltar a necessidade de investimento por parte do poder público no que concerne à criação de programas/serviços gratuitos com a presença do profissional de Educação Física, assim como a realização de parcerias público-privadas com o intuito de viabilizar o acesso de gestantes com baixa renda a serviços que forneçam a prática de exercícios físicos (Doran & Davis, 2011, Goodrich et al., 2013, Leiferman et al., 2011, Marshall et al., 2013, Mudd et al., 2009, Muzigaba et al. 2014, Torres et al., 2016, Yeo & Logan, 2014, Whitaker et al., 2016, Whitford & Jones, 2011, Wong, 2014).
Apenas quatro achados apontam para a importância da Publicidade - distribuição de materiais informativos acerca da prática de exercícios físicos durante a gestação. Observou-se que três destes foram desenvolvidos no continente europeu com gestantes saudáveis e obesas/em sobrepeso. Na apresentação dos resultados da validação do instrumento será questionada a relevância da inclusão do item referente a essa operacionalização, a baixa importância dada ao item pode ser justificada pela cultura brasileira de não desenvolver/valorizar esse meio de comunicação entre o sistema de saúde e a população (Haakstad et al., 2009, Leiferman et al., 2011, Oostdam et al., 2012, Weir et al., 2010).
Conclusão
Este trabalho apresentou os motivos da não adesão à prática de exercício físico durante a gestação de risco habitual, os quais foram classificados em fatores intrapessoais, processos interpessoais, fatores ambientais e políticas públicas, para melhor compreensão das conjunturas que permeiam o cenário de inatividade física durante a gestação. Os fatores intrapessoais e os processos interpessoais apresentaram os maiores números de variáveis e as maiores frequências, 191 e 71 evidências, respectivamente.
Esse fato indica que o maior número de barreiras concerne a elementos relacionados intrinsicamente à gestante e às relações construídas com conjuge, familiares, amigos, profissionais de saúde e sociedade com os quais a gestante convive, foi educada e interage cotidianamente.
A diversidade de barreiras apresenta-se como um desafio para todos os profissionais de saúde que atuam na assistência materno-infantil.
Desta feita, salienta-se a importância da disseminação dessas evidências com as gestantes e, principalmente, com todos os profissionais da saúde que atuam na assistência materno-infantil e com os pesquisadores dessa área de conhecimento. É necessário que as gestantes reconheçam os motivos que as levam a não aderir à prática de exercício físico durante a gestação e, consequentemente, as privam da obtenção dos benefícios da prática para si e para o feto em desenvolvimento. Os profissionais da saúde terão elementos norteadores para: a qualificação profissional acerca da importância da recomendação da prática de exercício físico durante a gestação nas consultas de pré-natal e a identificação das possíveis barreiras à prática de exerício físico durante a gestação.
Ademais, urge o desenvolvimento de estudos que abordem a prática de exercício físico durante a gestação, pois apesar do aumento do volume de publicações ainda é notória a carência de estudos experimentais.