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Educación Física y Ciencia

versão On-line ISSN 2314-2561

Educ. fís. cienc. vol.22 no.3 Ensenada jul. 2020

http://dx.doi.org/https://doi.org/10.24215/23142561e136 

Artículos

O fenômeno corpo/corporeidade na compreensão de concluintes de licenciatura em Educação Física

The body/corporeality phenomenon in the understanding of undergraduate students in Physical Education

Weisiana Santana de Castro Paiva1 

Wagner Wey Moreira2  weymoreira@uol.com.br

1Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)

2Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)

Resumen

Este artículo tuvo por objetivo analizar el discurso acerca de la comprensión del fenómeno cuerpo/corporeidad de alumnos concluyentes de licenciatura en Educación Física. Esta investigación cualitativa, de carácter descriptivo, fue realizada en campi universitarios en la región del Triângulo Mineiro, Minas Gerais, que ofrecían dos licenciaturas en Educación Física. El instrumento utilizado fue la entrevista con cuestiones abiertas. El análisis de contenido: técnica de elaboración y análisis de unidades de significado ha sido utilizada para la construcción de los resultados. Participaron 41 alumnos concluyentes (13 mujeres y 28 hombres) de cursos de Licenciatura en Educación Física. Las respuestas obtenidas confirmaron una visión de cuerpo vinculada a la parte biológica, ignorando que somos seres corpóreos y que el cuerpo debe ser comprendido como un todo, al contrario de una máquina. Tal aserción nos lleva a confirmar la concepción dualista de cuerpo/mente, presentada en los puntos de convergencia y/o de divergencia establecidos por los objetivos de esta investigación.

Palabras clave Cuerpo; Corporeidad; Alumnos concluyentes; Licenciatura en Educación Física

Resumo

Este artigo teve por objetivo analisar o discurso sobre o entendimento do fenômeno corpo/corporeidade de alunos concluintes de licenciatura em Educação Física. Pesquisa qualitativa, de cunho descritivo, foi realizada em campi universitários na região do Triângulo Mineiro, Minas Gerais, junto a duas licenciaturas em Educação Física. O instrumento de pesquisa foi a entrevista com questões abertas. A Análise de Conteúdo: técnica de elaboração e análise de unidades de significado foi a empregada para a construção dos resultados. Participaram 41 concluintes (13 mulheres e 28 homens) de cursos de Licenciatura em Educação Física. As respostas obtidas confirmaram uma visão de corpo voltada para a parte biológica, ignorando que somos seres corpóreos e que o corpo deve ser trabalhado como um todo, ao contrário de uma máquina. Tal asserção nos leva a confirmar a concepção dualista de corpo/mente, apresentada nos pontos de convergência e/ou de divergência estabelecidos pelos objetivos do estudo.

Palavras-chave Corpo; Corporeidade; Alunos concluintes; Licenciatura em Educação Física

Introdução

No ano 2018, surgiu o interesse de realizar uma pesquisa sobre corpo/corporeidade com o propósito de saber como os concluintes dos cursos de Graduação em Educação Física, na trilha das Licenciaturas, compreendem o significado de corpo/corporeidade.

Consideramos, de forma plena, que precisamos estar sempre em busca de novos métodos, procedimentos e didáticas para estarmos preparados no momento de nossa atuação enquanto professores. Por tal razão, contemplamos, como base teórica, o referencial da corporeidade para o entendimento do corpo-sujeito do aluno em sala de aula.

Defendemos, neste trabalho, que a corporeidade deve ser trabalhada desde a infância, para isso, os professores precisam ter a concepção de corpo/corporeidade, visto que nossa área de conhecimento busca contribuir para que essa percepção de corpo possa ser vista em sua totalidade e não como soma de partes separadas.

Diante desse quadro teórico, é imprescindível compreender como os futuros professores percebem o corpo do aluno nas aulas de Educação Física. Entretanto, é necessária uma preparação para atuar com este público de maneira que percebamos o todo, principalmente ao trabalhar o corpo/corporeidade no momento das aulas.

A partir de tais aspectos e da linha teórica deste estudo, formulamos os seguintes problemas: Como os concluintes de cursos de licenciatura em Educação Física percebem o corpo/corporeidade do aluno? O entendimento de corpo estaria ainda associado, tão somente, à visão biológica?

Em face dos problemas de estudo, o objetivo do trabalho consiste em analisar o discurso sobre o entendimento do fenômeno corpo/corporeidade junto aos alunos concluintes de cursos de licenciatura em Educação Física. Para tanto, são traçados os objetivos específicos: (a) identificar se há ainda uma concepção dualista de corpo/mente nos discursos dos alunos concluintes de cursos de licenciatura em Educação Física; e (b) reconhecer pontos de convergência e ou de divergência entre os discursos de alunos concluintes de cursos de licenciatura em Educação Física.

Material e métodos

Tipo de pesquisa

Consideramos, inicialmente, pesquisa como “[...] um modo estruturado de solucionar problemas” (Thomas, Nelson & Silverman, 2012, p. 37). Com base neste entendimento, a presente pesquisa foi norteada pelo paradigma fenomenológico-hermenêutico, que considera, entre outras características, a concepção existencial de Homem, uma dimensão interpretativa do fenômeno e o interesse dialógico e de comunicação (Chaves-Gamboa & Sánchez Gamboa, 2009), já que tem por escopo compreender, por meio do discurso, o que alunos concluintes em cursos de Educação Física entendem sobre o fenômeno corpo/corporeidade.

Como bem afirma Triviños (2011): “A fenomenologia é o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, tornam a definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo” (p. 43, grifo do autor).

No que tange ao tipo de pesquisa, optamos por uma abordagem qualitativa, de cunho descritivo. Como afirma Zanella (2013), a abordagem qualitativa se preocupa com o processo da pesquisa “[...] e não com os resultados e produtos. A preocupação está em conhecer Hernández Sampieri como determinado fenômeno manifesta-se” (p. 100), ou, como esclarecem , Fernández Collado e Baptista Lucio (2010), “[...] seu enfoque é compreender e aprofundar os fenômenos, explorando-os desde a perspectiva dos participantes em um ambiente natural e em relação com o seu contexto” (p. 364, tradução nossa).

A nossa compreensão, nesta pesquisa, é de que “[...] o corpo não é apenas um objeto estático, passível de ser estudado através de suas partes. O corpo humano não está imóvel. Ele se movimenta e é o meio expressivo do ser do homem nas suas possibilidades” (Moreira, 1995, p. 51). E é por isso que concordamos com Nóbrega (2010): “O corpo não é coisa, nem ideia, o corpo é movimento, gesto, linguagem, sensibilidade, desejo, historicidade e expressão criadora” (p. 47).

Coleta de dados

A pesquisa está centrada em campi universitários localizados na região do Triângulo Mineiro – Minas Gerais, junto a duas licenciaturas (Curso A e Curso B) em Educação Física.

Nossos participantes são caracterizados por alunos concluintes e que atendem aos seguintes critérios de inclusão:

  1. Estar concluindo o curso no ano 2018;

  2. Ter disponibilidade em responder duas perguntas geradoras;

  3. Concordar em participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A coleta de dados foi realizada em dois dias. No primeiro dia (01/11/2018), estivemos no Curso A. No segundo dia (21/11/2018), coletamos os dados no Curso B. Ambos são oferecidos no período noturno. Cabe aqui um registro: as perguntas foram realizadas e respondidas em sala de aula. As folhas foram entregues a cada aluno e foram respondidas de maneira individual.

Participantes da pesquisa

A Figura 1 sintetiza o total e o sexo dos participantes, que são alunos concluintes da Licenciatura em Educação Física dos Cursos A e B.

Figura 1. Total de participantes da pesquisa. 

Fonte: autores da pesquisa.

Na Figura 1 podemos observar que participaram da pesquisa 41 concluintes de cursos de Licenciatura em Educação Física: 20 alunos pertencem ao Curso A; e 21 discentes estão vinculados ao curso B. Deste total, temos 13 mulheres e 28 homens, com idades entre 19 e 39 anos. Cabe recordar que estes cursos são oferecidos por Instituições de Ensino Superior (IES) localizadas na Região do Triângulo Mineiro, no Estado de Minas Gerais.

Aspectos éticos

Este trabalho seguiu algumas recomendações éticas referentes à pesquisa envolvendo seres humanos, a saber: vinculou-se a um projeto (CAAE: 50087115.6.0000.5154) que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFTM: parecer número 1.343.986 (Anexo A); utilizou um TCLE; e manteve o anonimato dos participantes da pesquisa e de suas respectivas instituições.

Instrumento de pesquisa

O instrumento utilizado foi a entrevista com questões abertas, que reuniu duas perguntas geradoras:

  1. O que é corpo para você?; e

  2. Como você exercita sua ação profissional junto ao aluno no desenvolvimento dos conteúdos aprendidos no Curso de Graduação?

Como recomenda Heinemann (2008), estas perguntas foram formuladas de forma simples, sendo breves e compreensíveis.

No contato com os participantes da pesquisa, foram apresentadas as seguintes instruções: 1) os participantes não serão identificados; 2) apresentou-se o sentido da pesquisa, solicitando que as respostas devem conter o maior número de informações possíveis, não havendo respostas certas ou erradas, deixando o tempo necessário para os participantes pensarem na elaboração das respostas; 3) entregou-se o TCLE para ser preenchido e assinado pelo participante; 4) Assim, foi disposta a primeira pergunta a ser respondida e, só após essa resposta, foi apresentada a segunda pergunta. Todo esse processo foi realizado mediante a disponibilização de folhas impressas para os participantes.

Técnica de análise

A análise realizada foi embasada no referencial contido no artigo Análise de conteúdo: técnica de elaboração e análise de unidades de significado (Moreira, Simões & Porto, 2005), que busca identificar, nas respostas dos sujeitos participantes, os significados que estes elaboram para a vivência de um determinado fenômeno. Em nosso caso, a proposta se dirige aos discursos dos alunos concluintes dos cursos de licenciatura em Educação Física.

A referida técnica compreende três momentos de abordagem, que podem ser encontrados no discurso do sujeito:

  1. Relato Ingênuo;

  2. Levantamento dos Indicadores; e

  3. Análise de Unidades de Significado.

No Relato Ingênuo o pesquisador procura garimpar os sentidos que os fenômenos têm para os sujeitos pesquisados através de: analisar o entendimento que os mesmos têm sobre as perguntas feitas, deixando claras as suas opiniões sobre o assunto; compreender que valores podem estar presentes nas respostas; identificar o sentido da resposta com o pano de fundo da formação profissional, neste caso (Moreira, Simões & Porto, 2005).

No momento do Levantamento dos Indicadores são selecionadas as unidades que mais chamaram a atenção do pesquisador. Importante deixar claro que nesta abordagem de pesquisa há o entendimento de que o pesquisador não é algo ou alguém neutro na pesquisa, ele tem o compromisso de rigorosidade, de radicalidade e de contextualização sobre o fenômeno que pesquisa (Moreira, Simões & Porto, 2005).

De posse dos indicadores, há a seleção e/ou composição das Unidades de Significado, as quais representam a base de análise e reflexão que o pesquisador irá elaborar para a construção dos resultados da pesquisa. Essas Unidades de Significado são produzidas pelas interpretações do pesquisador na busca de entender os significados dos pensamentos dos sujeitos da pesquisa, quer no sentido individual quanto coletivo do grupo respondente (Moreira, Simões & Porto, 2005).

Resultados

Esta seção do estudo descreve informações referentes à coleta dos dados no que tange aos participantes da pesquisa.

Análise ideográfica dos cursos A e B

Buscamos, junto à análise ideográfica de Moreira, Simões e Porto (2005), mostrar “(...) as idéias dos sujeitos individualmente (...)” (p. 110) por meio de um levantamento dos indicadores, que foi realizado com base nas respostas dos concluintes dos Cursos de Licenciatura em Educação Física A e B. O Quadro 1 descreve estes indicadores.

Quadro 1 – Indicadores referentes à Questão 1: “O que é corpo/corporeidade para você?” 

Fonte: autores da pesquisa.

O Quadro 2 apresenta os resultados das entrevistas com os indicadores relacionados à Pergunta 2.

Quadro 2 – Indicadores referentes à Questão 2: “Como você exercita sua ação profissional junto ao aluno no desenvolvimento dos conteúdos aprendidos no Curso de Graduação?” 

Fonte: autores da pesquisa.

Análise nomotética dos cursos A e B

Neste momento, apresentaremos a “(...) Análise Nomotética, onde se buscam, sem a preocupação de generalizações, os pontos de convergência e ou divergência entre as idéias dos vários participantes da pesquisa” (Moreira, Simões & Porto, 2005, p. 110). Através desta análise pretendemos mostrar as informações contidas nas reflexões dos participantes.

Na análise das respostas da pergunta “O que é corpo/corporeidade para você?” foram identificadas 12 Unidades de Significado (US), como pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1 – Unidades de significado dos Cursos A e B referentes à questão 1: “O que é corpo/corporeidade para você?” 

Já na análise das respostas da pergunta “Como você exercita sua ação profissional junto ao aluno no desenvolvimento dos conteúdos aprendidos no curso de graduação?” identificamos nove US na Tabela 2.

Tabela 2 – Unidades de significado dos Cursos A e B referentes à questão 2: “Como você exercita sua ação profissional junto ao aluno no desenvolvimento dos conteúdos aprendidos no Curso de Graduação?” 

Fonte: autores da pesquisa.

Discussão

Decidimos realizar três análises das unidades de significado: na primeira, analisamos todas as respostas na horizontal incluindo todos os participantes; na segunda, temos uma análise na vertical, onde estão presentes todos os participantes, porém, discutimos apenas os dados que apresentaram informações relevantes a serem discutidas; na terceira análise, comparamos as respostas dos cursos A e B de cada pergunta.

Na análise ideográfica dos indicadores da Pergunta 1 (“O que é corpo/corporeidade para você?”) tivemos doze participantes que demostraram uma preocupação com o cuidado com o corpo, sendo eles: participantes 05, 07, 08, 11, 21, 22, 31, 32, 35, 37, 38 e 39. A respeito dessas respostas, Gonçalves-Silva, Souza, Simões e Moreira (2016) advertem:

Quando se tem a visão de que o corpo é só a forma física e que este deve ser cuidado e tratado enquanto objeto o qual se possui, reduzimos a possibilidade de entender o sujeito de forma integral. Logo, em relação a uma interpretação da Educação Física como educação do físico, podemos inferir que não se trata de uma educação que compreenda o sujeito em sua totalidade, mas sim fragmentado e, nesse sujeito, as partes devem ser trabalhadas, separadamente, com o fim em si mesmo (p. 192).

Percebemos que a ideia de “cuidado” com corpo, mencionada pelos participantes, está ligada a um objeto que precisa estar constantemente em reparo. E é o que os autores chamam atenção, mas essa visão pode ser mudada com o tempo se esse futuro profissional começar a usar seu conhecimento sobre corporeidade adquirido na universidade, assim, seu olhar de corpo poderá mudar.

Entre estes doze concluintes, o participante 05 nos chamou muito atenção, por ter dito que o corpo “em alguns lugares é considerado um templo onde você deve se cuidar, pode ser considerado como uma arma com o devido treinamento.”

Sua resposta demostra ambivalência, provavelmente advinda de uma formação religiosa (templo) para a qual o corpo é um revestimento para a alma e, ao mesmo tempo, uma visão utilitarista de conquista através de treinamento.

Silva, Hochamnn e Piccinini (2015) mostram que nossa percepção de corpo / corporeidade não pode estar restrita apenas ao “(...) físico, mas dos nossos valores, do mental e intelectual. A corporeidade é o diálogo entre corpo, mente espiritualidade e a sua relação com o mundo” (p. 97).

No que concerne à análise nomotética da Pergunta 1, identificamos um total de 12 US; destas, destacamos a primeira, a segunda e a oitava unidade. Na primeira encontramos quase 50% das respostas com um olhar mais mecânico “máquina”, totalizando a maior convergência com 20 participantes, indo ao encontro da fala de Moreira (2012), quando diz que o paradigma do modelo cartesiano ainda está presente nos argumentos.

Em outra pesquisa, Moreira, Chaves e Simões (2017) advertem: ao “(...) considerar o corpo como máquina a ser melhorada em seu rendimento para atingir a perfeição, porque nesta trilha já partimos do princípio que o corpo humano é imperfeito, justificando todo tipo de manipulação e de invasão para consertá-lo” (p. 203). Encontramos uma divergência neste pensamento sobre a concepção de corpo/corporeidade, pois os graduandos do curso de Educação Física precisam “(...) colaborar para a análise e o entendimento da corporeidade no contexto da condição humana” (Moreira, Chaves & Simões, 2017, p. 208). E os autores, em seguida, complementam:

O estudo do ser humano que se movimenta intencionalmente na direção da superação ou transcendência, através dos conhecimentos históricos da chamada Educação Física, deve estar atrelado ao entendimento da complexidade humana (p. 208).

Merleau-Ponty (2011) afirma que “a consciência do corpo e a alma são assim repelidos, o corpo volta a ser esta máquina bem limpa que a noção ambígua de comportamento falhou em fazer-nos esquecer” (p. 115).

Ainda na análise nomotética da Pergunta 1, temos uma convergência de 31,70% das respostas presentes nas US de 13 participantes, no qual o corpo/corporeidade é “movimento / locomoção”.

Com apenas 7,31% (três participantes) aparece a oitava US, que apresenta respostas relacionadas à “União de corpo, mente e espírito / Equilíbrio físico e mental”. Nesta perspectiva, esta US parece caminhar no sentido do entendimento dos pressupostos da corporeidade. No entanto, aqui vale uma observação: na verdade, o sentido de corporeidade não é necessariamente a junção de equilíbrio “físico e mental”, nem mesmo “união de corpo, mente e espírito”. No primeiro caso, em que aparece a conjunção e, significa um mais outro. No segundo caso corporeidade não é união de várias coisas, e sim uma unidade indissociável.

Nesta segunda análise nomotética das US, no sentido vertical, conseguimos perceber que os participantes 23, 25, 30 e 37 demostraram uma percepção de corpo/corporeidade, de uma maneira que chamou a nossa atenção.

O participante 23, ao mesmo tempo que menciona que o corpo/corporeidade “não é um objeto / não é máquina”, também diz que ele é “É tudo / Totalidade”.

Seguindo a análise, temos os participantes 25, 30 e 37, os quais demostraram ter uma divergência na percepção de corpo/corporeidade em suas respostas, ao explicitar o corpo como máquina. A título de ilustração, observe-se o participante 25, que, além de mencionar o corpo como máquina, afirma que corpo é “movimento / locomoção e expressão”, e, por fim, “cultura”. Apresentando a mesma divergência, temos os participantes 30 e 37, que, além de caracterizarem corpo como máquina, falam que corpo é “movimento / locomoção”, “alma / celestial, alma e a essência”, “moradia mutável / casa em construção”, “expressão” e “é tudo / totalidade”.

Na última análise nomotética das US da Pergunta 1, foi possível comparar o entendimento de corpo/corporeidade dos participantes em relação às respostas dos cursos A e B, como pode ser visto, as US de número “3, 4, 5 e 6” são mais assinaladas por ambos os cursos.

Notamos que a US número 3 (Fonte de vida / Saúde / Bem-estar) foi apontada por cinco participantes do curso A e, por apenas três no curso B.

A US número 4 (Expressão) foi apresentada duas vezes no Curso A, em contrapartida, tivemos cinco respostas no Curso B.

A US 5 (Alma / Celestial Alma e a Essência) foi mencionada por apenas um participante do Curso A, por outro lado, foi apresentada por quatro participantes do Curso B. E, por fim, temos algo que nos impressionou no Curso B, que foi a US número 6 (É tudo / Totalidade), que computou quatro participantes e, no Curso A, foi ausente. Com isso, é possível notar que os concluintes do Curso B têm um entendimento de corpo/corporeidade mais ampliado em relação aos alunos do Curso A.

Na análise ideográfica dos indicadores da Pergunta 2 (“Como você exercita sua ação profissional junto ao aluno no desenvolvimento dos conteúdos aprendidos no Curso de Graduação?”) tivemos 12 participantes que mencionaram que utilizam o aprendido na faculdade, sendo eles: participantes 02, 04, 07,11, 12 19, 20, 23, 24, 27, 33 e 35, pois foram as respostas mais frequentes, por eles terem colocado que “utilizam o aprendido em sala de aula”.

Sendo assim, esses nove participantes poderiam buscar uma especialização, ao invés de reproduzir apenas o aprendido, pois, estarão em um ambiente diferente da graduação, no qual atuarão como professor, momento em que devem trabalhar tanto o coletivo quanto a individualidade de cada aluno.

Notamos que os participantes 09, 29 e 41 têm o pensamento voltado para trabalhar o corpo em sua totalidade. Nesta direção, Santin (2011) nos contempla com a seguinte reflexão:

A compreensão da corporeidade por meio de conceitos e definições de manuais precisa ser completada pela observação das imagens corpo que se constroem no imaginário social que, na última instancia, são as determinam a vivência corporal (p. 53).

E, por fim, tivemos, dois participantes com os pensamentos semelhantes: o participante 21, que exercita o aprendido “(...) conversando, ensinando, aprendendo e fortalecendo o aprendizagem, o aprender e tudo na nossa vida”; e o participante 22 menciona que a forma de exercer a docência é “trazendo o máximo de vivencias aos alunos” e que o “profissional deve fazer a diferença fazendo com que o aluno absorva as oportunidades”.

No que concerne à análise nomotética da Pergunta 2, identificamos nove US e destacamos: a primeira, terceira e sexta unidades. Notamos que a primeira US – “Planejando as atividades / conteúdo” – mostra que 39,02% dos concluintes demostraram ter a preocupação com o planejamento das aulas. A terceira US – “Motivação / Reconhecimento das individualidades” – apresenta 19,51% dos participantes da pesquisa. Este grupo, sem dúvida, demostra a preocupação em motivar seu aluno durante as aulas. Por último, a sexta US – “Trabalhar o corpo como totalidade” – totaliza 12,19% das respostas. Compreender o corpo em sua totalidade é uma maneira de pensar que se aproxima do referencial da Corporeidade.

Em contrapartida, tivemos 14 participantes que pensam unicamente em ensinar somente o que foi aprendido durante o percurso da graduação. Por outro lado, obtivemos uma interessante resposta do participante 23, que afirmou: “A teoria aprendida na faculdade não é suficiente”.

A análise nomotética das US da Pergunta 2 – cujo objetivo foi comparar os Cursos A e B – revela uma maior frequência das US de número “2”, “5” e “6”. Notamos que a US de número 2 – “Explicando / Demostrando o conhecimento adquirido” – apresenta um valor absoluto de 14 participantes (nove do Curso A e cinco do Curso B). A US número 5 – “Especialização” – teve o valor absoluto de cinco participantes (um do Curso A e quatro do Curso B). Pensando na atuação com o “corpo”, tivemos a US de número 6 – “Trabalhar o corpo como totalidade” – que apresentou um valor absoluto de cinco participantes (dois no Curso A e três no Curso B).

Considerações finais

A presente pesquisa evidenciou que a percepção de corpo/corporeidade que os concluintes dos cursos de licenciatura em Educação Física é um pensamento presente no modelo cartesiano, uma visão de corpo voltada para a parte biológica, ignorando que somos seres corpóreos e que o corpo deve ser trabalhado como um todo, ao contrário de uma máquina.

Em face dos problemas estabelecidos e dos objetivos do estudo, podemos mencionar que conseguimos confirmá-los, uma vez que constatamos que os participantes da pesquisa manifestaram uma percepção de corpo relacionada à máquina, objeto pelo qual se pode modelar, ajustar e/ou aperfeiçoar, sendo este entendimento visível e manifesto no discurso dos concluintes dos cursos de Licenciatura A e B.

Em termos de aportações didáticas deste trabalho à Educação Física, consideramos que descortinar a compreensão de corpo/corporeidade, oriunda de licenciandos concluintes em cursos da área, pode ser um passo para apontar uma necessidade de melhorar a formação inicial neste aspecto e, por consequência, uma melhor qualidade na seleção de conteúdos e planejamento curricular na prática pedagógica da Educação Física no contexto escolar.

Por último, recomendamos que futuras pesquisas sobre a concepção de corpo/corporeidade presente no discurso de estudantes de Educação Física sejam realizadas. Um interessante estudo seria analisar qual o entendimento de corpo/corporeidade por alunos ingressantes em Cursos de Educação Física.

Referências

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Recibido: 05 de Mayo de 2020; Aprobado: 09 de Septiembre de 2020

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