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Educación Física y Ciencia

On-line version ISSN 2314-2561

Educ. fís. cienc. vol.23 no.3 Ensenada  2021

http://dx.doi.org/https://doi.org/10.24215/23142561e182 

Artículos

O JLASSS como um lócus acadêmico para debates socioculturais sobre educação física e esporte na América Latina: uma análise de suas publicações (2011-2020)

The JLASSS as an academic locus for sociocultural debates on physical education and sport in Latin America: an analysis of its publications (2011-2020)

JLASSS como locus académico para los debates socioculturales sobre la educación física y el deporte en América Latina: un análisis de sus publicaciones (2011-2020)

1Universidade Federal do Rio de Janeiro

2Universidade Federal do Paraná

3Universidade Federal do Paraná

4Universidade Federal do Paraná

Resumo

Este estudo buscou apresentar o cenário das publicações científicas que vem sendo divulgada no Journal of the Latin American Social-cultural Studies of Sport (JLASSS), revista vinculada à instituição latino-americana especializada nas discussões socioculturais do Esporte no continente, a Asociación Latino Americana de Estudios Socioculturales del Deporte (ALESDE). Para isso, realizou-se a análise do conteúdo dos artigos publicados no periódico desde a sua criação, em 2011, até o último volume publicado em 2020. Encontrou-se um total de 124 estudos produzidos em diversos países e instituições, predominantemente sul-americanos, os quais abordaram variados assuntos, mas todos com aporte das Ciências Sociais e Humanas, evidenciando que a revista estudada cumpre com seus esforços de promover pesquisas exclusivamente com tais subsídios teóricos e majoritariamente da respectiva região.

Palavras-chave Produção do conhecimento; Estudos socioculturais; Educação Física e Esporte; América Latina

Abstract

This study sought to highlight the profile of publications that have been published in the journal linked to the Latin American institution specialized in socio-cultural discussions of sport on the continent, Asociación Latino Americana de Estudios Socioculturales del Deporte (ALESDE). For this, the content of articles published in the journal was analyzed from its creation in 2011, until the last issue published in 2019. We found a total of 104 studies produced in various countries and institutions, predominantly from South America, which addressed different topics, but all of them contribute to social and human sciences, showing that the studied journal fulfills its efforts to promote research exclusively, such as theoretical subsidies and mostly from the region in question.

Keywords Knowledge production; Sociocultural studies; Physical Education and Sport; Latin America

Resumen

Este estudio buscó presentar el escenario de las publicaciones científicas que se han publicado en el Journal of the Latin American Social-cultural Studies of Sport (JLASSS), revista vinculada a la institución latinoamericana especializada en discusiones socioculturales del deporte en el continente, la Asociación Latino Americana de Estudios Socioculturales del Deporte (ALESDE). Para ello, se analizó el contenido de los artículos publicados en la revista desde su creación en 2011, hasta el último volumen publicado en 2020. Encontramos un total de 124 estudios producidos en diversos países e instituciones, predominantemente sudamericanas, que abordaron diversas temáticas, pero todas con aporte de las ciencias sociales y humanas, lo que demuestra que la revista estudiada cumple con su esfuerzo de promover investigaciones exclusivamente de este tipo de subsidios teóricos y mayoritariamente de la región correspondiente.

Palabras clave Producción de conocimiento; Estudios socioculturales; Educación Física y Deporte; América Latina

Introdução

A fundação da Asociación Latinoamericana de Estudios Socioculturales del Deporte (ALESDE) apresentou-se como um marco importante na área dos estudos do Esporte na América Latina. Suas primeiras movimentações iniciaram em 2001 no congresso da Asociación Latinoamericana de Sociologia (ALAS), quando, na busca por maior reconhecimento científico, criou-se oficialmente em 2007 essa associação para representar internacionalmente os pesquisadores envolvidos com os estudos socioculturais do Esporte (Alesde, 2010).

Marchi Júnior, Almeida e Souza (2019) apontam que só foi possível a emergência de uma associação especializada em estudos sociais da Educação Física e Esporte na América Latina pelo fomento que já estava ocorrendo desde o fim do século XX, por interesses de instituições, grupos de pesquisas e produções individuais que estavam engajados no desenvolvimento das pesquisas amparadas nas Ciências Sociais. Cornejo (2015) destaca o envolvimento principalmente dos grupos de pesquisadores do Brasil, da Colômbia, do Chile, do México e da Venezuela para a criação da ALESDE. O Estatuto Oficial da associação1 a caracteriza da seguinte maneira:

A ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE ESTUDIOS SOCIOCULTURALES DEL DEPORTE, é uma organização científica independente, de duração indeterminada, que reúne profissionais, estudantes e instituições de diferentes áreas do conhecimento, que possuem interesse em comum no desenvolvimento de estudos e pesquisas da América Latina e do Sul, circunscritos na área acadêmica da educação física, do esporte, da recreação através da perspectiva sociocultural (Alesde, 2008, p. 1, tradução nossa).

Essa associação, portanto, se configurou e se caracteriza como um lócus de encontro de diversas áreas que estejam interessadas em abordar o fenômeno esportivo por meio da perspectiva sociocultural, visando realizar uma maior interlocução na América Latina. A primeira reunião da ALESDE ocorreu no formato de congresso, em 2008, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, Brasil. Esse foi um evento fundamental para a consolidação da ALESDE, passando a conter traços mais específicos e contínuos a partir de então. Após seu primeiro congresso, os pesquisadores realizaram outros eventos a cada dois anos em outros países da América Latina, como na Venezuela (2010), no Chile (2012), na Colômbia (2014), no México (2016) e, mais uma vez, no Brasil (2018). O congresso de 2020 foi adiado para 2021, por circunstâncias emergenciais da pandemia do COVID-19 (ISSA, 2020). O congresso será realizado em Viña del Mar (Chile), em parceria, pela primeira vez, com a International Sociology of Sport Association (ISSA) e com o Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO).

Outro elemento-chave que contribuiu para a consolidação da associação foi a criação e a publicação da primeira edição do Journal of the Latin American Sociocultural Studies of Sport (JLASSS) em 2011. O objetivo do JLASSS é apoiar e disseminar estudos socioculturais sobre o Esporte na América Latina e se tornar um canal para a difusão de estudos científicos de seus pesquisadores no cenário internacional. O escopo da revista abrange os fenômenos socioculturais de várias maneiras, que podem ser abordadas por meio de análises sociológicas, históricas, antropológicas, políticas, educacionais e filosóficas2.

A inauguração de um periódico com essas características, vinculada a uma associação como a ALESDE, demonstra a tentativa de consolidação desses tipos de estudos nessa região. No entanto, acredita-se que, apesar de o periódico estar em pleno funcionamento desde 2011, ainda pouco se sabe sobre seu desenvolvimento, quais são as instituições e países de vínculos dos autores que mais se interessaram em publicar na revista, os principais assuntos3 de interesse e referências mais utilizadas para embasar essas pesquisas. Esses dados poderão fornecer um panorama desses estudos na América Latina para a comunidade acadêmica nacional e internacional.

Torna-se relevante justificar o interesse em analisar esse periódico específico e divulgá-lo em uma revista acadêmica latino-americana. A escolha foi baseada na falta de estudos em todo o mundo, com o objetivo de entender como têm se desenvolvido as pesquisas exclusivamente socioculturais sobre Educação Física e Esportes em regiões para além do norte do globo (Europa-EUA) (Alabarces, 2011; Malcolm, 2012; Tian & Wise, 2020). O estudo de Gomes et al. (2020), apesar de também explorar a respectiva revista, foi escrito em língua inglesa, utiliza-se de dados diferentes e é dotado de processos metodológicos distintos aos que serão apresentados nesta pesquisa. Os autores catalogaram os estudos até 2018 e possuíam o objetivo de dialogar e apresentar o panorama para uma comunidade internacional de forma mais ampla. Nessa esteira, o presente artigo traz discussões específicas para o contexto latino-americano, fornecendo outras informações não analisadas na investigação anterior, além de um cenário atualizado do JLASSS, procurando dar mais visibilidade às discussões socioculturais da Educação Física e Esporte latino-americanas.

Nesse sentido, o presente estudo busca apresentar o cenário das publicações científicas que vêm sendo divulgadas no JLASSS, por meio da análise do conteúdo da revista vinculada à associação latino-americana especializada nas discussões socioculturais do Esporte no continente. Entretanto, como Dart (2014) enfatiza, é importante considerar que os periódicos acadêmicos não devem ser vistos como a representação total do respectivo assunto, mas como um meio valioso de interlocução acadêmica.

Metodologia

Para realizar esta pesquisa, a análise de conteúdo foi utilizada como ferramenta para auxiliar na resposta do objetivo do presente estudo. Segundo David e Sutton (2011), essa proposta analítica se constitui em duas etapas. Uma primeira em que a busca de material empírico quantitativo é realizada, ou seja, uma coleta de dados, para assim iniciar o segundo passo, uma análise interpretativa/descritiva da realidade catalogada.

Todas as edições da Journal of the Latin American Sociocultural Studies of Sport (2011-2020) foram analisadas, contabilizando 124 artigos publicados nesse recorte temporal. Todos os textos fizeram parte do escopo desta pesquisa, não havendo critério de inclusão e exclusão. Posteriormente, todos os artigos foram catalogados em uma planilha eletrônica, registrando as seguintes informações: a) autores; b) universidade de vínculo dos autores; c) país dos autores; d) palavras-chave das publicações; e) referências bibliográficas. Essas informações foram registradas, pois, ao longo do texto, elas contribuíram para ilustrar o cenário das publicações científicas do referido periódico.

O processo de compilação das referências bibliográficas foi confeccionado manualmente, sendo todas as referências citadas ao fim de cada artigo registradas, seguindo o modelo de escrita nome e sobrenome (ex.: Pierre Bourdieu.). Caso a autoria referenciasse outro texto desse mesmo autor, realizava-se a contabilização pela segunda vez, logo um único artigo poderia utilizar-se de mais de um texto de Pierre Bourdieu, enquanto outro texto poderia não o utilizar.

As palavras-chave foram catalogadas com o intuito de delimitar o assunto dos estudos. Para isso, além da leitura desses componentes textuais, o título, resumo e, em certos casos, os textos foram integralmente lidos para que fosse delimitada uma palavra representativa do assunto tratado nas publicações do JLASSS. Verificar títulos, resumos e palavras-chave são meios facilitadores para compreender como o próprio autor classificou seu estudo, pois é com base nessa definição que são sintetizadas as características do texto (Dart, 2014).

Para a visualização gráfica dos resultados dos países, assuntos e referências, o software Nvivo11 foi utilizado, apresentando-os por meio de nuvens de palavras. A ferramenta foi usada para codificar e apresentar os resultados de outra forma, não se resumindo a tabelas e gráficos habituais (Lage, 2011). Para compreender melhor o processo realizado, abaixo encontra-se uma ilustração com os detalhes:

Figura 1 Processos realizados para a catalogação e geração de dados. 

Fonte: elaborada pelos autores.

Assim, os termos que estiverem mais centralizados e com um tamanho superior na porção vertical são os que, quantitativamente, compareceram em maior número na revista investigada. As operações estatísticas foram realizadas por meio de ferramentas básicas disponibilizadas pela própria planilha e pelo software citado. A seguir, encontram-se os resultados com a periodicidade, países de vínculo dos autores que mais produziram no periódico, as respectivas instituições, os assuntos e as referências bibliográficas mais utilizadas nos textos publicados.

Resultados e discussões

A análise das publicações do JLASSS, que se apresenta como um espaço para receber os trabalhos desenvolvidos por pesquisadores, principalmente latino-americanos debruçados na reflexão sociocultural do fenômeno esportivo, é um ponto de partida para oferecer detalhes de como esses estudos têm se desenvolvido nessa região. As revistas e suas publicações são de suma importância para a efetividade da divulgação desses trabalhos, sendo, também, importantes componentes estruturais do campo científico, pois é comumente a partir delas que pesquisadores buscam divulgar suas pesquisas científicas, tornando-se, portanto, o principal lócus de divulgação acadêmica (Dart, 2013).

Tendo isso em vista, e reconhecendo a complexidade de leitura e compilação de todo o material existente sobre determinadas abordagens (Seippel, 2018), considera-se que a análise do JLASSS será uma forma de evidenciar como têm se apresentado as pesquisas e, de certa forma, delinear essa agenda de pesquisa específica pautada em temáticas socioculturais da Educação Física e Esporte na América Latina.

Tabela 1 Distribuição de artigos por ano. 

Fonte: elaborada pelos autores.

A tabela acima evidencia que, apesar de leves oscilações, a revista mantém um número relativamente regular de publicações. Observamos que o JLASSS segue os padrões usuais de avaliação e controle de qualidade das revistas acadêmicas, ou seja, os textos recebidos passam por uma avaliação preliminar dos editores, para verificar a adequação e a pertinência de sua publicação. Cumpridos os requisitos formais e temáticos exigidos pela revista, o material será enviado para dois avaliadores (ou mais quando necessário) para a apreciação e emissão de parecer, preservando o sistema duplo-cego.

No Brasil, é sabido que são atribuídos pela Coordenação de Pessoal de Nível Superior (CAPES) determinados atributos de “qualidade” aos periódicos, tornando-os, com base nessa avaliação, cada vez mais valiosos dentro do sistema acadêmico brasileiro. De acordo com Souza e Cunha (2020), o WebQualis conferido pela (CAPES) é um fator que imputa às revistas uma maior ou menor atratividade, principalmente para os autores que estão inseridos nos programas de pós-graduação e cuja lógica de produtividade se baseia em periódicos com certas métricas. Na avaliação vigente de 2013-2016, a revista está classificada como B4 na área de avaliação da Educação, B5 na Educação Física, Sociologia e Interdisciplinar. Há que se destacar que nessa métrica são atribuídas aos periódicos as seguintes notas: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C, deixando o JLASSS com uma atratividade relativamente baixa. Menciona-se ainda que o periódico não atingiu indexação em bases de dados. Vemos aqui características de um periódico em busca de consolidação, em que o alcance de indexações e, consequentemente, o aumento das métricas, poderiam ser um importante contribuinte.

Contudo, há que se destacar que o periódico ainda assim vem publicando edições semestrais desde sua fundação, podendo ser visualizado como uma trajetória próspera, visto que os pesquisadores geralmente preferem publicar em revistas científicas com fatores de impacto e/ou indexadas em determinadas bases, o que de certo modo inibe o estabelecimento de periódicos mais recentes, como o JLASSS, que ainda não atingiu níveis de indexação mais elevados.

A seguir, veremos quais são os principais países vinculados às produções do JLASSS.

Países

Apresentar os países que mais tiveram suas instituições vinculadas aos autores e artigos publicados no JLASSS pode nos oferecer indícios para constatar se a missão de aglutinar estudos socioculturais do Esporte latino-americanos está sendo efetivada na respectiva revista. Os países que aparecem na Figura 2 estão diretamente ligados às instituições dos autores que publicaram no JLASSS. O Brasil, em proporção maior e centralizado na imagem, apareceu como o país de vínculo em 76 artigos, seguido da Colômbia, em 11 textos, e Argentina e Uruguai, com oito publicações. O Chile consta em sete publicações, já a Venezuela e a Espanha comparecem em três trabalhos, e Portugal em dois. México, Equador, Estados Unidos, Bolívia, Peru, Reino Unido, Canadá e Nova Zelândia aparecem pelo menos uma vez nas páginas da revista.

Figura 2 Países de vínculo dos autores e artigos publicados no JLASSS. 

Fonte: elaborada pelos autores.

Nesse sentido, ao observamos o dado, o Brasil se apresenta como um dos centros mais produtivos na revista. Isso pode ser atribuído por existir um histórico maior de investimentos em estruturas que elaboram pesquisas socioculturais sobre Educação Física e Esporte quando comparados a outros países da América Latina (Alabarces, 2011). Tem-se, assim, consequentemente, um campo científico um pouco mais estruturado, juntamente com um número maior de instituições e grupos de pesquisas envolvidos com estudos socioculturais do Esporte, como a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que se fez presente em 38 artigos.

No Brasil, a UFPR sediou o primeiro congresso da ALESDE e possui o Centro de Pesquisa em Esporte, Lazer e Sociedade (CEPELS), sendo considerado um dos epicentros da Sociologia do Esporte no país, e coordenado pelo professor Wanderley Marchi Júnior, que ocupou e ocupa postos diretivos na ALESDE (Souza e Marchi Júnior, 2010). A referida instituição ainda conta com um Programa de Pós-Graduação em Educação Física com uma linha de pesquisa intitulada Aspectos Socioculturais do Esporte e Lazer. Além disso, vale ressaltar que a interface da revista se localiza sob responsabilidade da UFPR, tendo como um dos editores chefes o professor Marcelo Moraes e Silva, da mesma instituição, características que, de certa maneira, evidenciam certa afinidade e afetividade da respectiva universidade com o periódico investigado, mas que também explicitam, de certo modo, uma endogenia causada pela tentativa de fortalecer e alimentar o periódico – aspecto similares também são observados ao verificar a relação da segunda universidade com o periódico.

A Universidade Estadual de Maringá, também paranaense, aparece com 14 textos. A instituição possui uma linha de pesquisa denominada Práticas Sociais em Educação Física, no Programa de Pós-Graduação em Educação Física, que visa estudar estruturas, processos e representações vinculadas às práticas sociais em Educação Física – o que auxilia na produção e publicação de trabalhos desse viés em um periódico que possui o escopo como o do JLASSS. Além disso, o professor Juliano de Souza, que faz parte da respectiva linha de pesquisa, também é um dos editores chefes do periódico, estimulando direta ou indiretamente os vínculos com a revista. A Universidade de São Paulo também contribui para que o Brasil compareça em escala maior nos estudos da revista. Isso pode ser atribuído às três linhas de pesquisa existentes no programa de pós-graduação da EEFERP/Ribeirão Preto, que têm relações explícitas com as abordagens socioculturais. São elas: (a) estudos socioculturais do movimento humano; (b) aspectos psicossociais do Esporte; e (c) Gerenciamento, políticas, marketing e comunicação em Esportes e Educação Física.

O vínculo de agentes específicos com a ALESDE, com o JLASSS e com as duas instituições que mais se fizeram evidentes, oferece alguns indícios das possíveis justificativas para a preponderância dessas instituições e do Brasil, mesmo o periódico não apresentando um WebQualis expressivo para a pós-graduação brasileira. Nesse sentido, essa predominância pode significar um esforço interno de “alimentar” o periódico, sendo organizado, por exemplo, pelos coordenadores dos grupos de pesquisa e próprios editores da revista, os dossiês temáticos relacionados às suas linhas de pesquisa compatíveis com o escopo da revista.

Outras instituições brasileiras vinculadas aos textos foram: Universidade Federal do Espírito Santo (9)4, Universidade Federal de Santa Catarina (5), Universidade Federal de Minas Gerais (3), Universidade de Brasília (3), entre outras que se apresentaram em menos de três artigos. No caso da Colômbia, por sua vez, seus estudos estavam vinculados principalmente à Corporação Universitária Minuto de Dios – UNIMINUTO (3), Universidade Pedagogica Nacional (2) e a Universidade Nacional de Colômbia (2). A Argentina é representada em sua maioria pela Universidade Nacional de La Plata (6) e pela Universidade de Buenos Aires (1). O Chile revela-se por meio da Universidade Andrés Bello (2), Universidade de Valparaíso (2) e Universidade de Concepción (1), o Uruguai pela Universidade de la Republica (6) e o México pela Universidade Iberoamericana (1) e pela Universidade de Guanajuato (1).

Esses estudos demonstram que, apesar da maior participação brasileira, a colaboração de outros países latino-americanos também é presente. Além disso, é possível observar a presença de nações como Espanha (3), Estados Unidos (1), Portugal (2), Reino Unido (1), Nova Zelândia (1) e Canadá (1), que ultrapassam as “fronteiras” estabelecidas pelo JLASSS5. Cabe mencionar que pudemos observar que a presença de pesquisadores de outras regiões do mundo ocorre devido à rede de contatos que os membros da equipe editorial da revista realizam, que costumeiramente convidam agentes internacionais para as conferências dos seus congressos, como o caso dos pesquisadores Steve Jackson (NZL) e Jay Coakley (EUA), que estiveram presentes nos dois primeiros encontros da associação e que acabaram publicando suas respectivas conferências no JLASSS.

Essas ações representam os esforços de uma associação/periódico em consolidação que, apesar de ter em sua essência vínculo com a América Latina, também busca fortalecer relações com agentes de países tidos como cientificamente mais estabelecidos. Contudo, a maior participação de países latino-americanos demonstra que a revista e a associação têm conseguido, dentro de suas limitações, fazer o seu papel como difusores desses estudos nessa região. A seguir, dando continuidade ao detalhamento dos traços característicos da revista e dos textos publicados no JLASSS, serão evidenciados os assuntos mais recorrentes no periódico. As palavras contidas na Figura 3 são representativas das palavras-chave elencadas pelos próprios autores dos artigos publicados e que serão tratadas como os assuntos centrais dos artigos.

Assuntos

Na Figura 3 estão ilustrados todos os 32 assuntos encontrados nos 124 artigos ao fim da catalogação e codificação do JLASSS. A educação foi o objeto mais abordado em 24 textos, assim como políticas públicas e epistemologia da Sociologia do Esporte – ambas são tratadas em 16 artigos. A esportivização se expressa em sete artigos. As abordagens sobre o corpo e gênero comparecem em cinco textos cada uma. Discussões sobre violência, identidade e cultura são presentes em quatro publicações. Economia e mídia foram relacionadas a três artigos, respectivamente. As demais palavras encontradas na nuvem de palavras se apresentaram apenas em dois ou em uma única publicação do JLASSS.

Figura 3 Assuntos mais recorrentes nas publicações do JLASSS. 

Fonte: elaborada pelos autores.

A educação foi um dos tópicos mais trabalhados nos textos publicados. Esse fato pode ser atribuído principalmente ao viés pedagógico constitutivo da Educação Física nos processos de escolarização, a qual tem laços estreitos com o campo educacional e, da mesma forma, com as Ciências Sociais e Humanas (Wiggers et al., 2015; Souza, 2018). Da mesma forma, alguns dossiês específicos para a Educação Física no espaço escolar foram realizados no JLASSS, como os intitulados “Enfoques e perspectivas conceituais das Ciências Sociais na Educação Física” e “Por uma teoria da Educação Física latino-americana”, ambos de 2018, resultando em um número maior de textos sobre os aspectos educacionais da área da Educação Física e do ensino do Esporte.

Políticas públicas foi o segundo assunto mais tratado nos artigos no JLASSS. Assim como a educação, as políticas públicas do Esporte foram contempladas com números especiais para a temática. O volume oito de 2017 contou com textos selecionados pelo professor Fernando Starepravo (UEM), oriundos do Seminário de Políticas Públicas de Esporte e Lazer, além da colaboração constante de integrantes do Instituto de Pesquisa Inteligência Esportiva, coordenado pelo professor Fernando Mezzadri (UFPR), que também possui em essência a elaboração de estudos voltados às políticas públicas do Esporte.

Quanto à epistemologia da Sociologia do Esporte, os textos que se propuseram a fazer essa discussão focaram os aspectos formadores dessa área na América Latina. Esse tipo de abordagem ocorre, principalmente, porque a Sociologia do Esporte se trata de uma área interdisciplinar e que fundamenta esses estudos. Essa heterogeneidade da Sociologia do Esporte se manifesta justamente pelo fato de que, apesar de ser uma disciplina fundamentada na Sociologia, ela apresenta traços e interconexões com a História, a Ciência Política, a Geografia, a Antropologia, a Psicologia Social e a Economia, além das ramificações da Sociologia, como estudos culturais, de mídia e gênero (ISSA, 2016).

A esportivização é abordada em trabalhos que, basicamente, analisam o processo de transformação de uma atividade/jogo em uma competição com regras padronizadas e que passam a ser espetacularizadas e mercantilizadas. As discussões socioculturais do corpo, da violência presente explicitamente ou simbolicamente nos esportes, de gênero e de questões relacionadas à identidade também estiveram presentes. No entanto, não foram o foco principal dos estudos, assim como a economia, mídia e cultura.

Em suma, pode-se observar que as discussões centrais das publicações não fogem ao foco e escopo da revista, isto é, de aglutinar estudos que abordem a Educação Física e o Esporte a partir de abordagens históricas, sociológicas, políticas, antropológicas, filosóficas, entre outras, dentro do território latino-americano. Porém, será que essas produções se utilizam de referenciais de diálogo da região? Quais são os autores predominantes nos estudos desenvolvidos? Essas questões poderão ser melhor observadas a seguir.

Teóricos e teorias

A identificação dos principais referenciais de diálogo auxilia na compreensão de como os estudos no JLASSS se estruturaram e quais são as teorias que influenciaram o desenvolvimento dos mesmos. Para elucidação, os autores mais citados na seção de referências dos artigos publicados são apresentados na imagem abaixo. É válido ressaltar que esses mesmos autores apareceram mais de uma vez em um único texto. Além disso, deve-se observar que os marcos teóricos encontrados vão muito além daqueles dos abordados nas linhas a seguir, mas o objetivo, neste momento, é apresentar aqueles que estão mais presentes nos artigos do JLASSS.

Na figura 4 estão contidos apenas os autores que tiveram seus nomes referenciados mais de onze vezes nos textos catalogados. Nesse sentido, declara-se que os dados apresentados nessa seção não são engessados e nem têm a pretensão de expor ou ocultar os demais autores, apenas optou-se pela melhor visualização gráfica e, assim, fornecer um cenário das referências mais utilizadas nos estudos publicados. No total, foram catalogadas 2.734 referências declaradas nos 124 textos do JLASSS.

Figura 4 Autores mais citados nas referências dos textos publicados no JLASSS. 

Fonte: elaborada pelos autores.

Quantitativamente, o que era referenciado como Brasil – tratava-se de leis e textos ligados aos trâmites legais que regem a nação brasileira – apresentou-se 92 vezes. Enquanto Pierre Bourdieu foi citado 85 vezes e Norbert Elias, 66. Em seguida, os autores latino-americanos se fizeram presente nas publicações. Valter Bracht foi referenciado 38 vezes, Wanderley Marchi Júnior, 21, Pablo Scharagrodsky, 18 e Pablo Alabarces, 17. Por fim, o pensador francês Michel Foucault também teve seus trabalhos citados 17 vezes. Os demais autores que aparecem na figura contaram com 11 citações, mas esses não terão centralidade nas análises abaixo.

A utilização da legislação brasileira está relacionada, notadamente, aos estudos de políticas públicas do Esporte encontrados nas páginas do JLASSS. A Constituição Federal de 1988 foi um dos documentos mais citados, visto que nela estão contidas as principais leis que regem o Brasil. A Lei Pelé e programas ligados ao antigo Ministério do Esporte brasileiro, que agora, após ser extinto, foi incorporado ao Ministério da Cidadania como a Secretaria Especial do Esporte, também compõem a maior parte das citações desse tipo de abordagem.

Encontrar as leis brasileiras como uma das referências mais citadas evidencia o investimento em estudos de políticas públicas do Esporte por meio das discussões socioculturais. As pesquisas de Starepravo, Souza e Marchi Júnior (2011; 2012; 2013) e Zardo, Souza e Starepravo (2018) dão indícios de como esses estudos podem ser realizados se amparando, inclusive, em teorias de Pierre Bourdieu e Norbert Elias. No JLASSS, portanto, os artigos que citam a legislação utilizam-na como base para analisar as relações de poder instauradas nessas interdependências entre Estado, Esporte, atletas e clubes, entre outros tipos de abordagens.

Quanto à utilização dos escritos do sociólogo francês Pierre Bourdieu, ela está muito atrelada ao fato de sua produção se tratar de um modelo macroexplicativo do mundo social, oportunizando a leitura de diversificados objetos presentes nos mais diferentes microcosmos (Souza & Marchi Júnior, 2017). Ademais, Defrance (1995) e Giulianotti (2015) corroboram ainda apontando as teorias de Bourdieu como facilitadoras para uma análise crítica do poder circunscrito em/entre diferentes campos. Assim, os conceitos de habitus, campo, e elenca-se aqui também os capitais, segundo Grenfell (2015, p. 70), dão um suporte sólido para uma “compreensão autêntica” do Esporte. A teoria de Bourdieu e seus conceitos foram amplamente utilizados nos textos publicados no JLASSS, identificando-se assim como um dos principais referenciais de diálogo nos trabalhos que abordavam o campo esportivo, seus subcampos e as interferências de outros campos (como o político, econômico), o habitus de cada modalidade esportiva, o consumo e os capitais envolvidos nesse meio.

Defrance (1995) salienta que além dos conceitos-chave da Teoria dos Campos de Bourdieu, outro aspecto que contribui para que o autor seja utilizado nas pesquisas, são os trabalhos que abordaram o Esporte como Programa para uma Sociologia do Esporte, encontrado em Coisas Ditas (1990), além de como é possível ser esportivo?, apresentado em Questões de Sociologia (1983). Esses textos deram suporte para os estudos que discutiam a epistemologia da Sociologia do Esporte, por exemplo, pois trazem insights precisos para se pensar nos estudos do Esporte pelo viés das Ciências Sociais e Humanas.

Dando continuidade à análise, destaca-se que o sociólogo alemão Norbert Elias, assim como Pierre Bourdieu, também não focou seus trabalhos – em totalidade – às práticas esportivas. Entretanto, o Esporte se fez presente em sua obra O processo civilizador (publicada pela primeira vez em 1939), mesmo que rapidamente (Malcolm, 2012). Esse livro foi amplamente utilizado nas publicações do JLASSS, pautando-se no conceito de processo civilizador que, de acordo com o que Elias (1993) aponta, se refere, grosso modo, às mudanças comportamentais dos indivíduos e da sociedade como um todo em um longo período. A obra Introdução à Sociologia (2008) também contribuiu em vários estudos da revista investigada, muito por conta de se apresentar como suporte teórico para a leitura social, explicitando, por exemplo, as teias de interdependências, isto é, a conexão entre indivíduos nas relações sociais presentes tanto no Esporte quanto nas relações constituídas na área da Educação Física. Assim, com a sociologia figuracional de Elias, pode-se compreender os indivíduos e a sociedade de maneira articulada e não como antíteses (Elias, 1994; Ducret, 2011).

Além dessas contribuições, seu trabalho em conjunto com Eric Dunning em A busca da Excitação (1992) se traduz como uma das principais obras para os estudos do Esporte e do Lazer (Dunning, 1999; Giulianotti, 2004), conseguindo transparecer a “utilidade” de seus conceitos sociológicos em questões mais específicas do Esporte. Um dos diferenciais do tratamento de Elias em relação ao Esporte é o interesse nos processos históricos na longa duração, sendo essa característica e, notadamente, a teoria do Processo Civilizador, como uma das principais bases nos estudos historiográficos do Esporte (Góis Junior, Lovisolo & Nista-Piccolo, 2013; Terret, 2019). Além disso, Elias é reconhecido como um dos responsáveis por projetar o estudo do Esporte como uma vertente séria de investigação (Malcolm, 2012). Nas páginas do JLASS seu uso aparece principalmente em textos que abordam assuntos como esportivização e violência.

Valter Bracht inaugura os nomes mais citados representando a América Latina. Os trabalhos do autor brasileiro servem de diálogo para os artigos voltados à vertente filosófica, sociológica e principalmente pedagógica da Educação Física e do Esporte. Bracht é considerado um dos estudiosos mais engajados em tentar interpretar o “dilema” culturalista da área no Brasil. Seu uso no JLASSS era frequente para amparar os estudos voltados às discussões sobre os paradoxos epistemológicos e práticos encontrados na Educação Física e no trato do Esporte no cenário escolar (Costa & Almeida, 2018; Ghidetti, 2013).

Em seguida, o argentino Pablo Scharagrodsky, ligado a pesquisas da área da História da Educação, abrange em seus estudos as questões de gênero, sendo uma temática predominante do autor. Scharagrodsky mantém o foco de suas pesquisas no cenário argentino, discutindo sobre as masculinidades, aspectos ligados ao corpo, gênero e sexualidade, trajetória da Educação Física escolar argentina, entre outros. Seus estudos, nesse sentido, contribuíram e foram citados em textos que tinham, por exemplo, a perspectiva escolar em pauta e nos trabalhos sobre as complexidades que envolvem as questões de gênero.

O comunicador social argentino Pablo Alabarces é um dos principais responsáveis pelo fomento dos estudos socioculturais do Esporte latino-americano, sendo um dos nomes mais relevantes da área desde o fim dos anos 1990 (Guedes, 2017). Seus trabalhos são majoritariamente sobre o futebol e suas representações na Argentina, englobando as noções de nacionalidade, identidade, cultura popular, comunicação e mídia, assuntos encontrados no JLASSS que acabaram citando o respectivo autor. Essa abertura que seus escritos possuem, em relação às teorias sociológicas e históricas empregadas, oferece àqueles que buscam analisar cenários específicos, principalmente da América Latina, um material de diálogo que trata dessas especificidades.

Por sua vez, Wanderley Marchi Júnior também contribuiu e contribui com a leitura do fenômeno esportivo por meio da perspectiva sociocultural. Um dos principais trabalhos citados do pesquisador pelos autores que publicaram no JLASSS foi o “Sacando o voleibol”, de 2001, o qual dispõe de análises baseadas em Pierre Bourdieu e Norbert Elias. Assim, pode-se observar que os trabalhos desenvolvidos pelo investigador brasileiro conseguiram fomentar os estudos daqueles que buscavam na sociologia aparatos qualificados de leitura do campo esportivo, principalmente aqueles voltados à epistemologia da Sociologia do Esporte e esportivização, servindo ainda de modelo para visualizar a aplicabilidade dos conceitos de Bourdieu e Elias para a análise do Esporte em sua perspectiva polissêmica.

Por fim, e voltando para as referências externas à América Latina, surgem as obras do filósofo francês Michel Foucault que abordam o corpo, saúde e poder, os quais também são referências que contribuem para o desenvolvimento de análises do Esporte (King, 2015). Ainda, de acordo com Almeida, Bracht e Vaz (2012), Foucault é igualmente uma referência importante para o debate epistemológico da Educação Física. Dessa forma, pode-se considerar que Michel Foucault, ao circular por diversas áreas do conhecimento (Moraes e Silva et al., 2014), pôde colaborar com diversas obras que fundamentaram os estudos publicados no JLASSS, sendo as obras “História da sexualidade” (1976), “A hermenêutica do sujeito” (1982) e “As palavras e as coisas” (1966) frequentemente citadas em estudos ligados à discussão de gênero, classe e Filosofia da Educação Física.

Ao visualizar os principais referenciais utilizados nos textos publicados no periódico analisado, pode-se observar que os autores utilizam teóricos e teorias clássicas das Ciências Sociais e Humanas para amparar suas pesquisas – sendo, a maioria, em termos de quantidade, oriundos da Europa (Pierre Bourdieu, Norbert Elias e Michel Foucault). No entanto, pode-se também constatar o uso de referenciais locais, isto é, da América Latina, oferecendo suporte analítico contextualizado com as disposições sociais presentes nessa região (Valter Bracht, Pablo Scharagrodsky, Pablo Alabarces e Wanderley Marchi Júnior). Ainda, deve-se considerar que a utilização de autores tidos como grandes intelectuais por parte dos pesquisadores que publicaram no JLASSS é também uma forma de “qualificar” seus estudos (Alabarces, 2011).

Em síntese, as referências utilizadas condizem com o escopo da revista, dando suporte para os estudos do Esporte em sua concepção polissêmica e abrangendo as discussões da área da Educação Física. Pode-se visualizar ainda quais foram os autores mais influentes e que, de certa maneira, guiam os estudos e comparecem com potencial intelectual para qualificar os estudos socioculturais do Esporte na América Latina.

Considerações finais

O presente artigo buscou apresentar o cenário das publicações científicas divulgadas na revista vinculada à instituição latino-americana especializada nas discussões socioculturais do Esporte no continente, a Asociación Latino Americana de Estudios Socioculturales del Deporte (ALESDE). A partir da análise do conteúdo do respectivo periódico, foi possível visualizar que a revista apresenta assuntos plurais, mas que não são distantes das linhas epistemológicas das Ciências Sociais e Humanas, sendo, portanto, condizente ao seu escopo, e principalmente com suas intenções de colaborar com os debates latino-americanos socioculturais do Esporte e da Educação Física.

Considera-se que os esforços contínuos da ALESDE para sua consolidação, aliados à produção científica do JLASSS, são um contribuinte para a produção e divulgação do conhecimento dessa área. A associação vem tentando, desde seu surgimento, cumprir o papel de ser um espaço acadêmico criado para a troca de ideias e estudos socioculturais do Esporte entre pesquisadores e profissionais das Ciências Sociais e Humanas e da Educação Física, por meio de congressos, dossiês organizados no periódico, além do contínuo fluxo deste. Assim, considerando esse cenário, é possível afirmar que a ALESDE, ao criar uma revista própria, está progredindo em seu objetivo de se tornar uma associação representativa para os estudos socioculturais do Esporte e da Educação Física na América Latina.

Todavia, alguns aspectos podem e devem ser otimizados no periódico analisado para que sua representatividade seja mais potencializada e alcance posições cada vez melhores no cenário científico. Apesar de ser relativamente jovem, admite-se que é necessária a busca por indexações em bases de dados com maior visibilidade, buscando cumprir os critérios editoriais para que o periódico possa ser mais atrativo para os pesquisadores.

É importante destacar que os resultados encontrados neste estudo são baseados na análise de um periódico específico e que o cenário retratado por esta pesquisa não pode ser considerado um padrão para toda a produção existente na América Latina. Assim, expandir esse cenário é necessário, novas pesquisas com maior abrangência de periódicos de variados países sul-americanos podem ser um caminho para maiores detalhamentos de como as discussões ligadas à Educação Física e Esporte, amparadas na perspectiva sociocultural, vêm se estruturando na região. Ao levar isso em consideração, o mapeamento do JLASSS pode apresentar contribuições futuras para a comunidade acadêmica, indicando o modus operandi relacionado à produção de conhecimento e incentivando maior produtividade sobre os mais variados assuntos nas questões relacionadas à Educação Física e Esporte pelos intelectuais latino-americanos.

Cabe ressaltar que a abordagem analítica utilizada neste estudo possui limitações e contribuições, principalmente no que se refere às escolhas metodológicas, uma vez que inúmeras variáveis ​​poderiam ser analisadas. É reconhecido que outras revistas de variadas localidades e diversificados elementos podem ser analisados ​​em estudos futuros, como explorar o gênero do autor, a metodologia, os principais objetivos de cada texto, as modalidades esportivas mais pesquisadas, entre outras possibilidades que dariam à comunidade científica mais detalhes sobre o desenvolvimento dos estudos socioculturais do Esporte na revista.

Por fim, observa-se que, embora o presente estudo tenha chegado à sua conclusão, o desejo de dar prosseguimento continua. Direcionando-nos, principalmente, aos cenários ainda pouco investigados no continente sul-americano. Considera-se necessário esse investimento analítico para refletir mais sobre o atual quadro científico da Educação Física e do Esporte latino-americano numa vertente sociocultural, pois, dessa forma, poderá se fazer visíveis os avanços e as dificuldades, os méritos e as limitações, e ainda buscar consolidar o cenário acadêmico e científico da América Latina.

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Notas

1Vale destacar que o Estatuto Oficial da Associação passou por uma revisão no ano de 2019, mas para efeito do caráter inaugural proposto para este artigo, utilizamos a primeira versão do documento.

3A palavra “assunto” será utilizada para abordar os tópicos mais trabalhados nos artigos publicados pelo JLASSS, tendo em consideração que utilizaremos suportes metodológicos em que não classificaremos os estudos a partir de categorias criadas a priori/posteriori, mas serão definidas por meio, principalmente, das próprias palavras-chave declaradas pelos autores.

4Os números entre parênteses se referem à quantidade de artigos em que as universidades estiveram vinculadas.

5Menciona-se que, apesar de oito textos terem sido escritos por sujeitos com vínculo nas universidades para além das extensões da América Latina, apenas dois deles abordavam discussões sobre outros continentes, mas ainda assim com o suporte teórico das Ciências Sociais e Humanas.

Received: April 19, 2021; Accepted: June 01, 2021; pub: July 01, 2021

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