SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.24 issue1Enseñanza remota (y aprendizaje) de emergencia: un estudio sobre las emociones en estudiantes de educación físicaProdução acadêmica brasileira sobre inclusão de alunos com deficiência na Educação Física author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

  • Have no cited articlesCited by SciELO

Related links

  • Have no similar articlesSimilars in SciELO

Share


Educación Física y Ciencia

On-line version ISSN 2314-2561

Educ. fís. cienc. vol.24 no.1 Ensenada Jan. 2022

http://dx.doi.org/https://doi.org/10.24215/23142561e206 

Artículos

Crenças sobre os estilos de ensino de futuros treinadores: um estudo na formação inicial em Educação Física

Creencias sobre los estilos de enseñanza de los futuros entrenadores: un estudio en la formación inicial en Educación Física

Beliefs about Teaching styles of future coaches: a study in initial training in Physical Education

1Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

2Centro Universitário de Brusque - UNIFEBE

3Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

4Prefeitura Municipal de Florianópolis - PMF

5Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

6Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

7Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

8Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

Resumo

Os futuros treinadores trazem à formação inicial experiências pessoais capazes de desenvolver crenças e influenciar na aquisição de seus conhecimentos. Essas crenças sobre o ensino determinam as ações e procedimentos adotados nas aulas. Buscou-se identificar as crenças sobre os estilos de ensino dos futuros treinadores na formação inicial em Educação Física de uma instituição comunitária no estado de Santa Catarina. Esta pesquisa quantitativa, que contemplou uma amostra do tipo intencional e não-probabilística coletou dados a partir de uma versão traduzida e adaptada do Instrumento para coletar as crenças dos professores sobre seus estilos de ensino utilizados na educação física com 42 futuros treinadores. Os resultados revelaram que o estilo de ensino prático foi o mais utilizado entre todos os participantes. Ao considerar apenas aqueles futuros treinadores com experiência profissional em estágios obrigatórios e/ou não-obrigatório, o estilo de ensino com maior pontuação a produção divergente ao passo que entre os futuros treinadores com experiências enquanto atletas, o estilo mais pontuado foi o recíproco. Conclui-se que os futuros treinadores investigados apresentaram crenças mais voltadas aos estilos de reprodução.

Palavras-chave Estilos de ensino; Crenças; Educação Física; Pedagogia do esporte

Resumen

Los futuros coaches aportan a la formación inicial experiencias personales capaces de desarrollar creencias e influir en la adquisición de sus conocimientos. Estas creencias sobre la enseñanza determinan las acciones y procedimientos adoptados en las clases. Se buscó identificar las creencias sobre los estilos de enseñanza de los futuros entrenadores en la formación inicial en Educación Física en una institución comunitaria del estado de Santa Catarina. Esta investigación cuantitativa, que incluyó una muestra intencional y no probabilística, recopiló datos de una versión traducida y adaptada del Instrumento para recoger las creencias de los docentes sobre sus estilos de enseñanza utilizados en educación física con 42 futuros formadores. Los resultados revelaron que el estilo de enseñanza práctica fue el más utilizado entre todos los participantes. Al considerar solo a aquellos futuros entrenadores con experiencia profesional en pasantías obligatorias y / o no obligatorias, el estilo de enseñanza con mayor puntuación mostró producción divergente, mientras que entre los futuros entrenadores con experiencia como deportistas, el estilo más puntuado fue el recíproco. Se concluye que los futuros entrenadores investigados tenían creencias más centradas en los estilos de reproducción.

Palabras clave Estilos de enseñanza; Creencias; Educación Física; Pedagogía deportiva

Abstract

Future coaches bring to initial training personal experiences capable of developing beliefs and influencing the acquisition of their knowledge. These beliefs about teaching determine the actions and procedures adopted in classes. We sought to identify the beliefs about the teaching styles of future coaches in initial training in Physical Education at a community institution in the state of Santa Catarina. This quantitative research, which included an intentional and non-probabilistic sample, collected data from translated and adapted version of an Instrument to collect teachers' beliefs about their teaching styles used in physical education with 42 future trainers. The results revealed that the practical teaching style was the most used among all participants. When considering only those future coaches with professional experience in mandatory and/or non-mandatory internships, the teaching style with the highest score showed divergent production, whereas among future coaches with experience as athletes, the most scored style was reciprocal. It is concluded that the future coaches investigated had beliefs more focused on reproduction styles.

Keywords Teaching style; Beliefs; Physical education; Sport pedagogy

Introdução

Ao iniciarem o curso de graduação, os futuros treinadores possuem crenças preestabelecidas por experiências passadas, que podem influenciar na escolha da profissão e nas decisões durante a formação inicial. Entretanto, tais crenças podem gerar conflitos com o conhecimento que será aprendido. Por isso, os cursos de formação inicial em Educação Física necessitam garantir aos futuros professores uma formação que estimule o desenvolvimento, tanto de perspectivas positivas, quanto de aspectos específicos da atuação e elementos da profissionalidade que caracterizam o fazer docente (Tsangaridou, 2008; Ramos et al., 2014).

Durante a formação inicial de treinadores, competências e conhecimentos são adquiridos por meio da socialização profissional e do relacionamento diário com as demandas da profissão (Milisted et al., 2018). Estas experiências desenvolvem crenças que influenciam nas práticas pedagógicas (Pajares, 1992; Souza et al., 2018). Deve-se sempre existir uma preocupação e abordagem sobre as competências que existiram e que existem na trajetória profissional do professor de Educação Física. É crucial o entendimento das interpretações e conhecimentos sobre os mecanismos pedagógicos decididos quando o professor atua e também intensifica suas práticas docentes, iniciando na sua formação até o final de sua carreira (Farias, Nascimento, Graça & Batista, 2012).

Diante da grande diferença de modos ou jeitos de ensinar, Muska Mosston (1966) desenvolveu conceitos sobre o relacionamento entre professores e alunos, que está expresso no “Espectro dos Estilos de Ensino”, que analisa a estrutura de tomada de decisões tanto do professor, quanto do aluno, buscando identificar os estilos de ensino mais utilizados. O Espectro de Estilos de Ensino determina os estilos disponíveis, os papéis específicos do aluno e do professor, as estruturas de decisão e os objetivos alcançados através de cada estilo. Essas decisões foram arquitetadas por Mosston em três conjuntos, identificados como pré-impacto, que referem-se as decisões de planejamento entre professor e aluno; o conjunto de impacto relacionado às decisões de implementação; e conjunto pós-impacto, com decisões de avaliação que podem acontecer em qualquer momento por parte do professor ou aluno, sobre a aprendizagem ou experiências (Mosston & Ashworth, 2008).

Os estilos de ensino englobam desde o professor assumindo o papel central no processo de ensino e aprendizagem, representado pelo estilo comando e reprodução, até aos alunos como os protagonistas no processo de ensino-aprendizagem, por meios de descobertas e autoensino, tendo o professor apenas como mentor/facilitador (Mosston & Ashworth, 1994). A proposta do modelo elaborado, possui um vasto conjunto de estilos que se complementam e auxiliam no desenvolvimento de vários domínios, como o cognitivo, o afetivo, o social, o físico e o moral. A versão atual do espectro compreende 11 estilos de ensino diferentes, que são indicados pelas letras correspondentes: (A) comando, (B) prática, (C) recíproco, (D) auto verificação, (E) inclusão, (F) descoberta guiada, (G) descoberta convergente, (H) produção divergente, (I) programa individual do aluno, (J) aluno iniciado, e (K) autodidatismo (Mosston & Ashworth, 1985; Mosston & Ashworth, 2002).

Os estilos de ensino A ao E, são os que estimulam a reprodução de conhecimento passado; os estilos de ensino F e G, são a limiar de descoberta e criatividade; estilos de ensino do H ao K seriam aqueles relacionados à descoberta de novos conhecimentos e autoaprendizagem. Mosston & Ashworth (1994, p.7) lembram que a “questão fundamental no ensino, não é qual estilo (de ensino) é melhor, mas de preferência, qual estilo é apropriado para se atingir os objetivos de uma lição proposta”.

Na última década, estudos em diversos países investigaram os estilos de ensino de professores de Educação Física, treinadores esportivos ou treinadores em formação. Os resultados têm destacado a predominância do uso de estilos de reprodução, determinando a aprendizagem como o produto da reprodução ou do conhecimento transmitido (Hewitt & Edwards, 2011; Jaakola & Watt, 2011; Hein et al, 2012; Caluza, Diaz & Gabon, 2015; Longoria et al., 2020; Fernandez & Espada, 2021). No Brasil, observam-se resultados semelhantes em estudos com professores de Educação Física (Gozzi & Ruy, 2008), professores de artes marciais (Antunes & Moura, 2010) e treinadores de iniciação esportiva (Gozzi & Ruete, 2006). Entretanto, parece haver uma lacuna na investigação dos estilos de ensino no contexto da formação inicial de treinadores esportivos.

Diante destas evidências, se sugere que identificar os estilos de ensino é uma importante informação que serve de base para facilitar a aprendizagem profissional do treinador esportivo. Diante deste contexto, o objetivo deste estudo foi identificar as crenças sobre os estilos de ensino dos futuros treinadores de Educação Física de uma Instituição de Ensino Superior comunitária do município de Brusque, SC.

Adotou-se uma pesquisa de abordagem quantitativa, de caráter descritivo (Gil, 2008). A seleção dos participantes ocorreu por meio da amostragem intencional e não probabilística (Barbetta, 2008). Foram considerados os seguintes critérios de inclusão: (a) estar regularmente matriculados no curso de graduação em Educação Física (bacharelado) de uma Instituição de Ensino Superior comunitária no estado de Santa Catarina e (b) ter disponibilidade e interesse em participar do estudo.

Desse modo, dos 59 futuros treinadores matriculados no curso, a amostra foi composta por 42 futuros treinadores (correspondente a 71% dos futuros treinadores matriculados no curso), sendo 14 (33%) mulheres e 28 (66%) homens. Dos participantes, 23 (56%) possui experiência com o ensino, seja no estágio obrigatório ou não-obrigatório e 30 (71%) possui experiência como atleta em diferentes níveis, desde competições escolares municipais até torneios sul-americanos. Referente ao semestre em que estão matriculados 17 (40%) futuros treinadores estão no 1º, 6 (14%) estão no 3º, 9 (21%) estão no 5º, 9 (21%) estão no 7º e 1 (2%) está no 9º.

Com o objetivo de identificar as crenças sobre os estilos de ensino dos futuros treinadores, foi utilizada uma versão traduzida e adaptada do Instrument for collecting teachers’ beliefs about their teaching styles used in physical education: Adaptation of description inventory of landmark teaching styles: A spectrum approach (Ashworth, Suesee & Edwards, 2006). A primeira parte do questionário traz perguntas pessoais de interesse sociodemográfico e a segunda parte do questionário se refere a descrição de onze cenários relacionado aos estilos de ensino, onde deve-se responder a frequência de uso, sendo avaliados em 5 níveis: “Nunca”, “Minimamente”, “Ocasionalmente”, "Frequentemente” ou “Maior Parte do Tempo” (Quadro 1). O instrumento foi validado por método de peritagem, a partir da avaliação de um expert (Ashworth, Mosston, 2002). Ressalta-se ainda que, a credibilidade do instrumento original consiste na participação de um dos autores da proposta do Estilos de Ensino, Sara Ashworth, que definiu de forma precisa e válida as características de cada cenário (Suesee & Edwards, 2009).

Quadro 1 Exemplo de um cenário do instrumento de coleta de dados 

Fonte: elaborado pelos autores (2022)

Para a aplicação no presente estudo, a versão original do instrumento passou por um processo de adaptação, em que a questão norteadora “com que frequência eu uso/usaria esta descrição para ensinar esportes?” foi modificada para “com que frequência eu uso esta descrição para ensinar esportes?”. Na sequência, dois nativos da língua portuguesa (um mestre certificado em tradução inglês-português e um doutor em Educação Física) produziram, independentemente, traduções do instrumento de Ashworth, Suesee & Edwards (2006). Posteriormente, um nativo em língua inglesa fez uma retrotradução do instrumento. As duas versões, a original e a retrotraduzida foram comparadas para extinguir quaisquer informações imprecisas no processo de tradução (Beaton, 2000). A versão traduzida e adaptada do instrumento possui os mesmos cenários, com a única diferença na questão norteadora, alterando o contexto, do ensino da Educação Física para o ensino dos esportes.

Após a aprovação pelo Comitê de Ética com Seres Humanos de um Centro Universitário comunitário, sob o parecer nº 4.661.621, os participantes do estudo foram convidados durante as aulas na IES para preencher o questionário de caracterização composto por oito questões de informações pessoais como: sexo, idade, experiência como atleta, experiência com o ensino de esportes (estágio obrigatório ou não-obrigatório) e semestre em que estavam matriculados. Posteriormente responderam ao questionário traduzido e adaptado. Os dados foram tabulados com o auxílio do programa Microsoft Excel e analisados através da estatística descritiva (frequência simples e percentual) conforme proposto por Hewitt e Edwards (2011), com o suporte do software SPSS, versão 21.

Resultados e discussão

A Tabela 1 apresenta a frequência simples e percentual das respostas dos 42 participantes da pesquisa. Os estilos de ensino (Mosston, 2008) são listados na primeira coluna. Nas colunas seguintes estão relacionadas as respostas referentes a cada estilo de ensino do espectro baseando-se na frequência de uso de cada estilo que cada futuros treinadores se imagina aplicando em suas futuras aulas.

Tabela 1 Frequência simples e percentual dos estilos de ensino dos futuros treinadores 

Fonte: elaborado pelos autores (2022).

Na Tabela 2, estão apresentados os dados referentes às respostas assinaladas em que os futuros treinadores utilizaram “frequentemente” ou “na maior parte do tempo”. Considerando todos os participantes, o estilo de ensino B (Prático) é o estilo de ensino mais utilizado. Ao considerar apenas aqueles que já tiveram experiência profissional por meio de estágio, o estilo de ensino H (Produção Divergente) foi apontado como o mais utilizado. Já no caso em que os futuros treinadores possuem experiência como atleta, o estilo de ensino C (Recíproco) é aquele que possui maior incidência de respostas.

Tabela 2 Relação entre os estilos de ensino e as experiências dos futuros treinadores. 

Fonte: elaborado pelos autores (2022)

O cenário B, é considerado por Mosston & Ashworth (1994) como o estilo da prática, que é definido como a prática individual, de reprodução e memorização, onde cada executor recebe um feedback privado. É o primeiro estilo que permite ao aluno tomar alguma decisão. O papel da criança, neste estilo, é realizar sozinha a tarefa de memória/reprodução designada. Neste caso, cabe ao professor indicar as ações e fornecer o feedback individual baseado na performance de cada uma. Podemos utilizar como exemplo, o arremesso de peso, onde o professor demonstra a atividade que deve ser realizada e o aluno, individualmente, realiza a tarefa do seu jeito, no seu ritmo, enquanto o professor observa e fornece um retorno sobre a execução da atividade.

Resultados semelhantes foram encontrados em um estudo realizado com treinadores de tênis na Austrália. Utilizando o mesmo instrumento do presente estudo, Hewitt e Edwards (2011) identificaram que o estilo de ensino B, foi apontado por 60% dos participantes entrevistados como o utilizado com mais frequência ou na maior parte do tempo. Para os participantes do estudo, o estilo B é o melhor para o desenvolvimento dos tenistas.

Outro estudo, realizado na Finlândia por Jaakola & Watt (2011), teve como objetivo analisar os estilos de ensino dos professores de Educação Física. Os autores investigaram 294 profissionais, sendo 185 mulheres e 109 homens. Como resultado, os professores finlandeses utilizam na maior parte do tempo o estilo de ensino B. No mesmo estudo, o estilo de ensino B e o estilo de ensino H, foram apontados como os mais benéficos para a aprendizagem dos alunos.

No estilo de ensino H, conforme Mosston & Ashworth (1994), o professor propõe uma situação aos alunos e deixa-os encarregados de desenvolver ou descobrir algumas soluções para a problemática, dando o feedback necessário sem dar nenhuma dica que viesse a auxiliar os alunos a solucionarem o problema. Para ilustrar, os autores utilizam um exemplo de Gerney, onde ao pedir aos alunos que se movam de um ponto a outro em um ginásio, o professor determina como parâmetro da tarefa, que nenhum aluno poderá tocar no chão, para tanto, o grupo deve utilizar apenas o equipamento fornecido para projetar uma forma de se deslocar de um ponto para o outro (Mosston & Ashworth, 1994).

Os resultados dos estudos de Kullina & Cothran (2003) realizado com 212 professores de educação física do Estados Unidos, sendo 112 mulheres e 96 homens que buscou identificar os diferentes estilos de ensino utilizados em graus e níveis de ensino distintos, apontaram que o estilo de ensino H, é o único estilo de ensino de produção presente entre os principais estilos aplicados nas aulas dos professores selecionados. Os estilos produtivos não são utilizados com frequência quando comparados com os estilos reprodutivos, e segundo White (1998) o motivo seria a falta de preparação dos professores que não utilizam o estilo produtivo por não possuírem formação adequada. Há escassez de pesquisas sobre esse determinado estilo de ensino (Goldberger, 1995; Metzler, 1983).

Ao considerar apenas os futuros treinadores com experiência enquanto atletas em nível municipal, estadual, nacional ou internacional, o estilo recíproco, C, foi o mais pontuado nas alternativas “frequentemente” e “maior parte do tempo”. Nele os alunos devem trabalhar em conjunto, onde um será o executor da tarefa e o outro é o observador que oferece o feedback para o parceiro, ambos baseados em critérios elaborados pelo professor, em forma de checklist (Mosston & Ashworth, 1994). Para exemplificação do estilo recíproco, podemos utilizar habilidades no basquete, onde um aluno executa alguns dribles e demonstra a habilidade com o esporte e o outro fornece o feedback sobre a postura e forma que realizou as manobras com a bola.

A respeito do estilo de ensino C, parece haver divergências entre diferentes estudos. Enquanto Kulina, Cothran & Zhu (2000) apontam que este estilo é prático e inclusivo, sendo classificado como um dos melhores estilos de ensino relacionado à diversão, motivação e aprendizado do aluno, o estudo realizado por Jaakola & Watt (2011) conclui que os estilos de ensino C (Recíproco) e G (Descoberta Convergente), são os menos benéficos para os alunos.

Apesar de, nos últimos anos, terem surgido novas tendências na pedagogia do esporte com base em teorias interacionistas, de modo geral, pode-se destacar a preferência dos futuros treinadores pelo uso de estilos de ensino voltados à reprodução de conhecimentos transmitidos, semelhante a metodologia tradicional do ensino do esporte. Para esta visão de ensino, também conhecido como método tecnicista, o professor transmite informações geralmente relacionada a aspectos motores, para que os alunos desenvolvam técnicas e movimentos estereotipados (Scaglia & Souza, 2004; Scaglia, Reverdito & Galatti, 2014).

Em um estudo qualitativo realizado com 16 acadêmicos de uma universidade grega, Syrmpass et al. (2019) afirmam que as experiências de prática esportiva ou em Educação Física escolar influenciam na aquisição de novos conhecimentos ou preferências de ensino. Isso indica que, embora os acadêmicos tenham contato com diferentes estilos, abordagens, métodos ou concepções de ensino, muitos ainda tendem a utilizar métodos mais tradicionais e diretivos devido suas crenças desenvolvidas em idade escolar (Ristow et al., 2021; Backes et al., 2021; Souza et al., 2017).

O presente estudo buscou identificar os estilos de ensino dos futuros treinadores de uma IES do município de Brusque. Como resultado, identificou-se que o estilo de ensino B (Prático) obteve maior pontuação, considerando as respostas "frequentemente" e “na maior parte do tempo”, entre todos os participantes. Ao considerar apenas aqueles futuros treinadores com experiência profissional em estágios obrigatórios e/ou não-obrigatório, o estilo de ensino com maior pontuação foi o H (Produção Divergente) Considerando apenas os futuros treinadores com experiências enquanto atletas, o estilo mais pontuado foi o C (Recíproco).

A relação entre as experiências pessoais e as crenças a respeito do estilo de ensino fica evidente no presente estudo. Destaca-se que aqueles com experiência de prática enquanto atletas, tendem a preferir estilos de ensino de reprodução. Já os futuros treinadores com experiência no estágio tendem a preferir estilos de ensino de produção. Entretanto, não foi possível verificar as justificativas e/ou motivos que levaram os futuros treinadores a preferirem um ou outro estilo de ensino. Esta limitação nos permite sugerir que para futuros estudos, além de identificar as crenças sobre os estilos de ensino, sejam realizadas pesquisas qualitativas para compreender com mais profundidade a fonte destas crenças.

Para os cursos de graduação e professores formadores, a sugestão é identificar as crenças sobre o estilo de ensino dos futuros treinadores com o uso do instrumento utilizado no presente estudo. Reconhecendo a função das crenças enquanto “filtro de informações” e a sua contribuição na aprendizagem profissional, uma vez conhecendo as crenças dos futuros treinadores, o professor pode direcionar melhor o conteúdo e as estratégias de suas disciplinas e, consequentemente, proporcionar um melhor aprendizado.

Agradecimentos

Agradecemos ao apoio financeiro do Programa de bolsas universitárias (UNIEDU) e ao Programa de demanda social da CAPES.

REFERÊNCIAS

Antunes, M. M. & Moura, D. L. (2010). A identificação dos estilos de ensino dos professores das artes marciais chinesas (wushu) no Brasil. Pensar a prática, 13(3), 1-18. [ Links ]

Ashworth, S., Suesee, B. & Edwards, K. (2006). Instrument for collecting teachers' beliefs about their teaching styles used in physical education: an adaptation of the Description Inventory of Landmark Teaching Styles: A Spectrum Approach. Spectrum of Teaching Styles online. Disponível em https://eprints.usq.edu.au/22230/1/Instrument_for_Collecting_Teachers_Beliefs.pdfLinks ]

Backes, A. F., Ristow, L, Zeilmann, V. B., Rosa, R. S., Dias, J. C. & Ramos, V. (2021). Ensino dos esportes coletivos: as fontes de crenças pedagógicas de universitários em Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 42(e2063), 1-9. [ Links ]

Barbetta, P. A. (2008). Estatística aplicada às ciências sociais. Florianópolis: Ed. UFSC. [ Links ]

Beaton, D. E., Bombardier C., Guillemin F. & Ferraz, M. B. (2000). Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine, 25(24), 3186-3191. [ Links ]

Caluza, L. J. B., Diaz, M. V. A. & Gabon, R. (2015). The use of teaching styles in physical education perceived by Graduate students. International Journal of Education and Research, 3(3), 339-350. [ Links ]

Farias, G. O., Nascimento, J. V., Graça, A & Batista, P. M. F. (2012). Competências profissionais em Educação Física: uma abordagem ao longo da carreira docente. Revista Motriz, 18(4), 656-666. [ Links ]

Fernández, M. & Espada, M. (2021). Knowledge, Education and Use of Teaching Styles in Physical Education. International Journal of Instruction, 14(1), 379-394. [ Links ]

Gil, A. C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas AS. [ Links ]

Goldberger, M. (1995). Research on the spectrum of teaching styles. In: Windows to the future: bringing the gaps between disciplines, curriculum and instruction. Proceedings of the 1995 AIESEP World Congress Part. 429-435. [ Links ]

Gozzi, M. C. T. & Ruete, H. M. (2006). Identificando estilos de ensino em aulas de Educação Física em segmentos não escolares. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 5(1), 117-134. [ Links ]

Gozzi, M. C. T. & Ruy, M. P. (2008). Identificando estilos de ensino em aulas de Educação Física. Movimento & Percepção, 9(13), 360-378. [ Links ]

Hein, V., Ries, F., Pires, F., Caune, A. Emeljanovas, A., H.Ekler, J. & Valantine, I. (2012). The Relationship Between Teaching Styles and Motivation to Teach Among Physical Education Teachers. Journal of Sports Science & Medicine, 11(1). 123-130. [ Links ]

Hewitt, M. & Edwards, K. (2011). Self-identified teaching styles of junior development and club professional tennis coaches in Australia. ITF Coaching and Sport Science Review, 55(1), 127-154. [ Links ]

Jaakola, T. & Watt, A. (2011). Finnish Physical Education Teachers’ Self Reported Use and Perceptions of Mosston and Ashworth’s Teaching Styles. Journal of Teaching in Physical Education, 30(1), 248-262. [ Links ]

Kulinna, P. H. & Cothran, D. J. (2003). Physical education teachers’ self-reported use and perceptions of various teaching styles. Learning and Instruction, 13(6), 598-609. [ Links ]

Kulinna, P. H., Cothran, D. J. & Zhu, W. (2000). Teachers' Experiences with and Perceptions of Mosston's Spectrum: How Do They Compare with Students'?. Annua Meeting oft he American Educational Research Association. Disponível em https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED440949.pdfLinks ]

Longoria, R. J. N., Enriquez, O. N., Lujan, R. C., Alonzo, S. J. L., Guerra, S. A. I. & Delgado, J. C. G. (2020). ‘How is my teaching?’Teaching stiles among Mexican physical education teachers. Movimento, 26(1), 1-14. [ Links ]

Metzler, M. W. (1983) On styles. Quest, 35(2), 145-154. [ Links ]

Milisted, M., Brasil, V. Z., Salles, W. N., Tozetto, A. V. B. & Saad M. A. (2018). Percepção de estudantes universitários de educação física sobre o estágio curricular supervisionado em treinamento esportivo: estudo em uma universidade pública brasileira. Movimento, 24(3), 903-916. [ Links ]

Mosston, M. (1966). Teaching physical education. Columbus: Merril Books. [ Links ]

Mosston, M. (1992). No More: Meeting teaching-learning objectives using the spectrum of teaching styles. Journal of Physical Education, Recreation and Dance, 63(1), 27-31. [ Links ]

Mosston, M & Ashworth, S. (1986). La enseñanza de la educación física: la reforma de los estilos de enseñanza. Barcelona: Hispano europeia. [ Links ]

Mosston, M & Ashworth, S. (1990). The spectrum of teaching styles: from command to discovery. NewYork. Longman Publishers. [ Links ]

Mosston, M & Ashworth, S. (1994). Teaching physical education. New York: Macmillan Publisching. [ Links ]

Mosston, M & Ashworth, S. (2008). Teaching Physical Education: First Online Edition. Disponível em https://spectrumofteachingstyles.org/assets/files/book/Teaching_Physical_Edu_1st_Online.pdfLinks ]

Pajares, M. F. (1992). Teachers’ beliefs and educational research: Cleaning up a messy construct. Review of educational research, 62(3), 307-332. [ Links ]

Perrenoud, P. (2000). Dez Novas Competências para Ensinar, Porto Alegre: Artmed Editora. [ Links ]

Ramos, V., Souza, J. R., Brasil, V. Z., Silva, T. E. & Nascimento, J. V. (2014). As crenças sobre o ensino dos esportes na formação inicial em Educação Física. Journal of Physical Education, 25(2), 231-244. [ Links ]

Ramos, V., Silva, R., Brasil, V. Z., Vargas, C. R. & Gutierres Filho, P. J. B. (2011). Estudos sobre o pensamento do professor e a educação física: uma análise sinóptica. Pensar a Prática, 14(3), 1-18. [ Links ]

Ristow, L., Backes, A. F., Brasil, V. Z., Cardoso, J. D. & Ramos, V. (2020). Experiências pessoais no desenvolvimento das crenças de futuros professores de Educação Física. Coleção Pesquisa em Educação Física, 19(1), 15-23. [ Links ]

Scaglia, A. J., Reverdito, R. S. & Galatti, L. R. (2014). A contribuição da pedagogia do esporte ao ensino do esporte na escola: tensões e reflexões metodológicas. In A. Marinho., J. V. Nascimento & A. .A B. Oliveira (Coords.), Legados do esporte brasileiro, (pp. 45-86). Florianópolis: Editora UDESC. [ Links ]

Scaglia, A. J. & Souza, A. (2004). Pedagogia do esporte. Comissão de Especialistas–ME. Dimensões pedagógicas do esporte. Brasília: Unb/Cad. [ Links ]

Souza, J. R., Zeilmann, V. B., Kuhn, F., Emanuelli, T.S.B. & Ramos,V. (2017). As crenças de graduandos em Educação Física sobre o ensino dos esportes. Movimento, 23(1), 133-146. [ Links ]

Souza, J. R., Ramos, V., Brasil, V. Z., Kuhn, F., Backes, A. F., Goda, C., Ristow, L. & Conti, B. C. (2018). Initial physical education students’ beliefs about sport teaching. Educación Física y Ciencia, 20(3), e052. [ Links ]

Suesee, B. & Edwards, K. D. (2009). Developing the descriptions of landmark teaching styles: A spectrum inventory. In: Proceedings of the 26th Australian Council for Health, Physical Education and Recreation International Conference (ACHPER 2009). Queensland University of Technology. p. 155-165. Disponível em https://1library.net/document/lq5ow57z-developing-descriptions-landmark-teaching-styles-spectrum-inventory.htmlLinks ]

Syrmpas, I., Chen, S., Pasco, D. & Digelidis, N. (2019). Greek preservice physical education teachers’ mental models of production and reproduction teaching styles. European Physical Education Review, 25(2), 544–564. [ Links ]

Tsangaridou, N. (2008). Trainee primary teachers' beliefs and practices about physical education during student teaching. Physical Education and Sport Pedagogy, 13(2), 131-152. [ Links ]

White, P. T. (1998). Perceptions of physical education majors and faculty members regarding the extent of use of and exposure to Mosston's, Mosston and Ashworth's Spectrum of Teaching Styles. Iowa: The University of Iowa. [ Links ]

Received: November 23, 2021; Accepted: January 20, 2022; pub: February 01, 2022

Creative Commons License Esta obra está bajo una Licencia Creative Commons Atribución-NoComercial-CompartirIgual 4.0 Internacional.