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Historia de la educación - anuario

versión On-line ISSN 2313-9277

Hist. educ. anu. vol.20 no.1 Ciudad autonoma de Buenos Aires. jun. 2019

 

Invitado Especial

Cenas e memorias da visita ao meu antigo colégio

 

Kazumi Munakata1

 

Imagem 1. Colégio em construyo, Fonte: Acervo Eliana Kanazawa.

Cenas e memorias da visita ao meu antigo Colégio

Imagem 2. Portáo de entrada da Escola Estadual Sao Paulo, com faixa anunciando a ocupacáo.

Fonte: Acervo Jornalistas Livres.

O espado do meu antigo Colégio parece muito menor do que quando ali estudara. Mas esse foi o sentimento que também tive ao visitar o Jardim de Infància e a Escola Primària que frequentara. Em geral, as escolas encolhem à medida que crescemos... Era táo pequeño assim o ginásio de esportes, cujo formato lembra disco voador, onde tínhamos aula de Educando Física? E o pàtio, onde passávamos o recreio jogando bola? Mas o Anfiteatro ainda impressiona pela imponencia. E a Biblioteca? Onde estao as estantes e os livros? Os estudantes que me guiam dizem que ali agora funciona o refeitório.

Na época em que eu estudei, a escola chamava-se Colégio Estadual de Sào Paulo (CESP). Havia sido criado em 1894, com o nome de Gymnasio de Sào Paulo, também conhecido corno Primeiro Gymnasio da Capital. Passou por outras denomina<;òes até que em 1956 recebeu o nome que eu conhecia; em 1985, Escola Estadual de Segundo Grau de Sào Paulo; e, depois que incorporou o primeiro grau, simplesmente Escola Estadual de Sào Paulo. Mas para mim e para os membros da Associalo de ExAlunos do Colégio Estadual de Sào Paulo (AEACESP), a escola será sempre Colégio Estadual de Sào Paulo, o CESP.

Os meus guias me levam para o prèdio onde ficam as salas de aula. Onde estào os laboratorios? Os alunos dizem que nào hà laboratorios. Mas, eu me lembro, havia laboratorios muito bem equipados, embora, na minha época, praticamente jà nào fossem utilizados. Mostram-me, entào, urna sala, que dizem estava trancada, com estantes repletos de instrumentos de laboratòrio: tubos de ensaio, bicos de Bunsen, pipetas, provetas etc. Em seguida, abrem urna outra sala que estava lacrada: livros jogados no chao, amontoados, abertos, arregazados, amassados. Mostramme um livro manuscrito com registros administrativos, datado de final do século XIX ou inicio do século XX, também abandonado ali como entulho. Eis o acervo da Biblioteca que cederà seu espado para o refeitório.

Imagem 3. Livros da Biblioteca espalhados e amontoados em urna sala. Fonte: Acervo Jornalistas Livres.

O Colégio nem sempre esteve instalado naquele lugar, no Parque Dom Pedro II, inaugurado em 1922. Hoje, o Parque perdeu o glamour da belle époque que ainda mantinha quando por ali eu passeava na saída do Colégio: os contornos do Parque sao indefinidos e seu espado foi tomado pelos viadutos, esta9áo de ónibus, lixo, muito lixo, com assaltantes e traficantes, enfim urna área urbana degradada e muito perigosa.

Imagem 4. Vista aérea do Parque Dom Pedro II, na época da construyo do Colégio (á esquerda).

Fonte: Acervo Vicente Almeida.

Anuario de Historia de la Educación

Imagem 5. Maquete do Colégio Estadual de Sào Paulo, projeto de Rubens César Madureira Cardieri e Rubens Freitas Azevedo.


aniversário do golpe militar. Neste dia, em vez de ir à aula, fui


assistir ao filme O Teorema, de Pier Paolo Pasolini.


Cerca de cinquenta anos depois, o governo de Sào Paulo


insistía em promover urna reorganizaçâo escolar, à revelia da


comunidade escolar. A ocupa9ào das escolas pelos alunos


conquistou o apoio dos pais e de ampios setores da sociedade. Os


estudantes organizaram atividades ñas escolas ocupadas


promovendo a limpeza, a manutengo e até mesmo o conserto


das instalaçôes; plantaram hortas e jardins; realizaram açôes


culturáis e educacionais, com participaçào de professores e


agentes culturáis, que doavam aulas e oficinas. Músicos, cantores


artistas


apresentavam-se


nos


palcos


improvisados;


personalidades apareciam para cozinhar para os estudantes, que


formaram


grupos


de


traballio —segurança,


limpeza,


Fonte: Acervo Lucylene Shimizu.


comunicaçâo, cozinha, etc.— para manter em funcionamento o


Naqueles anos 60, os ares sombríos da ditadura já se faziam sentir no Colégio. Um grupo de professores, com status de catedráticos, foi denunciado como subversivos —algo impensável— e afastados. Um professor de Historia introduziu um grupo religioso de extrema-direita, a Tradito, Familia e Propriedade, para fazer proselitismo anti-comunista na sala de aula. Ele também convocou os alunos a nao faltarem à aula no dia 31 de mar;o, quando deveríamos escrever urna redacào em homenagem à Revolugño, em comemora9ào a mais um


dia-a-dia da ocupaçâo. Também saíam às ruas para protestar e


eram violentamente reprimidos pela policía. A imprensa,


especialmente a chamada midia alternativa e independente


noticiou fartamente o movimento, chegando a produzir vários


vídeos e documentários, muitos dos quais podem ser vistos no


Youtube, bastando procurar por ocupando das escolas (em


portugués).


Em 4 de dezembro de 2015, o governador de Sao Paulo


Geraldo Alckmin, anunciou


suspensao


(mas


nao


cancelamento) da reorganizaçâo escolar. O secretário da Educaçâo


exonerou-se do cargo. Em assembleias realizadas ñas escolas, os


Cenas e memorias da visita ao meu antigo Colégio




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estudantes decidiram sair das ocupacòes. Mas a reorganizadlo escolar vem sendo implementada sorrateiramente, sem alardes. Em 2016, o movimento das ocupares espalhou-se pelo Brasil inteiro, atingindo mais de 1.000 escolas. O principal alvo era a Proposta de Emenda Constitucional n° 241 (a PEC da Morte), que fixava limite para gastos do governo federal para áreas sociais (inclusive a Educado) nos próximos 20 anos. Mas havia também questóes locáis entre os objetivos do movimento.

Última etapa da visita ao meu antigo Colégio, sou levado à cozinha da cantina, situada entre os dois prédios de salas de aula. Os estudantes já almorrana e estáo dividindo um bolo. Nao falam mais comigo; parece que o assunto já se esgotou. Despegóme, entáo, e vou cruzando o pàtio. Lembro que ali, em frente à biblioteca, em 1968, fui abordado por duas meninas bem novas, mas certamente secundaristas, que disseram ser do Colégio de Aplicado. Era também época de ocupares das escolas e elas arrogantemente anunciaram, sem esconder urna ponta de desprezo: Sabe que ocupamos o nosso Colégio? Nao somos urna escola reacionária como voces! Nao sei para que elas disseram isso. Mas, agora, ao atravessar o portáo da minha antiga escola, saio de cabera erguida, com muito orgulho: reacionário..., pois sim!

Sao Paulo, novembro de 2019.

Cenas e memorias da visita ao meu antigo Colégio


1

Graduado en Filosofía (Universidade de Sao Paulo), magister en Historia (Universidade Estadual de Campiñas) e doutorado en Historia de la Educación (Pontificia Universidade Católica de Sao Paulo). Es docente del Programa de Estudos Pós-Graduados em Educando: Historia, Política, Sociedade, de la Pontificia Universidade    Católica de    Sao    Paulo.

Contacto: [kazumi.munakata@gmail.com].

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